Estou eu aqui, escrevendo essa carta, é bobo não? Parecemos crianças no jardim de infância, acreditando que amava quando na verdade só gostava da presença daquela pessoa.

Como espiral nosso destino se cruzou, era um dia chuvoso, e o vento gelava toda a minha pele, como sempre eu nunca tive tempo para nada, eu só me focava naquela faculdade de letras, escrever sempre foi meu sonho. Minha pele parecia congelada e minhas mãos já não respondiam mais aos meus comandos, a rua deserta me dava um pingo de desespero.

“Moça!” – ouvi alguém gritar, era uma voz grossa com um leve toque sensual.

“Moça você deixou cair seu cachecol!” – senti uma mão macia me tocar arrepiando toda a minha espinha.

“Eu...” – me virei e acabei deixando cair todos os livros, você sabe que sempre fui desastrada. Miss desastre.

A cada segundo volto para aquela cena, quando você se apresentou com um enorme sorriso estampado em sua face angelical de apenas vinte anos.

Depois de dias eu te dei o cachecol vermelho sangue e pedi que você lembrasse-se de mim. Eu sei que você cumpriu o que prometeu, e que na verdade o problema fui eu.

Acreditei na Brook, confesso fui fraca, mas quem não fraqueja pelo menos uma vez na vida, quem não se engana confiando em quem tem motivos de sobra para desconfiar? Ela veio naquela noite na minha casa, bateu na porta como louca, e quando a deixei entrar ela jogou uma falsa bomba em minha mão. Jurou de pés juntos que te viu me traindo, bêbado em uma boate qualquer no centro da cidade. Eu acreditei e me arrependo com todas as minhas forças de ser ingênua do jeito que fui.

Eu chorei e ela me deixou ali, sozinha sendo consumida por minhas próprias amarguras. Você na mesma noite veio em casa, e estava com cheiro de bebida, sua camisa estava com um perfume, a raiva que subiu a minha cabeça me fez estourar, despejar em você tudo o que eu guardei desde aquele segundo, eu não sabia se era raiva de eu própria ou de você por me fazer te amar mesmo querendo te odiar. Masoquista? Talvez seja uma boa colocação.

Eu me auto mutilo aos poucos lembrando nossos momentos juntos e o quanto você conseguiu amar tudo o que outros acharam que eram meus defeitos. Você era o que eu tinha esperado por anos.

Engolir meu orgulho sempre foi difícil, mas se não falar nesse momento sei que depois não conseguirei. O que mais me dói é o tempo lembrar-me a cada minuto que eu nunca mais terei o que tinha quando estava com você. Talvez um dia as mesmas espirais de nosso destino voltem a se encontrar, talvez não. Indiferentemente se isso acontecer eu imploro pelo seu perdão. Errei, admito.

Saiba que sempre será único em meu coração e apesar desse um ano eu não te esqueci, muito menos aprendi a viver sem você... Eu te amo.

Engoli seco e amassei entre meus dedos o papel em meus dedos, peguei meu paletó, e o cachecol vermelho, o apertei em minha mão, o cheirei, o perfume dela estava ali, intacto. Sai correndo, algumas lágrimas pareciam descer de meu olho, as limpei, sempre odiei saber que as pessoas me viram chorando.

-Claire! – gritei.

-Justin? – ela continuava a mesma – Você não ia para Londres hoje? – perguntou.

-Às vezes as pessoas mudam de idéia... – sorri colocando o papel em sua mão.

-Me desculpa... – ela sussurrou me abraçando, a segurei com toda minha força não queria que aquele momento fosse embora junto ao vento.

“Eu estive pensando em nós... E quer saber? Demorou um pouco, mas eu percebi que não existe eu sem você”.