Requiem Finale


     Calmamente, ele me debruçou sobre a mesa. Tão nostálgico. Engraçado, não havia nenhuma resistência ao toque dele. Mesmo após tanto tempo, meu corpo naturalmente se amoldava ao percurso daquelas mãos, tal qual a argila, que se funde ao afago do oleiro.

     Eu estava ali, presa aquele instante. Presa aquele corpo. Aquele Rosto. Aquele abraço. Tudo estava tão perto. Mais um pouco e a nostálgica pressão das presas  dele já poderia ser sentida. Algo em mim dizia que era eu quem ansiava por isso. Nesse momento, senti Zero roçar as presas dele no meu pescoço...

- Como você pretende dar continuidade? Você virá sempre que eu chamar? É isso?

- Sim ...

     Eu disse, timidamente.

- Não.
  Eu não preciso da sua piedade.

     Então, vi que todo o desprezo do mundo cabia nos olhos dele.

- Não, Zero ...
                 ...  não é pena ou obrigação!

- Kiryuu.
  Eu sou apenas Kiryuu pra você. Yuuki Kuran.

...Zero...

- Pare, pare com isso! Você está falando como se fosse um estranho.

- Ouça: Tudo deveria ser assim desde o início. Se você pensar racionalmente, irá entender: o fato de nós nos conhecermos é completamente aleatório. Os meus pais também foram mortos por um Puro Sangue e então, fiquei na casa do presidente, pois ele conhecia meus pais. Contudo, se tal fardo nunca tivesse ocorrido, eu nunca me encontraria com você. No entanto, atualmente estamos distantes um do outro, como deveria ter acontecido. Seus pais também morreram e você foi deixada com o presidente porque ele é muito ligado a sua família. Porém, desde sempre, você está destinado a ser a princesa Puro Sangue e a noiva do Kuran, como está acontecendo agora. Em outras palavras, nós estamos destinados a estar em lados opostos.

- Por que você pensa dessa forma?
  Por que você simplesmente não bebe o meu sangue como antes?

- Você é a noiva de outro homem. E eu posso sentir o cheiro dele exalando em cada poro do seu corpo.

Basta!

-Zer...

"Podre...

               Para ele, meu sangue, agora, era podre.

                                                                  Eu...

                                                                     ...era

                                                                  podre..."

- Kiryuu, a partir de agora, se dirija a mim dessa maneira. É constrangedor ouvi-la me chamar de outro modo. Faz parecer que temos intimidade e isso já não existe mais.

"Kiryuu"

     Como posso dizer "Kiryuu"?
     Quem é Kiryuu? Eu só conheço o Zero.

Kiryuu.

     Eu não posso dizer esta palavra. É como aceitar uma morte, é como negar a existência de algo que não pode deixar de ser. Este nome proclama ao meu coração, o fim.

     Esta palavra diz que o Zero não existe mais para mim.

     Essa palavra é uma profanação.

Kiryuu. Esse nome nada representa.

    A parte de mim. Esta parte escondida, que queria chorar e gritar, nesse dia, esta parte chorou e gritou.

   Foi então que eu percebi que a minha sede seria do tamanho da eternidade.


                                                          Fin.