O Rei das Trevas escrita por Cdz 10


Capítulo 30
Capítulo 030: As memórias de Ternetts




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Capítulo 030: As memórias de Ternetts.

       O lugar onde havia acontecido a demorada e sangrenta luta entre Krink e os três Ports continuava completamente coberto pelos destroços dos diversos troncos de Furors que desmoronaram. Sobre eles, o Bour Krink permanecia caído, ainda inconsciente. Uma leve brisa batia ali, o que levantava uma pequena quantidade de poeira. Por mais alguns segundos, o cenário não se altera até que o olho direito de Krink dá uma rápida tremulada. Um vento um pouco mais forte atinge o seu corpo e, mais uma vez, o seu olho treme. Krink começa lentamente a sentir uma forte dor em seu corpo, mas a escuridão profunda continua a tomar conta da sua visão.

            Krink (pensando): Agora sim... será mesmo que eu morri...? Aquela última tentativa do Trypu acabou dando certo... o movimento que fiz para me desviar das quedas dos troncos depois do ataque das folhas... acabou comigo de vez... e o Diell... como será que o Diell está?

            Neste momento, o Bour sente uma brisa batendo sobre o seu corpo, mais especificamente sobre as suas costas, o que desperta a atenção de Krink na mesma hora.

            Krink (pensando): Vento...? Espera... se o meu corpo conseguiu senti-lo, isso significa então que...

            Krink começa a abrir lentamente os seus olhos que, por sua vez, passam a enxergar diversos fragmentos de troncos de Furor de uma maneira bastante turva.

            Krink (pensando): Mas... mas... o que será isso?!

            Ele começa a mexer também as suas duas mãos, que acabam sendo levemente perfuradas por alguns fragmentos dos troncos estraçalhados, sentindo nelas algumas fisgadas, o que o faz abrir ainda mais os olhos e então a sua visão fica muito menos turva, assim, Krink consegue identificar melhor o cenário em que está.

            Krink (pensando): Os destroços dos Furors... eu ainda estou no mesmo lugar que antes.

            Desta vez, o Bour abre bem os olhos, enxergando muito bem os troncos destruídos no chão. Ele vai se mexendo lentamente, erguendo-se bem devagar, ficando inicialmente com os joelhos e as palmas das mãos apoiados nos destroços. Os seus olhos ficam direcionados para baixo durante alguns segundos.

            Krink: Sim... parece que eu ainda estou vivo... pelo jeito, o tempo em que eu fiquei inconsciente foi bom para que o meu corpo pudesse se recuperar, pelo menos um pouco.

            Ele continua a se erguer lentamente, fazendo um pouco de força com as suas pernas para se levantar, até que consegue ficar totalmente de pé, mas, logo em seguida, sente uma fortíssima tonteira, o que o faz perder o equilíbrio rapidamente, porém, ao sentir isso, o Bour fecha os olhos, conseguindo manter-se erguido.

            Krink: Merda... eu ainda não estou totalmente recuperado, estou longe disso! Mas se eu ainda estou vivo... preciso ir ao encontro do Diell o mais rápido possível.

            Krink recomeça a abrir lentamente os seus olhos, sentindo novamente uma tonteira, mas desta vez, um pouco mais fraca. Ele mantém os seus olhos apenas entreabertos, ligeiramente franzidos. A tonteira rapidamente o abandona, mas sua visão não fica totalmente clara.

            Krink: Essa tonteira maldita... não adianta, para que ela passe eu preciso me recuperar por completo, com certeza ela é fruto do fato de o meu corpo estar assim tão debilitado... mas não importa! Eu vou avançar... Diell... por favor, espere por mim!

            Cambaleando bastante para os lados, Krink começa a andar para frente, indo completamente torto não apenas pela sua visão um pouco turva, mas também por causa dos inúmeros destroços dali. A cada pisada do Bour, ocorre naquele lugar um ruído semelhante ao de pedras se chocando levemente umas com as outras.

            Enquanto isso, Diell permanece sentado na base de um grande Furor, há vários metros dali. O jovem está de cabeça baixa, com as lágrimas ainda saindo ligeiramente de seus olhos, que, por sua vez, continuam fechados.

            Diell (pensando): Com certeza... se Krink tivesse conseguido vencer aqueles Ports, ele certamente já estaria aqui. Considerando que ele disse que os três eram inferiores em relação a técnicas de combate, o Krink deveria tê-los vencido facilmente, mas se está demorando assim... é quase certo que tenha sido derrotado por causa do corpo dele que ainda não estava totalmente recuperado.

            Diell abre os olhos e rapidamente se ergue, ficando de pé, porém, as lágrimas continuavam saindo.

            Diell (pensando): Eu estava achando que esperar parado aqui até que os meus pais chegassem seria a melhor opção, mas... será perigoso se alguém me encontrar, além disso... eu não posso ficar nesta dúvida, eu preciso confirmar se o Krink está realmente derrotado ou não... quem sabe... ele não está precisando de alguma ajuda por ter se ferido na luta contra os Ports?

            O jovem Bour fica por alguns segundos olhando por todas as direções daquele lugar, mas não vê ninguém.

            Diell (pensando): Bom... então está decidido... se ele não aparecer aqui dentro de instantes... eu irei atrás dele para procurá-lo...

            Ele se mantém de pé, agora as lágrimas saem em muito menos quantidade de seus olhos, e então, olha ligeiramente para cima, na direção do céu.

            Diell (pensando): Raikus... Deus Raikus... por favor, se o senhor realmente existe e nos ajuda sempre... então eu te peço para que ampare a mim e aos meus pais, além dos amigos deles também, incluindo o Krink... eu não vejo a hora de tudo isso terminar... faça com que... dê tudo certo no final, por favor.

            No Castelo dos Logrus, Ryumann agora está descendo a grande escadaria, por sua vez, recoberta de um tapete vermelho bastante decorado com bordados dourados nas laterais e que dava caminho ao saguão de entrada do castelo, bastante amplo, largo e comprido, além de intensamente iluminado. O Logru continua descendo até que chega ao último degrau. Neste último degrau estão os mesmos dois guardas que haviam falado com Ryumann quando este chegara ao castelo, ambos continuam trajando armaduras bem brilhantes e prateadas. Ao perceberem a sua presença, eles rapidamente se viram para o lado, para poderem encarar o recém-chegado.

            Um dos guardas (o que está mais à direita): Senhor Ryumann! O senhor já terminou a reunião com o Senhor Ternetts? Como foi, ele ficou satisfeito por você ter conseguido vencer os Bours?!

            Ao ouvir isso, Ryumann pára de caminhar para baixo no mesmo instante e dirige um frio olhar ao guarda que havia acabado de falar.

            Ryumann: Escute com atenção... a missão de vocês dois aqui é apenas observar atentamente quem percorre essa escadaria principal... assim como os demais guardas deste saguão, que protegem as portas de entrada das salas e aposentos daqui, devem apenas observar quem é que pode ou não ir ao interior destas salas... então, não ouse mais dirigir-se a mim, a menos que tenha sido requisitado para fazer isso! Entendeu bem, seu maldito?!

            O guarda fica com uma expressão de medo e apreensão na mesma hora e rapidamente desvia o seu olhar de Ryumann, voltando a olhar apenas para frente.

            Guarda: Na... Naturalmente, senhor Ryumann, me desculpe por isso.

            O Logru logo se vira para o outro lado, encarando o outro guarda, o que está mais para a esquerda, que também rapidamente volta a sua visão para frente, com uma expressão igualmente tomada de nervosismo, medo e apreensão.

            Outro guarda: Claro, senhor Ryumann, nós sabemos, não vamos mais cometer este erro. Desculpe-nos.

            Ryumann: Isso! Acho bem melhor assim...

            Então, o Logru desce o último degrau e cruza o saguão de entrada, sendo observado atentamente por todos os guardas daquele local, não só os da escadaria, mas também os que protegiam as portas das paredes ao redor.

            Ryumann (pensando): Malditos lixos imundos, sempre perturbando, mas que merda!

            Ele segue até a porta de entrada do castelo, enfia a mão na maçaneta e a abre, saindo ao lado de fora e fechando-a violentamente logo depois. Ryumann fica encarando o portão à sua frente, que era protegido por dois guardas também vestindo armaduras prateadas. O Logru faz uma expressão de raiva.

            Ryumann: Esses dois imbecis...

            Ryumann puxa um leve suspiro e senta-se no pé da porta de entrada do Castelo dos Logrus. O curto caminho entre o portão e a entrada do castelo tinha suas laterais recobertas de mato colorido e bastante cheiroso, enquanto que, a parte do centro, era revestida de um piso escurecido bastante luxuoso e decorado. O Logru fica com seu cotovelo direito apoiado em sua perna e a sua mão encostada no rosto, com uma expressão um pouco impaciente.

            Ryumann (pensando): Merda... eu nunca imaginaria que esses Bours poderiam nos causar tanto trabalho, droga! Esses infelizes... se bem que agora só falta mais um, além daquele tal pirralho que eu avistei naquela hora. Quando colocarmos as mãos neles e dermos um fim nisso, finalmente poderemos voltar à nossa pesquisa em relação à pedra...

            A expressão impaciente vai sendo gradativamente substituída por uma expressão de dúvida.

            Ryumann (pensando): Aquela pedra... ainda pode nos trazer lucros incalculáveis! Ela já é valiosa, mas pode ficar muito mais se a nossa pesquisa for concluída... tudo o que precisamos fazer é achar aquele quinto fragmento... onde será que ele se meteu, merda?! Se conseguirmos achá-lo, está feito, será uma das jóias mais valiosas que existem... será o maior lucro de todas as nossas vidas!

            A sua atenção é despertada por algo neste momento.

            Ryumann (pensando): Mas antes de voltarmos a nos focar na pedra... temos que resolver a situação desses Bours... temos que dar um fim neles de uma vez por todas. E também... deveremos ficar cada vez mais atentos à proteção da pedra... talvez não seja só a CIV que esteja atrás dela... droga! Ainda são tantas coisas que precisamos saber para garantir os lucros vindos da pedra... que saco!

            No interior do Aposento de Reunião do sexto andar do castelo, o líder Ternetts continua a andar de um lado para o outro, com uma expressão bastante pensativa em seu rosto.

            Ternetts (pensando): Eu não sei o motivo, mas estou com um pressentimento muito ruim em relação a isso...

            Ele continua a caminhar pelo chão da sala até que pára, puxa a sua cadeira localizada à extremidade da longa mesa escura e se senta nela. Logo depois de fazer isso, o líder dos Logrus apóia os cotovelos sobre a mesa, e coloca as suas duas mãos na testa, ao mesmo tempo em que fecha os olhos, adquirindo uma expressão mais pensativa do que em todos os momentos anteriores.

            Ternetts (pensando): Mas que coisa... isso chega a ser irritante! De quem é aquela voz?! Eu tenho certeza de que aquele ser que nos avisou sobre a invasão tem uma voz conhecida, ele certamente é um ser com quem eu já topei antes, mas que droga, eu não consigo me lembrar!

            Impaciente, Ternetts desfere um forte golpe com seu punho direito na mesa, provocando um forte baque no local, abrindo os olhos logo em seguida e recostando suas costas na cadeira.

            Ternetts: Eu quero lembrar, eu tenho que lembrar disso... porque se eu realmente já o conheço de algum lugar e ele veio falar conosco disfarçado, então... é mais provável que ele estivesse desejando se esconder mais de nós do que da CIV, mas aí... por que ele veio até nós denunciar a invasão, por que...? Por que?!?!      

            Ainda recostado na cadeira, Ternetts volta lentamente a fechar os olhos.

            Ternetts: Eu preciso lembrar...

            A mente de Ternetts começa a voltar no tempo, mais especificamente no dia em que ficara sabendo que a Morada dos Logrus sofreria a invasão dos membros da CIV.

            O líder está em sua sala, no décimo terceiro andar, o último do Castelo dos Logrus. Este andar é formado apenas por um corredor, pequeno em comprimento, porém, grande em largura. Ao final dele, há uma porta escurecida bastante larga, tão larga que ocupa toda a parede da extremidade daquele corredor. Pelo lado de dentro desta porta, há uma sala bastante larga. Ela possui o chão revestido de um tapete cheio de ornamentos pintados, ornamentos esses que pareciam ilustrar diversas raças de seres vivos, uma beleza sem igual. Um gigantesco lustre preso ao teto dava uma iluminação intensa ao local. Ao final da sala, Ternetts está sentado em uma cadeira bem grande e acolchoada com um material que tem cor de vinho e bastante decorada também. À sua frente está uma mesa quadrada bem escura, muito bem ornamentada e, sobre ela, estão objetos que se assemelham a estatuetas: eram modelos em miniatura de diversas armas e armaduras, os mais variados equipamentos. Nas paredes ao redor, quadros e mais quadros, além de tochas acesas (que não estavam ali pela iluminação, mas sim pela decoração) que ficavam um pouco à frente das paredes. Entre as tochas, existem objetos estranhos, com um formato semelhante a um retângulo, porém bem altos, alcançando quase o teto do aposento, parecendo postes de coloração ligeiramente cinza. Eles têm uma grande maçaneta dourada no centro.

            Ternetts está com um grande livro aberto sobre a mesa, livro este que ele lê com bastante atenção, passando bem lentamente o seu dedo indicador direito por uma das páginas, seus olhos percorrendo-a de uma maneira bastante cuidadosa.

            Ternetts: Droga... eu não estou conseguindo achar...

            Ele continua assim por mais quase dez segundos quando a sua atenção é completamente interrompida por três leves batidas na porta. Ternetts ergue a cabeça na mesma hora com uma expressão de raiva em seu rosto.

            Ternetts: Merda! Quem é?!

            Uma voz vinda do lado de fora da sala responde na mesma hora, em meio a um tom ríspido, porém gaguejando, não deixando de demonstrar um leve nervosismo.

            Voz: É o Saar, senhor Ternetts.

            A expressão de raiva de Ternetts rapidamente desaparece, sendo substituída por outra que ilustra surpresa e estranhamento ao mesmo tempo.

            Ternetts: Ah, certo, pode entrar, Saar!

            Saar: Sim.

            A maçaneta da grande porta de entrada da sala gira e ela se abre. Revela-se então um Logru, praticamente da mesma altura de Ternetts, longos cabelos arroxeados (indo quase à altura da cintura), com músculos relativamente grandes e trajando um sobretudo azul-marinho. Ele entra na sala, fechando a porta cuidadosamente logo em seguida.

            Ternetts: Saar, eu não esperava vê-lo... aconteceu alguma coisa?

            Saar: Para falar a verdade sim, Senhor Ternetts. Mas... como o senhor sabe, você já ouviu algo?

            Ternetts: Não... mas sempre que um dos três Conselheiros da morada vem falar comigo sem que eu tenha chamado por algum motivo em especial, é porque, com certeza, boa coisa não é. Não estou certo?

            Saar: O pior é que está sim.

            O conselheiro segue para frente, cruzando a sala em questão de segundos, ficando defronte à mesa de seu líder.

            Ternetts: Bem, sente-se.

            Saar acena positivamente com a cabeça e puxa para trás uma cadeira acolchoada que estava encostada na mesa. Ele se senta.

            Ternetts: Certo. Conte-me então, o que foi que aconteceu? O que o fez vir aqui?

            Saar: Certo. Eu estava trabalhando normalmente na minha sala até que eu recebi a visita de um dos guardas do saguão de entrada do nosso castelo. Como o senhor mesmo sabe, sempre que um guarda se reporta a um dos conselheiros é porque tem algo a informar ao senhor. Ele disse que os guardas que protegem o portão de entrada receberam uma visita meio... estranha.

            Ternetts: Visita meio estranha? Como assim?

            Saar: Sim, eu não sei ao certo, mas ele informou que os guardas do portão não conseguiram identificar a aparência do visitante. Ele estava com o seu corpo completamente coberto de vestes pretas, muito escuras mesmo, e disse que tinha algo para falar com o senhor... diretamente com o senhor.

            Ternetts: E o que o guarda de entrada respondeu?

            Saar: Bem, segundo o guarda do saguão que foi até a minha sala, o guarda do portão de entrada respondeu que o senhor não recebe nenhum tipo de visita pessoal, a não ser que ela já tenha sido previamente marcada. O tal visitante falou então que já esperava por isso e... deu ao guarda um bilhete, dizendo que o mesmo deveria ser entregue diretamente ao senhor.

            Ternetts: E depois disso? Ele foi embora?

            Saar: Sim. Após entregar o bilhete, o ser simplesmente saiu andando... ah sim. Ele falou também que o assunto sobre o qual ele deseja falar com o senhor... é do seu interesse.

            Ternetts abre um meio riso em seu rosto, ilustrando um pouco de ironia.

            Ternetts: Hum! Mas que coisa chata! Bem... e o tal bilhete, onde é que ele está?!

            Saar: Ah sim, o guarda do saguão me entregou...

            O conselheiro começa a mexer em alguns bolsos de suas vestes azul-marinho até que retira um pequeno papel amarelado de um deles com a sua mão direita. Ele a estica para o líder dos Logrus.

            Saar: Aqui está, senhor Ternetts. Foi isso o que ele deixou antes de ir embora.

            Ternetts apanha rapidamente o bilhete com a sua mão esquerda. Ele estava ligeiramente dobrado, mas o líder o abre em poucos segundos, logo depois então, coloca o grande livro, que estava lendo até então, um pouco ao lado e estica o bilhete sobre a mesa, bem à sua frente.

            Ternetts: Bem, vamos ver o que esse tal ser deseja...

            Os olhos de Ternetts começam a percorrer o bilhete que, por sua vez, estava escrito em símbolos bem estranhos, não se assemelhando nem um pouco às letras usadas atualmente (já que naquela época, naturalmente, a escrita como a conhecemos hoje, não existia).

            Ternetts: Venha me encontrar há mais ou menos três quilômetros ao sul do Centro da Cidade de Lunn, uma pequena gruta contida numa densa floresta que existe lá... é do seu interesse, senhor Ternetts, eu lhe garanto, portanto, não deixe de vir  pessoalmente, de maneira alguma. Estarei esperando, pode aparecer a qualquer hora. Até mais.

            O líder dos Logrus termina de ler o pequeno bilhete e volta seu olhar para Saar, sentado à sua frente.

            Saar: O que acha, senhor Ternetts, está pretendendo ir ao encontro dele?

            Ternetts (em um tom de raiva na voz): Que cretino, nem ao menos diz o nome! É um maldito... não sei, mas é bem provável que esteja querendo fazer algum tipo de acordo comercial conosco. É a única coisa que poderia ser do meu interesse, não vejo nenhum outro motivo que faria um ser desejar falar comigo pessoalmente desta forma.

            Saar: Eu também pensei nisso, senhor Ternetts, mas é muito estranho... o senhor nunca interage de forma pessoal nos acordos comerciais que envolvem os Logrus... esta tarefa já é designada a Logrus já especializados e, em último caso, vamos nós, os conselheiros, mas o senhor... será mesmo que não tem mais nada que faria este ser desejar falar com o senhor?

            Ternetts: O que poderia ser, hein? Naturalmente, eu também acho estranho que este ser, desejando um acordo comercial, faça uma abordagem assim para falar comigo cara a cara, mas eu não consigo imaginar um outro assunto que poderia despertar o meu interesse, ainda mais agora, que as nossas atividades comerciais estão cada vez mais crescendo...

            Neste momento, os olhos de Ternetts e de Saar arregalam-se, como se os dois tivessem pensado a mesma coisa e ao mesmo tempo.

            Saar: Senhor Ternetts, não será que...

            Ternetts: Sim! É provável! O nosso comércio está crescendo e conseqüentemente, estamos enriquecendo cada vez mais! Isso com certeza desagrada outras raças, sobretudo as que também estão envolvidos em comércio e as que desejam, assim como nós, cada vez mais riqueza.

            Saar: Sim, exatamente. Senhor... há grandes chances de isso ser algum tipo de armadilha. Ainda mais pelo fato de ele ter marcado um local que é ligeiramente isolado... uma pequena gruta em uma densa floresta.

            Ternetts: Sim... ainda mais com esta pedra que agora está em nosso poder, depois que a anunciamos no mercado, é fato que iremos atrair grupos comerciais rivais. Mas também, não podemos descartar a idéia de ser apenas um simples acordo comercial.

            Saar: Sim, naturalmente, temos que considerar todas as opções possíveis. Mas então... o que nós iremos fazer? O senhor vai ou não vai se encontrar com este ser?

            Ternetts: Se eu não for, com certeza ele voltará à Morada me procurando mais uma vez. Não quero mais ser perturbado, vamos cortar logo o mal pela raiz. Mesmo considerando que isso seja algum tipo de armadilha, não tem problema.

            Saar faz uma breve expressão de estranhamento em seu rosto.

            Saar: Não tem problema, senhor?

            Ternetts: Não. Como você mesmo sabe, Saar, eu sou o Logru mais poderoso que existe atualmente. Não imagino que tipo de armadilha possa ser, mas, seja lá qual for, não será fácil me pegar, muito pelo contrário. Eu irei sim. Entretanto, eu quero que você e mais um dos conselheiros me acompanhem.

            Saar faz uma expressão de surpresa.

            Saar: Mas como?! Senhor, me perdoe em ir contra à sua opinião, mas será mesmo que o senhor está sendo prudente nesta decisão? Pense bem, como o senhor mesmo sabe, os conselheiros da Morada são responsáveis pela parte administrativa da nossa sociedade de Logrus e, dependendo da situação, somos designados a interagirmos determinados acordos comerciais, mas nós... nós não temos preparo no que diz respeito a habilidades voltadas ao combate. Se isso for só um acordo comercial, está tudo bem, mas se for uma armadilha, eu e mais um conselheiro não seremos nem um pouco úteis ao senhor. Não seria melhor... levar também algum Logru bom em lutas? Talvez o Ryumann, o Rattara, ou ainda...

            Ternetts o interrompe rapidamente, num tom de voz ligeiramente ríspido.

            Ternetts: Não! Saar, isso não será necessário.

            Saar se cala imediatamente.

            Ternetts: Escute com atenção! Eu já disse, eu sou o Logru mais forte que existe nos dias de hoje, portanto, em caso de armadilha, eu não serei pego facilmente. Mas, isso não significa também que eu esteja imune a qualquer tipo de ataque, não posso ficar cegamente confiante só por eu ser poderoso. Caso eu leve Logrus especializados em lutas junto comigo e a armadilha seja muito boa, nós todos podemos acabar sendo capturados e assim, a Morada ficará desprotegida. Você já pensou nisso? Entretanto, caso apenas eu e apenas mais dois conselheiros sejamos capturados, haverá Logrus especializados em combates aqui e, além disso, ainda terá também mais um conselheiro restante e ele é que terá a missão de reger a Morada enquanto eu estiver inativo. Compreende o que eu estou tentando dizer? Precisamos considerar a idéia de que, se for um caso de uma armadilha e que ela seja boa, podemos acabar caindo nela, ainda que isso seja bem difícil de acontecer.

            Saar fica com uma expressão pensativa.

            Saar: Bem, olhando por esse lado, até que o senhor tem razão... eu estava pensando em deixar todos os conselheiros aqui e levar com o senhor alguns Logrus especializados em comércio e outros preparados para lutas, mas...

            Ternetts: Não, não. Olhando pelo ponto de vista que te falei, acho melhor levar dois conselheiros para um caso de acordo comercial e, para o caso de armadilha, o Logru especializado em combates serei eu mesmo!

            Saar (ainda com um certo tom de dúvida na voz): Certo... eu entendo, senhor Ternetts, não irei questionar as suas decisões.

            Ternetts: Certo.

            Os dois ficam calados por alguns segundos, até que Saar quebra o silêncio.

            Saar: Bem, o senhor disse anteriormente que gostaria de ser acompanhado por mim e mais um dos conselheiros, certo? Quem seria o outro, Coik ou Roublin?

            Ternetts adquire uma expressão que mistura dúvida e pensamento em sua face.

            Ternetts: Coik ou Roublin... boa pergunta, Saar. Bom, para ser sincero, ambos são muito capacitados, então, acho que não faz diferença. Você, Saar, certamente virá pois é o melhor conselheiro. Então... eu vou deixar a escolha com você. Veja primeiro se eles estão em alguma tarefa especial, se ambos estiverem livres, você pode escolher aquele que desejar. Entendeu?

            Saar: Sim!

            Ternetts: Se ambos estiverem em tarefa importantes, então veja qual é o que está na menos importante e o chame para vir conosco.        

            Saar: Certo.

            Ternetts: Assim que você chamar um dos dois, venha novamente ao meu encontro e aí iremos logo ver este tal ser.

            Saar: Sim! Eu irei fazer o que me pediu imediatamente, senhor Ternetts!

            O conselheiro se levanta de um salto, arrastando involuntariamente a cadeira a poucos centímetros para trás. Ele faz uma leve reverência ao seu líder, que, por sua vez, acena com a cabeça.

            Ternetts: Vá! Estarei esperando por você.

            Saar: Certo.

            Saar se vira e vai andando lentamente, até que sai da sala, encostando a grande porta cuidadosamente em seguida. Ao ficar sozinho na sala, Ternetts volta seus olhos ao bilhete amarelado, que permanece esticado sobre a sua mesa. O seu rosto fica tomado intensamente pela dúvida.

            Ternetts (pensando): Droga... agora fiquei curioso. Quem será este ser e o que ele quer?!

     


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