POV ARO

No dia do assassinato da Jane, um pouco antes do acontecido...

Estava sentado no meu sofá confortável. Sempre fiz questão de luxo, pois tinha pagado um preço muito alto para chegar aonde eu cheguei.

De repente vejo meus dois irmãos ao meu lado. Claro que tomei um susto. Essa casa só tinha um grande problema, a porta de entrada ficava bem longe da sala, então qualquer um, que tivesse a chave, é claro, podia entrar e sair de casa tranquilamente, eu nem ouvia a porta batendo.

- Oi Aro. – O jeito do Caius de falar era bem diferente do meu. Ele não tinha aquela falsa cordialidade que eu tinha aprendido a adotar. Qualquer um que falasse com ele poderia facilmente ver o quão canalha ele era.

- Ei irmão. – Marcus era o mais tranquilo de nós, o que menos se preocupava com as coisas e o que mais enganava. Tanto que minha filha confiava cegamente nele. Tadinha, Marcus era tão corrupto quanto Caius, e eu.

- Infelizmente temos um assunto bem delicado para tratar com você. – Caius disse, parecendo ligeiramente receoso.

- Irmão, lembra do que tivemos que fazer alguns anos atrás? Então, pelo visto vamos ter que repetir o mesmo processo. – Marcus disse de modo despreocupado. Eu o conhecia bem o suficiente, alias, conhecia os dois bem o suficiente, para saber que eles se importavam. Eles se importavam com o que tinham feito, e eu também, mas isso não significa que tínhamos nos arrependido, foi por um bem maior, o nosso bem maior.

- Expliquem-se. – O que fizemos foi horrível, mas, eu faria de novo. Até porque, nada poderia ser pior. Certo?

Errado!

- Sua filha, Aro. Está saindo dos limites. – Caius explicou, e meu coração apertou instantaneamente.

- Como assim? Jane sempre foi uma boa menina. – Eu tentei argumentar, mas eu sabia que seria em vão, eu já tinha percebido que ela estava um pouco mais rebelde esses dias. Já desconfiava o porquê, e algo me dizia que meus irmãos confirmariam minhas suspeitas.

- Jane veio falar comigo hoje. – Começou Marcus. Como eu disse: a Jane, inocentemente, confiava nele. – Ela pretende, hoje ainda, passar todas as ações para Edward Cullen.

Eu não podia acreditar no que ele estava falando. Como minha própria filha pôde me
trair desse jeito?

- Pelo visto, ela já tem o documento assinado e vai entregar para ele daqui a pouco, só não sabemos onde o documento está. – Caius completou.

- O que vocês querem fazer exatamente? – Na verdade, eu já sabia, só queria ter minhas suspeitas confirmadas.

- Meu irmão, sabemos que é doloroso para você, mas você sabe o que temos que fazer. Já temos tudo pronto, você não precisará se envolver em nada. – Caius disse. E a palavra “morte” estava escondida por debaixo de cada palavra dessa frase.

- Olha, - Marcus apoiou – você sabe que eu amo a Jane, amo mesmo. – Eu via sinceridades naquelas palavras. – E vai ser muito doloroso para mim também. Mas temos que pensar primeiramente em nós, sempre. Lembra? Prometemos isso. Pensar primeiro em nós. Por isso nos fizemos aquilo anos atrás, e por isso deixamos toda a empresa com você, para todos pensarem que éramos santos em quem podiam confiar. Irmão, não podemos deixar a Jane botar tudo a perder agora, mesmo que a amemos muito.

Caius ficou escutando. Eu não duvidava que ele também amasse minha filha, mas Caius com certeza era o que mais fazia questão de assassiná-la. Primeiro porque era o mais sanguinário de todos, e segundo porque era o mais ambicioso de todos. No fundo, todos os planos eram dele.

- Caius, me explique como vocês fariam exatamente.

- Primeiro, tenho que te contar um pequeno bônus. – Ele ficou em silêncio quando viu a merda que tinha falado, afinal, não havia nenhum bônus em matar a própria sobrinha. – Desculpa, eu quis dizer... O que eu quero dizer é que vamos colocar a culpa do assassinato em cima do Edward. Vamos virar totalmente esse jogo.

- Como vocês fariam isso?

- Simples. O compromisso com Edward deve está em sua agenda, não é difícil provar que eles iriam se encontrar, é só fazer a morte cair perto do horário de encontro, jogar o corpo – ele engoliu seco, apesar de ser cruel, era da sobrinha que ele estava falando - em um local próximo à casa do Cullen, e plantar uma arma em sua casa.

- E como plantaremos essa arma? – Eu estava adiando o assunto. Eu sabia que teria que dizer “sim”, mas não queria, eu não queria ver minha filha em um caixão.

- Desculpe-me, mas eu tomei a liberdade de fazer isso logo, para agilizarmos o processo. Bem, não foi difícil, uma tal de Brenda que trabalha para o Edward estava precisando de dinheiro. Edward paga bem para suas empregadas, mas essa aí gasta demais, então, estava cheia de dividas. Molhei um pouco sua mão e ela colocou a arma na casa. Claro que ela usou uma luva. Não vi nenhuma forma de colocar as digitais do Edward, mas isso não é importante, podemos afirmar que ele pode ter usado uma luva.

O plano tinha sido bem calculado. Claro, Caius sempre fazia as coisas direito. Eu e Marcus concordávamos porque éramos tão ambiciosos quanto ele, mas ele que pensava em tudo, ele que mandava as pessoas certas fazerem os serviços.

- Quem vai matá-la? – Perguntei com o coração na mão, perguntar aquilo era dar minha permissão. Sim, eu estava autorizando a morte da minha própria filha. Eu a amava, a amava muito, mas não podia deixá-la estragar o que eu ganhei a custa do sangue dos meus pais.

O sangue dos meus pais. O pior crime que eu já tinha cometido na minha vida. Eles nunca foram as pessoas mais honestas do mundo, mas não eram horríveis também. Quando eles foram fazer o testamento eu e meus irmãos começamos a planejar o assassinato. Para começar, Caius e Marcus pagaram de bons moços que não queriam nada com a empresa. Era bem mais fácil ter só uma pessoa no poder. Uma pessoa com esposa, filhos... E eu me encaixava perfeitamente em tudo isso. Eu seria bom para a imagem da empresa, então eu governo a empresa. O que ninguém sabe é que eles me ajudam debaixo dos panos e que nós dividimos todos os lucros.

Fizemos parecer que eles tinham morrido durante um assalto. Nenhum de nós queríamos esperar para ganhar o controle da empresa.

- James. – Marcus disse.

- James o que? – Eu perguntei confuso.

- Onde você está com a cabeça? James vai matar a Jane. – Marcus me repreendeu.

- Ah! O mesmo que matou nossos pais. Tudo bem, só não a façam sofrer. – Eu tive vontade de chorar, depois de muitos anos sem liberar uma lágrima, mas aquela traidora não merecia nenhuma lágrima vinda de mim. Ela iria apoiar aquele idiota! Eu sabia que a Jane tinha um grande senso de justiça e isso sempre me preocupou, mas não achei que ela chegaria a esse ponto.

Por um momento me preocupei com o Alec, mas eu sabia que ele era bem mais obediente, não me trairia desse jeito.

- Tudo bem, vou mandar o James ser rápido, ela nem irá sentir. – Caius disse.

Nesse mesmo momento ouvimos o barulho de algo se quebrando, seguimos o som e vimos um vaso de flores quebrado, aquele vaso era o preferido da minha querida Sulpicia. Ela morrera anos atrás em um acidente de carro. Tudo seria tão mais fácil se ela estivesse aqui, ela sempre me apoiou sem reclamar, ela me amava mesmo com as minhas desonestidades.

- Como esse vaso foi parar no chão? Será que alguém ouviu nossa conversa? – Caius perguntou preocupado.

- Claro que não. – Respondeu Marcus, que sempre foi o mais relaxado de todos. – Deve ser sido o vento, sei lá, não se preocupe. Vamos embora, ainda temos que ligar para o James, e você – olhou para mim – tem que ligar pra qualquer advogada, logo depois que receber a noticia da morte, entendeu?

- Pode deixar, eu não sou nenhum idiota. – Eu estava sem forças para discutir com ele.

- Vamos. – Caius encerrou nossa pequena discussão, reparando no meu estado.

Não muito tempo depois eu recebi uma ligação da delegacia da cidade.

- Senhor Volturi, temos uma péssima notícia para darmos ao senhor.

- Pode falar. – Tentei manter minha voz com o nível correto de calma e preocupação, mas eu só queria desabar.

- Sua filha foi encontrada morta. Não precisa fazer o reconhecimento do corpo, já chamamos os seus irmãos e eles se prontificaram para isso. Nós sentimos muito.

Eu não tinha o que falar, então desliguei na cara da pessoa que estava do outro lado da linha, provavelmente um delegado, ou algo parecido. Ele pensaria que eu fiquei em estado de choque, e ficaria com pena de mim.

Eu não estava arrependido, afinal, aquela ingrata teve o que mereceu, mas meu coração ficava cada vez mais apertado, à medida que eu ia me lembrando do seu sorriso quando criança... No quão parecido ela era da minha Sulpicia...

Liguei a televisão e a morte e as suspeitas contra o Cullen já estavam rolando, mas eu não queria comemorar, eu não tinha vontade de fazer nada. Infelizmente, ainda restava uma ultima coisa a ser feita. Liguei monotonamente para o primeiro número que me veio à cabeça.

- Alô. – Ela não demorou para atender.

- Bella?

- Sim. – Ela parecia um pouco impaciente.

- Aqui é o Aro. – É, eu estava falando coisas obvias, é que ainda não estava pensando direito.

- Claro. O que você quer? – Ela tinha uma falsa doçura em sua voz.

- Tenho um caso para você.

- O que aconteceu?

- Assassinaram minha filha, Jane Volturi. Tenho certeza que foi o Edward, e você vai provar isso.

Deixei uma lagrima cair. A única. Não derramaria mais nenhuma lagrima por ela, nenhuma.