Doce

Ele amava doce.

Idolatrava.

Vivia de doce.

Ele era doce.

Por fora. E por dentro.

Ele era um chocolate com pimenta.

Ninguém podia tocá-lo ou expô-lo a calor intensivo.

Era sensível. Até demais.

Ele não se relacionava. Ele não queria sentir.

Nenhuma sensação. Nem física. Muito menos psicológica.

Era apenas ele. Ele e o Doce.

Doce e Ele.

Passava a língua naquela superfície tão doce.

E se via em um mar de rosas.

Diabético? Se for, ele não se importava.

Morreria. Mas morreria por doce.

Ele se orgulhava disso.

Seus olhos brilhavam e seu coração acelerava. A cada pedaço.

A cada mordida.

A cada...

Sensação...

Doce...

E era assim que ele vivia.

Extrovertido e brincalhão. Mas sádico.

Emanando um cheiro adocicado.

Delicioso. Irresistível.

Não importa por onde passasse.

Seus lábios macios, dando impressão de veludo. Chamava a atenção.

Ele desejava os doces caindo e cobrindo sua boca. Como a calda. Ou até mesmo balas duras.

Ele era escravo do doce. Ele vivia do doce. E sem o doce ele morreria.

Ele preferiu se tornar servo do doce. Do que de um ser humano qualquer.

O doce não o trairia. O doce não o deixaria. O doce jamais deixaria de existir.

E então chegou o dia de provar o salgado.

Mas ele não degustou de tal sabor da maneira tradicional.

Provou o salgado dos lábios de alguém.

Alguém sarcástico. Que o beijou entre sorrisos de escárnio.

A pureza de sua boca adocicada foi embora.

E o doce de seus lábios foi tirado.

A mascara de um mundo perfeitamente doce e infantil caiu.

Agora ele via perfeitamente o verdadeiro modo das pessoas agirem.

Sua inocência foi embora.

Agora ele via as pessoas a sua volta com o olhar de um adolescente.

E o sal tomava conta da sua boca pouco a pouco.

E isso ardia. Incomodava. Era tão ruim perder seu doce inocente.

Mas um dia ele tinha que perder. E não seria naquele momento.

Nem em um momento próximo.

O mundo era bem melhor quando se é inocente e não se tem responsabilidade.

Ninguém quer perder a inocência infantil.

Viver alheio aos problemas profissionais, financeiros e amorosos.

"O inocente caminha com tranqüilidade." (Textos Judaicos)

Era tudo que ele queria. Banhado a doce. Lógico.

Ele amava demais o seu doce. E ardia não senti-lo em sua boca.

E então. Abandonou o dono dos lábios de sal.

E voltou a cobrir sua boca e sentimentos por doce. Puro e pegajoso doce.

Sal e açúcar juntos é bom para alguns. Sal e Açúcar juntos podem virar soro.

E soro cura.

Talvez sal e açúcar juntos é ruim para outros. E ele era um desses.

Só iria se apaixonar se fosse por um lábio como o seu.

Um lábio doce. Beijo doce.

Ele esperava por isso.

Sempre esperou. Por um beijo. Doce. E Inocente.

"O beijo é um procedimento inteligentemente desenvolvido para a interrupção mútua da fala quando as palavras tornam-se desnecessárias." (Autor Desconhecido)

Nunca espere que alguém te dê um beijo perfeito. Faça o beijo ser perfeito.