Os três correram em direção ao som, um tanto desesperados e ansiosos para ver o que tinha acontecido. Kat segurava a boneca entre os dedos, que agora pingava cada vez mais o liquido vermelho no chão. A garota tinha um pressentimento ruim toda vez que escutava os gritos dolorosos de algum inocente sendo morto. Era tão repugnante.

   Eles entraram em um tipo de floresta um pouco afastada da vila, correndo contra o tempo, tentando mentalmente não ouvir as lamentações que pareciam estar vindo do centro da floresta. Dean sacou a arma presa na parte de trás da calça, engatilhou-a e começou a correr mais rápido, o mesmo fez Sam, correndo um pouco mais rápido que o irmão. Kat começou a ficar para trás, mas não se importava, tinha armas imensamente poderosas e sabia se cuidar muito bem.

   Os Winchesters chegaram em um tipo de clareira, com a garota chegando um pouco depois. A visão que tiveram era horrível, um espírito em chamas tentando se apossar do corpo de uma menina de aproximadamente sete anos. Kat olhou para a porcelana, que era idêntica a garotinha na sua frente, a boneca começou a derreter em suas mãos, pegando fogo, enquanto a menininha morria lentamente.

   Dean não pensou duas vezes, atirou no espectro em usa frente, que desapareceu assim que à bala recheada de sal atingiu sua “aura”. Sam foi ao encontro da menina que caíra bem no centro da clareira, suas lágrimas se mesclando com o sangue. Os três não podiam disfarçar o sentimento de repulsa, ódio e desprezo. Agora era oficial, eles não só iam mandar essa alma e esse demônio para o Inferno, mas eles iam fazê-los sofrerem, iriam aniquilá-los lentamente. O que fizeram com aquela garota despertou nos três um sentimento jamais sentido.

   - Está tudo bem, tudo bem – Sam sussurrava no ouvido da garotinha, abraçando-a e arrumando seus cabelos castanhos – Já acabou.

   A menina soluçava, agora sendo amparada por Katherine, que sussurrava canções bonitas para a garota. A menininha estava começando a parar de chorar, com uma mão Kat limpava o liquido vermelho da boneca, o que estancava o sangue da menina. Era obra de um demônio, e ela ia mandar ele para o Inferno e fazê-lo sofrer.

   - Como é seu nome? – A garotinha perguntou, com uma voz de dor.

   - Meu nome é Kate, anjinho, esse aqui é o Sam – Indicou, apontando para o homem ao seu lado – E aquele lá é o Dean – Kat sorriu – E como é o seu nome, meu anjo?

   - Kessie – A menina tentou sorrir, tímida, mas só resultou em uma cara de sofrimento – Tenho sete anos – Ela fez com os dedos.

   - Vai ficar tudo bem, Kessie, nós vamos levá-la para um lugar seguro, está bem, meu amor? Vai ficar tudo bem – Com certeza a garotinha conseguiu aflorar a maternidade da mulher, Kat se identificava com ela, tudo aquilo era estranhamente familiar.

   Kat pegou a menininha no colo, ela não era pesada, mas Sam a tirou dos braços da mulher e começou a carregá-la em direção da vila. Dean permaneceu em silencio, tentando entender o que leva uma pessoa, um demônio ou uma alma a cometer tal ato. Não tinha justificativa, agora isso tinha se tornado pessoal. Ele lembrou de sua mãe, Mary Winchester, quando presenciou sua morte, o quarto em chamas... Ele era apenas uma criança, aquilo o tinha traumatizado. Se for assim que essa coisa queria jogar, ele ia entrar no jogo e acabar com esse demônio lentamente, fazendo-o sofrer pelas coisas que cometeu.

   - O que vamos fazer? – Sam perguntou quando a garotinha adormeceu em seu colo, quebrando o silencio.

   - Matar essa coisa – Dean e Kat responderam juntos, com ódio.

   - Sim, eu sei, mas como?

   - A boneca. – Kat afirmou – Quando estávamos entrando na floresta a boneca começou a sangrar, tudo o que acontecia com Kessie acontecia com a boneca... O sangue só estancou porque eu limpei a porcelana.

   - Voodoo? Magia negra? – Palpitou Dean.

   - Que ser humano seria capaz de fazer isso com uma criança, Dean? – Sam descartou a possibilidade – Esse demônio quer brincar com a gente, quer atingir nossos pontos fracos.

   Os quatros entraram no hotel, subindo as escadas lentamente e se dirigindo ao quarto dos Winchesters, deixando a garotinha na cama mais conservada. Kat se sentou na cama ao lado, junto com Dean. Sam continuou ao lado da garota, observando-a dormir.

   - O que vamos fazer com a garota? – Dean perguntou.

   - Mandá-la para um lugar seguro, nem que tenhamos que abandonar o caso – Sam afirmou, decidido.

   - Sam tem razão, não podemos deixá-la aqui. – Kat suspirou – Dean, Sam, vocês pegam o carro e levem ela para, sei lá, uma delegacia bem longe daqui, eu cuido do caso a partir de agora. É perigoso demais.

   - Não vamos te deixar aqui, Katherine – Dean respondeu, rígido – Como você mesma disse, é perigoso demais. Você não vai se arriscar assim. – Ele pegou seu rosto com as mãos e a fez olhar em seus olhos.

   - Sei me cuidar, Winchester.

   - Não, não sabe – Afirmou, protetor – Vamos dar um jeito de ajudar a menina, vamos matar essa coisa e depois falamos com Castiel sobre você – Dean envolveu a mulher em um abraço – Eu não sei o que está acontecendo, mas não quero que você se machuque – Sussurrou.

   - Se os pombinhos já acabaram... – Sam pigarreou.

   Kat olhou feio para Dean, não com desprezo, mas irritada pelo excesso de proteção. Não era porque ela é uma mulher que também tem que ser frágil e delicada, e isso a deixava irritada. Pegou uma garrafa d’água no criado mudo que dividia as camas e jogou na boneca, limpando qualquer vestígio do liquido vermelho. As manchas de sangue na garota começaram a sumir, assim como a sujeira. Kat sorriu e abraçou a porcelana, observando a garota se aconchegar no ar, como se estivesse sendo envolvida pelos braços da mãe. Kessie suspirou.

   - Ela é tão bonita... – Comentou Sam – Como acha que veio parar aqui? – A voz expressou tristeza, pena.

   - Não sei, Sammy, infelizmente não sei – Kat respondeu, com a voz embargada por lágrimas. “Que se dane”, pensou e logo em seguida deixou a cabeça cair no ombro do homem ao seu lado, permitindo que algumas lágrimas escapem de seus olhos. A menininha não merecia o que aconteceu com ela, isso era desumano, desprezível...

   Sam não se importou em ser chamado pelo apelido, pouco importava naquele momento. Foi até confortador ser chamado de “Sammy”, o fez lembrar de sua mãe e seu pai. Sorriu silenciosamente da lembrança.

   Dean se levantou, levando Kat consigo pela mão.

   - Não podemos fica aqui parados – Afirmou Dean – Kat e Sam, juntem suas coisas... Vamos levar a garota para um lugar seguro.

   - Dean, não podemos deixar tudo aqui. Outras pessoas, outras crianças podem morrer – Sam retrucou.

   - Talvez Cass possa ajudar – Kat sugeriu, sorrindo.

   A mulher estava certa, Castiel era a única opção dos três. Dean o chamou e logo o anjo já estava entre eles, observando a situação um pouco assustado, nenhum deles ainda conseguiu raciocinar como alguém conseguiria fazer o que fez com uma criança tão frágil.

   Kat se despediu da garota com um beijo na testa, abraçando-a forte e dizendo coisas bonitas em seu ouvido. A garotinha chorou um pouco, tinha feito um laço especial com a mulher, não queria deixá-la.

   - Tia Kate, pra onde esse homem vai me levar? – Perguntou

   - Cass é meu amigo, amorzinho – Kat sorriu ao ser chamada de “Tia”, ela realmente gostava da garotinha – Agora se despeça de Sam e Dean e vá com o Cass, ele vai te levar para um lugar seguro.

   Kessie assim o fez, deu um beijo no rosto de cada um e desapareceu com o anjo, sendo levada para uma delegacia o mais longe possível daqui. Kat continuou com um sorriso bobo na cara depois que a menininha foi embora junto de Castiel.

   - E agora? – Dean perguntou.

   Sam olhou assustado para o criado-mudo, com os olhos arregalados e a boca um pouco aberta. Kat e Dean seguiram o olhar de Sam, Katherine começou a chorar quando viu do que se tratava. Apesar de ter total conhecimento que ele sabia se cuidar, ainda temia o que podia acontecer. Era mais um boneco, dessa vez incrivelmente parecido com Castiel.