Ela acordou com os raios de sol invadindo o seu quarto pela janela. Virou-se para o relógio: ainda eram 06h15min da manhã. Como era de costume, tomou um banho, aprontou-se e saiu pra treinar. Sabia que logo chegariam Gai-sensei, Lee e Neji para cumprimentá-la. Também sabia que imediatamente a levariam para almoçar no yakiniko*; que Gai e Lee cantariam, dançariam e contariam piadas e que, no final, Neji insistiria em pagar a conta. Impossível? Mas era assim fazia uns três anos.

Porém ela nem imaginava o que estava pra acontecer...

Já estava treinando sozinha há quase uma hora e estranhava não ter aparecido ninguém ainda. Eram 7h30min da manhã e Lee já devia estar lá, fazendo sua corrida matinal e suas flexões. Neji também estava atrasado, pois naquela hora devia estar usando seu kaiten contra seus ataques.

Um pouco desanimada, mas ainda esperançosa, continuou praticando com arco e flecha, quando um toque em seu ombro a fez quase errar o alvo.

- Anda muito descuidada – provocou-lhe.

- Neji, você me assustou, seu baka! – disse, antes de soltar o arco, lhe dar um belo sorriso e um abraço.

O gênio não soube o que fazer. Simplesmente deixou-se abraçar por ela e nada disse.

Ela logo se soltou, já que ele não estava correspondendo ao abraço. “Esse Neji...”

Ainda assim, olhou ansiosa pra ouvir qualquer comentário típico do dia. Em vão. O garoto apenas a fitava, calado como sempre, até que:

- Hã... Neji quer treinar? – perguntou meio decepcionada. “Ele esqueceu...”

- Iie – respondeu pausadamente. - Tenten. – começou, dando um suspiro. – Eu preciso de um favor – disse calmamente.

A garota, contudo, estranhou de cara o amigo. “Hyuuga Neji me pedindo um favor?”, se perguntou atordoada.

- Tenten? – o garoto perguntou.

- H-hai... – respondeu, antes que lhe causasse a impressão errada. – É claro que eu lhe ajudo... – disse, sorrindo. – Quer dizer... Você sabe que pode contar comigo! – disse, dando-lhe um soco fraco no ombro, de brincadeira.

- Hum... – resmungou, pegando os pertences da kunoichi, o que ela estranhou ainda mais, e saindo do campo de treinamento.

Ambos seguiram a estradinha que levava pra longe da vila e, algumas horas depois, às 11h50min, chegaram num lugar deserto, à beira de um rio, onde ele parou.

“O que será que deu nele? Está tão estranho...”, foi o que ela pensou, quando Neji se virou lentamente pra ela. “Masaka...”, chegou a uma conclusão que nada lhe agradou.

Antes mesmo de o rapaz dizer qualquer coisa, ela perguntou:

- Quem é você e o que quer comigo?! – pegando algumas shurikens no bolso de trás.

- Tenten, o que deu em você? – perguntou incrédulo o rapaz à sua frente.

Sem responder, atacou suas shurikens rapidamente e fez o gênio usar seu kaiten

 – Neji? – perguntou em seguida, percebendo que era mesmo o seu amigo, quando já estava com uma kunai na mão.

- Tenten, você enlouqueceu? – perguntou-lhe, se aproximando dela.

Ela corou quando ele parou em sua frente, abaixou um pouco a cabeça, e disse:

- Desculpa... Eu pensei que fosse alguém usando henge, sabe...

- O que a fez pensar nesse absurdo? – perguntou ríspido.

- Eu... Ah... Nada não! – disse envergonhada “Como eu pude ser tão baka?!”

- Tenten, você deve ter pelo menos um motivo razoável – disse, parecendo um pai rígido passando sermão numa filha inconseqüente – Então? Vai me dizer?

Ela levantou o rosto para encarar o amigo. Sentindo o seu olhar intenso e lembrando-se do Byakugan, realmente não soube se seria pior contar ou não. Virando a cabeça pra outro lado, começou:

- Achei estranho todo o seu mistério, a sua gentileza e esse lugar. – Olhou pra ele, que ficou meio desconcertado. – Agora eu quero saber: o que ta acontecendo, hein?

O rapaz, contudo, pareceu não dar importância à curiosidade da kunoichi e apenas caminhou pra perto do rio, onde parou pensativo.

Tenten ficou rubra de tão nervosa:

- Neji, seu baka! – exclamou se aproximando dele. – Como consegue ser tão estúpido com uma amiga que só veio até aqui pra te ajudar? Por que ao menos uma única vez não pode ser normal e responder a uma pergunta minha?

- Tenten, fique quieta – disse por fim.

A garota então parou fronte a ele e desceu-lhe uma tapa no rosto. Ele, que nunca esperaria uma atitude daquelas, ainda mais vindo de Tenten, olhou surpreso e nervoso pra ela.

- Gostou? É isso que você faz sempre que deixa de me responder, sempre que me ignora ou que simplesmente me manda calar a boca! – ela olhou pro amigo e, com olhos marejados de raiva, continuou. – Desculpe Neji, mas o seu ego é demais até pra mim. Peça ajuda a ele – disse ríspida e saiu emburrada.

Neji olhou com certo desânimo em direção aonde a sua amiga desaparecia. Queria evitar qualquer confusão e isso incluía discussões.

Olhou para o chão novamente. Havia uma coisa que tinha de ser feita.

Estava sentada em cima de um galho fazia meia hora, abraçando os joelhos e com um olhar distante. Mesmo sendo horário de almoço, estava sem um pingo de fome. Ela só conseguia pensar na briga. “Será que fui muito rude com ele?”, se perguntava. “Iie... Ele mereceu”, tentou pensar. Mas não conseguia ficar brava com alguém por muito tempo, especialmente quando se tratava dele. “Baka! Só você pra ser tão mole assim...”, repreendeu-se.

Logo sentiu uma presença perto de si. Levantou-se e sacou algumas shurikens, observando os lados e se preparando pra atacar. Quando finalmente atirou as armas, desceu pra ver quem era o alvo.

- Neji! – abaixou-se para vê-lo. – Gomen! É que...

- Tenten, você não tem jeito... – o rapaz esboçou um sorriso discreto.

- Hum... Acho que não foi tão ruim te acertar! – disse, levantando-se e virando pro lado.

O gênio então se levantou e lhe estendeu o braço direito, com uma Tachi* embainhada.

- Que é isso? – perguntou curiosa, pegando a arma e desembainhando-a. – Nossa! É linda! – disse, os olhos castanhos brilhando ao percorrer os dedos pela lâmina da grande katana. Foi então, que viu desenhada no colarinho da lâmina, o símbolo que conhecia tão bem. – É sua? – perguntou admirada.

- Foi do meu pai. – respondeu tranqüilo. – Agora é sua.

- Nani? – perguntou assustada. – Iie! Eu não posso aceitar, eu...

- Tenten... – interrompeu-lhe calmamente. – Uma arma só tem valor quando há alguém para usá-la, e não vejo ninguém melhor que você pra manejar essa.

Tenten corou com o comentário. Estava muito feliz por ter ganhado um presente tão valioso, que além de tudo era de valor sentimental para o amigo. Aquilo queria dizer que ele realmente a considerava de alguma forma.

Abraçou-lhe novamente com a mesma felicidade e, quando finalmente o soltou, disse-lhe sorrindo.

- Arigatou, Neji.

Só quando os dois tomaram caminho de volta à Konoha que ela percebeu.

- Neji, por que você queria a minha ajuda?

- Na verdade, não queria. – respondeu frio.

- Então por que me chamou?

- Queria que me acompanhasse.

A chuunin corou novamente. Não sabia o porquê, mas o jounin ao seu lado estava batendo o recorde em deixá-la sem jeito. Mas seu acanhamento durou pouco:

- Eu gastei muito chacra, e queria ter a garantia de que voltaria à Konoha no mesmo dia.

- Ah. – respondeu sem graça. – Mas por que gastou tanto chacra? – não pôde conter a curiosidade.

- Gastei chacra pra achar a arma e pra soltá-la.

- Como assim?

- Antes de o meu pai falecer, ele me mostrou alguns presentes que havia ganhado em missões, e essa arma foi um presente do Daimyou*. 

- Neji, você...

- Quando fiquei sabendo de sua morte, peguei o presente que julgava ser o mais valioso e o escondi para que o clã não o confiscasse. – contou displiscentemente, cortando-a. – Mas pra isso usei uma técnica que aprisionou a arma e me deixou sem chacra por uns três dias.

A aniversariante olhou boquiaberta do presente para o amigo. O relato provava o quanto ele era genioso, o quanto dava valor para a Tachi, e o quanto era revoltado com seu clã quando mais novo.

Ambos mantiveram silêncio durante a viagem, e quando era exatamente 17h30min, chegaram a Konoha.

– Bom to morrendo de fome... Vou pra casa, ja nee. – se despediu feliz da vida por ter passado o dia com o jounin e ainda ter ganhado um presente valiosíssimo. “Não me importa que não tenha me cumprimentado, e foi até legal passar o dia com você...” pensava distraída, quando foi desperta pelo timbre grave do Hyuuga:

- Tenten, antes você poderia passar em casa comigo?

- Hã? – perguntou mais para si do que para ele.

- Algum problema?

- Iie. – passaria mais um tempo com Neji, e não sentia como se o tivesse forçando a fazê-lo, o que a deixou ainda mais feliz. Mas ainda assim algo a incomodava: “Por que diabos Hyuuga Neji ta tão diferente hoje?” e foi com essa dúvida que acompanhou o gênio da família Hyuuga até a sede do clã.

No meio do caminho, o jounin parou e olhou para os olhos chocolate da garota ao seu lado.

- Tenten, eu queria conversar com você primeiro.

- Nani? – perguntou curiosa, olhando para o par de pérolas, que parecia confuso.

O rapaz então, meio receoso, começou a sussurrar num tom quase inaldível.

- Tenten, eu... – “Droga, por que é tão difícil?”

- Neji, pode falar depois. – interrompeu-lhe Tenten, que havia entendido o receio do rapaz e não queria que ele se esforçasse. – Vamos? – convidou-o, puxando-lhe pela mão e indo em direção a bouke.

Chegando ao local, a Mitsashi percebeu que todas as luzes estavam apagadas, mesmo sendo 6h00.

- Aconteceu alguma... – mas não pôde terminar a frase. Apenas viu as luzes serem acesas, e num segundo, todos os seus amigos gritarem:

- Tanjôbi Omedetou!

Seus olhos brilharam ao ver todo mundo cantando parabéns e Lee segurando um bolo enorme de... Adivinha: chocolate!

Todos foram em sua direção, abraçaram-na e a cumprimentaram, e Hinata timidamente a levou até um canto que estava cheio de presentes com os mais diversos embrulhos.

- Arigatou, minna! – disse, em seguida dando o seu melhor sorriso. “Então, era por isso que tava tão mudado...” concluiu, olhando para Neji que estava quieto.

Como toda boa festa, teve comes, bebes, muita bagunça, barulho e músicas. Naruto comia tudo o que via na frente com seus kage bunshins, enquanto Gai tentava impedir seu aluno favorito de beber uma dose cavalar de sakê. Ino dançava animada e era reparada tanto por Sai quanto por Shikamaru, que reclamava de alguma coisa. Já Sakura olhava atenta para o casal que conversava distante de todo mundo.

- Então, Neji... Quer falar agora? – perguntou Tenten, ainda disposta a adiar a misteriosa conversa que deixava o ponderado Hyuuga confuso.

- Tenten, eu... – começou a dizer, mas o barulho das conversas atrapalhava.

- Fala mais alto. – pediu a garota chegando um pouco mais perto e deixando o gênio mais inquieto.

- Tenten, eu... – começou num tom mais alto, mas Lee e Gai haviam começado a cantar e junto com eles, Uzumaki fazia coro.

- Nani? – chegou mais perto, ficando a um palmo de distância do rapaz.

- Tenten... – chegou o refrão da música, que era a parte mais escandalosa, o que definitivamente irritou o Hyuuga.

- Neji, eu...

- Droga! – exclamou, assustando a amiga e algumas pessoas que estavam ali perto.

O gênio, pela primeira vez agindo por ímpeto pôs a mão no rosto da kunoichi e deu-lhe um beijo que surpreendeu, a ela e a todos, até mesmo os três cantores, que pararam com a cena.

O beijo foi doce e curto, mas intenso o suficiente pra que fosse inesquecível. Quando se soltaram, finalmente perceberam os olhares curiosos, e coraram. Pra piorar, Gai, que estava com o microfone, parabenizou o casal e pediu uma salva de palmas, que veio de todos.

Se passaram vergonha durante o resto da festa? Passaram! Mas sabiam que tinham um ao outro e ambos não eram de ligar muito para impressões...

Ao fim da festa, Neji acompanhou Tenten até a sua casa. Chegando ao local, ele se aproximou dela, a abraçou e disse:

- Tanjôbi Omedetou, Tenten.

Ela, com os olhos marejados de felicidade, disse:

- Arigatou, Neji. Esse foi o meu melhor aniversário.