Skip Beat - a Revolta do Príncipe escrita por Mirytie


Capítulo 31
Capítulo 31 - A história do Kuon Hizuri


Notas iniciais do capítulo

Enjoy ^^



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“Parece que passou tanto tempo, mas não é bem assim. A minha vida como Kuon começou e acabou depressa demais.

Depois de sair de Kyoto a minha vida foi como uma montanha russa só com descidas. Não…a única subida que eu tive foi conhecer o Rick. Na altura, eu tinha-me rebelado contra o meu pai e, apesar de viver na mesma casa, não aceitava nada que ele me oferecia.

Rick não me demoveu de o fazer. Eu era apenas um adolescente estúpido e ele sabia disso. Tal como sabia que essa convicção ia passar.

E passou.

O Rick era uma daquelas pessoas que parece entrar na nossa vida para concertar tudo…perfeitamente. O meu pai também pensou isso, porque quis imediatamente conhecê-lo. O meu pai sempre foi uma pessoa muito poética, de qualquer maneira.

Começaram a dar-se bem, imediatamente e ele tornou-se parte da família.

Ele deu-me tantas lições de vida que já nem me lembro e passava mais de metade do dia a cuidar de mim, em minha casa.

As restrições e expectativas que o meu pai punha em mim já não me afetavam tanto quanto antes e eu era, finalmente…capaz de voar. Não plenamente mas…sim, já conseguia sentir as minhas asas.

Não achei estranho quando ele me começou a falar de raparigas. Talvez pensasse que eu andava deprimido e que isso se devia a falta de companhia feminina.

Devia ter pensado duas vezes.

Ele começou a antecipar a sua saída e adiar a sua entrada. Às vezes não o via durante dias e isso deixava-me preocupado.

Finalmente, quando ele apresentou a sua nova namorada à família, eu percebi o que tinha acontecido. Ele tinha-me trocado por ela – era assim que eu via o caso, na época. Sentia-me tão traído e abandonado…

Agora, olhando para trás, vejo que era um adolescente com problemas e que, provavelmente, precisava de ajuda profissional, mas não o sabia, antes.

Fiquei tão magoado por ver o sorriso que ele tinha com aquela “vadia” com saia demasiado curta e top demasiado justo. Acho que foi aí que voltei a ser o que era antes de conhecer o Rick. Não…ainda pior!

Revoltei-me contra os meus pais e saía à noite sem que notassem. Às vezes não voltava durante dias. Eles não percebiam o que se passava comigo. Para dizer a verdade, acho que eu também não tinha muita certeza sobre o que me levava a fazer aquilo tudo.

Desafiava gangs e irritava pessoas que não devia irritar mas, no final, a vitória era sempre minha. Pareceu passar tanto sangue pelas minhas mãos e, no entanto, de uma maneira estranha, não me parecia suficiente.

Alguém tinha que pagar pela dor que eu estava a sentir.

Quanto mais lutava, mais parecia querer lutar. Era como um ciclo viciante, como um buraco negro de onde eu já não conseguia fugir.

Os meus pais sentiram isso, na altura. A minha mãe ficou tão preocupada que decidiu chamar o Rick mas, em vez dele, foi a namorada que apareceu.

Ela era tão simpática e bem-educada em frente aos meus pais mas, depois de entrar no meu quarto, ficou a olhar para mim como se eu fosse apenas um pirralho a fazer uma birra.

Nessa altura ela chamava-se Tina…tínhamos a mesma idade mas ela achava-se muito mais superior e madura.

Não foram trocadas palavras, nesse dia. Ela olhou-me com nojo e depois com medo ao perceber a forma como a olhava. Quando ela saiu eu estava pronto para matar alguém. Era isso que ia fazer…era isso que queria fazer.

Por isso saí o mais depressa que pude, ignorando os meus pais, e fui para a rua mais perigosa daquela terra. Dei logo de caras com o grupo que mandava por ali.

Eles começaram a fazer ameaças e a pegar em paus e outros objetos mas eu não vi nada a não ser uma distração. Quando eu sorri, eles deixaram cair os objetos e o chefe do grupo começou imediatamente a pedir desculpa e a recuar.

Não quis saber das desculpas dele.

Ataquei e ainda consegui deitar quatro ou cinco homens ao chão antes de o Rick chegar a correr com a namorada que, pelos vistos, tinha-lhe contado que eu estava a preparar alguma coisa má.

Ele disse alguma coisa que me irritou ainda mais, como se estivesse preocupado comigo. Tinha tanta a certeza que ele só tinha ido ali só para agradar a namorada, por isso corri sem conseguir ver nada à minha frente.

Agora percebo que eram lágrimas. Havia lágrimas a marejarem-me os olhos e tanta raiva no meu corpo. Não conseguia parar, não conseguia controlar o que fazia.

Ouvi-o gritar pelo meu nome e, finalmente, ganhei algum controlo. Parei e, mesmo antes de me virar, ouvi um guinar no pavimento e depois alguma coisa a embater contra outras…e o grito da Tina; um grito que podia vir de um filme de terror.

Quando o vi ele estava no chão, com o sangue espalhado pelo pavimento e respirar de maneira vacilante e irregular. O condutor do carro, saiu por momentos, pediu desculpa e arrancou novamente.

Eu não o culpo. Todos sabiam que não se devia estar naquela rua durante muito tempo e ele provavelmente pensou que nós pertencíamos a algum grupo estranho.

Quando olhei para Rick novamente a Tina já estava ao lado dele e a maneira como chorava dizia-me que ele já não estava vivo.

Foi aí que ela gritou Assassino! com tanta determinação que me deixou em estado de choque. Conseguia sentir o sangue dele nas minhas mãos e não tinha aquele sabor intoxicante que eu tinha desejado tanto sentir ainda há pouco tempo atrás.

Era horrível.

A Tina acabou por conseguir telefonar aos meus pais e eles trataram disso.

Eu só saí de casa para ir buscar os pertences do Rick, depois disso, acompanhado pelos meus pais. Quase implorei para ficar com o relógio avariado dele e consegui tê-lo.

Lembro-me de o meu pai sair para ir ao funeral do Rick mas a minha mãe insistiu que não gostava de ir a coisas dessas e que queria a minha companhia. Apesar de saber que era apenas uma desculpa para eu não ir, eu aceitei-a e fiquei com ela.

A policia ainda apareceu lá em casa mas a fama do meu pai acelerou as coisas e descobriram que tinha tudo sido apenas um acidente.

Eles não sabiam, foi o que eu pensei, eles não sabiam que era eu o assassino.

A Tina mudou de nome. Não conseguia aguentar que as outras pessoas a chamassem pelo mesmo nome que o Rick a tratava e foi assim que ela ficou Miranda.

Ela não me perdoou. Nunca mais quis ver a minha cara.

Para dizer a verdade, eu também não queria ver a minha cara, por isso não podia guardar rancor contra ela. Soube que eles já namoravam há mais tempo do que eu pensava. Quando eu conheci o Rick ele já namorava com a Tina e ele só se tinha ausentado nos últimos dias porque estava a tentar convence-la a conhecer a minha família.

Eu tinha sido apenas um puto mimado.

Passava os dias no meu quarto, sentado na minha cama, a olhar para o relógio estragado. Houve vezes em que tentei arranjar o relógio mas isso fazia-me chorar e gritar e a minha mãe acabava por se preocupar ainda mais.

O relógio estragado que eu não conseguia arranjar era como a vida do Rick que eu não conseguia trazer de volta.

Entrei em depressão.

Não consegui olhar para lado nenhum sem me lembrar do Rick…sem me lembrar do que lhe tinha feito, da vida que lhe tinha tirado.

Foi aí que o chefe apareceu.

Ele viera visitar o meu pai, por acaso, para combinar uma visita ao Japão e conheceu-me. Bem, conheceu-me não é bem o caso.

Soube que eu estava fechado no meu quarto há mais de quatro semanas e forçou a entrada…deitou a porta abaixo.

Começou a dar-me um sermão e a dizer-me coisas demasiado exageradas como Não podes desperdiçar a vida assim. Não podes decidir morrer, assim.

Fiquei chocado mas percebi que era isso mesmo que eu estava a tentar fazer. A tentar matar-me, porque não merecia continuar vivo depois do que tinha feito ao Rick. Preferia morrer a continuar a reviver o mesmo dia sempre que fechava os olhos.

Ele arrastou-me para fora do quarto e pelas escadas abaixo. Eu protestava e tentava libertar-me mas ele era estranhamente forte.

Só disse ao meu pai que me ia levar para o Japão e que não queria que me visitassem durante algum tempo.

Comecei a praguejar quando ele disse isso e ele virou-se e deu-me um estalo. Calei-me imediatamente e deixei-me levar como se estivesse sob custódia.

O meu pai começou a dizer qualquer coisa e ouvia a minha mãe a choramingar dentro da casa mas o homem que me arrastava como um miúdo de 5 anos parecia ignorar isso tudo.

Foi assim que vim para o Japão mas a minha atitude era tão má que acabei por perder vários trabalhos bons.

Vivi com o chefe durante alguns meses e depois com o Yashiro-san até ter dinheiro para comprar o meu apartamento. Quando eles conseguiram mudar-me…foi aí que o Tsuruga Ren nasceu. Foi aí que o Kuon Hizuri morreu.

Mas eu tornei-me numa casca vazia. Não sentia nada para além da obrigação de continuar e retribuir a nova vida que o chefe me tinha oferecido.

Eu não era nada…até encontrar a menina inocente e gentil que tinha conhecido em Kyoto.

Antes de ti, eu não era nada.”


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Notas finais do capítulo

Este é um monólogo feito pelo Ren quando ele conta os "pecados" do Kuon.
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