Guilherme passeava no shopping procurando um presente para Luiz, não queria chegar de mãos abanando na festa, foi até a loja de bichos de pelúcia e achou um pinguim que julgou ser o presente perfeito, quando estava indo para a fila do caixa viu Guto saindo da loja.

- Guh – Gui gritou para o amigo ouvir.

Guto virou, com uma cara de espantado.

- Ah, oi Gui – apertou a sacola que segurava – Não tinha te visto.

- Tudo bem? – estranhava a aparência nervosa do amigo.

- Tu-tudo! – sua respiração estava acelerada, uma gota de suor escorreu sob seu cabelo. Guilherme ainda estava desconfiado, mas não quis entrar em muitos detalhes.

- Olha, você também veio comprar um presente pro Luiz.

- É – apertava cada vez mais a sacola – Gui, eu tenho que ir, minha mãe tá me esperando.

- Tá – não entendeu muito bem o que estava acontecendo – até de noite.

- Até – saiu da loja, andando mais rápido do que o normal.

Gui não entendeu muito bem, mas preferiu deixar o amigo quieto, afinal, não queria forçar ele a nada se ele realmente fosse revelar por quem estava apaixonado no dia.

Comprou o presente, o embrulhou na embalagem mais colorida que achou e foi para casa se arrumar. Chegou, colocou o embrulho sobre a cama e foi tomar banho, quando estava saindo do banheiro seu telefone começou a tocar, era Guto ligando.

- Alô.

- Gui, eu não vou poder ir à festa hoje – a voz de Guto estava estranha.

- Aaaaaaah, por quê? – fez bico, inconscientemente.

- Eu não tô passando bem, vou ficar em casa ver se melhoro.

- O que você tem? – o bico foi substituído por uma expressão preocupada.

- Não sei, se eu piorar, vou ao médico. Mande parabéns meus ao Louie.

- Pode deixar – ficou triste por não ver o amigo de noite – e vê se melhora, ok?

- Tá bom. Até amanhã na aula, se eu estiver melhor.

- Até.

Guto desligou. Guilherme perdeu todo o empenho de se arrumar, será que era por isso que o amigo estava estranho no shopping? Perguntaria para ele outro dia, agora precisava terminar de se vestir e ir para casa de Luiz. Colocou a roupa comprada especialmente para a ocasião, passou seu perfume mais doce e, de certa forma, feminino, pegou o presente e partiu.

Todo mundo estava na festa, menos Guto. Guilherme estava sentado no sofá, cabisbaixo. Já havia entregado o presente e cantado parabéns, só esperava o momento em que começariam a passar o filme para dormir. Luiz sentou-se ao seu lado.

- Tudo bem, Gui?

- Sim – deu um sorriso de canto de boca – só estou com um pouco de sono.

- Vá tomar um ar na sacada, pra dar uma acordada.

Gui seguiu o conselho e foi em direção a sacada. De longe avistou que havia alguma coisa sobre o beiral, mas não conseguia ver direito, quando passou pela porta conseguiu enxergar: Um panda de pelúcia com uma rosa e um envelope ao lado. Guilherme pegou o pequeno cartão e leu o que estava escrito por fora

“Leia-me”

Achou estranho, mas como não dizia para quem era, decidiu obedecer. Abriu o envelope:

“Eu te prometi, então cumprirei a todo custo.

No fundo eu sempre soube, mas não tinha me dado conta ao certo até a festa. Esperei tempo demais para te contar e não vou passar mais um dia sem que você saiba...”

- Gui.

A voz surpreendeu Guilherme, se virou rápido. Todas as luzes da casa estavam apagadas, só a iluminação da sacada permanecia acesa, um vulto estava parado na porta. Era Guto.

- Guh, o que você tá fazendo aqui? Você não tava doente?

- Eu menti.

- Por quê?

Guto ignorou a fala do amigo, passou por ele, olhou para o panda, pegou a rosa e se ajoelhou.

- Eu nunca quebro minhas promessas – olhou nos olhos de Gui – A pessoa que eu amo é você, e eu não posso mais conviver com você sem que você saiba.

“Guto e Luiz estavam sentados lado a lado no ônibus.

- Que favor?

- Acho que você já deve saber de quem eu gosto.

- Na verdade eu sempre soube – deu um sorriso simples – o que você e o Gui tem é muito mais que uma amizade.

- Só que eu demorei demais pra me tocar disso – abaixou a cabeça.

- Você quer que eu te ajude a se declarar, né?

- Sim – ergueu a cabeça novamente – eu já tenho tudo programado, só preciso que você o faça ir pro local planejado.

- Pode deixar comigo, mas com uma condição.

- Qual?! – Guto estava disposto a tudo.

- Nunca, absolutamente nunca, magoe ele, se não você vai se ver comigo – o tom de Luiz era quase que assustador.

- Não precisa se preocupar quanto a isso, eu não me perdoaria se eu o magoasse.

Foram o resto do trajeto organizando os planos pro dia seguinte.”

- Eu te amo – Guto continuou – e, de certa forma, sempre te amei – estendeu a rosa para Gui.

- Guto, – Guilherme pegou a rosa e uma lágrima escorreu em seu rosto – eu não sei se te amo.

Guto desabou internamente, teria feito tudo para descobrir que não é correspondido? Como ficaria a amizade entre eles com isso? Guilherme se ajoelhou de frente a ele.

- Mas eu posso descobrir! – Gui o beijou. Por um segundo foi como se nada mais existisse, a não ser os dois. Se separaram – É, acho que te amo também.

Guto começou a empurrar e bater no amigo.

- Nunca mais me assuste desse jeito! – algumas lágrimas escorreram pelo rosto dele.

- Não precisa se preocupar, daqui pra frente tudo vai ser melhor – voltaram a se beijar aos sons das palmas vindo de dentro da casa, o primeiro de muitos dias se amando.