Quando Voa a Borboleta escrita por Aki Nara


Capítulo 1
Capítulo 1 - Casa no Morro




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_ Tem certeza que não quer ir pro karaokê com a gente? – Yoko, a amiga mais patricinha tentou convencê-la pela última vez.

 _ Tenho, garotas. Estou sem dinheiro...

 _ Ah! É só arrumar um otário pra pagar as contas – o comentário de Ayame fez as outras rirem.

Essa era a moda entre as patricinhas do colégio, coisa de garotas ociosas e cabeças ocas, que nunca pesaram nos perigos dessa diversão.

 _ Fica pra próxima – Yuki disse dando um grande suspiro.

 _ Você canta bem e nunca participa... – Miwa fez beicinho.

 _ Eu sou a ovelha negra da família, lembra? Numa família de “Yutossei”, eu tenho que me esforçar muito pra manter o bom nome da família Ueno – sorriu fazendo pilhéria de si mesma.

 _ Você é sortuda por ter aqueles dois príncipes como irmãos gatos – os olhos de Yoko brilharam.

 _ Pois é... Seria péssimo envergonhá-los, não é mesmo? – Yuki fez careta.

 _ Tem razão. Eu faria tudo que eles me pedissem. Tudo mesmo!! – Yoko foi categórica ao dar duplo sentido a palavra “Tudo”.

 _ Sai desse corpo que não te pertence! – Yuki fez o sinal da cruz.

As garotas despediram-se rindo. Yuki esperou até que elas tivessem fora do alcance de sua visão para atravessar o parque correndo, virou na esquina da padaria e subiu o morro, onde segue um corredor de lojas pequenas e variadas, armarinho, loja de trecos, loja de conveniência, quitanda, cyber-café, livraria, tudo numa bagunça ordenada. 

Entretanto, o que mais chama a atenção, está lá em cima onde acaba a rua... Uma casa saída de um conto de fadas, branca com telhado vermelho, veneziana, chaminé, jardim florido, quintal e cercado de madeira. Um lar para ela até pouco tempo atrás... Antes dela saber toda a verdade sobre si mesma.

_ Como membro dessa família ela tem o direito de saber a verdade – Haruki tentava expor sua opinião em vão.

_ Qual verdade, maninho? – Natsuki encarava o irmão como se pudesse enxergar longe.

_ Acreditam tanto na mentira absurda que inventaram que estão cegos para as diferenças físicas entre nós? Ela vai descobrir que não somos gêmeos...

_ Gêmeos bi vitelinos à vezes não se parecem... Por que arriscar magoá-la quando isso não interfere no relacionamento dessa família? – Natsuki olhou para o pai que lhe assentiu.

_ Se ela descobrir e ligar o fato de que temos a mesma idade chegará à conclusão de que também não somos irmãos.

_ Eu também não gosto de estar mentindo para Yuki... – o pai se manifestou contraditório.

_ Então? Não é melhor que ela saiba o quanto antes...

_ Melhor?? Pra você, talvez... É essa a questão, não é?

Yuki adentrou a casa indo direto para a escada e subiu sem fazer barulho, o melhor que fazia ultimamente era ficar recolhida dentro do quarto. Ela se jogou na cama sentindo-se miserável e colocou os braços nos olhos para esconder as lágrimas que escorriam silenciosas.

Invadida pela angústia sentiu-se sufocar pelo desespero, mas conteve os soluços para não dar vazão a dor no peito. Proibia-se de chorar porque não queria ninguém sentindo pena dela. Ela se sentou para recompor o resto de dignidade que lhe sobrara, seus olhos procuraram no cômodo, o retrato ao lado da cama.

Chieko Ueno tinha um olhar sonhador e vulnerável, de pele sedosa e branca, cabelos lisos e compridos, um ar de princesa que a deixava extremamente bonita e feminina. Por vários anos essa foto lhe servira como modelo, ingenuamente Yuki sempre quis ser como ela. E agora percebia que nem mesmo chegaria perto das lembranças mais doces que tinha da mãe.

Num átimo chegou até a penteadeira e pegando a tesoura não se satisfez até cortar os longos cabelos até a altura do queixo. A velha mágoa havia crescido como erva daninha. “Lagarta”, o antigo apelido infantil parecia adequado, era como ela se sentia naquele instante, um verme insignificante. Ela abaixou os olhos do espelho para ver seu reflexo.

Porém, lembrou-se que o pai lhe consolava dizendo que seu “eu” verdadeiro estava escondido num casulo e que um dia resolveria dar o ar de sua graça. Ela costumava acreditar que se transformaria numa bela borboleta, mas hoje, ela não gostaria de voar para longe de casa, tudo de que precisava era fazer parte daquela família novamente.


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Notas finais do capítulo

"Yutossei" - C.D.F