Janaína, do alto dos seus 14 anos, olhou-se no espelho: as faces em brasa expunham todo o pânico que assolava sua alma adolescente. Não poderia, não conseguiria, é: não iria.

            Felipe havia acabado de ligar convidando-a para um cineminha; logo ele, o garoto por quem era apaixonada desde a 5º série, resolve, três anos depois, para seu completo desespero, notá-la.

            Ela se olhou mais algumas vezes no espelho, desejando que tudo isso acabasse logo e pensando se era uma boa idéia ou não. Depois foi para a cozinha beber um copo de água para tentar se acalmar, e sem sucesso começou a andar de um lado para o outro, fazendo seu irmão mais velho que havia acabado de passar por ali, rir da sua expressão desesperada.

            Felipe chegou no horário combinado para sua surpresa e foi bem educado com sua mãe que também havia tido da situação. E depois, Janaína o puxou rapidamente interrompendo a seção de ironia que sua família estava lhe fazendo passar.

            O cinema não ficava muito longe dali e os dois foram conversando descontraidamente, até Felipe dizer:

            -Está nervosa, não é?

            -Um pouco – admitiu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, fazendo-o rir. Mas havia algo naquela risada que ela gostava, sabia que queria ouvi-la mais vezes. Esse pensamente fez com que ela sorrisse um pouco.

            Chegando lá, percebeu que o cinema não estava tão cheio, e o filme que ele havia planejado não era um dos mais procurados, mas ela insistiu em vê-lo mesmo assim.

            O filme em sim, foi tranqüilo, apesar de Janaína ter ficado nervosa no começo, acabou cedendo quando Felipe pegou sua mão. Eles falaram pouco, mas ela estava gostando.

            E quando voltavam para casa, um pouco mais relaxados um com o outro, Felipe pegou sua mão de novo, fazendo seus olhos se encontrarem, mas continuaram caminhando. Quando já estavam bem perto, Janaína falou:

            -Sabe, eu gostei muito de ter vindo – Ele sorriu.

            -Fico feliz que tenha gostado – respondeu Felipe – Pois quer saber? Eu também gostei muito – E por mais que Janaína não quisesse admitir, havia ficado nervosa à toa, e agora se sentia arrependida, não por ter saído com o menino, e sim por ter sido tão boba. Agora nada mais lhe importava, estava com o garoto por quem era totalmente apaixonada a tanto tempo e estava adorando isso. Balançou a cabeça tentando afastar tais pensamentos, quando percebeu que já estava chegando, entristeceu logo, quando Felipe disse:

            -Bom, acho que é isso – ele lhe tascou um beijo e corou – Te ligo mais tarde.

            -Ok – disse.

            E quando recebeu a ligação algumas horas depois, Felipe a fez um pedido de namoro e ela aceitou sem hesitar. E esse encontro? Foi o primeiro de muitos.