14 Você não Está Sozinho escrita por Sereny Kyle


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/13500/chapter/1

Você não está Sozinho

 Kay e Ginji estavam fora do trailer olhando o céu como faziam todas as noites. Faziam isso por dois motivos: o primeiro era para ficarem sozinhos e o segundo, pra se afastarem das brigas de Ban e Tay, que sempre eram piores a noite porque eles não tinham desculpa pra ficarem afastados. Essa não era uma noite diferente.
 Ginji foi se aproximando sutilmente de Kay e enlaçou seus dedos, eles já tinham entendido que o que sentiam não era só amizade, mas ainda não tinham contado a Ban e Tay e por isso ainda era segredo.
 Ban chutou a porta do trailer e saiu espumando, se aproximou dos dois e nem notou que suas mãos estavam apertadas uma na outra.
 -- O que foi que aconteceu, Ban? – colocando um cigarro na boca, Ban olhou para Kay.
 -- Se eu não saísse de lá, permitiria que esse instinto assassino tomasse conta de mim! – ele acendeu o cigarro e ficou admirando a estrela Kay brilhar a anos-luz de distância.
 -- Desculpe, instinto assassino, Ban? Meio Akabane, né não, cara? – Ban riu e o clima ficou menos pesado.
 -- Não entendo porque você e minha irmã brigam tanto, Ban!
 -- Honestamente? Nem eu, Kay! Mas sua irmã tem o dom de me tirar do sério. É como se ela sentisse prazer em...
 Ban não completou a frase, os três ouviram um barulho estrondoso dentro do trailer como se milhares de coisas despencassem ao mesmo tempo e ouviram um berro de Tay. Ban saiu correndo com Ginji e Kay em seu encalço.
 Tay estava caída no chão com algumas panelas e um copo quebrado. Levantava-se devagar.
 -- Você está bem? – Ban ofereceu a mão para ajudá-la.
 -- Estou, só me desequilibrei – Tay aceitou a mão dele, mas quando tentou firmar o pé, ele cedeu. – Acho que torci o pé.
 Sem pensar, Ban levantou Tay do chão e a levou no colo até o quarto.
 -- Descanse um pouco que seu pé melhora.
 Kay e Ginji tinham se sentado depois de passado o susto e conversavam.
 -- Engraçado que o Ban correu bastante rápido pra socorrer a sua irmã pra alguém que estava sendo dominado por um instinto assassino um pouco antes, né mesmo, Kay?
 Kay se aconchegou no braço de Ginji, rindo.
 Os Get Backers teriam um serviço no dia seguinte e saíram muito cedo para cumpri-lo.
 Já era hora do almoço e nada tinha sido fácil naquela missão. Enquanto Ban remoia o plano apertando o volante da Joaninha, um esfomeado Ginji reclamava sem parar.
 -- Oh, Ban, eu tô cansado e com fome!
 -- Cala a boca, Ginji!
 -- Mas eu acordei super cedo, não tomei café, a gente andou em círculos e não conseguiu nada, Ban, eu quero comer!
 -- Eu disse pra calar a boca! Diz aí, como pretende almoçar? Não dá pra voltar pro trailer ainda e Tay nos transformaria em purê de Get Backers se fossemos no Paul aumentar a nossa conta!
 -- Mas não é nada disso, olha, tem duas caixinhas aqui, uma pra cada um! – Ginji tirou do banco de trás e mostrou-as a Ban.
 -- De onde tirou isso?
 -- Tay deu pra nós! Ela fez de noite!
 Ban ficou olhando pra caixinha de comida que Ginji colocara em suas mãos. Ginji abrira a sua e olhava sorridente para seus bolinhos.
 -- Ah, obrigado pela comida!!!
 -- Não sei não, Ginji. Acho que ela colocou veneno na minha comida.
 -- Qual é? – Ginji olhava Ban abismado, com a boca cheia de comida. – Você nem abriu a sua caixinha! Isso aqui tá muito bom!
 Ban abriu a caixinha, não eram as mesmas de Ginji e parecia tão saboroso.
 -- Ela fez suchi pra mim – ele declarou surpreso.
 -- Viu? E você dizendo que ela tinha posto veneno!
 Ban saboreou cada pedaço da deliciosa comida que Tay preparara. Tay era uma excelente cozinheira, mas a comida daquela caixinha tinha um sabor divinamente diferente. E ele sentiu um profundo remorso por ter brigado com ela na noite passada. A cena se repetia em sua mente:
 Tay preparava o jantar como todas as noites, Kay e Ginji tinham saído do trailer com o pretexto de olhar a noite, crentes que Tay e Ban desconheciam seus verdadeiros motivos.
 Ban saiu do quarto em direção a cozinha, colocando um cigarro na boca e brincando de abrir e fechar o isqueiro.
 -- Mas você é surdo ou estúpido? Quantas vezes vou ter que mandar fumar lá fora? – Tay virou-se enraivecida, assustando Ban, que tinha se encostado distraído na porta.
 -- Eu não ia fumar! – Ban gritou, injustiçado.
 -- E por que o cigarro está na sua boca e o isqueiro na sua mão?
 -- É hábito, Tay! Eu nem estava prestando atenção no que eu estava fazendo!
 -- Bela desculpa – Tay deu-lhe as costas com um tom de voz sarcástico.
 -- Como você consegue ser tão chata? Quando eu penso que não dá pra piorar, você se supera! – ele largou-se na poltrona, mal humorado.
 -- Ora, meu trailer, minha regras! Você sabia que seria assim quando veio morar aqui! Se não consegue conviver com isso, vá embora!
 -- Talvez eu vá mesmo!
 -- Ninguém o está impedindo!
 -- E tão pouco sentiria minha falta, não é?
 -- Por quê? Você gostaria que eu sentisse sua falta? – Tay voltou-se pra ele com um olhar provocador.
 Na realidade, ela queria saber a resposta. Desde a noite em que ele salvara Kay e desde a conversa sobre Yamato, com o fato de ele ajudá-la nos serviços das Kamy Spys, ela tinha por ele algo inexplicável que acelerava seu coração e fervia seu sangue cada vez que ele se aproximava. Uma sensação contraditória que a tentava se atirar nos braços dele ou estrangulá-lo.
 -- Você sabe que sentiria minha falta! – Ban sabia como frases arrogantes como está descontrolavam Tay e ele sentia um estranho prazer em vê-la furiosa, algo demoniacamente atraente atiçava-o a provocá-la sempre sem razão nenhuma. “Ela fica linda brava!”, ele afirmava a si mesmo. A verdade era que depois de toda a aproximação dos dois, Ban começara a olhar Tay ainda mais atentamente, não esperando um ataque, apenas por olhá-la, quando ela estava concentrada, ou quando sorria, quando se espreguiçava e como seus traços ficavam delicados quando ela provava algo que lhe dava imenso prazer.
 -- Assim como no dia que entrou nessa casa, eu me sentiria aliviada se você fosse embora sem olhar pra trás!
 -- Eu não lhe darei o prazer de me ver pelas costas!
 -- Pra que torturar a nós dois com essa penosa convivência? Nos odiamos, certo? Então vá embora de uma vez e sejamos felizes!
 -- O problema é seu se você me odeia! Eu nunca tive um lar agradável mesmo, você é o menor dos meus tormentos! Ter o que comer e onde dormir compensam a sua presença desagradável! – Ban olhou-a cinicamente, abrindo e fechando o isqueiro, provocador. Ele percebera que tinha ido longe demais vendo a expressão de ofensa no rosto de Tay.
 -- MINHA presença desagradável?! Você mora de favor na minha casa, come da minha comida, é mal humorado, prepotente, arrogante e não respeita as regras da minha casa! Você é folgado e irritante!
 -- Folgado? – Ban levantou-se enfurecido. – Eu ajudo no trailer, trabalho, cada centavo do que Ginji e eu ganhamos vem pra essa casa, ajudo nos seus serviços de espionagem e ainda sou folgado? – ele atravessou a porta, furioso.
 E por isso sentia-se tão mal comendo aquela comida tão deliciosa que ela preparara, provavelmente enquanto os dois discutiam.
 Quando voltaram, Ginji devolveu sua caixinha a Tay com uma profunda reverência e um largo sorriso de agradecimento, fazendo-a rir. Ban se aproximou dela com um olhar envergonhado e os dois se encararam, ambos segurando a caixinha.
 -- Muito obrigado pela comida, estava deliciosa!
 -- Estava do jeito que você gosta?
 -- E como! Olha, Tay...
 -- Esse foi o jeito que eu encontrei pra me desculpar.
 -- Se desculpar?
 -- Eu fui muito rude com você ontem! Você tem sido tão... E eu sou muito... Mal agradecida!
 -- Não, fui eu que comecei tudo! Você impôs as suas regras e eu não ajudo em nada as desobedecendo! Não é justo que você tenha que dividir sua casa conosco e ainda não ser respeitada.
 -- Você é muito respeitador e tem ajudado tanto! Eu tenho que aprender a ceder mais!
 -- Eu vou tentar ser menos implicante! – ele acariciou o rosto de Tay fazendo-a sorrir e ele sentiu um enorme prazer ao tocar a pele dela.
 -- Como foi o trabalho? – ela colocou a caixinha na pia, quatro pratos na mesa e serviu um caldo fumegante e suculento no que estava à frente de Ban.
 -- Recebemos pouco. E foi uma droga! – ele colocou uma colherada na boca e o cheiro da sopa atraiu Kay e Ginji como insetos no mel.
 -- Que pena ouvir isso!
 -- Toma, já separei os trinta por cento pra guardar!
 Tay pegou o dinheiro que ele lhe oferecia e guardou em uma caixa. Os quatro jantaram e conversaram, Ginji contando como tinham sido encurralados por um grupo de brutamontes. Tay tinha feito brigadeiro de sobremesa e, depois de tanto comerem, Kay e Ginji foram se deitar. Ban estava fora do trailer e Tay foi até ele.
 -- Posso me sentar? – Ban estava sentado mais uma vez na cadeira que ficava do lado de fora, era grande como uma espreguiçadeira e cabiam duas pessoas sem problema.
 Ele se afastou, dando espaço pra ela e enquanto ela se ajeitava, com seu corpo colado no de Ban, ele fechou os olhos e mordeu os lábios. Tay estava com a panela de brigadeiro e duas colheres para dividirem, Ban passou o braço pelos ombros dela pra acomodar os dois.
 -- Você me parece preocupado. Algum problema? – eles tinham ficado um tempo em silêncio, apenas saboreando as raspas da panela. Apesar de a proximidade afetá-lo, Ban tinha o olhar distante.
 -- Estava pensando nos Get Backers. Se não seria melhor arranjar um trabalho de verdade onde me pagassem por todo serviço que faço.
  -- O que o fez pensar nisso? – Tay ficou espantada de ouvi-lo falando aquilo, pois sabia o quanto o serviço de recuperação era importante pra ele.
 -- Nós somos quatro, Tay e eu não posso me dar ao luxo de não conseguir trabalho como quando éramos só Ginji e eu. Você e Kay contam conosco!
 -- E desde que chegaram, não nos decepcionaram nenhuma vez! Não tem que se preocupar.
 Ban sorriu pra ela e os dois fixaram o olhar um no outro por um tempo. Ele fechou o sorriso e perguntou sério:
 -- O que fez você vir aqui essa noite? – os dois estavam muito próximos agora, seus rostos a poucos centímetros de distância e eles sussurravam para não acordarem os dois dentro do trailer que dormiam.
 -- Você ás vezes me parece tão sozinho... Mas não que não queira companhia.
 -- Os amaldiçoados não costumam ter muitos amigos.
 Tay chegou o corpo ainda mais perto do de Ban e ele se assustou com essa aproximação repentina e prendeu a respiração, seus rostos foram ficando mais próximos, mas ela apenas lhe deu um beijo no rosto e se levantou.
 -- Você não está mais sozinho, eu sempre estarei aqui! – ela acariciou o rosto dele. – Não demore a se deitar, está bem? Boa noite.
 Tay entrou e ele segurou o beijo em seu rosto, encostando-se na cadeira com um sorriso no rosto.

Reviews por favor....


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "14 Você não Está Sozinho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.