Capítulo 2 ~ 

Já eram mais de dez horas da manhã quando o jovem chegara de viagem, e estava procurando sua mala naquela imensidão de pacotes e mochilas. De fato, o aeroporto de Narita parecia mais cheio naquele dia do que qualquer outro. Não demorou muito mais para achá-la e logo em seguida entrar no trem(1) que o levaria até o centro de Tóquio.  

O rapaz morou na Inglaterra durante alguns anos, conseguiu uma licença internacional e se especializou. Voltou com grandes esperanças de entrar na polícia de Tóquio, reconhecia internacionalmente, por seus casos polêmicos, e conseguira.  Começaria logo no dia seguinte.

“Nova vida, hein? Logo no primeiro dia, chegar atrasado? Não é um bom começo” pensou, enquanto devorava seu pão de melão(2), correndo para o trabalho.  Na noite anterior, exagerou um pouco na dose e acabou acordando atrasado.

Quando finalmente avistou o prédio, de longe, saiu em disparada, como uma criança correndo atrás de seu balão.

- Ah, Kawashita-san. Bom dia. – cumprimentou a recepcionista, perdida em meio seus papéis. – muito trabalho?

Apontou para a pilha de documentos do lado da moça, e algumas pastas no chão. Céus, como era avoada, aquela mulher.

- Sim – sorriu encabulada – quinto andar, por favor. Ah, e bom dia também, Yamamoto-san.

Fazendo uma breve reverência, voltou a correr em direção aos elevadores, e pisou sem querer no pé de alguém.

- Perdão, está tudo bem? – perguntou, num tom preocupado.

A mulher vítima do pisão de pé mal respondeu, seus olhos se encontraram por alguns segundos e as portas se fecharam, deixando-o do lado de fora.

- Hikari? – murmurou.

 -

Era o primeiro dia de aula. Escola nova, professores novos, amigo novos. Tudo por causa da transferência repentina do pai para a capital, toda a família foi junto, obrigando-o a mudar de colégio.  Estava um pouco deslocado, entraria no meio das atividades letivas, meio intruso. Achou estranho quando fora bem recebido, a escola não tinha lá uma fama boa, pelo que ouvira.  A vice-presidente do grêmio estudantil o acolheu, sempre com um sorriso e tentando ajudá-lo, apesar de detestar se meter em problemas. 

Seu nome era Toshioka Hikari. Ela era um ano mais nova do que ele, mas mesmo assim parecia mais madura. Estava entre os melhores alunos do segundo ano e era amiga de infância do presidente-ídolo do colégio, Akio. Por uma brincadeira do destino, o novato se tornou o melhor amigo do presidente. E ficou apaixonado pela vice.

-

- Hattori-san. Hattori-san – uma voz chamava.

-Hm?

- Sua reunião foi transferida para amanhã. – a secretária falava, mas ele nem parecia escutar.

- Hm. Obrigado, pode se retirar.

Ela se curvou.

- Só lembre-se que a outra reunião, com a nova equipe, é daqui quinze minutos.  – ela avisou.

- Ah, claro, claro.  Tinha me esquecido.  Quando chegarem, peça para entrarem. Agora, pode ir.

O homem saiu do transe. Era o primeiro dia como novo chefe da seção de assassinatos, e estava um pouco receoso. Para ele seria fácil, já estava naquela seção havia algum tempo, mas o problema seriam os novatos. Teria uma equipe totalmente nova, a pedido do superior.

"Será divertido, com certeza. O primeiro que abrir a boca está no olho da rua."

Quinto andar.

- Uau.

- Uau mesmo.

As duas mulheres se entreolharam. Ficaram meio abobadas. Admiraram o lugar durante longos minutos. Seria ótimo trabalharem juntas, ainda mais com especialidades tão associadas. Mas trabalhar naquele andar, isso sim seria fantástico.

Era bem iluminada, a limpeza impecável e tudo parecia reluzente. Muitas pessoas circulavam por ali: desde os faxineiros até grandes nomes, tanto da política como famosos.

Procuraram a sala, e a secretária logo as pediu para entrarem, o outro investigador já estava presente, conversando com o seu futuro superior. Humildemente bateram a porta e entraram.

Assim que adentraram ao escritório, Toshi ficou estático ao perceber a mulher que entrara junto com uma provável amiga. Era Hikari. Com certeza.

- Bom dia, nova equipe – o chefe sorriu.

- Bom dia – os outros três responderam em uníssono.

- Deixem-me apresentar. Serei o novo superior de vocês. – agora o tom era mais frio- Sou Hattori. Hajimemashitte.

“Hattori? Espera aí. Eu o conheço. Sim eu o conheço. Mas de onde?” Rie foi logo interrompida em seus pensamentos. Estava sendo puxada para fora da sala pela amiga. A reunião já acabara enquanto ela viajava em outra dimensão.

- Ei Riee. -chamou

- Sim? – a mulher olhou.

- Foi só impressão minha ou você estava secando o chefe? – riu.

- EEH? Claro que não, eu só estav- tentava gesticular alguma coisa.

Hikari riu. Como conseguia ser tão inocente naquela idade? Não tinham mais 15 anos, mas sua pureza parecia intocável. “Ela ainda espera seu príncipe encantado...”.

- Tudo bem, tudo bem. – voltou a rir, enquanto a outra tentava se comunicar- você é a pessoa mais pura desse mundo. Como virou psicóloga, hein?

- Fala como se eu fosse a única. – bufou – não sou eu quem fica abrindo corpo de morto, sabia?

- Você venceu. Vamos tomar um almoçar logo.  

No escritório, o chefe já não parecia muito calmo. Andava de um lado para o outro pensando na sua nova equipe. Principalmente nas novas mulheres. Uma delas chamou a atenção dele em especial, Murakami Rie. Era a nova psicóloga e admitiu: linda. E muito gostosa.

“Achei meu novo alvo.” Era de costume de o Hattori achar uma nova presa. O que era bem fácil, por sinal. Tinha um físico invejável para sua idade, um cargo elevado e um rostinho bonito. Não havia uma mulher sequer, do prédio inteiro, que não tenha dormido com ele. Mas claro que nenhuma era virgem, era sua condição.  Tudo era pura diversão, não só para ele, como para suas colegas.

“Vejamos quanto tempo ela agüenta ficar só me olhando. Esse corpinho de deus-grego." Riu. Agora ela estava na palma de sua mão. 

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Notas: 

1- Existe um trem integrado ao aeroporto de Narita que liga-o ao centro de Tóquio. A viagem costuma demoram em média 50 minutos. Foi esse trem que Toshi pegou. 

2- Pão de melão, ou Melon pan é um doce. feito de pão de ló e melão (dãã), muito bom ~ É bem comum no Japão. 

Hajimemashitte - Como foi citado no capítulo anterior, é um prazer em conhecê-lo.