O Alquimista de Aço escrita por Sereny Kyle


Capítulo 1
Capítulo 1




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O Alquimista de Aço

 Depois de sete anos, Edward Elric estava de volta à cidade central, depois de ter atravessado a porta, seu pensamento era o de rever Alphonse, mas ele fora parar ali. A cidade pouco tinha mudado, ao contrário dele, que não tinha mais a longa trança e nem o pouco tamanho, Ed tinha crescido bem mais que poucos centímetros.
 As ruas lhe traziam lembranças e ele aproveitou que estava ali para correr até o Quartel General Central. Queria saber se ainda era um Alquimista Federal, mesmo depois de tanto tempo desaparecido.
 -- Ed? – ele se virou e viu Havoc, a mesma cara, o mesmo jeito que ele se lembrava.
 Conversaram, muitas explicações lhe seriam cobradas, sua ausência, sua aparência, sua volta. Ele só tinha uma pergunta, se ainda era um alquimista federal.
 -- Olha, meu amigo, isso eu não posso te responder. Só com o General.
 -- Que General? Quero vê-lo agora – Ed sempre fora impaciente, os anos não mudaram isso.
 -- Ele ainda não chegou. Chega só mais tarde, mas acho que se você tiver pressa...
 -- Tenho.
 -- Então deveria ir até a casa dele, não é longe, só alguns quarteirões.
 Havoc indicou a Ed exatamente onde ficava a casa do General e ele foi correndo até lá. Não era uma casa muito grande, mas tinha um grande jardim e nem de longe lembrava a casa de um militar.
 Ed não chegou a pensar no que enfrentaria, o que diria ao General para ter seu posto de volta. Ele simplesmente tocou a campainha e inspirou profundamente. Depois de algum tempo, a porta foi aberta por um garotinho de uns cinco anos.
 -- Oi? – ele tinha um sorriso no rosto e encarava Ed com curiosidade.
 -- Olá, seus pais estão em casa? – ele se ajoelhou para ficar na altura do menino.
 -- Quem é você? Você é do exército?
 -- Sou Edward Elric e eu...
 -- Edward? Meu nome é Edward!
 -- Ah, é mesmo? Mas que legal!
 -- Edward, quem está na porta? – uma voz de homem se aproximava e Edward ficou de pé para olhar quem era.
 -- Olha, papai, esse moço tem o meu nome – o pequeno Edward correu para o homem e pulou em seu colo. Ed ficou surpreso ao reconhecer Roy Mustang.
 -- Mas quem diria? É mesmo? E o que ele veio fazer aqui? – o olhar cínico de Mustang não tinha mudado e ele parecia indiferente ao ver Ed depois de tantos anos em sua porta.
 -- Ele perguntou se você e a mamãe estavam em casa.
 -- E o que você respondeu a ele?
 -- Perguntei primeiro quem ele era!
 -- Muito bem, afinal ele é um estranho, não é mesmo Ed?
 Ed perdeu a paciência.
 -- O que você quer dizer com estranho? Não está se lembrando de mim?
 -- A falta de paciência não me é estranha! Filho, suba e vá ficar com a sua irmã. Eu assumo daqui está bem?
 -- Sim senhor, General – o menino fez uma continência para o pai e desceu de seu colo, subindo correndo a escada.
 -- Você teve um filho? – Ed perguntou surpreso.
 -- Por que a surpresa? – Mustang, que olhava o filho subir, virou-se para Ed.
 -- É estranho. Pensei que jamais veria você fazendo coisas normais!
 -- Afinal de contas, você voltou. Onde esteve, Edward?
 -- Vai me deixar aqui fora?
 Mustang riu e convidou Ed para entrar.
 -- Vamos até meu escritório.
 Ele conduziu Ed por uns três corredores e entraram numa sala aonde tinha uma mesa na frente de uma grande janela que dava para o quintal e tinha muitas prateleiras, cheias de livros. Mustang indicou uma cadeira para Ed se sentar a sua frente.
 Ed ficou olhando o ambiente em silêncio, Mustang, como sempre, ficou encarando-o com ironia.
 -- O que foi? – Ed perguntou quando percebeu o olhar dele.
 -- Quer dizer que você finalmente conseguiu crescer um pouco?
 -- Que é? Já vai pegar no meu pé?
 -- Há, há, há... Não, não. Mas eu estou surpreso de vê-lo aqui na minha porta.
 -- Você se tornou General?
 -- Há algum tempo. Você não me disse onde esteve.
 Ed contou em meias palavras sobre atravessar a porta, Mustang o escutava muito atento.
 -- Eu então encontrei um meio de retornar, mas por alguma razão vim parar aqui na Cidade Central.
 -- E aonde você queria parar?
 -- Eu tentei ir pra onde o Al esta, mas...
 -- Ah, então foi por isso.
 -- Por isso o quê?
 -- Alphonse está aqui! Na Cidade Central.
 -- O Al está aqui? O que ele está fazendo aqui?
 -- Bom, agora, neste minuto eu não sei. Mas ele acabou de retornar de uma missão.
 -- Missão? Que tipo de missão?
 -- Alphonse é o novo prodígio como Alquimista Federal. Muito mais competente que você, por sinal!
 -- Al se tornou Alquimista Federal?
 -- Há uns três anos, mais ou menos. Ele teve que se empenhar muito pra não ser comparado ao Alquimista de Aço.
 -- Por falar nisso, eu vim até aqui saber se eu continuo sendo um Alquimista Federal, depois de tanto tempo longe.
 -- Por quê? Pensei que não gostasse de ser um cão do exército!
 -- Responda a minha pergunta, Mustang!
 -- Não, como você ficou fora por sete anos, seu posto de Alquimista Federal foi anulado – Mustang analisava a reação de Ed com atenção e curiosidade, como se o avaliasse, usava seu sorriso mais cínico e seu olhar mais superior.
 -- E eu posso fazer o teste novamente? Pra tentar ser Alquimista Federal?
 -- Bom, se é o que deseja, terá que começar do zero, seu passado não contará pontos a seu favor se é o que espera.
 -- Eu começo. Não tenho problema nenhum em ser testado novamente.
 -- E quero que esteja ciente de que, agora que me tornei General, não vou pegar leve com você! Antes você era uma criança, eu até deixava passar...
 -- Deixava passar? O que foi que você deixou passar? Eu nunca lhe dei motivos pra...
 -- Não seja hipócrita, Edward, ou melhor, não seja ingrato.
 -- Como quiser, General! Nada que você fizer vai me impedir de me tornar Alquimista Federal, se não for dessa vez, eu tentarei novamente.
 -- Ótimo! Era exatamente isso que eu esperava ouvir de você!
 -- O quê?
 -- Você continua a ser o Alquimista de Aço! Eu não poderia permitir isso se você fizesse corpo mole, mas vejo que nisso você continua o mesmo, determinado! Eu não lhe daria a chance de esfregar outro certificado de Alquimista Federal na minha cara!
 -- Você estava me enganando? Como pôde me fazer pensar que eu não era mais um...
 -- Como eu pude? Edward, esse tempo longe amoleceu os seus miolos? Eu não faço concessões para Alquimistas Federais!
 -- Nem aos seus filhos, eu imagino!
 -- Do que está falando?
 Antes que Ed respondesse, o filho de Mustang entrou no escritório carregando o relógio do pai todo contente.
 -- Papai, olha, a Alicia ia pegar mas eu salvei pra você! – e foi até a mesa, subindo no colo do pai.
 -- Muito obrigado, Eddy. Você sabe como esse relógio é importante para o papai.
 -- Sei, e eu um dia vou ter um igualzinho!
 -- Você vai mesmo!
 -- Papai, por que a mamãe não tem um relógio como o seu?
 -- É porque sua mãe não é uma alquimista.
 -- Mas ela é muito melhor que muitos alquimistas que trabalham com vocês – o menino ficou de pé no colo de Mustang e apontou para o peito com o polegar.
 -- Nisso você tem razão.
 -- A mãe dele... – Ed começou a fala e Mustang sorriu em sua direção e ergueu o filho fazendo-o voar.
 -- Roy, vamos nos atrasar se você demorar muito... – uma bonita mulher de longos cabelos louros entrou na sala e ergueu as sobrancelhas ao ver Ed ali sentado. – Edward? Ed? Você está... De volta? Meu Deus! Falamos de você ontem com Al! – ela o puxou para um abraço apertado.
 -- Como vai, Liza?
 -- Quando você voltou?
 -- Há duas horas!
 -- E onde esteve?
 -- Longa história, Liz, nosso amigo aqui atravessou a porta – Mustang continuava fazendo o filho voar as gargalhadas.
 Uma garotinha que devia ter uns dois anos e os mesmos cabelos da mãe entrou no escritório, carregava um ursinho de terninho azul, vestia um vestidinho laranja e tinha um laço no cabelo com a mesma cor. Chegou perto de Mustang e puxou sua calça.
 -- O que você quer, Alicia? Quer voar também? Quer que o papai te faça voar?
 A garotinha erguia os braçinhos e abria e fechava as mãos. Presa no vestidinho, pendia uma chupeta.
 -- Então vem. Eddy, você deixa a sua irmãzinha agora? – Eddy pareceu um pouco chateado, mas a garotinha chegou perto dele e lhe entregou o ursinho que carregava, ele pegou e conduziu a irmã ao pai que a ergueu no ar fazendo-a sorrir.
 -- Eee... Que legal né papai!!! Eu tô voando de verdade! Eee... – Mustang levantou-se da cadeira e andou pelo escritório com ela sobre a cabeça. – Agora os dois juntos, vem Eddy – ele pegou o filho por uma mão e a filha na outra. As crianças riam e Ed e Liza observavam atentos a brincadeira.
 -- O que aconteceu a ele? – Ed perguntou a Liza, que sorriu com a insinuação.
 -- Eu ouvi essa, Elric – Mustang colocara o filho nos ombros e carregava a filha no colo.
 -- Desculpe, senhor, mas honestamente não é uma visão que eu esperava ter na vida! Tem certeza de que eu estou no lugar certo?
 -- Venha, Ed, você já tomou café? – Liza conduziu Ed pra fora, quando Mustang ajoelhou no chão e o filho subiu em suas costas. – Roy, não se atrase.
 -- Eu não vou hoje – ele respondeu, mas sua expressão divertida se alterou quando encontrou o olhar reprovador da esposa.
 Ed e Liza foram juntos a uma outra sala onde uma bonita mesa de café da manhã estava posta.
 -- Mas que grande alegria vê-lo de volta, Ed! Roy não passava um dia sem pensar em como encontrá-lo!
 -- Como assim? Ele queria que eu voltasse?
 -- Ed, acho que percebeu que nosso filho mais velho tem o seu nome, não percebeu? – Liza lhe deu uma piscadela. – Creio que veio saber sobre seu cargo de Alquimista Federal, não foi?
 -- Vim, e o General fez o favor de lembrar o que eu tanto odiava no exército: ele!
 -- Não imagina como as coisas ficaram monótonas sem as brigas de vocês dois! Agora será até mais divertido.
 -- Devo deduzir que, se ele foi promovido a General...
 -- Sou Tenente-Coronel!
 -- E mãe! Que fantástico, eu fico fora por sete anos e você se casam e tem dois filhos? Quando eu fui, ele simplesmente não enxergava dois palmos diante do nariz!
 -- Há, há, há... Tudo aconteceu depois da queda do Marechal, Roy ficou um tempo afastado por ter sido atingido. Eu, como sempre, tive que ficar de olho nele.
 -- Ah, entendi. Mas como foi que fez com que ele virasse o pai do ano? Por alguma razão ele lembrou irresistivelmente o Hughes!
 -- Ah, é. E olha que você ficou pouco tempo perto, as semelhanças só aumentam.
 -- Ele não leva uma foto dos filhos e fica mostrando pra todo mundo, fica?
 -- Não, não, pelo menos não chegou a esse ponto!
 Nisso, Mustang entrou fazendo grande bagunça com os filhos.
 -- Eu acho que vou comer aquele bolo enorme de chocolate todo sozinho!
 -- Não, não!
 -- O que você acha, Alicia, você quer algum vegetal de café da manhã?
 A garotinha tirou a chupeta da boca e mostrou a língua com um som de desgosto.
 -- Mas olha só, que menina abusada! Você viu isso, Liz? Seus filhos não gostam de coisas saudáveis, só de coisas gordurosas, cheias de açúcar e chocolate!
 -- Muito diferente de você, não é?
 -- Claro. Eu só como esse tipo de coisa de café da manhã!
 -- Eu também, papai. Eu só como de manhã.
 -- E na escola, o que você come, Eddy?
 -- Como salada.
 -- Mentiroso – Mustang pegou o filho e virou-o de cabeça pra baixo.
 -- Roy, pare com isso e deixa o menino tomar café.
 -- Isso, senta ali, Eddy. Vamos comer tudo isso aqui. Alicia, você também quer? Ou você quer aquela mamadeira cheia de leite quentinho e gostoso?
 A garotinha subiu no colo do pai e colocou a chupeta na mesa, esticando o braço pra pegar a mamadeira. Mustang pegou e deu a filha.
 -- Vai ao Quartel General ainda hoje, Edward? Acho que Alphonse estará lá, não estará, Liz?
 -- Se não estiver lá, vai encontrá-lo com certeza na biblioteca!
 -- A não ser que você tenha planos pra visitar sua protética primeiro, Edward.
 Ed engasgou com o pedaço de pão que colocara na boca. Seu ar prendeu nos pulmões ao ouvir falar de Winry.
 -- Ah, eu acho que sim, hein? – Mustang riu e piscou para a esposa. – Vai matar as saudades dela?
 -- Dela, da vovó... De todos... – Ed corara inteiramente.
 -- Não perca seu tempo inventando desculpas, Edward, não esconda seus sentimentos.
 -- Olha só quem fala, seu tapado, quanto tempo você demorou pra ter alguma coisa com Liza.
 -- Mas eu não a conhecia desde criança – Mustang provocou.
 -- Mas ela estava o tempo todo com você e te protegia de tudo!
 -- Eu tive que adiar um pouco devido às circunstâncias.
 -- Que circunstâncias?
 Ele se recostou na cadeira, a filha deitada em seu colo com a mamadeira na boca, quase dormindo. Ele sorriu maliciosamente olhando de Liza para Ed e de Ed para o filho, que se lambuzava de chocolate, tanto do leite quanto do bolo.
 -- Mas que bagunça, seu lambão! – ele brincou. Liza levantou-se e pegou a filha no colo que tinha adormecido. Ed esperou ver no rosto de Mustang a tristeza da separação que Hughes sempre fazia quando Glória tirava Elicia de seu colo, mas ele continuou com o mesmo sorriso na cara. – Termine logo seu café que eu vou levá-lo pra escola!
 O pequeno Eddy virou a canequinha de leite e desceu com dificuldade da cadeira, a mãe o esperava no portal da sala de jantar e o conduziu para o andar superior de mãos dadas. Não só Mustang tinha mudado, mas Liza também estava diferente por ter se tornado mãe. Estava mais doce e menos séria.
 -- Você também, tome logo seu café porque eu não quero me atrasar de novo! – ela gritou da escada para Mustang, que afundou em sua cadeira. Nisso, um velho cachorro entrou pela porta, vagaroso e se aproximou do dono com um jornal na boca.
 -- Obrigado, Black! Lembra-se de Edward, não? – ele indicou Ed para o cachorro, que pareceu reconhecê-lo.
 -- Como vai, amigão? – Ed cumprimentou o cachorro que se aproximou dele pra que lhe fizesse carinho.
 -- É tão folgado esse cachorro. E olha que Liza tem mãos de ferro pra educar! Pelo menos ela não aponta nenhuma arma para nossos filhos – Mustang terminava seu café lendo o jornal pouco atencioso.
 Nisso, o pequeno Eddy desceu correndo as escadas, já em seu uniforme da escola. Chegou perto do pai e carregava sua farda.
 -- Papai, a mamãe me pediu pra te entregar isso e disse que se você não se vestir em cinco minutos, você vai dormir na casinha do Black Hayate!
 Mustang riu e pegou a farda.
 -- Eu nem posso ter um dia de folga – ele se levantou sonolento e Ed o seguiu.
 -- Como vai chegar a Marechal sendo tão indisciplinado?
 -- Indisciplinado? Ora, mas você fala como se não me conhecesse, Edward! E também, depois que o governo assumiu o controle da Cidade Central, nem sei se me tornarei um Marechal! Logo agora que eu estava tão perto de conseguir!
 Liza descia já fardada, com a pequena Alicia nos braços adormecida e também estava de uniforme. Chegou a tempo de ouvir o marido se lamentando.
 -- Como eu vou conseguir fazer com que todas as mulheres sejam obrigadas a só usarem minissaias se o poder não estiver todo na minha mão? – ela se aproximou sorrateira dele e lhe apertou as orelhas.
 -- Minissaias, é?
 -- Ai, eu quis dizer, como vou conseguir pôr ordem nessa cidade e cuidar do bem estar de todos se não tiver todo o poder na minha mão, querida, nada mais.
 -- Ta certo!
 Ed riu, Liza sempre controlou Mustang com mãos de ferro, e como marido e mulher a situação não parecia ter mudado.
 -- Bom, eu vou ver se encontro o Al por aí. Muito obrigado pelo café. Vejo vocês mais tarde! – Ed se despediu e Liza foi levá-lo a porta.
 -- Venha jantar conosco hoje à noite! – ela convidou.
 -- Venho sim, pode deixar!
 Ele deixou a casa deles e saiu caminhando. Procurava por seu irmão, mas a imagem de Winry não lhe saia da cabeça. Quanta impaciência em vê-la. As pessoas passavam por ele e comentavam entre si, o Alquimista de Aço estava de volta a Cidade Central. Decidira passar na Biblioteca Central primeiro.
 Ela estava bonita, parecia diferente. Muitas pessoas já se encontravam por lá. Ed foi andando cauteloso, passou por todas as prateleiras, olhando todas as mesas posicionadas. Uma figura mais ao fundo lhe chamou a atenção, um rapaz alto, com uma capa vermelha parecida com a sua, lia um livro muito concentrado, pendia de seu bolso uma corrente prateada, que Ed sabia ser de seu relógio. Como se aproximar de seu irmão depois de tantos anos?
 Ele foi andando vagarosamente quando viu uma mulher muito conhecida se aproximar de Alphonse: Sheska.
 -- Está aqui o livro que me pediu, Alquimista da Luz!
 -- Muito obrigado, Sheska!
 Alquimista da Luz? Ed se lembrou que todos os Alquimistas recebiam um segundo nome e ficou feliz por saber o de Al.
 -- Com licença, Alquimista da Luz? Poderia me dizer onde posso achar meu irmão mais novo? – Ed falou em voz baixa, os olhos de Al se arregalaram e ele se virou. Os dois ficaram se olhando incrédulos.
 Al estava bem maior, é claro, do que Ed se lembrava e estava mais forte também, mas seu sorriso ainda era o mesmo. Os dois irmãos se abraçaram muito forte e saíram juntos da biblioteca para poderem conversar. Ed contou tudo o que lhe acontecera e Al o colocou a par de todos os acontecimentos por ali.
 -- Winry vai ficar tão feliz quando souber que você voltou!
 Novamente a menção de Winry mexeu com Ed, seu estômago deu uma cambalhota e seu coração pareceu se espremer entre os pulmões. Sua garganta ficou seca e seu rosto numa tonalidade muito vermelha. Al percebeu essa alteração no irmão e completou:
 -- Ela chorou tantas vezes depois que você sumiu. Nem parecia ela, de repente estava chorando, chorava em qualquer lugar. No meio do almoço, ou do jantar, quando estava caminhando, na hora de dormir, e até mesmo quando estava consertando ou forjando próteses, nada mais a alegrava, Ed. De uns tempos pra cá ela tem conseguido manter a calma, mas eu ainda a pego chorando de vez em quando.
 -- Você tem ido visitá-las frequentemente?
 -- Sim, sempre que tenho um intervalo entre uma missão do exercito e outra eu ia visitá-las, quando não estava procurando uma maneira de trazê-lo de volta. O General estava me ajudando nisso.
 -- É, eu passei na casa dele antes.
 -- Você conheceu então o Eddy? É muito engraçado, ele até lembra um pouco você, sabia? Apesar de se parecer muito com o pai dele, é claro.
 -- Eles nos convidaram para jantar hoje.
 -- É? Bom, eu tenho jantado tantas vezes lá que às vezes até me esqueço quando não vou, Liza é muito boa comigo, muito preocupada. E quando Winry vem pra cá ela fica hospedada lá também.
 -- Winry costuma vir aqui na Cidade Central?
 -- Sim, pra renovar o estoque de ferramentas e materiais, vem três vezes por mês!
 -- Ela não costumava fazer isso.
 -- Não? Bom, eu não me lembro.
 -- Não se lembra?
 Al contou ao irmão que não se lembrava do tempo em que sua alma ficou presa em uma armadura.
 -- Todos sempre se espantam em saber que era eu, mas eu não me lembro de nada.
 -- De nenhuma de nossas aventuras?
 -- Infelizmente não – ele falou triste.
 -- Bom, então teremos que fazer novas aventuras para você se lembrar! – Ed disse para animar o irmão, que sorriu.
 -- Você já vai voltar à ativa hoje? Ou pretende fazer uma vista a Winry primeiro?
 Ed tornara a corar. Queria voltar ao trabalho, mas queria ver Winry. Al deu risada do silêncio do irmão.
 -- Acho melhor vermos Winry primeiro, se ela souber que você está de volta e não foi lá, vai fazê-lo se arrepender de verdade!
 Decidiram que iriam no dia seguinte visitá-la, pois Al estava de folga depois de retornar da última missão. Foram jantar na casa do General Mustang e lhe pediram permissão.
 -- Podem ir, mas é melhor não demorarem, eu posso precisar de seus serviços. Alphonse tem a folga de depois da missão, mas Edward acabou de retornar e vai ter que trabalhar dobrado pra cumprir todo serviço acumulado!
 -- Acumulado? O que quer dizer com isso?
 -- Ora, já quer moleza, é? Mal voltou e já não quer trabalhar, né?
 -- Vamos parar, não quero discussões na mesa de jantar! – Liza segurou a mão do marido e olhou-o repreensiva, indicando as crianças comendo. Mustang abaixou a cabeça e concordou.
 -- Certo, já que passou tanto tempo longe deve ter muito que conversar. Espero que finalmente diga a ela o que sente.
 -- Não tem nada a ser dito – Ed foi ficando vermelho de novo.
 -- Há, há, há... Mas como mente mal!
 -- Eu não estou mentindo!
 Nisso, Alicia tinha se levantado e ido até Ed, ela puxou a sua calça o fazendo olhar para baixo. Ela sorriu pra ele e ergueu os braçinhos para que ele a pegasse no colo, ele sentou na cadeira e lhe deu colo, ela pegou a sua colher e deu um pouco de sopa na boca dele. Ed ficou espantado com a menininha em seu colo, ela lembrava muito a mãe, mas tinha os olhos provocadores do pai.
 -- Viu só, Ed, ela gosta de você! – Alphonse sorria com a surpresa do irmão.
 -- Alicia, vem aqui com o papai – Mustang chamou ciumento e a garotinha desceu correndo do colo de Ed pra ir pro colo do pai. Ele a abraçou e lhe beijou a testa.
 -- Mas como é ciumento! – Liza brincou.
 O pequeno Eddy correu para o pai também e Mustang sentou cada filho em uma perna, muito carinhoso.
 O jantar seguiu tranqüilo e os irmãos Elric se demoraram a ir embora. Al usava o mesmo dormitório do Quartel General que os dois dividiram nos quatro anos que procuraram a Pedra Filosofal.
 Na manhã seguinte, bem cedo, pegaram o trem para visitar Winry e a vovó. Chegaram lá a tempo do almoço. Quando entraram, a vovó estava na sala, terminando de ajustar uma prótese.
 -- Mas veja só que surpresa! Alphonse, já voltou da sua missão? E quem é esse... Edward? – a surpresa estava estampada em seu rosto. Ela foi até ele e olhou de cima a baixo. – Você cresceu, hein, menino? Nem posso acreditar que está de volta! Entrem, entrem, espero que estejam com fome!
 Os dois irmãos entraram, a casa continuava a mesma que sempre fora, as coisas que pareciam menores. Continuava a mesma bagunça, próteses mecânicas por todo lado, ferramentas espalhadas e muitos parafusos. Eles ouviram um barulho de alguém descendo muito rápido as escadas e de repente Winry apareceu na sala.
 -- Eu não acredito! – ela mal conseguia falar, arfava cansada da corrida, olhava abismada para Ed. Ele se levantou e os dois se encararam por longos minutos, Winry parecendo à beira das lágrimas. Ele ergueu um pouco os braços e ela correu pra ele. No entanto ela não o abraçou. – Mas o que é isso? – ela perguntou apontando para o braço de madeira feito por Ed para suprir o mecânico. – O que houve com o braço que eu te fiz? Que porcaria é essa que está usando?
 -- Porcaria? Fique sabendo que eu o fiz, tá? E que é muito bom, fiquei com ele todo esse tempo. E é bom te ver também – ele saiu furioso pela porta deixando Winry pra trás.
 Al indicou a porta pra que ela fosse atrás dele e ela saiu. Ed estava encostado na parede da velha casa olhando o horizonte. Winry foi se aproximando devagar.
 -- Desculpa, Eddy – ela se encostou ao seu lado, de cabeça baixa. – Eu não sabia o que dizer. A verdade é que eu estou muito contente por você ter voltado.
 -- É? Não parece. Quando é que você vai começar a se importar mais com as pessoas que com as máquinas, Winry? – Ed falou amargurado. Não era bem a cena que ele tinha imaginado que aconteceria.
 -- Ah, Eddy, você sabe como eu sou.
 -- É, e não mudou nadinha!
 -- Você por outro lado... Puxa, como você cresceu! – ela olhou admirada, ele estava uns centímetros mais alto que ela. – Acho que você só foi maior que eu quando éramos bem crianças!
 -- Por que não podiam ter dito isso antes de falar do meu braço? – nem o fato de ser maior que ela outra vez o animou muito.
 Winry abaixou a cabeça sem saber o que responder. Ed deixou de olhar o horizonte e ficou encostado de lado na parede para olhá-la. Ela levantou os olhos e fixou-os nos do garoto. Ele chegou mais perto dela e segurou sua cintura com a mão esquerda, deixando-a entre ele e a parede, aproximou seus rostos e colou seus lábios, ficou por muito tempo beijando sua boca, sem parar pra tomar fôlego, só se separaram quando o ar realmente acabou. Ed continuou segurando firme o corpo de Winry.
 -- Quero ver se uma de suas máquinas sabe fazer isso! – ele disse muito sério. Winry parecia paralisada, arfava como se tivesse corrido uma maratona. Ed passou a mão em seus longos cabelos e segurou sua nuca, tornando a beijá-la. Ela não o impediu.
 Depois de algum tempo, Winry desviou o rosto separando-se do beijo de Ed.
 -- Por que fez isso? – ela perguntou chorosa.
 -- Como por quê? Porque eu gosto de você, não ficou claro? – ele segurou-a ainda mais perto dele e tentou fazê-la voltar ao beijo, mas ela não cedeu.
 -- Mas você ainda é um Alquimista Federal, não é?
 -- Sou.
 -- E você vai ter que voltar a Cidade Central, não vai?
 -- Vou.
 -- E vai me deixar pra trás mais uma vez! Só que agora, vai ser mais difícil de te deixar partir, Eddy, por que teve que fazer isso?
 -- Porque agora eu não vou ficar tanto tempo longe! Não estou mais atrás da Pedra Filosofal, vou voltar em todas as folgas das missões! Tenho tempo de sobra e um motivo pelo que voltar, Winry!
 -- Mas eu sempre estive aqui e não foi por isso que você voltava!
 -- Nós nunca tínhamos... Ah, qual é? Vai me dizer que não gostou? – ele parecia inconformado com a repulsa dela.
 Winry não respondeu a pergunta, olhou firme nos olhos de Ed e tocou seu rosto com a ponta dos dedos, fazendo-lhe pequenas carícias que o calaram em sua revolta. Ele fechou os olhos e puxou ela para um abraço apertado, ela envolveu seu pescoço com os braços e eles ficaram assim por um longo tempo, em silêncio.
 Alphonse ajudava a vovó a pôr a mesa do almoço e olhava o tempo todo para a porta, esperando que os dois voltassem.
 -- Não é melhor ir chamá-los, vovó?
 -- Eles devem ter muito que conversar. Deixe-os voltar quando terminarem.
 Al tornou a olhar para a porta, preocupado, sempre presenciara as brigas de Ed e Winry e isso não o confortava de maneira nenhuma.
 -- Quanto tempo vocês vão ficar aqui? – Winry segurava-se firme em Ed.
 -- O General nos pediu para não demorarmos muito para voltar... Então, acho que ficaremos uma semana.
 Winry sorriu e se permitiu beijar novamente por ele.
 -- Vem – Ed levou Winry para longe da casa, para um lugar onde eles costumavam brincar quando crianças, os dois se jogaram na grama e ficaram abraçados sob o sol.
 -- Eddy?
 -- O que é?
 -- Isso significa que nós somos... Namorados?
 -- Na... Namorados? – ele gaguejou, olhando para ela debruçado sobre seu corpo.
 -- É. Agora que você me beijou, nós somos namorados?
 Ed deitou de novo na grama, seu braço embaixo do pescoço dela e ele ficou pensativo por um momento.
 -- Namorados? Você tem o quê? Catorze anos? – ele riu, deixando-a encabulada.
 -- Não, não é isso. Ah... Deixa pra lá.
 Ed olhou-a de rabo de olho e viu que ela parecia triste.
 -- Mas se você quiser, a gente pode namorar – ele falou deixando-a mais contente.
 -- Pode? – ela olhou-o sorridente e ele a abraçou.
 -- Claro que pode, na verdade, eu queria ser seu namorado desde que tínhamos dez anos, Winry. É a realização de um sonho! – ela debruçou sobre o peito dele e o beijou.
 Na hora de dormir, Al e Ed dividiram o mesmo quarto que sempre dividiram.
 -- Por que foi que vocês se demoraram tanto pra voltar, Ed? – Al perguntou, olhando o teto. Ele não imaginava como era bom para o irmão poder olhá-lo ao invés de uma armadura.
 Ed se virou para o irmão e sorriu maliciosamente.
 -- Dei um beijo nela!
 Al virou também para o irmão, com uma cara surpresa.
 -- E ela?
 -- E ela o quê?
 -- Ela fez o quê?
 -- Ela me beijou também!
 -- Ah, então vocês estão juntos agora?
 -- Sabe, Al, você é mais parecido com ela do que eu esperava!
 -- O que você quer dizer com isso, Ed? – Alphonse se sentou na cama e Ed imitou-o.
 -- Ela me perguntou a mesma coisa.
 -- Até que enfim vocês dois estão namorando!
 -- Acontece que só tem um problema, Al – Ed abaixou a cabeça.
 -- O quê? Você não gosta da Winry?
 -- Não, não é isso seu bobão. Eu gosto dela, gosto muito dela.
 -- Ufa, que susto você me deu! Mas então, qual é o problema?
 -- O problema é que quando estivermos em missão para o exército, eu vou ficar muito tempo longe dela e então eu não sei se foi certo o que eu fiz.
 -- De beijar ela?
 -- É, Al, presta atenção no que eu estou falando!
 -- Eu estou prestando atenção, Ed, acalma-se! Acontece que eu acho que foi a coisa certa a se fazer. Vocês dois sempre estiveram nessa situação constrangedora e agora, finalmente vocês se acertaram! Acho que ela ficaria mais triste se você tivesse voltado e não tivesse acontecido nada, do que vai ficar esperando você voltar! 
 -- É, acho que você tem razão. Talvez não seja um problema, né? Às vezes a saudade até ajuda a manter um relacionamento – Ed piscou para o irmão que deu risada.
 -- É, o Sr. e Sra. Elric!
 -- Wow, do que você tá falando? A gente não vai se casar... Talvez não ainda.
 -- É, Ed, é. Boa noite – Al virou para o outro lado e pegou no sono, Ed ficou um tempo refletindo e quando percebeu já não conseguia dormir.
 Ele desceu as escadas e foi até a cozinha onde encontrou Winry também acordada.
 -- Perdeu o sono? – ela perguntou sorrindo.
 -- É, o Al agora ronca.
 Ela deu risada e ofereceu um copo de leite que ele aceitou.
 -- Winry...
 -- O que é?
 -- Quando eu for viajar para missões... Bom, eu vou demorar algum tempo para voltar... E por isso...
 -- Já vai terminar comigo depois de um dia? – ela disse entre risos.
 -- Não, claro que não. Eu queria saber o que você gostaria que fizéssemos, sabe?
 -- Como assim? Pra manter contato?
 -- Mais ou menos isso. Afinal, você vai ficar aqui e eu vou...
 -- Pra muitos lugares. Eu vou sentir a sua falta, Ed, mas se você voltar sempre...
 -- Eu vou voltar. Não importa o que Mustang disser, ele não manda em mim!
 -- Mas você ainda tem que seguir as ordens dele, não tem?
 -- Eu tinha feito um acordo com ele antes. Eu obedecia às ordens dele e ele me deixava ir atrás da Pedra Filosofal. Agora, não tem mais nada que ele possa usar para me controlar. Se eu quiser ver você entre uma missão e outra e eu vou ver você!
 Winry sorriu encabulada e se aproximou ainda mais dele, o deixando corado e nervoso.
 -- Viu? Não precisamos de mais nada, Ed. Só isso já basta!
 -- Mas o Al disse...
 -- Ed, nós dois nunca nos comunicamos por cartas nem nada disso, você nunca ligou quando estava em missão ou quando estava atrás da Pedra, nem uma notícia você mandava, mas era só você entrar por aquela porta que eu esquecia de tudo. Por que seria diferente agora?
 Ele ficou ainda mais corado, mas passou o braço pela cintura dela.
 -- Obrigado, Winry.
 -- Não por isso, Alquimista de Aço!
 Ele beijou-a intensamente e os dois ficaram ali conversando até o sono chegar.


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