[ Cristiano's pov ]

A viagem não foi muito longa, afinal, dormi quase o caminho todo, então nem senti o tempo passar. Eu evitava pensar em Vandra, agia como se ela nunca tivesse existido. Já estava de noite quando cheguei em casa, eu certamente levaria uma bronca se não tivesse inventado que iria a casa de um amigo. Ninguém suspeitou, já que era sábado. Subi as escadas para meu quarto tranquilamente. Tranquei a porta, e deitado em minha cama comecei a ouvir música alta.

All the things she said

Todas as coisas que ela disse

All the things she said

Todas as coisas que ela disse

Running through my head

Passando pela minha cabeça

Running through my head

Passando pela minha cabeça

This is not enough...

Isso não é o suficiente...

Ouvi alguém cantar junto, parecia ser Vandra.

I'm in serious shit, I feel totally lost

Eu estou numa séria encrenca, eu me sinto totalmente perdida

If I'm asking for help it's only because

Se estou pedindo ajuda, é apenas porque

Being with you has opened my eyes

Estar com você abriu meus olhos

Could I ever believe such a perfect surprise?

Eu poderia acreditar em uma surpresa tão perfeita?

Era ela mesma, estava sentada no chão do lado da minha cama, cantando com um olhar triste. Não deixei que percebesse que eu já podia vê-la novamente, mas parecia que já havia notado. Havia parado de cantar, agora apenas me fitava, continuei fingindo que não a via. No final da música ela recomeçava a cantar:

Mother, looking at me

Mãe, olhe pra mim.

Tell me, what do you see?

Me diga, o que você vê?

Yes, I lost my mind

Sim, eu perdi minha cabeça.

Daddy, looking at me

Papai, olhe pra mim.

Will I ever be free?

Algum dia eu serei livre?

Have I crossed the line?

Eu passei do limite?

Ela me olhava de novo e se aproximava devagar. Já muito próxima a mim, disse:

– Finalmente...

– Finalmente o quê?... - Pergunto indiferente.

– Eu não conseguia falar com você, eu te via, mas algo me impedia de me aproximar...Você estava querendo que eu me afastasse?

– Nossaaa, como adivinhou? - Perguntei irônico.

– Acho que sua vontade de me ver longe era tanta que tive que me distanciar.

– Deve ser...

– Você por acaso ouviu o que eu disse depois???!

– Depois quando?

– Depois de eu dizer que não me arrependia, você me ouviu depois??!!

– Não..

– Seu besta.

– O que você disse de tão importante pra me chamar de besta?!

– Não importa mais.

– Não importa mesmo, eu nem sei se você é real!

– Claro que eu sou... - Eu não disse nada, apenas a encarei.– Acho que sei como te provar isso... - A olhei como confirmação para que continuasse.– Conheci alguém além de você que pode me ver! E ainda por cima ele é lindo! - Os olhos dela brilhavam ao falar.

– Então por que você não vai com ele??!

– Porque ele pode ser um tarado.. nunca se sabe né....

– Vandra, ninguém pode te tocar, e você sabe disso.

– Pois é, estou começando a pensar que isso não é mais uma vantagem.

– Por quê? - Ela me respondeu com uma cara pervertida, não precisava dizer mais nada. - Então... quem é essa pessoa além de mim que pode te ver?

– Sei lá, ele estava no ônibus, não sei quem é direito...

– O nome dele você sabe?

– Farkes...

– Farkes? Isso nem é um nome!

– Em algum lugar deve ser.

– Huum.. eu gostaria de conhecer esse cara...

– Por quê?

– Porque você pode estar mentindo!

– Ahh... mas como vou achar ele de novo?... - Perguntou a si mesma, olhando pensativa para cima.

– Isso já não é problema meu... - Digo colocando os braços na minha cabeça, como quem quer fazer pose de "galã".– Mas diz ai Vandra.... ele é mais bonito que eu? - Pergunto com um sorriso maroto.

Antes que ela pudesse responder, minha mãe abriu a porta do quarto e entrou, sem mesmo bater, era um costume chato que ela tinha.

– O que você está fazendo ai parado?? Vamos, se arrume! Esqueceu que hoje vamos visitar seu primo? - Fez um olhar de desaprovação e saiu.

Meu primo não era muito legal.. na verdade ele era estranho... Mas quem liga? É comida de graça! Sempre faziam algo especial no sábado.

– Eii, eu também vou, né?! - Perguntou-me super animada, não sei por quê, já que ninguém iria vê-la.

– Se eu disser que não, você fica aqui?

– Claro... - Ao ver que eu iria me levantar, continuou. - Mas sabe...Cristiano... eu ficaria muito entediada, e começaria a quebrar tudo que visse pela frente...Como aqueles espíritos revoltados de filme!

Dei um tapa em minha testa, era óbvio que não poderia impêdi-la de vir...

Estava começando a me trocar para ir até a casa do meu primo, até que vi Vandra me fitando quando ia tirar a camisa.

– Que foi? Pode se trocar, finge que eu não estou aqui! - Disse-me com um sorriso.

– Vandra...

– Que que tem? Éramos namorados, certo? Não podemos mais ficar juntos como podiamos antes, então acho que pra compensar eu poderia pelo menos te ver sem algumas roupas... - Ela ainda sorria.

– Vandra, por favor... - Minha voz quase não saia, aquilo era constrangedor.

– Mas... - Ainda iria argumentar, mas a interrompi.

– Me dá licença.

– Táá bom...Estou saindo... - Falou indo em direção a porta entre-aberta. - Estraga prazer...

Será que ela estava falando sério em me ver sem roupa? Talvez fosse só brincadeira...

Ahhh, isso tudo é muito confuso...Ela entrou do nada em minha vida... Pensei que nunca mais falaria com ela, estava errado.

Por quanto tempo ela vai ficar comigo? Por quanto tempo ela pode ficar? Por que isso aconteceu? Estou ficando louco?