Doce Insanidade escrita por Monny


Capítulo 4
Entre a Cruz e a Espada




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Nos pilares das memórias de Hannibal Lecter haviam as molduras douradas enquadrando o rosto dela, suas bochechas rosadas destacadas num rosto puramente branco ornamentado pela doçura e mistério de um par de pedras azuis no lugar dos olhos, se ele pudesse olhar fundo naquelas pedras, leria uma vida toda nelas. Ah! Aqueles olhos! Com aqueles enigmas! A vida dele naquela 'jaula' se tornara tão melhor quando passou a ter o prazer de vê-la carregando aqueles livros de diversos tamanhos e tentando manter a postura diante das grades... Como ela era agradável! Como o perfume dela era excitante! Como podia aquele sorriso sem jeito deixa-lo tão perdido com as palavras, com os pensamentos? Porque com ela tudo o que era fácil se tornava difícil? Ah! A doce Ayelleen...

Era uma quinta - feira, isso era o único motivo de Hannibal Lecter tornar-se mais agradável. Teria uma visita dentro de algumas horas, a única visita durante a semana. Preparara alguns desenhos, algumas citações,queria se mostrar para ela, mostrar o quão ela era capaz de lhe proporcionar aquela vontade de agrada-la mesmo de maneira tão simples.
Ela já o visitava carregando aqueles tantos livros á mêses, onze exatamente. Ele sabia de boa parte de sua história de vida, sabia de alguns gostos, preferências gastrônomicas, perfumes que usava, grifes que a agradavam, sabia de seus sonhos, do seu dia de trabalho... Aquela quinta - feira não era como as outras, era o Dia dos Namorados e ele estáva ansioso para entregar algo que fizera para ela.

Ayelleen já se acostumara com os gostos do Dr. Lecter, já entendera o porquê dele 'devorar indelicados', sabia de Mischa e de sua infância na Lituânia, estar na presença dele era como abrir uma janela num dia frio, despertava-a para o novo, o desconhecido á ela e o habitual á ele. Cada quinta - feira era diferente, em algumas ele falava mais, em outras somente ouvia, em outras somente observava o que a deixava meio sem jeito.
Onze mêses 'convivendo' com ele, e cada vez mais prazeroso, mais intenso e mais necessário. Se um dia a despedissem da biblioteca, não poderia mais vê-lo e como seria sua vida apartir de então? Preferia não pensar nisso. Gostava de pensar em assuntos, formular teses e criar teorias sobre assuntos diversos. Vê-lo usufluir de sua majestosa sabedoria e inteligência eram afrodísiacos. Aquela quinta era especial, Dia dos Namorados, eles não eram 'namorados' mas, tinham conversado a respeito desse dia na semana passada... Barney estáva acostumado a colocar uma cadeira de frente á cela de Hannibal para que Ayelleen pudesse ficar mais confortável para conversarem; Dr. Chilton achava estranho e imprudente deixá-la visitá-lo mas o advogado do Dr. Hannibal conseguiu que isso pudesse acontecer depois de muita insistência na justiça e claro, com alguma ajuda em dinheiro vivo.

Ela estáva com o casaco Prada cor creme e com os sapatos Gucci caramelo-seco, os cabelos negros soltos e levemente nivelados, perfume exalando, Dolce&Gabbana... Aquela mulher sentada de frente para ele não poderia ser aquela jovem tão graciosamente doce e 'infantil'. Ela crescera com as visitas, crescera com as dicas de etiqueta, enriquecera seu bom gosto nato e agora, estáva agradando plenamente o homem á sua frente que olhava pasmo para tamanha beleza.

Durante a conversa que tiveram neste dia, sobre a Teoria da Conspiração, Hannibal perguntou inocentemente se ela estáva feliz por estar próximo o Dia dos Namorados e sorrira de forma satisfatória ao ouvir dela que não tinha namorado e que jamais tivera um... Então, ele se aproximou mais da cela e disse:
– 'Então eu serei o seu primeiro minha querida...'
Comprara para ele uma coleção de livros sobre culinária, com receitas do mundo todo e mais um pingente com a inicial dela em ouro, esperava ansiosa para entregar os presentes á ele e dessa vez, não através da gaveta de correr mas numa sala especial onde poderia entregar em mãos. Ela sabia que não poderia toca-lo pois ele estaria algemado e possivelmente com aquela mordaça em forma de máscara, mas só de estar na presença dele já mudava muita coisa.


O Dr. Chilton liberou uma sala que estaria sendo supervisionada por Barney da sala de vigilância, para dar mais 'privacidade' aos dois, mais uma coisa que seu advogado conseguira depois de tanto ''esforço'', nem mesmo a mordaça seria utilizada, mas as ordens eram claras á ele. De forma alguma quebraria as regras. O que mais queria era vê-la entrar pela grande porta branca, carregando consigo aquele sorriso precioso num rosto divino.
Não demorou muito para isso acontecer, a porta se abriu e Barney avisou o Dr. Lecter, que permanecia sentado de maneira ereta fitando a porta se abrir e lá estáva ela, com um vestido preto de bom corte e bom caimento, com algum decote revelando a pele branca, sapatos altos, cabelos balançando com o andar, com uma caixa grande nas mãos delicadas e aquele sorriso deliberante nos lábios.
– Olá Ayelleen... (se levantou em forma de respeito.)
– Olá Dr. Lecter. Estou imensamente feliz que possamos nos falar dessa forma... (sentou-se diante dele colocando a caixa embrulhada em papel dourado próximo á seus pés pequenos.)
– Feliz Dia dos Namorados! (ele disse sorrindo, entregando á ela com as mãos algemadas em correntes um papel em pergaminho de tamanho médio.) Mandei meu advogado enviar outro presente á sua casa, espero que goste.
Ayelleen recebeu o pergaminho sorrindo, abriu-o e fitou-se nele, a perfeição dos detalhes, cada minucioso detalhe... Não havia dúvidas, Hannibal Lecter era um artista.
–... Não sou tão bonita assim Dr. Lecter... Fiquei sem palavras! ( seus olhos azuis lacrimejaram.) Bom, aqui está o meu, espero que o senhor goste.
Entregou-lhe a caixa com certa dificuldade, era difícil segurar algo daquele tamanho com as mãos algemadas.
– Abrirei nos meus aposentos, desculpe por isso, mas se o fizer aqui me levarão imediatamente para lá.
– Tudo bem, eu entendo. (sorriu meigamente.)
Era a primeira vez que os dois podiam apreciar os detalhes um do outro, os dentes brancos e pequenos do doutor, a pele sem maquiagem de Ayelleen. Por um momento ela ruborizou ao fitar os olhos e a boca tão bem feita de Hannibal seguidos pelo seu perfume discreto mas intenso.
– Você é tão bela Ayelleen que nem a palavra beleza consegue justificar esse grande pecado á humanidade que foi cometido por Deus ao criar você. Tão perfeita, tão imensamente 'perfeita.' O que eu não daria para passar eternidades só olhando você... olhar para você minha querida, é devora-la com a visão de um anjo em forma humana, é como se você tivesse saído de uma pintura renascentista... Como és bela minha Ayelleen...
Ela sentia o corpo tremer, estava quente e sentia-se meramente excitada.
– Diga-me Ayelleen... mesmo diante do motivo que me faz estar aqui á 8 anos... mesmo diante do que eu sou... me amaria? (havia um tom de piedade e um pouco de receio na voz dele, mas muita ansiedade.)
–... Amaria???! (ela sorriu, se aproximou mais dele arrastando a cadeira levemente, estavam muito próximos.) Mas euo amo Dr. Lecter..
Ele ficou sem ação por algum tempo, apenas submerso naqueles olhos quentes e enigmáticos. Barney não observava as câmeras, estava tendo problemas com Miggs novamente. Hannibal Lecter sorriu levemente e continou.
– Fico contente em saber disso... agora diga-me, se eu conseguisse sair daqui, fugiria comigo? Viveria comigo o tempo que me restasse longe de celas e de correntes? Apreciaria minhas iguarias? Me amaria depois de ver-me diante de uma cessão de culinária exótica?
Ela não exitou e disse com extrema sinceridade.
– Sim.
Ele sorriu, um sorriso mais aberto do que todos que já dera. A observou abrir e fechar os olhos, as piscadelas mais rápidas e as mais demoradas. Ela estáva tentando criar coragem de pedir-lhe algo, olhando as horas no relógio caro, faltavam cinco minutos para o tempo deles acabar.
–... Sabe o que realmente me faria feliz hoje Dr. Lecter?
– Não. O que seria Ayelleen?
– Receber um beijo seu.
Os olhos infantis de outrora agora eram fatais e excitantes, ele pensara em roubar um beijo dela mas provavelmente sairia nas câmeras como um possível ataque, algo nele dizia que ela lhe pediria isso... E ele o faria com imenso prazer, queria saborear seus lábios, sua boca, mesmo que por alguns segundos. Ele sorriu, ela entendeu, se aproximou mais dele colocando a cadeira tão próxima que seus braços poderiam abraça-lo... e ela o fez, ele não poderia abraça-la mas recebeu seu abraço apertado e respondeu ao toque de seus lábios macios.
Seus corpos estavam colados, as mãos dela tocando seu rosto de maneira gentil e provocante, ele conseguiu toca-la em partes distintas, sentiu a maciez de sua pele e de seu cabelo, suas pernas e coxas duras... Aquele beijo estava provocando nele outras sensações e não demorou muito para que ele desse indícios que a queria em cima dele e ela o fez...Fitava os olhos curiosos do Dr. Lecter num rosto diferente com aquele sorriso malicioso... Mas, o que ela estava fazendo ali? O que era aquilo que a impulsionava? Era o desejo. O desejo de ambos e se Hannibal Lecter não tivesse aquelas algemas... Muita coisa aconteceria.
Os olhos do doutor insistiam para que Ayelleen não parasse de beija-lo, á quanto tempo ele não sentia os lábios de uma mulher tão atraente... Mas aquilo 'mais' que ele estava sentindo não era só por acha-la atraente, e o que era então?
Ayelleen agora sorria para Hannibal Lecter, devorava seus olhos, ele podia senti-la fazer isso e antes que pudesse beija-lo novamente a porta se abre...
– Senhorita Ayelleen... - Barney se assusta com a cena, Ayelleen tenta se levantar e sair do colo do doutor mas cai, sem jeito tenta pegar o desenho que caíra também, Barney está na porta sem ação, Dr. Lecter olha de Ayelleen, ainda no chão, para Barney, mas não se pronuncia; quando ela consegue se levantar, o doutor agarra sua mão vazia e a puxa para perto deixando Barney nervoso.
– Dr. Lecter não faça isso! Sofrerá graves punições!
– Ayelleen... Obrigada por esse momento tão... delicioso. Nunca me esquecerei de você, pequena Ayelleen... e se um dia eu sair... me lembrarei mais ainda de você...
Barney a puxou, ela só conseguia olhar de esguelha para o doutor, estáva com muita vergonha, soltou-se de Barney e correu o mais rápido que pôde, atropelando seguranças e espancando os portões até chegar ao seu Impala prateado ouvindo as vozes de Barney e de outros guardas mas já era tarde, seja lá o que eles queriam com ela não poderiam mais dizer, ela estáva afoita e preocupada, excitada porém envergonhada, nunca mais veria do Dr. Hannibal Lecter e aquilo... bem... aquilo a machucaria mais do que qualquer outra coisa.

Barney manteria segredo SE pudesse mas as câmeras gravaram os ocorridos naquela sala, ele seria punido mas não tão severamente como o doutor Lecter. Naquele momento o doutor permanecia sentado fitando a parede branca á sua frente, a porta aberta e ninguém para vigiá-lo, ele provavelmente não reparou nisso, estáva apenas saboreando o delicioso sabor da boca de Ayelleen; seu coração batia acelerado e aquilo não poderia ser controlado e mesmo que fosse, ele não ia querer. Ah... aquilo, era muito mais do que ele esperava. Sabia agora que sua doce musa inspiradora nutria por ele sentimentos... percebeu a sinceridade nas palavras dela e nas palavras ditas por aqueles olhos fantásticos... Ele nem percebeu quando Barney entrou de sopetão na sala carregando a maca para levá-lo á sua cela, ele simplesmente se levantou e apontou em direção á caixa.


– Eu não acredito nisso!- berrava o doutor Chilton.- Como você pôde fazer isso Barney? E se ele a mordesse????????

Barney sabia que tinha errado mas Miggs estáva incontrolável e só ele poderia acalmá-lo, com escassez de enfermeiros, o local estáva virando uma bagunça.

– Vou ligar para o advogado dele e para a biblioteca, essa 'vadiazinha' perdeu o emprego.


Barney foi até a cela de Hannibal Lecter recolher o presente que Ayelleen lhe dera mais cedo assim como seus livros, seus desenhos... Encontrou-o deitado na cama, com a caixa aberta, papel dourado caído no chão, ele lia algo.

– Ganhou um presente de Dia dos Namorados doutor Lecter... Está feliz?

– Sim Barney, estou, mas estou mais feliz por ter tido a companhia daquela jovem adorável...

– Infelizmente vim recolher seus pertences doutor, o senhor se lembra das regras...

– Posso ficar com a carta?

–... Esconda-a, sim?

– Claro!

Quando Barney saiu carregando seus preciosos livros e as luzes foram apagadas, Hannibal Lecter tirou debaixo do travesseiro um pingente de ouro com a inicial 'A' e 'sua eterna' gravado. Ele lambeu o pingente e relembrou o prazer que aqueles lábios macios lhe proporcionaram... E ele queria senti-los de novo... e de novo... A única coisa que queria era vê-la novamente nem que fosse a última coisa que faria na vida.



Na casa de pilares de madeira e jardins de papoulas, uma moça sentada na escadaria da entrada chorava enquanto olhava um desenho, seus olhos perplexados nos detalhes faziam uma viagem além mente para horas atrás onde tudo acontecera... Assim que chegara em casa recebera a ligação da biblioteca, perdera o emprego e a dor ao saber disso não tinha palavras suficientes que pudessem dizê-la... Mas algo incomum acontecera também, seu ex chefe, o Dr. Louis Muvret disse que, por seus méritos, ela merecia uma segunda chance... mas não alí, mandou-a telefonar para Dr. Geovanne Lazon em Florença, ele precisava urgente de uma arquivista e ela era perfeita para o cargo. Ayelleen não sabia o que fazer, naquele momento sua mente apenas flutuava e se encontrava naquela sala branca com o Dr. Lecter onde beijara-o entusiasticamente...Aqueles lábios, aqueles olhos... aquele poder que ele exercia sobre ela... Tudo perdido... tudo... Ela tinha que ligar para Florença até segunda, até lá, se afogaria na garrafa de Chandon que recebera do Dr. Lecter por seu advogado pouco antes de receber o telefonema da demissão. Junto ao Chandon havia uma carta com letra elegante, uma carta vasta de três folhas... Ela não leria, talvez um dia, mas não hoje, cansara de chorar, mal conseguia abrir os olhos... Quem sabe um dia quando seus olhos estivessem secos e suas feridas estivessem cicatrizadas e ela tivesse forças e coragem para ler as verdades do Doutor... talvez nesse dia ela a leria...

Hoje não.


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