Flask Back (na escola) :

Enquanto eu tentava convencer Aka, minha melhor amiga, de me ajudar no meu mais novo e elaborado plano, nós andávamos para uma lanchonete que ficava perto da escola. A aula tinha acabado há pouco tempo.

- Por favor! Eu te dou um biscoito! – mentira. Muahahahaha!

- Não! Até porque você não vai me dar mesmo, não é?

- Euuuuuuu? Como não vou pagar uma amiga fiel e legal quando ela gentilmente se oferece para ajudar sua melhor amiga, ou seja, eu, nos momentos mais difíceis...

No meio do meu discurso espetacularmente essencial para a mudança de ideia da Aka, alguém me interrompe.

- Hmm... Tem gente sobrando aqui. – diz uma voz sarcástica repentina a nossa frente. Por instinto (natural, com certeza) essa voz me levou a irritação extrema. 

- Sobrando aqui, só se for tu, seu idiota! – gritei para Yuki, meu arque inimigo da face da terra. – Quem você pensa que é para do nada vim vindo com suas indiretinhas...

- Sakura, você quer assistir um vídeo comigo? – disse ele me ignorando. AQUILO ERA UMA INDIRETA PARA MIM??!!!!! – É muito interessante. – ele olhou para mim com um sorriso (irritantemente) irônico.

Não tinha percebido, mas ele estava rodeado de gente consideradas – não por mim, claro – populares. Minhas sobrancelhas se juntaram e a raiva se acumulou dentro de mim.

Para a segurança de meu vídeo dei meia volta e puxei Aka comigo.

- Me aguarde... – sussurrei para mim mesma dando um sorriso do mal.    

- Ta, eu te ajudo... – disse ela depois de alguns passos. Sorri para ela e logo depois coloquei uma mão no queixo e comecei a pensar sobre meu plano.

Fim do flash back.

Na casa dele de noite:

- ESCALAR O QU...?! – gritou Aka com os olhos arregalados. Tampei rapidamente a boca dela.

- Shhhh! Nós somos espiãs! Você quer entregar nossa posição?

- Você já por acaso viu o tamanho dessa ca... MANSÃO?!?! – tampei novamente a boca dela.

- Então como você pretende entrar? – sussurrei.

- Eu esperava que você soubesse essa resposta.

- Ta certo, eu escalo primeiro. Quando você achar seguro você sobe também.

- Ok. – até parece que ela ia subir mesmo...

Peguei a corda e joguei por cima de um galho grosso da árvore enorme do gramado – ela era tão grande que chegava a ser mais alta que a casa dele -   E amarrei a ponta que caiu, em minha cintura. (Não me pergunte quantas tentativas eu fiz para acertar esse maldito galho... Ta... foram nove... Até Aka pegar a corda de minha mão e acertar de primeira... )

- Puxa isso. – dei a outra ponta pra ela e ela hesitou levantando uma sobrancelha. – Quem vai se machucar sou eu, não é? – disse zangada, tentando convencê-la.

- É... Você vai se machucar...

Fiz uma cara zangada pra ela até ela pegar a corda.

- Vai ser assim... Eu vou escalar esse murozinho e você puxa essa corda enquanto eu subo. Se eu cair você segura a corda e...

- Olha! As luzes desligaram! É nossa chance!

Meu sorriso se alargou. Era tudo ou nada... Agora ou nunca... Eu vou com certeza conseguir recuperar esse vídeo! Hoje!

- Vai Aka! Rápido!

Aka puxou a corda fortemente e meus pés começaram a sair do chão, só que uma coisa inesperada aconteceu... Enquanto minha cintura subia, minha cabeça e o resto do meu tronco desciam.

- Droga! – murmurei já de cabeça para baixo.

Percebi a hesitação de Aka ao continuar, mas assegurei a ela que estava tudo bem... E mesmo não estando, ela continuou. Pela minha honra, eu não iria desistir!

- Já estou indo! – ouvi alguém gritar daquele quarto. Era a voz dele. Yuki estava já fora do quarto.

Alguém já sentiu um frio de medo no coração, misturado com uma raiva descontroladamente louca aquecendo o mesmo, e tudo ao mesmo tempo?

Pois é... Era exatamente isso que me preenchia naquele momento...

- Mais rápido Aka – sussurrei para ela. A corda estava começando a puxar minha calça para baixo, ou seria para cima?

Como nós éramos ótimas espiãs e tudo mais, nossas roupas não poderiam ser diferentes. Eu vestia uma calça de tactel preta – que estava quase para sair, por sinal -, uma regata também preta, um all star de cano médio emprestado de uma amiga, e um gorro preto. Aka não estava tão diferente. Afinal, qual é a melhor cor para se esconder em meio à escuridão?

(Os-inteligentes-falam-preto!). Pois é, o preto.

Eu sou tão inteligente, sabe...?

Sentindo a sacada da janela em meus pés eu aninhei-os para que ficassem dentro o máximo possível da janela. Aka puxou mais a corda e eu conseguentemente subi mais, fazendo toda minha perna entrar lá, coloquei a corda em minha barriga e tentei me levantar para sentar na sacada.

Depois de muito esforço, consegui. Respirei um pouco, minha respiração estava ofegante, e logo depois desamarrei a corda de minha cintura e joguei para fora da janela.

O quarto estava escuro e de início eu não consegui ver nada. Tateei tudo a minha frente enquanto andava, até achar um lugar provisório que serviria de esconderijo, caso ele voltasse.

Depois de bater duas vezes meu pé em algum tipo de móvel – sendo que a segunda vez o barulho foi imenso – e tropeçar mais três vezes em alguma porcaria de objeto jogada pelo chão, cheguei a conclusão de que : Ou o Yuki é muito surdo, ou sua jumentice era tão grande que sua capacidade de audição – como todo resto – era uma tristeza de tão imprestável.

É, com certeza era a segunda opção...

- Ai! – abafei meu grito em minhas mãos quando bati minha cabeça em alguma coisa. Percebi o que era depois de sentir a maçaneta do guarda-roupa.

Uma onda de um choque invadiu meu corpo quando ouvi alguém cantando e vindo em minha direção.

Abri o guarda-roupa rapidamente e me enfiei lá dentro e um segundo depois a luzes se abriram.

Por pouco ele não me pegou...

A voz melodiosa continuou. Eu reconheceria aquela música em qualquer lugar... Era “Whispers in the dark” de Skillet. Mesmo somente com uma pessoa cantando e dentro de um guarda-roupa, a música era inconfundível... Até porque a voz dessa pessoa é muito mais lind...

Balancei a cabeça e refleti. “ Espera aí! O autor dessa voz pode... pode ser... Não!” Coloquei as mãos na cabeça. “Ele nunca teria um gosto pra música tão bom quanto...” cobri minha boca “Mas espera aí, esse é o quarto dele... Só que a voz dele não poderia ser tão lin... agradável assim...!” Fechei a mão em minhas pernas e trinquei os dentes. “ Como ele pode ter a voz tão perfei... AGRADAVEL?! ...  E eu não!?” Cruzei os braços e ergui a cabeça. “ Nem é tão boa assim pra falar a verdade...” Puxei meus cabelos, desesperada. “ Ta, quem eu estou querendo enganar? Meu sucesso no mundo musical já era! Ele vai ganhar de mim!! O professor vai escolher ele...” Coloquei a mão no queixo. “ Mas ele é homem, nós podemos fazer um dueto... NÃO!!!! NUNCA COM ELE!!!” Soquei sem querer a porta do guarda-roupa e tudo caiu.

Tudo que vi foi minha cara no chão e a humilhação vindo átona.

- Droga...! – murmurei e levantei a cabeça lentamente. Ele com certeza já havia me olhado...

Se ele não me olhou é porque ele é a pessoa mais burr...

- Kyaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahh!!!!!! – gritei desesperadamente quando vi a imagem à minha frente. Eu deveria estar mais vermelha do que um aço em chamas.

Ele estava de costa para mim com somente uma toalha cobrindo da cintura pra baixo e uma outra toalha menor jogada de qualquer jeito em seus cabelos, percebi um fone de ouvido descendo até chegar em seu iphone preto nas suas mãos.

Suas costas eram lisas e delineadas e seus braços formavam músculos perfeitamente delineados e atraentes, nada grande demais nem pequeno demais... Somente... perfeito... Seu corpo estava molhado e ele ainda continuava a cantar sua lind... razoável melodia.

Balancei a cabeça e me concentrei. Tinha que sair dali antes que ele percebesse minha presença...