Dare yori mo kimi wo aishiteru…Aishiteru, aishiteru...

 Uruha errara a nota novamente, sempre na mesma parte da música. Todos o olharam, irritados. Já devia ser a quarta ou quinta vez que tocavam Reila, e Uruha errara novamente.

 - Pra mim já chega. Eu vou embora. – Aoi largou a guitarra e pegou o casaco, se dirigindo até a porta de saída do estúdio.

 - A gente precisa terminar isso hoje! – Kai gritara para Aoi, mas este apenas abanou ironicamente e saiu, fechando a porta. Kai também jogou as baquetas de lado e se levantou.

 - Desculpem... – Uruha abaixou a cabeça, não queria mesmo ter estragado o ensaio, mas estava tão perturbado.

 Ruki, que estivera de cabeça baixa, quase meditando, finalmente a levantou e encarou Uruha com o ar muito sério. Andou até a porta do pequeno cômodo que usavam para trocar de roupa e guardar parte do equipamento e abriu a porta, voltando a encarar Uruha:

 - Entra.

 Reita e Kai trocaram um olhar preocupado, sabiam que quando Ruki ficava irritado o bastante para ter que parar um ensaio importante e “conversar” com um membro, a coisa podia ficar muito feia. A prova viva disso era Yune, o antigo baterista, que deixou a banda depois de uma de suas “conversas” com Ruki. Uruha andava aéreo em todos os ensaios e não ia muito bem nos shows também, Reita e Kai temiam de verdade pela permanência dele na banda.

 Uruha, resignado, entrara no pequeno aposento de cabeça baixa, sem olhar para os companheiros mas pensando exatamente a mesma coisa. Entrou e manteve a cabeça baixa, parado no meio da pequena peça. Ruki entrou em seguida, fechando a porta e parando, escorado na parede, na frente do guitarrista.

 - Qual o seu problema? – sua voz era fria, mas não de todo irritada.

 - Eu só... desculpe. Não vai acontecer mais. – Uruha ainda não levantara a cabeça para olhar Ruki nos olhos.

 - Você já falou isso hoje! – agora sim Ruki parecia irritado – Não sei o que você está pensando, mas isso não é uma brincadeira, Uruha!

 - Eu sei que não é! Desculpe se eu sou irresponsável e idiota e não levo nada a sério, mas nem sempre eu consigo ser perfeito como você! – Uruha finalmente encarou Ruki, mas só para lhe dar as costas depois. Sabia que era sua culpa não conseguir se concentrar, mas o outro não precisava ser frio. No fundo achava que o vocalista sabia que era sua culpa em parte.

 Ruki segurou seu braço, com força para não deixá-lo ir, mas não com a raiva que antes parecia demonstrar, esperou Uruha voltar a encará-lo para soltar seu braço.

 - Eu não quis dizer isso, desculpe. Mas você tem que se concentrar, Uru. – Ruki falava no tom de voz baixo que sempre usava quando estava sozinho com Uruha.

 - Eu sei... – Uruha também não estava mais irritado. Nunca conseguiria ficar irritado por muito tempo com Ruki, por mais que quisesse – É que é estranho te ouvir falando isso... sabe, quando é só isso que eu queria ouvir de você.

 Ruki demorou um pouco para entender do que Uruha estava falando, mas então tudo ficou claro: Aishiteru. Uruha travava nessa parte porque era isso o que sentia. Ruki sentiu o estômago afundar por uns segundos enquanto encarava Uruha. Os dois haviam começado a se envolver como mais que simples amigos há mais ou menos uma semana, e Ruki realmente não levava muito a sério até então, se encontravam casualmente no apartamento de um dos dois e era isso. Ruki sentia sim que gostava muito do outro, talvez até demais, mas não queria se envolver demais afetivamente e acabar estragando uma amizade e prejudicando a banda. Mesmo amando Uruha, não podia amar.

 Já Uruha não pensava assim: queria sim se envolver completamente com Ruki, queria correr o risco de não dar certo, queria provar o quanto gostava dele. Continuou encarando Ruki, vendo-o corar depois de um tempo. Aproximou-se dele o abraçou.

 - Eu vou prestar mais atenção. Sei que não é bom misturar as coisas. – continuou abraçando Ruki por um tempo, a cabeça repousando no ombro do vocalista.

 - Tudo bem. – Ruki o beijou brevemente e sorriu.

 - Acho melhor a gente voltar, Aoi não deve ter ido muito longe e talvez o ensaio não esteja completamente arruinado. – Uruha sorriu de volta, e foi distraidamente até a porta.

 - Uru...

 - Sim?

 - Aishiteru.

 O guitarrista já estava com a mão no trinco, mas o largou, encarando Ruki, procurando algo em seus olhos que pudesse dizer que estava apenas falando por falar, mas não achou nada. Foi até Ruki novamente e o beijou, mas dessa vez mais intensamente, o abraçando do mesmo jeito. Ficariam ali por mais um bom tempo.

 Do outro lado da parede, Reita afastara o ouvido da porta, olhando para Kai, que também estava com o ouvido colado na porta:

 - Humpt. Desse jeito até eu...

 Ambos riram e foram pegar as coisas para irem embora, procurar Aoi e saírem para comer algo. Não teria mais ensaio naquela noite mesmo.

[fim~]