Guto acordou e Guilherme não estava mais deitado em seu peito, olhou para o lado e seu celular estava piscando:

“Nova mensagem de ‘Gui ;]”

‘Quando acordar, vai pra cozinha da casa da Ady ;*’

Colocou o tênis e saiu do salão desviando dos colchões no caminho para não acordar ninguém, o céu estava azul com poucas nuvens, a casa de Ady era a primeira do condomínio. Chegando lá ouviu risadas, Gui e Ady estavam fazendo panquecas.

- Bom dia, Guh! – Guilherme desejou sorrindo.

- Bom dia! – Ady também o fez.

- Bom dia – Guto respondeu – Estão de muito bom humor pelo jeito.

- Você nunca viu a Ady fazendo panquecas – Gui disse e riu.

- Ei! Eu sei fazer panquecas – Ady deu um tapa no braço do amigo pelo deboche.

- Ah é? Então o que é isso? – apontou para cima.

Guto olhou e viu uma panqueca grudada no teto.

- Ady, como você fez isso? – começou a rir.

- Parem! – ela ficou vermelha – vou buscar a escada pra limpar – saiu da cozinha ao som das risadas.

- Você melhorou um pouco, pelo jeito – comentou Guto quando se acalmaram. O sorriso sumiu do rosto de Guilherme.

- Não muito – essas duas palavras fizeram Guto se arrepender ao máximo de ter entrado no assunto – eu tô me conformando, mas ainda dói um pouco – uma lágrima escorreu enquanto Gui virava a última panqueca, a colocava no prato e desligava o fogão. Guto o abraçou por trás.

- Vai passar, não se preocupe – tentava desfazer a burrice que acabara de fazer. Gui deu um jeito de se virar, abraçou a cintura dele e deitou a cabeça no ombro do amigo.

- Eu sei... Eu sei – controlava-se para não começar a chorar, respirou fundo – E você, como está em relação ao God?

- Eu ainda estou um pouco triste, mas percebi que realmente não é com ele que eu quero estar.

Gui levantou a cabeça sorrindo.

- E quando você vai me contar quem é o sortudo... Ou a sortuda?

- Em breve eu vou te falar – deu um beijo em sua testa – e você conhece ‘ele’ – deu ênfase na ultima palavra.

Guilherme fez uma cara de surpreendido, mas quando ia falar alguma coisa Ady entrou na cozinha trazendo a escada e o assunto se perdeu. Todos acordaram, comeram, ajudaram a limpar o salão e foram embora aos poucos. No fim do dia sobraram apenas Guto e Gui.

- Guh, quer dormir lá em casa hoje? – Guilherme fazia uma cara de cachorro pidão – Com você por perto eu me distraio.

- Tá bom! – não podia negar depois desse argumento – Ainda tenho uma roupa limpa na mala pra aula amanhã.

- Eba! – sorriu – Vamos?

- Só vou ligar pros meus pais e já volto – se afastou digitando no celular.

Guilherme sabia que ficaria bem, essa noite, mesmo sem Guto, porém desse jeito teria mais uma chance de descobrir quem é o garoto que ele realmente amava. Sabia que deveria esperar até Guh o dizer, como um bom amigo, mas queria ajudar ele a ser feliz.

- Pronto, minha mãe acha que eu tô te ajudando com o trabalho de Química III – sorriu – vou buscar minha mala no quarto da Ady e vamos.

Se despediram dela e foram para a casa de Gui. Ouviram musica o trajeto do ônibus inteiro, cada um com um dos foninhos do iPod. Aproximadamente uma hora e meia até chegarem, entraram na casa e foram para o quarto de Guilherme.

- Gui, cadê seus pais? – Guto estranhou o silêncio na casa.

- Foram viajar, só voltam depois de amanhã. Hoje você não vai ter que dormir com o colchão no chão – disse enquanto ligava o notebook.

- A gente vai dormir na cama dos seus pais de novo? – desde a primeira vez que ele foi dormir na casa de Gui, em que seus pais não estavam, eles dormiam juntos na cama de casal. Até onde ele se lembrava, foi na segunda série:

“Guto estava deitado na cama de casal, se sentia meio desconfortável com aquilo. Dormir sozinho, na cama dos pais do amigo sem eles por perto. Guilherme não conseguia dormir sozinho naquela cama, por isso ele estava ali.

Estava quase conseguindo dormir quando a porta do quarto abriu, Gui apareceu parado na porta, abraçado a um travesseiro.

- Guh, posso dormir aqui com você? Tô tendo pesadelos – a voz infantil dele fazia o pedido irrecusável.

Guto se levantou e o abraçou, levou-o para a cama, deitou-o e o cobriu, depois se deitou do outro lado e só adormeceu quando teve certeza que o amigo tinha caído em sono profundo.

Quando acordou viu que em algum momento da noite Guilherme o abraçou e não largou mais. Nesse momento Guto percebeu que eles seriam amigos para sempre.”

Guto se jogou na cama, sorrindo e olhando pro teto.

- O que foi? Por que o sorrisinho? – Gui estava sentado na cadeira com o notebook no colo.

- Nada, só tava lembrando de umas coisas – continuou sorrindo e fitando o vazio. Gui riu.

- Bem, vou tomar banho, pode ficar usando o ‘note’ enquanto isso – deu o computador para ele e foi para o banho.

Quando voltou foi a vez de Guto ir para o chuveiro depois foram os dois se deitar. Luz apagada, um de frente para o outro, o rádio relógio marcando 21:30. Guilherme quebrou o silencio pré-sono:

- Guh, você não vai mesmo me dizer por quem você está apaixonado?

- Vou – respondeu simples.

- Então quem é? – um pouco de curiosidade escapou em sua voz.

- Eu disse que vou te contar, mas não disse que faria agora.

- Aaaaaaaaaaah, Guh – fez bico, mesmo sabendo que Guto não enxergaria.

- Vou te contar quando for a hora.

- Nenhuma dicazinha?

- É alguém que você conhece muito bem, só isso que eu vou te falar.

- Tá, não vou te perguntar mais – não queria aborrecer o amigo.

- Até o fim do mês eu te falo, prometo!

- Eu sei que você vai me falar, não se preocupe quando vai fazer isso – conseguiu conter a curiosidade.

- Agora vá dormir, se não a gente se atrasa pra primeira aula de amanhã.

Pouco depois já estavam dormindo. Em um momento da noite Guto acordou e viu que Guilherme estava o abraçando, num sono profundo. Sorriu e voltou a dormir, não queria estragar o futuro momento de acordar.

Guilherme acordou e viu que estava abraçado em Guto, sempre acordava antes, então continuou deitado esperando o amigo acordar.

- Bom dia – Guto surpreendeu Gui.

- Nossa! Você acordou cedo hoje – Guilherme se ajeitou e sentou na cama.

- Hoje a gente tem a primeira aula? – também se sentou, esfregando os olhos.

- Temos, então é melhor se apressar.

Arrumaram-se e foram juntos para a aula. O dia passou como todos os outros, a semana foi entrando nos eixos depois do fim de semana prolongado e turbulento. Tudo parecia ter voltado ao normal.

Uma semana depois Guto e Gui estavam saindo da aula:

- Gui, vai no shopping hoje? – Guto estava no meio do grupo de amigos.

- Não, vou ajudar o Louie a preparar a festa de aniversário dele – sorriu.

- Vocês dois já se entenderam?

- É, só que agora ele tá mais super protetor do que nunca – encheu as bochechas de ar imitando um jigglypuff.

- Fazer o que? Agora ele é seu irmão mais velho.

Os dois se despediram, Gui passou à tarde com Luiz, a festa seria no dia seguinte, o ultimo dia do mês. Guto havia prometido que contaria para ele por quem estava apaixonado, finalmente saberia.

- Pronto! Tudo terminado – disse Luiz.

- Já? Foi rápido, ainda dá tempo de encontrar o Guto no shopping – sorriu.

- Eu vou com você, ele disse que queria falar comigo.

Gui jogava nas máquinas do fliperama da entrada do cinema enquanto Guto e Luiz estavam sentados nos sofás do café ao lado, esperando. As fichas para as máquinas acabaram e Guilherme se jogou no sofá, deitando a cabeça no colo de Luiz.

- Cansei – estava totalmente largado, Louie começou a fazer cafuné na cabeça dele.

- Também, você não parou um minuto desde que a gente chegou.

- Enfim, tá ficando tarde, preciso ir pra casa.

- Eu te acompanho até o ponto do ônibus – Luiz ergueu Guilherme – Guto, me espera que eu vou embora com você.

- Tudo bem, preciso falar com você mesmo – respondeu Guto.

Os dois saíram do shopping, Luiz esperou até o ônibus do amigo chegar.

- Até amanhã, futuro aniversariante – Gui o abraçou.

- Até – respondeu, Gui subiu no ônibus.

Voltou para encontrar Guto e foram os dois até o ponto deles.

- Luiz, eu preciso de um favor seu – Guto falou, sério – e é muito importante.