Última Chance, Judd. escrita por FrannieF


Capítulo 7
Capítulo VI




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Capítulo VI: O jantar.

"Caramba! Me deixa ver se eu entendi isso direito... Você vai ter que trabalhar com o novato, aquele garoto esquisito cheio de piercing e coisa assim que é o mesmo garoto da sua infância que tentou te agarrar e... Que tentou te agarrar?!"

Tom está me observando com os olhos quase horrorizados. Eu balanço a cabeça, concordando com cada pedaço de sua frase, sem nem de fato escutá-la com muita atenção, já que nós estamos dentro do elevador e eu meio que peguei um leve trauma de elevadores. Há mais algumas pessoas a nos fazer companhia ali dentro e eu sei, de alguma forma, que eles estão olhando para mim e Tom com olhares desconfiados (que eu não dou a mínima, obviamente). O elevador então finalmente balança e pára no térreo da H&M, abrindo as suas portas metálicas e automáticas, dando espaço para as pessoas se desgrudarem uma das outras e saírem o mais rápido possível dali.

São seis horas da tarde. O saguão do prédio empresarial parece estar pegando fogo ou algo parecido, porque todos estão tão apressados que esse pensamento absurdo quase consegue me convencer por um instante. Mary Shelley analisa a todos com um ar aborrecido enquanto lixa as unhas, porque, infelizmente para ela, tem mais uma hora de trabalho a cumprir.

"Thomas! Thomas!", um grito nos pára pelo caminho. Ao olhar por cima dos ombros, vejo um Danny Jones apressado correr até nós. Ouço Tom ao meu lado soltar um suspiro irritado. "Uff, quase não chego a tempo!"

"Eu não me importaria se não chegasse", Tom murmura para mim e eu, sem conseguir me controlar, abafo uma risada enquanto o acotovelo nas costelas.

"Desculpe a demora, estava no banheiro e, quando saí, não te encontrei!", Danny continua, sem nem ao menos reparar os cochichos debochado de Tom. "E então depois eu encontrei um amigo e nós ficamos conversando e aí–"

"Um amigo?", Tom repete repentinamente, um tanto surpreso. Eu bufo, começando a ficar impaciente, já que o meu estômago vez ou outra ronca de fome. Nós ainda estamos parados no meio do saguão da H&M, ironicamente. "E desde quando você tem amigos por aqui?"

Danny parece meio confuso por um momento, olhando de Tom para mim, antes de coçar a nuca e entreabrir a boca para dizer algo, aparentemente bastante envergonhado.

"Você não precisa ficar com ciúme, Fletcher, afinal de contas, ele ainda é a sua babá", eu não me contenho em provocá-lo de alguma maneira, impedindo Danny de dizer sabe-se lá o quê.

Com uma palmada nos ombros de Tom e um "muito engraçado, Judd" murmurado ao meu lado por ele, nós finalmente nos encaminhamos para fora do prédio em silêncio. Por algum motivo esquisito, Danny deixa que eu e Tom tomemos distância, enquanto o ruivo (finalmente me decidi pelo ruivo) anda atrás de nós, no mais completo silêncio. O meu estômago ronca pela segunda ou terceira vez e eu logo lanço a Tom um olhar culposo antes de começar a rir. Ele logo está me acompanhando nas risadas.

"Ei, eu vou jantar com Andi hoje", começo depois de um tempo, dobrando as minhas mangas da camisa até os cotovelos apenas porque o ar carregado da rua está abafado, o que me faz sentir ligeiramente sufocado. "Em um restaurante aqui perto. Você pode ir, se quiser. Eu quero dizer, só se não tiver planos de um jantar romântico com Danny, aí tudo bem, eu deixo passar."

"Está cada vez mais engraçado! Impressionante!", Tom me soca aborrecido o braço mais próximo, ainda andando ao meu lado.

Por um instante, olho por cima dos meus ombros apenas para me certificar de que Danny ainda está nos acompanhando e, com um assobio fraco, o chamo para perto. Ele divide o olhar de mim para Tom, como se pedisse por uma aprovação do outro, e, quando Tom simplesmente rola os olhos e volta o olhar para frente, Danny finalmente se aproxima, contente. Eu o espero parar ao meu lado, enquanto Tom se irrita e começa a andar mais rápido, passando por nós e nos deixando para trás. Eu apenas rio.

"Ei, nós vamos jantar no Alounak hoje, ótima comida. Quer ir junto?", o rosto de Danny parece se iluminar, mas ele logo se contém para abrir uma expressão pensativa no rosto. "Não precisa se preocupar, Tom também vai, então de um modo ou outro você estará fazendo o seu trabalho, certo?"

"Sim!", exclama Danny finalmente e, ao fundo, nós ouvimos Tom reclamar de algo mais à frente. Danny apanha uma das minhas mãos, desajeitado, e começa a balançá-la para cima e para baixo. "Isso seria ótimo, obrigado!"

"Eh...", eu o olho esquisito enquanto ele ainda balança minha mão, nós dois andando um do lado do outro e eu com um ligeiro medo de me desconcentrar e tropeçar em algo (afinal Danny tem um aperto de mão realmente forte). "Por nada, eu acho", murmuro, agradecendo em mente quando Danny finalmente me solta a mão. Massageando discretamente o pulso, pergunto divertido. "Mas então, me diga, como você ainda não pediu demissão de seu trabalho? Porque, convenhamos, nós estamos falando de Tom aqui." 

"Ah... Eu gosto muito do meu trabalho! Thomas pode ser realmente teimoso às vezes, mas o resto compensa. Eu estou me divertindo muito!"

Eu não me contenho em não olhá-lo surpreso depois de sua resposta, porque, bem, nós estamos de fato falando de Tom e eu honestamente não estava esperando uma resposta daquela. Tom geralmente é bem fechado e de certa forma tímido com os outros, talvez por ser tão obcecado assim por trabalho que tenha se esquecido de como se relacionar com as pessoas feito um ser humano normal. Mas eu não o culpo, de qualquer forma – principalmente depois do pequeno incidente com a sua primeira e última namorada de exatos sete anos atrás.

"Thomas é um bom chefe, se posso dizer isso", Danny comenta após um tempo de silêncio. 

"Eu não sei como você pode achar uma coisa dessas", rio enquanto ainda andamos lado a lado. Danny simplesmente sorri (aquele mesmo sorriso assustadoramente branco e cheio de dentes enormes) e dá de ombros, remexendo em seu cabelo ruivo em seguida.

"Vamos logo, vocês dois!", finalmente ouvimos Tom rosnar irritado a quase cinco metros de distância de nós e, eu ainda rindo e Danny remexendo desajeitado em seu cabelo, corremos apressados até ele.

xxx

"Uau!", é a primeira e única palavra de Andi ao nos ver se aproximar de sua mesa do lado de fora do Alounak. Ela afasta o cardápio dobrável das mãos e passa o olhar surpreso de mim para Tom e depois Danny.

Como um pedido mudo de desculpas, rolo os olhos em sua direção enquanto Andi apenas ri, porque eu sei que ela consegue me entender apenas com aquele gesto mínimo. Ela se ergue, arruma a camisa verde-água na região da cintura e se aproxima de nós, com um sorriso brilhante estampado no rosto. Por um instante, enquanto Andi se aproxima e faz chiado com o salto dos seus sapatos, o único pensamento que me passa à mente é "caramba, eu devo ser o cara mais sortudo de todo o mundo".

"Desde a metade do caminho até aqui, tive que ouvir e aguentar esses dois discutindo feito cão e gato. Teremos companhia para o jantar hoje, querida", explico para Andi quando ela se encontra perto o suficiente para tal. Os seus olhos, inexplicavelmente, parecem sorrir e eu preciso de menos de três segundos para entender o porquê de sua expressão tão contente.

"Você está sentindo toda essa tensão sexual?", ela faz concha com uma das mãos para me murmurar entre a curiosidade e a diversão, com os olhos colados a Tom e Danny, ainda discutindo sobre alguma coisa.

"Nem pense...", eu começo, mas ela logo me dá um chute na canela (realmente dolorido!) antes de se virar para os dois. 

"Então... Há quanto tempo estão juntos?", Andi pergunta animada, os seus olhos quase brilhando de excitação e as mãos juntas em frente ao corpo, com os dedos entrelaçados de uma maneira sonhadora.

Eu solto um gemido, tanto pela dor do chute de Andi como pela sua pergunta, porque eu simplesmente sei que Thomas irá dar um chilique a qualquer instante. Tom, ao escutá-la, automaticamente pára de tentar acertar Danny com o seu guarda-chuva (que eu incrivelmente não faço a mínima ideia de onde ele o tirou) para se virar para Andi com uma aura realmente ameaçadora. Os aros de seu guarda-chuva estão ligeiramente tortos, o que me faz passar o olhar do objeto para a cabeça de Danny em questão de segundos, apenas para vê-lo acuado e descabelado.

"Como é?", Tom murmura descrente.

"Vocês estão juntos... Certo? Desde quando?", Andi pergunta mais uma vez, fazendo a minha vontade de chutá-la de volta crescer violentamente. Mas, sabiamente, eu apenas me mantenho quieto.

"Ah!", Danny exclama e se põe entre Tom e Andi, para apertá-la a mão da mesma maneira que fizera comigo há algum tempo atrás. "Há alguns dias... Eu não sei, na verdade. Uns dois, três dias, Tom? O que você acha?"

"Uau, sério? Parece que vocês estão juntos há tanto tempo! É só olhar para vocês dois, nossa, eu sinto a tensão sexual a quilômetros de distância!", Andi comenta no mesmo nível de animação de Danny (o que me faz imaginar se daqui a pouco ela estará perguntando a eles quem é o passivo e o ativo da relação, com toda essa instantânea intimidade), ainda lhe sacudindo a mão alegremente. Ao ouvi-la, no entanto, Danny vai soltando sua mão aos poucos; a sua expressão facial se contorcendo em uma careta confusa.

"Tensão... Sexual? O quê?"

"Seu babaca!", eu vejo, no auge do meu divertimento, um Tom eufórico e quase espumante berrar a Danny, o guarda-chuva novamente empunhado em mãos enquanto ele lhe dá uma nova bofetada com o objeto na nuca. A cabeça de Danny se projeta para frente e ele cambaleia em pé, zonzo, enquanto Andi apenas observa a cena de olhos arregalados. "Ela não estava perguntando quanto tempo nós trabalhamos juntos, palerma!"

A minha vontade nesse instante é a de começar a rir a plenos pulmões, porque a expressão de Tom é simplesmente tão engraçada que eu praticamente não consigo me conter. Passando um dos braços em torno dos ombros de Andi, a puxo para trás (somente por precaução, nunca se sabe) enquanto ela ainda os observa, horrorizada, a entrarem em uma mais nova discussão.

"Céus. Parece que o passivo ali é violento, huh?", ela cochicha para mim no instante em que nós nos sentamos lado a lado na mesa que ela antes reservara.

Depois de esticar as pernas, sem nunca retirar o olhar de Tom e Danny quase no meio da rua (que, para a nossa surpresa, ainda estão discutindo), eu finalmente solto uma gargalhada do fundo da minha garganta depois de tentar refreá-la por muito tempo. Andi me olha confusa e eu apenas abano uma mão no ar, displicente, levando o braço para trás de sua cadeira logo em seguida.

"Eu diria que sim, mas, se fosse você, não comentava mais nada sobre o assunto, o passivo é um tanto... Sensível com esse tipo de coisa."

"Oh. Eu estou vendo mesmo", ela coça o queixo em compreensão, balança a cabeça e solta um murmúrio sem muito sentido como resposta final. Depois se vira para mim, animada, deixando os braços sobre a mesa. "Então, como foi o trabalho hoje?" 

"Foi... Bem. Tenho um novo manuscrito para revisar", começo, incerto se devo comentar ou não sobre Dougie. Andi, no entanto, ainda está me olhando atentamente, como se esperasse por mais alguma coisa. "E foi isso. Fim."

"Ah... Legal", ela conclui sabiamente antes de me dar uma palmada em uma das pernas. "Eu comentaria sobre o meu, mas você sabe que é sempre a mesma droga, então... Quer pedir algo para comer, já?"

E com essa pergunta, o meu estômago se revira em milhares de nós, clamando por qualquer tipo de comida. Eu aceno positivamente com a cabeça e, quando Andi se revira na sua cadeira à procura de um garçom dentro do restaurante, eu a paro com um apertão em um dos seus ombros.

"Espere só um segundo", comento com um sorriso antes de me virar impaciente para frente à procura de Tom e Danny. Ao achá-los brigando em pé na calçada (mais provavelmente Tom passando um sermão sobre alguma coisa em Danny), reviro os olhos, divertido, e projeto um pouco a voz, para que eles possam me escutar. "Ei, casal vinte! O papo está muito bom e bacana, mas querem, por favor, parar de agir feito dois velhos ranhetas e virem logo aqui?"

Algumas pessoas à minha volta me lançam um olhar reprovador por cima de seus cardápios árabes, mas eu simplesmente decido ignorar a todos. Tom, pela segunda vez, automaticamente pára de falar – e acho que vejo Danny suspirar aliviado e relaxar os músculos. Aquilo me faz sorrir por um instante enquanto me lembro da conversa de alguns minutos atrás com Danny, a caminho do restaurante, me perguntando se ele de fato ainda considera Tom um bom chefe. Quando os dois estão próximos o suficiente, no entanto, eu apenas continuo a sorrir debilmente, mais para Tom do que para Danny, os assistindo se sentarem nos dois lugares vagos à nossa frente (de mim e Andi).

"Oh, Harry, cale essa boca e tire esse sorriso maldito do rosto!", ele rosna mais uma vez, cruzando os braços sobre o peito, como se soubesse exatamente o que eu estou pensando no momento.

"Hey!", eu exclamo divertido, partindo para uma segunda crise de gargalhadas. "Mas eu nem disse nada!"


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