Ive Never Been Anywhere Cold as You. escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Obrigada. *o*



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Quatro.

Why do I accept the things would you say?

Por que eu aceito as coisas que você diz?

You know what to change, but not in what way.

Você sabe o que mudar, mas não sabe como.

How long must I wait?

Quanto vou ter que esperar?

Vison of Division – The Strokes.

Conforme as horas passavam, Ryan ficava com cada vez mais febre e a madrugada era cada vez mais fria. Com um esforço sobre-humano, o arquiteto conseguiu acordar. Ofegava como se cada um de seus pulmões pesasse uma tonelada. Tudo se tornara muito difícil para Ross com aquela febre. Levou a mão à sua testa e constatou que tinha suado frio. Uma vez na vida, ele admitiria que ia precisar de alguém para dirigir seu carro e levá-lo ao pronto-socorro. Porém quem?

Ao levar a mão livre ao criado-mudo, notou um papel amarelo caido no chão. Com dificuldade, esticou o braço e viu a calegrafia rabiscada e desconhecida. Tinha um número de telefone e os dizeres ‘Me ligue caso precise de ajuda, B.’ Ryan franziu o cenho e sorriu com o canto do lábio. Era óbvio que ele não ia perder a auto-suficiência se ele ligasse para uma das pessoas que mais odiava, mas ele feriria seu orgulho próprio. E isso erao perigoso para Ryan.

Merda, um milhão de vezes merda! Pensou e logo em seguida consigo, e mordeu o lábio para evitar qualquer coisa. Pegou o celular e discou os números o mais rápido que pôde, mas não conseguiu falar uma palavra sequer quando ouviu a voz preocupada de Brendon do outro lado da linha.

“Ryan?” Perguntou quando não obteve resposta por um tempo.

“Sou eu.” Respondeu com dificuldade de respirar. “Nunca mais deixe o seu telefone, bastardo.”

“Pra que me ligou?”

“Pra avisar que eu não vou precisar do seu telefone.” Respirou falhadamente e logo após tussiu. Brendon franziu o cenho ao ouvir a tosse carregada do seu chefe e se preocupou ainda mais. Ele sabia bem que Ryan não pediria ajuda, muito menos ligaria somente para falar aquilo. “Vou voltar a dormir que amanhã eu trabalho.”

“Você tá doente, Ryan. Não tem como trabalhar amanhã.”

“É só uma gripe de nada.” Torceu os lábios. “Me deixa dormir.”

“Claro, Ross.” Disse Brendon. “Boa noite.”

Ryan não disse mais nada, apenas desligou o telefone. Espasmou fortemente e se xingou mentalmente por ter ligado para ele e tentou dormir de novo, mas o calor da febre era muito, muito forte. Levantou com muita dificuldade e cambaleando foi até o banheiro, tomando um banho longo.

Ele sentia a água fria bater contra seu corpo quente, resmungando qualquer coisa e alguns palavrões. Estremecia e tinha vontade de sair dali correndo, mas não o fez. Ficou ali embaixo por alguns minutos e voltou a sair daquele chuveiro, se secando de qualquer jeito. Deixou a toalha pendurada em qualquer canto e se jogou – mesmo nu – na cama. Se encolheu na tentativa de se aquecer, mas as dores de cabeça e no corpo eram um pouco maiores.

Ouviu a campainha alguns minutos depois e se levantou da cama com dificuldade. Quando abriu a porta, surpreendeu-se com Brendon Urie e o porteiro que sorriu de leve.

“O senhor o conhece, Ryan?” Perguntou, já que esse porteiro não era o mesmo que conhecia Brendon Urie. Ryan Ross assentiu e quase que puxou o aspirante a arquiteto pra dentro da sua casa e bateu a porta na cara do porteiro.

“O que você está fazendo aqui?” George fez questão de perguntar, cruzando os braços.

“Você tá bem?” Brendon se apressou, sem respondê-lo, só então entregando o capuccino que tinha em mãos. O tempo – apesar de pouco – que passaram juntos, deu pra conhecer algumas coisas de Ryan, entre elas, que ele não sabia resistir a um capuccino da Starbucks.

“Eu tava dormindo.” Resmungou, mentindo e tendo um ataque de tosse mais preocupante que Brendon se atreveu a pôr a mão na testa suada dele, percebendo então sua febre. Soltou um palavrão baixinho, tirando a mão da testa dele ao notar que seu chefe estava com a cara fechada.  Ryan tomou um gole longo do capuccino e suspirou cansado. “Você não me respondeu.”

“Eu tô preocupado com você.” Confessou baixinho.

“Por quê?” Encolheu os ombros. “Você sabe que não é bem-vindo aqui nem em horário de trabalho.”

“Mas não me expulsou quando pôde.” Brendon encolheu os ombros também, se referindo a não dizer ao porteiro que sequer sabia quem era Brendon Urie. “Você é acostumado a atender as pessoas pela madrugada sem roupa?”

Ryan girou os olhos e sentiu os olhos do outro correrem por seu corpo todo. Praguejou baixinho, enquanto notava o outro fingindo não ligar para seu corpo nu. Ryan cambaleou na tentativa de ir em direção às escadas e começar a subí-las, mas ao se virar, acabou caindo em cima de Brendon que o segurou de pronto, se molhando de café. Suspirou baixo, na tentativa de conter os seus instintos e também por pura preocupação, o ajudou a subir as escadas.

“Eu não entendo o que faz aqui, estrupício.” Ryan argumentou. “Eu não vou te dar um aumento por isso.”

“Eu saí daqui você não estava bem e agora está bem pior.” Brendon falou, mordendo o lábio. “Eu fiquei preocupado com você e sabia que você jamais me ligaria se estivesse bem. A final de contas você me odeia sem eu ter feito absolutamente nada pra você.”

“Eu tô legal.” Resmungou, tentando se soltar dos braços de Urie, mas só conseguiu cair novamente. “Pode ir pra casa. Xô!”

“Eu não vou te obedecer, Ryan.” Brendon o segurou de forma firme, meio irritado, o levando para a cama. “Vai se trocar, agora! Vou te levar pra um hospital.”

“Eu não vou com você pra lugar nenhum!” Deitou em sua cama, indignado, enquanto o outro mexia no guarda-roupas de Ryan atrás de algum agasalho decente e acabou espirrando bastante com o odor de mofo que estava aqueles malditos casacos. Brendon escolheu qualquer coisa que combinasse – e nem ligou se o Ryan realmente gostava de ser cafona – e começou a vestir o maior, já que este estava completamente sem forças pra revidar. “Vou fazer você perder o emprego por isso, Brendon!”

“Tô te dando um motivo plausível pra me demitir.” O menor deu de ombros com descaso e terminou de vestí-lo com dificuldade e relutância do maior. “Você precisa ir a uma emergência abaixar essa febre, Ross.”

Ao ver que o menor não ia recuar, Ryan se rendeu por fim e foi com ele, abraçado, como um casal, embora na verdade, Brendon só estivesse sustentando o peso de Ross que mal conseguia ficar de pé. Urie segurava seus desejos e a admiração que tinha por aquela personalidade forte e fantástica para não cometer o pecado de beijá-lo nos lábios, enquanto Ryan ainda se perguntava por que existiam pessoas que eram simplesmente boas. Boas apenas por serem boas e não boas por quererem algo em troca. Aquilo mexeu com Ryan, mesmo assim, não gostava nada da idéia de se sentir uma donzela indefesa que sai em busca do seu príncipe encantado.

Ryan foi para o carro de Brendon ainda contrariado. Estava imaginando um monte de coisas quando pôs o cinto de segurança e gemeu baixinho por causa da dor de cabeça que sentia. Urie mantinha a expressão triste, carregada e preocupada. Sua atenção estava quase nula na estrada tamanha a preocupação com Ross que ainda estava meio desacreditado que quem mais odiasse se preocupasse daquele modo. Naquele momento, Ryan sentiu uma pontinha de admiração pelo seu gesto nobre.

Quando o carro de Brendon chegou ao pátio da emergência, ele fez sinal para que trouxessem uma cadeira de rodas para locomover o maior com segurança, já que sua febre o estava fazendo perder o equilíbrio. Ele foi encaminhado diretamente para ser examinado enquanto Urie ficou na parte da recepção – ainda preocupado – preenchendo todos os papéis necessário para a pequena internação de Ryro. Ficou na sala de espera, enquanto o outro se submeteu a uma bateria de exames.

Quando liberado pra visitas, Brendon foi até Ryan que estava vestido com um uniforme de internação e sorriu pra ele. Ross assentiu para a entrada do outro em seu quarto e este entrou devagar, em passos pequeninos.

“Por que não foi embora?” Ryan perguntou. “Você já me ajudou o suficiente, não acha?”

“Você é meu espelho, Ryan. Meu grande ídolo.” Abaixou a cabeça ao confessar, se atrevendo a segurar na mão dele. “E eu quero ser igual a você quando eu crescer.”

“Eu me senti um avô agora.” Murmurou fraco, fazendo o outro dar uma risada leve, desfazendo a expresão preocupada que tinha. “Pode ir pra casa.” E desviou a mão da de Brendon que suspirou pesaroso. “Eu vou ficar bem.”

“Eu vou ficar, Ry.” Chamou carinhosamente. “Eu quero saber o que você tem pra ter caído desse jeito com uma febrezinha de nada.” Cruzou os braços, meio manhosinho e meio em um tom paternal.  

Ryan abriu a boca para insultar Brendon quando a médica – doutora Lindsey – entrou no quarto. Bateu na porta e sorriu profissionalmente aos dois. Brendon Urie sorriu em resposta e Ryan fechou os olhos, contando mentalmente, para se acalmar. Lindsey e Ryan se conheciam de longa data, ela fora casada com o seu Peter Wentz e por isso era tão odiada assim.

“Eu achei que nunca mais ia te ver.” Disse a doutora, se referindo ao maior.

“Não haveria glória maior em minha vida.” Ryan respondeu com ironia, fazendo Brendon franzir o cenho. “Parece que essa cidade é feita de gente desprezível.”

“Exatamente como você.” Disse a médica. “Enfim, vou me concentrar na sua saúde por respeito ao seu novo namorado.”

“Ele é meu chefe.” Brendon se apressou em responder, fazendo a mulher assentir. “O que ele tem?”

“Gripe comum.” Falou, olhando para Ryan. “Devido a falta de cuidados com a febre, ela aumentou significativamente. O paciente teve trinta e nove graus e meio de febre, por isso, mal se movia e delirava. Ele vai ficar em observação por essa noite no hospital, por garantia que a febre não torne a aumentar.”

“Certo.” Brendon respondeu aliviado. “Você não parece aliviada com esse rusltado.” Franziu o cenho.

“Tomei a liberdade de fazer uns exames rotineiros, já que o paciente não gosta de sair de sua casa e, dentre esses exames, estava o hemograma.” Respondeu a doutora enquanto se aproximava um pouco mais do paciente e de seu acompanhante. Devagar e por baixo do fino lençol que cobria Ross, este segurou a mão de Brendon, pois sabia que tinha algo errado com ele. Seu cansaço, desatenção, não era só por causa da excessiva – e destrutiva – lembrança do ex-marido da garota, mas tinha uma explicação além. “Ele tem Plaquetopenia.”

“Plaquetopenia?” Brendon repetiu, engolindo em seco. “O que é isso?”

“É uma ‘evolução’ da anemia.” Respondeu. “Quando a contagem de plaquetas no sangue fica muito, muito baixa. E, preciso ser bem franca com vocês, essa plaquetopenia pode ser proveniente de alguma outra doença, como câncer.” Brendon e Ryan arregalaram os olhos para a doutora, o último morendo o canto dos lábios. “Receitarei alguns remédios para ser seguido à risca, você tomará Vi-Ferrim antes das refeições e, como essa plaquetopenia tá bem alta, você tomará cinco injeções de ferro direto na veia.” Sorriu profissionalmente, escrevendo algo em seu prontuário. “As injeções de ferro são muito fortes e você virá tomar dia sim, dia não, para que seu corpo absorva bem e descanse. Recomendo que procure um nutricionista para ajudar no tratamento, porque uma nova rotina alimentar é necessária para o paciente nessas condições.”

“Cuidarei disso!” Assentiu, apertando a mão de Ryan fraquinho que fechou a cara na mesma hora.

“Quando for lhe dar alta, George, eu passo a receita com todos medicamentos que ele terá que tomar e com as dosess que terá que tomar.” Mordeu o lábio. “Ah, e também uma guia para nutricionista. Fará muita diferença se você introduzir a dieta saudável ao seu cardápio. Com sua liença.”

“Já vai tarde, assombração.” Ross torceu os lábios, soltando a mão de Brendon imediatamente e com bastante brutalidade. “O que merda você quis dizer com ‘cuidarei disso’ pra idiota da Lindsey? Você tá achando que é minha babá?”

“Vocês se conhecem, não é?” Brendon cruzou os braços.

“Não interessa nem um pouco a você se eu conheço essa doutorazinha de quinta. Aliás, nem sei se acredito nesse diagnóstico.” Foi a vez de Ryan cruzar os braços e manter aquela típica expressão fechada que ele tinha. “E você não me respondeu, seu estrupício.”

“Quer parar de me chamar de ‘estrupício’ fora de expediente?” Brendon sentou-se na poltrona ao lado da cama de Ryan e tirou os sapatos. “Eu não quis dizer nada, Ryan. Não vou mais perder meu tempo com quem me odeia, só disse isso para que a médica ficasse aliviada e te desse alta de uma vez por todas.”

“Uh.” Resmungou.  “Agora você já pode ir embora.”

“Durma bem, Ryan, amanhã a gente vai ao nutricionista.” Brendon ignorou qualquer coisa que Ryan veio a falar depois. Fechou seus olhos e adormeceu devido ao cansaço e por não ter muito o que fazer do que olhar para Brendon que passou a noite em claro munitorando cada respiração de Ross.

Quando amanheceu o dia, Ryan acordou percebendo a mão de Brendon entrelaçada à sua. Suspirou baixo e puxou com brutalidade sua mão da dele acordando o menor do cochilo leve que tirava. Antes de qualquer xingamento de Ryan, a doutora entrou com a receita, a guia e recomendando a Ryan Ross repouso absoluto, comida de qualidade [n/a: isso soa meio malicioso, ou sou eu que tenho mente poluída?] e alguns analgésicos e antitérmicos para a gripe.

De novo, com muita implicância de Ryan, Brendon o levou pra casa. A expressão do menor agora era de alívio e, ao mesmo tempo, calma, sem dar qualquer importância aos insultos vindos de Ross. Ele nunca dava ouvidos às molecagens do maior e agora precisava saber como cuidaria dele sem que este se zangasse ou notasse que estava vindo dele.

“Obrigado.” Ryan murmurou, quase sem som nenhum. Era a primeira – e talvez a única – vez que Ryan o tratava com algum tipo de consideração.

“Não por isso.” Sorriu gentilmente. “Eu vou aviar sua receita médica e depois eu volto pra trabalhar.”

“Eu não quero nada que venha de você, coisa ruim.” Resmungou, saindo do carro de Brendon, batendo a porta com sua clássica violência. Urie riu para si mesmo e olhou para ele pela janela do carro. “Me dê a receita, agora.”

“Não.” Negou firmemente com a cabeça. “Tchau, Ross. Até mais tarde.” E arrancou com o carro antes que Ryan Ross pudesse começar a insultá-lo. Irritado, Ryan subiu pelo elevador enquanto tossia. A noite anterior ainda estava intensa dentro de sua cabeça, tudo o que Brendon tinha feito por ele estava vivo dentro de sua memória e acabava por fazê-lo buscar por algumas respostas, como por exemplo o porque de Brendon continuar por perto, embora isso seja algo que ele só teria a resposta conversando com Brendon.

Entrou em casa e foi direto para o computador, trabalhar em algumas dimensões para a maquete de apresentação do projeto. Chegou a achar que Brendon não viria mais para trabalhar e quase se aliviou por ficar finalmente sozinho por um dia inteiro, mas logo a porta se abriu – que por pura preguiça de descer para deixar Brendon entrar, manteve-a destrancada – e uma palavra de calão baixo se soltou dos lábios de Ross que ao levantar os olhos para Brendon o percebeu fabuloso, embora vestisse apenas um jeans escurecidos, camisa de manga curta branca e sem gravata. Segurava uma sacola pequena com os remédios de Ross que seguia atentamente os passos do garoto bonito que vinha em sua direção.

“Toma.” Entregou os remédios a Ross que assentiu em agradecimento. “Segue à risca a receita que você vai ficar bom. Marquei um nutricionista para você amanhã pela manhã. Quero que fique bem.”

“Eu espero que vocês não estejam querendo me matar.” Ryan falou, espirrando.

“Saúde!” Sorriu docemente. “O que você tá fazendo com o computador ligado?”

“Eu tenho que trabalhar, idiota.” Girou os olhos e Brendon puxou o computador de Ryan, só assim tendo acesso ao projeto dele. “Me dê isso, Urie!” Falou, calmo, mas com o tom afetado. “Agora!”

“Você precisa de repouso absoluto, Ross.” Murmurou firme. “Eu já te provei que eu sou de confiança. Não vou assinar esse projeto, só me deixa te mostrar o que sei de arquitetura.”

“O que você sabe sobre Arquitetura e Urbanismo, Brendon?” Arqueou a sobrancelha em tom desafiador, cruzando os braços incomodado.

“Tudo o que eu sei, devo a você.” Murmurou, baixinho, mordendo o canto dos lábios. “Eu vi você levantando algumas mansões – porque o Alex ia raramente às obras -, ajudando em cenários, ajudando na construção civil. Eu escolhi ser arquiteto pra ser igual a você, por ver cada um dos seus monumentos saírem do papel.”

“Você me lisonjeia falando assim.” Ryan mordeu o lábio de levinho. “Você é só um sonhador no fim das contas, igual a mim há alguns anos atrás, mas você vai entender com o tempo que não é bem assim.” Espirrou. “Vou deixar você fazer essas dimensões e vou tentar repousar. Não me decepcione, Urie.”

“Pode me explicar do que se trata, pra eu não errar com você?” Pediu, se esticando para verificar a febre.

“Na mesa.” Apontou. “Estão as plantas e algumas das minhas anotações. Pode dar uma analisada, mas vou repetir... Você não vai assinar esse projeto na frente do Alex.”

“Pode ter a certeza.” Sorriu com doçura, de novo. “Não quero uma glória que pertence à você.”

Ryan apenas assentiu antes de voltar a se acomodar na cama e fechar os olhos. Brendon fez o possível e o impossível por aquele projeto, mesmo que no fim das contas ele não fosse assiná-lo. Conferia vez ou outra – praticamente a cada cinco minutos – se o outro não estava com febre ou estava sem as cobertas, ou qualquer coisinha boba e paternal, super-protetora relacionado ao ídolo. Urie não desceu um minuto sequer, como se ele devesse guardar seu chefe com a própria vida.

Pela noite, Brendon parou de trabalhar, mas não quis deixar Ryan sozinho, afinal, por mais que fosse só uma gripezinha à toa, Ryan teve quase quarenta graus de febre intensa, ao ponto de entrar em delírio e atendê-lo nu. Ligou a televisão - imaginando que o outro ia lhe cortar o pescoço quando soubesse de sua ousadia – no mute, para se distrair enquanto o outro não acordava. Estava bastante preocupado com o tanto que ele estava dormindo, mas não o acordou. Zapeou por entre os canais de TV até que achasse um do seu agrado. Quando sentiu um pouco de fome, Urie pediu uma pizza vegetariana grande e comeu em frente ao aparelho, como era acostumado a comer em casa. Ryro acordou com o cheiro da pizza e ronronou baixinho ao coçar os olhos. Adorável aos olhos de Urie.

“Bom dia, bela adormecida.” Murmurou Urie, brincando.

“Bela adormecida é a senhora sua mãe.” Rosnou Ryan ao ouvir a brincadeira de Brendon. “O que você faz aqui ainda, assombração da minha vida?”

“Um novo modo de me chamar!” Urie exclamou, comemorando. Ryan abriu apenas um olho, desconfiado por toda aquela felicidade vinda de Brendon. “Com ‘da minha vida’ no final.”

“Eu tô achando que é melhor você tomar meu remédio contra febre que você tá delirando.”

“Bobo.” Brendon mostrou a língua infantilmente.

“Você não deveria estar em casa?” franziu o cenho irritado, arrastando seu corpo até sentar-se em sua cama. Olhou para seu quarto e viu a pizza com recheio verde, fazendo uma careta infantil logo depois. “Como é que você consegue comer isso?”

“É bom.” Respondeu Brendon, estendendo infantilmente um pedaço de pizza para Ryan que negou com a cabeça. “Você tem que comer para o remédio poder fazer um efeito mais rápido.” Ryan então tussiu bem carregado.

“Eu vou tomar banho”  Ryan falou, suspirando. “E você vai pra sua casa, comer suas coisas verdes estranhas bem longe de mim.”

“Continua sendo pizza do mesmo jeito.” Resmungou, meio irritadinho. “Tá tarde pra eu ir pra casa e eu tenho que te mostrar a parte das medidas que eu fiz e, tomei a liberdade de criar uma maquete virtual para te mostrar.”

“Eu vou pro banho depois vejo isso.” Brendon assentiu, desligando a televisão. Pegou seu notebook e começou a mexer no mesmo até que seu chefe viesse sair do banheiro. Suspirou para si, ao que começou a jogar paciência e olhava ansioso para porta do banheiro. Levantou os olhos, procurando com os mesmos os remédios do maior e decidiu descer para pegar alguma bebida.

Enquanto descia as escadas, riu baixinho consigo mesmo ao imaginar Ryan lhe esperando, deitado na cama. Imaginou que ele não fosse ficar mais bravo com sua presença e a mesma começara a ser para ele, sinônimo de bem estar, mas era melhor ele cair na realidade. Talvez isso jamais viesse a acontecer, talvez Ryan Ross – seu grande ídolo – jamais deixaria de odiá-lo.  Isso doeu, porque o que é platônico, sempre corrói mais.

Serviu-se de cerveja e pegou um copo grande d’água pros remédios. Subiu as escadas encontrando Ross só de samba-canção, mexendo no notebook dele. Sorriu grandemente por imaginar que ele estivesse escrevendo algo de carinho, mas quando se aproximou, viu que o arquiteto só terminava de jogar o paciência que tinha deixado aberto.

Esticou sem palavras o copo para Ross, tentando esconder a decepção que tinha e o outro pegou o copo entendendo bem o recado. Brendon sentou-se na cama, percebendo então que Ryan tinha terminado o joguinho, este pegou os remédios e tomou, dando um pouco de consolo ao coraçãozinho amargurado de Brendon que já tinha transformado o seu sentimento de ídolo para um sentimento de carinho, de bem querer, de cuidado. Um sentimento de necessidade de estar sempre perto, um sentimento diferente. Ele sentia a necessidade de ter a confiança de Ryan para conseguir a tolerância, para ser tratado – ao menos – como ser humano.

“Quer ver a maquete virtual que eu desenvolvi?” Murmurou animado. “Acho que você vai gostar.”

“Do jeito que você é incompetente, Urie, eu duvido muito.” Ryan deu os ombros. “Mas me mostre seu trabalho...”

Brendon deitou-se na cama ao lado de Ryan e frente ao seu notebook, abrindo o programa para mostrar a Ryan seu trabalho. Ele tinha passado o dia tentando agradar seu chefe e por um momento achou que realmente conseguiria, mas Ryan era tão exigente que chegava a ser covarde. Porém o que Brendon Urie não sabia era que Ryan Ross só era assim com ele; por odiá-lo mais que todas as outras pessoas. Ryan ainda se sentia confuso conforme o tempo passava, embora soubesse que a solução era meio clara, aos poucos, talvez, aquele mistério se solucionaria com o tempo.

“Não é tão ruim.” Falou Ryan encarando a maquete, embora ele não demonstrasse emoção nenhuma. Brendon sorriu amplamente, tomando aquele pequeno elogio como algo realmente grande. “Tem umas coisinhas pra melhorar, mas eu ajudo você depois.”

“Obrigado.” Murmurou com um sorriso estampado no rosto.

“Quer parar com essa mania ridícula de mostrar os dentes pra mim o tempo todo?” Ryan rosnou baixinho. “Ah, é, acho que não tem uma fórmula pra não ser idiota.”

“É só um sorriso, Ryan.” Brend desfez o sorriso, cruzando os braços mimadamente. “Qual o problema com um sorriso? Você não sorri quando recebe um elogio?

Brendon arqueou a sobrancelha e olhou para seu chefe que estava extaseado em sua frente. Ryan tinha tanta coisa em mente com aquela simples pergunta. Um misto de frustração e impotência cruzaram seu caminho, porque jamais conseguiria responder essa pergunta sem revelar seus traumas, suas complicações. Sorrir não era algo que ele fazia, porque não gostava de se mostrar frágil e sorrir era coisa dos fracos.

“Eu não preciso disso.” Falou seco, após um tempo.

“Todo mundo precisa sorrir, Ross.” Argumentou Urie.

“Eu não preciso parecer um idiota, Urie.” Deu de ombros. “Agora pega uns cobertores e bom sofá pra você.”

“Você soa como um hipócrita se não sorri quando te elogiam.” Brendon resmungou, pegando as coisas que Ryan lhe permitiu. Pegou também seu notebook e desceu as escadas em passos pequenos, um tanto medrosos devido o tanto de coisas que tinha em seus braços. Ao observar aquela figura magra descendo as escadas, Ryan percebeu que Brendon seria muito mais do que ele queria que fosse. Brendon Urie seria o homem que lhe faria rever seus conceitos e lhe calaria por várias vezes...

Brendon Urie seria mais um desafio a ser superado. E qual a graça da vida sem desafios?

Brendon Urie dormiu bastante rápido após arrumar sua cama improvisada no sofá. Ryan, por sua vez, demorou para dormir. De certa forma, ele não queria, porque teria de novo pesadelos com Wentz, mas sabia que se ele não dormisse, jamais se recuperaria o suficiente para se livrar de Brendon de uma vez por todas. Comeu o último pedaço da pizza que estava em cima de sua cama e a aprovou com a cabeça. Não era tão ruim, apesar de seu recheio ser verde.

Fechou os olhos e ficou rolando na cama por um tempo. Talvez porque tivesse dormido aquele dia todo. Sua falta de disposição e todo aquele sono lhe soavam assustadores, porque ele nunca fora de ter sono. Talvez ele realmente precisasse introduzir ácido fólico e ferro para melhorar aquilo. Quando deu por si, estava dormindo novamente.

Sua visão estava turva e em sua cabeça, as gotas da tempestade pareciam como pedregulhos atirados do céu. Quando conseguiu raciocinar, Ryan foi até Wentz. Pôs-lhe a cabeça em seu colo e reparou que dali saía bastante sangue. Fora a chuva que lavou a mão de Ross.

Seu cabelo estava molhado e isso deixava sua visão mais complicada. Ryan estava percebendo toda a sua vitalidade e alegria indo embora junto com aquele homem. Seu corpo se curvou até seu amado. Juntou os lábios aos dele e os pressionou. O único gosto que sentiu, fora o de sangue. Repetiu aquilo várias vezes e continuou sentindo gosto de sangue.

Ryan acariciou seu amado cuidadosamente. Manteve a cabeça deitda em seu peitoral, porque sabia que estava muito próximo o fim dos dois. Não que apartir daquele momento, Ross esqueceria as traições que ele tinha feito, muito menos se tornaria um santo, mas se culpou por não ter feito nada.  A chuva estava fria, as roupas de Ryan grudadas em seu corpo magro e suas mãos grandes e desengonçadas continuavam no cabelo de Wentz, na tentativa estúpida de reanimá-lo com pequenos puxõezinhos que antes ele gostava tanto.

“Eu prometo...” Murmurou baixinho, com os lábios pressionados no moletom de Wentz “Que eu nunca mais vou sentir amor por outro homem. Minha vida acabou agora.”

“Senhor.” Ouviu um dos policiais, abriu seus olhos entristecidos e foi relaxando aos poucos, soltando aquele corpo. Seus dentes batiam um no outro tamanho o frio, os raios cortavam o céu de forma brusca e Ross sequer se importava com tudo aquilo. Os bombeiros recolheram o corpo e ele permaneceu ali, sentado na calçada, deixando a chuva lavar sua alma e tirando de si qualquer capacidade de sentimento, até o de felicidade.

Abriu os olhos, respirando pesadamente e encontrando Brendon Urie ao seu lado, envolvendo-o num abraço protetor. Urie murmurava qualquer coisa confortadora e o apertava, Meio assustado devido ao pesadelo – que era mais um fragmento de seu passado doloroso – envolveu  os braços nos ombros de Urie e descansou o rosto em seu pescoço. A fragilidade de Ryan enquanto dormia e enquanto murmurava coisas estranhas – na concepção de Brendon – fez com que aquele sentimento de outrora que era só necessidade de proteger, tomasse dimensões diferentes. Tornara-se gostar e isso era perigoso demais. Ainda mais quando o alvo é alguém instável como Ryan Ross.

Brendon sabia que pela manhã, não significaria nada aquele abraço confortador, então, ao perceber que Ryan estava bem mais calmo, foi afrouxando o abraço e o deitando novamente na cama. Quando o corpo de Ryan tocou o colchão estava completamente livre do abraço calmante e das palavras cheias de carinho vindas do menor que tirou a franja molhada de suor frio e a pôs atrás da orelha.

“Boa noite, Ryan.” Deixou um beijo protetor na testa do arquiteto e sorriu. “Vou voltar pra sala.”

“Não!” Murmurou, quase sem som, segurando a mão de Brendon com certa força. “Fica aqui até eu dormir.”

“Claro.” Sorriu com doçura e se deitou no pequeno espaço deixado por Ryan na cama. Não demorou muito para os dois dormirem de mãos dadas que pela noite, Ryan acabou se deitando no peitoral de Brendon  que o abraçou com ternura. Ryan ainda tossia vez ou outra, despertando Urie de um sono leve, preocupado, para conferir a temperatura dele. Brendon sabia que estava se encantando por uma pessoa que ele estava criando dentro de si, o que necessitava da sua presença, mas sabia que quando a gripe o deixasse, ele jamais precisaria de cuidados assim. Não precisaria mais dele.

Quando Ryan acordou Brendon não estava ao seu lado e suspirou meio irritado. Encontrou apenas o bilhete com seu telefone, dizendo que tinha ido pra casa tomar banho e fazer umas compras que faltava em sua casa. Dizia também que na volta, traria café para ele. O cuidado, carinho e a dedicação de Brendon estavam encantando, assim como todos aqueles sonhos, pensamentos, o talento, o profissionalismo. Ryan via qualidades em Brendon e isso sim era algum começo.

“Eu estava errado sobre você.” Murmurou para si mesmo, erguendo o corpo para tomar um banho e esperar Urie chegar com o café. O mais novo o estava conquistando pelo que era e isso apavorava o maior. Algo drástico deveria ser feito.

Sem muitas palavras, nem nada sobre a noite passada, os dois tomaram café e Brendon insistiu tanto para o maior tomar banho, que Ryan não conseguiu negar mais. Rendeu-se aos grossos lábios róseos torcidos em um bico mimado e infantil, aos braços cruzados junto com as batidadas do pé ao chão, supostamente furioso. Iam ao nutricionista e Brendon Urie fazia questão de estar perto e acompanhar cada diagnóstico. No hospital o menor percebeu que o outro jamais conseguiria enfrentar tudo aquilo sozinho.

Ryan vestiu uma roupa quentinha e seguiu no carro de Brendon que batucava o volante do carro distraidamente enquanto dirigia. Cantarolava e balançava a cabeça animadamente, como se estivesse indo a um parque de diversões. Ryan estava completamente tenso e irritado com a felicidade do outro. Não deveria estar feliz porque ele está doente. Brendon estacionou, esperou Ryan – que saiu na frente sem realmente esperá-lo -, trancou o carro e foi para o consultório. Na sala de espera não muito confortável, Bden fez uma massagem ou outra no mais velho até a entrada deles.

“Bom dia.” Disse o jovem senhor de branco. “Sentem-se.”

“Doutor, meu chefe está com uma anemia alta.” Disse Brendon tratando de se apressar e de entregar o hemograma. “Poderia nos passar algum alimento, uma dieta para que meu chefe venha a se curar disso.”

“Hmm, vamos examiná-lo.” Ryan foi conduzido há um lugar reservado e enquanto fazia os exames necessários que eram rápidos e indolores, Ryan ouvia o barulho dos dedos de Brendon batucando preocupadamente na mesma. Sorriu para si enquanto seguia o médico até Brendon. “Bom, o índice de massa corpórea do paciente está bom, mas preciso que me relate qual sua alimentação.”

“Comida chinesa, macarrão instantâneo, torta de morango, cerveja e café.” Ryan mordeu o lábio, meio envergonhado da própria alimentação e corando um pouco as bochechas. “E pizza de vez em quando.”

“Quanto toma de café por dia?” O nutricionista anotou algumas coisas e Ross não disse mais uma palavra sequer.

“Todo o tempo.” Brendon respondeu por ele. “Tudo o que eu vejo ele beber é café e fumar...”

“Eu fumo de vez em quando.” Respondeu o outro, meio irritado. “Não é a torto e à direita como é com o café.”

“Certo.” O nutricionista interrompeu, debruçando-se na mesa. “O seu corpo está tendo dificuldade em absorver o ferro, então eu vou introduzir em sua alimentação um shake muito, muito nutritivo. Infelizmente, mesmo quando comemos muito ferro, nosso corpo precisa de algo para reter esse ferro e a vitamina que faz isso, é a C. O shake você vai bater no liquidificador água, açúcar, couve, açúcar e proteína de soja.”

“Blérg.” Pôs a língua infantilmente pra fora.

“Então nem comer feijão...?” Brendon franziu o cenho.

“Feijão não tem tanto ferro assim. Não o deixe ficar mais do que três horas sem comer e não tome tanto café assim.” Ryan cerrou o punho entre as pernas enquanto ouvia a voz do médico. “Uma vez por dia você pode tomar café e não mais.”

“O senhor quer me matar?” Ryan ria baixinho, meio irônico, meio achando que aquilo era uma comédia trágica. “Brendon pegue a receita e vamos embora. Esse médico é um assassino, isso sim.” Brendon riu sem maldade alguma, deixando ser levado por Ryan. Urie tinha pegado a rotina de alimentação do Ryan e cuidaria para que ele seguisse a risca cada uma das palavras que estavam ali.

Brendon queria que Ryan percebesse o quão era importante pra ele vê-lo saudável. Era exatamente por isso que fora Urie quem providenciou todos os remédios, as doses dos soros concentrados de ferro, fora ele quem marcou a hora que Ryan tomaria essas doses no hospital. Ryan revivia a cada dose daquele medicamento, porém havia um preço pequeno a pagar. Ryan se sentia pesado, às vezes tinha fortes câimbras em lugares bem atípicos – como pés e abdome -  e a cada dose, o medicamento parecia estar mais grosso e isso doía.

[i]Brendon segurava a mão de Ryan quando doía[/i] e o distraía para que o tempo passasse e o arquiteto não se sentisse desconfortável por estar deitado em uma maca e bem longe de sua casa. Ryan notava mais uma vez, que Brendon estava querendo seu bem-estar.


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Notas finais do capítulo

n/a: um dos maiores sintomas da anemia é o sono excessivo.



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