Como Errar escrita por Goahak


Capítulo 6
Lembranças




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Ser tantas vezes internado em um hospital significa que você realmente não está bem, mas no caso de Thomas... ele estava bem de saúde, digo, não tinha nenhuma doença, era um homem saudável, por Deus! Foi atropelado, pobre homem! Depois sofreu outro acidente, acidentes acontecem, oras. Um atropelamento, um tombo... agora a perda da memória, isso era problema. Porém não havia incomodado ainda, não que Thomas soubesse. Ou melhor, não havia incomodado até agora. Sofreu um ataque de nervos, lembrou finalmente do que tinha acontecido: o Sr. Monovich havia morrido! Foi um choque muito grande para um cara desabilitado emocionalmente e Thomas acabou desmaiando, foi isso o que aconteceu.

Acordou dois dias depois no hospital, mas agora estava com a memória boa e na mesma hora que acordou percebeu que era tarde. Na verdade ainda era oito e vinte da manhã, o que ele lembrou que era tarde foi outra coisa. Outra coisa que ele sabia que talvez não fosse ter outra chance de tê-la. Perdeu seu encontro com Megan!

Eu sou apenas o narrador e nada tenho a ver com essa trágica história, só estou contando como ela é. Preferia e muito contar, por exemplo, que Thomas era feliz e tudo sempre dava certo para ele.  Mas vocês não iriam querer uma história de mentira não é? O máximo que eu posso fazer é contar os momentos felizes da vida de Thomas, ou os que ele considerou serem felizes. Por total coincidência era isso o que ele estava fazendo nesse momento, enquanto esperava receber a alta do hospital. Lembrando seus momentos felizes. Teve que se esforçar um pouco para lembrar, mas logo alguns apareceram.

Lá estava o pequenino Thomas, com uns doze anos de idade mais ou menos. Estava voltando para casa, sozinho e cansado, já que havia passado a tarde toda brincando com seus amigos imaginários. Enquanto andava, viu um garoto de talvez uns oito anos brincando com um cão. Caramba! Como parecia ser divertido. Decidiu o que queria ganhar no natal que estava próximo: um cachorro! Chegou em casa muito entusiasmado e foi falar com seus pais. Eles concordaram, com a condição de que ele teria que limpá-lo, alimentá-lo, etc. Ele, logicamente, também concordou. No dia seguinte foram até o canil adotar o cachorro, você pode imaginar como os cães para adoção tem uma cara simplesmente adorável e carente! Thomas ficou na dúvida entre alguns, por fim acabou se decidindo e escolheu um cachorro de pêlo curto, branco e marrom. Tinha um ano e meio de idade e o nome era Argos, era um cão bem pequeno, lembrava um Jack Russel Terrier. Os dias que vieram depois da adoção eram de pura alegria, de ambos. Argos era freneticamente brincalhão, não parava um minuto se quer. Thomas tentava acompanhar o ritmo do cão, mas foi sedentário durante toda a vida e não conseguia. Então o cachorro tinha que achar novos meios de gastar toda essa energia. Que é claro não foram nada bons, destruiu alguns móveis e foi mandado para fora de casa, no jardim. “Não quero esse pulguento aqui dentro nem pintado de ouro!” dizia a mãe de Thomas toda vez que Argos conseguia se infiltrar dentro de casa novamente. Quando ela saia Thomas e seu pai sempre chamavam Argos para dentro de casa para brincar, o pai de Thomas era um ótimo pai, - depois falo sobre o casal Johnson, agora vamos continuar falando de Argos - os três se divertiam muito juntos. Isso durou uns cinco meses no máximo, até Argos ser atropelado. Pode ser por isso que Thomas não gosta de animais, acha que eles sempre o irão decepcionar, ele ficou muito triste com a morte do cão. Nunca mais quis saber de nenhum outro animal durante toda a infância ou adolescência. Então o que era uma lembrança feliz logo se tornou em mais uma lembrança triste e amargurada da vida de Thomas. Tentou pensar em outra.

Parecia haver uma barreira invisível impedindo as memórias boas virem à tona, uma grande peneira filtrando apenas as recentes e péssimas lembranças. Era realmente uma pena o Sr. Monovich ter morrido, mas por outro lado, Thomas conheceu Megan e isso o tinha animado mais do que tudo ultimamente. Estava encantado pela linda mulher que agora era sua vizinha, e lembrar dela fez seu cérebro relembrar outra lembrança feliz, pelo menos durante um tempo da vida de Thomas.

Ele tinha quinze anos quando a conheceu: Jéssica Whitney era o seu nome, o primeiro grande amor da vida de Thomas. Ele tinha acabado de chegar à nova escola e logo de cara sentiu uma atração pela garota. Rapidamente se tornaram íntimos e ele ficava muito à vontade ao lado dela. Presenteou-a com flores, chocolates, pelúcias e tudo que conseguia pensar ou comprar. Viveu seus melhores momentos da adolescência com ela, tinha descoberto o que era amar. Realmente amava Jéssica. Contava vantagem aos amigos, orgulhando-se da sorte que teve em encontrar uma garota como ela, se achava um cara de muita sorte mesmo! Os amigos nada diziam, apenas falavam sobre a aparência dela, que era de fato muito bonita. Mas Thomas não estava nem aí para as aparências, fosse como fosse ele a amava! Porém, Jéssica aparentemente não se importava muito com Thomas, ou não demonstrava isso. Não demorou muito para ele descobrir isso, ela só estava curtindo o momento, não tinha sentimento nenhum pelo pobre tolo. Ele propôs algo sério, não queria deixá-la partir assim, sem mais nem menos, mas não adiantou. Como um furacão, Jéssica entrou e saiu da vida de Thomas, rapidamente e destruindo tudo. Ficou muito decepcionado e também talvez seja esse o motivo dele ter certo receio quanto a relacionamentos. Como vocês provavelmente perceberam, mais uma lembrança boa se tornou numa triste recordação. Eu avisei que ele era um sujeito realmente triste e que a vida tinha lhe dado um belo pontapé desde que nascera.

Uma enfermeira entrou no quarto com uma prancheta nas mãos, abriu uma gaveta deu uma pílula e um copo de água para Thomas e torceu para que ele entendesse o que deveria ser feito sem ela precisar falar algo. Ele entendeu e quase se engasgou com a pílula, tendo que pigarrear em seguida fazendo com que a tensão gerada no quarto aumentasse. Devolveu o copo e olhou em direção ao soro e depois à enfermeira, estava jogando o mesmo jogo que ela. Ela como uma jogadora experiente também entendeu e checou o soro de Thomas. Andou até a porta e antes de fechá-la disse: Você já pode ir.

Depois de sair do hospital, pegou um táxi e foi para casa. Pensou se era uma boa idéia ir até o outro lado da rua pedir desculpas à Megan. Pensou também que seria melhor ficar encolhido como um camarão na cama por alguns dias até o tempo fazer parecer que ele estava melhor. Acabou escolhendo a segunda opção, parecia mais fácil, já que ele estava mais acostumado com ela.

Antes que o capítulo acabe eu devo contar a história dos pais de Thomas, como prometi. Bem, o casal Johnson era um casal feliz. Feliz, mas frustrado. Trabalhavam muito e quase não tinham tempo para o lazer e para ficar com o único filho. A mãe de Thomas sempre estava irritada e acabava por descontar no pobre menino, já o pai era muito ligado ao filho. Eram raros os dias em que ele podia ficar em casa, mas esses eram os dias mais felizes para Thomas, ele e o pai faziam de tudo, se divertiam muito. Quando Thomas tinha 14 anos, seu pai faleceu vitima de um ataque cardíaco. Aquilo o devastou e a sua mãe também. A mãe de Thomas ficou depressiva, parou de trabalhar e começou a fumar muito. Sempre estava dopada com algum analgésico e não ligava para mais nada. Faleceu por um câncer no pulmão quando Thomas tinha 17 anos. Provavelmente isso o fez ser tão tímido e reservado. Talvez também por isso ele julgasse as pessoas tão bem.


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