POV Mamie

Os meus olhos procuraram a claridade no mesmo instante em que a porta abriu. Meu pequeno escritório amontoado com livros e quinquilharias, que há tempos eu abandonara em qualquer lugar, foi submerso a partículas de poeira que se revoltavam com a brisa que entrava. Uma garota estava parada contra a luz, mas eu reconheci seu cheiro. Foi inevitável. Era um cheiro estranho que beirava ao delicioso sangue humano a o extremamente conhecido por mim, sangue vampiro.

Ela cambaleou até minha grande mesa, estava com os olhos vermelhos e cansados de tanto chorar. Mas de alguma forma, ela deveria parecer bonita em qualquer outra ocasião. Parecia já estar ciente de tudo o que estava havendo a sua volta, e suspeitei que fosse devido, em grande parte, a Magdalena.

Eu teria de ter certas conversas com minha ‘rainha’ um dia desses...

“Olá, Summer Burnett. Bem vinda a Children of the Night,” eu disse, ao mesmo tempo em que ela torcia o nariz e sentava-se na poltrona a frente da qual eu me encontrava – mas diferente dela, eu estava elegantemente ereta, bebericando um chá de camomila suave preparado por Meredith; Summer estava mais para ter colapso nervoso, fazendo com que ela mal pousasse seu traseiro no estofado de couro preto.

Ela piscou uma vez. Duas vezes. Então conseguiu voltar a respirar.

“Você é... linda,” Summer disse por fim, olhando-me com um misto de admiração e medo.

Eu me segurei para não suspirar pesarosamente. Odiava com todas as forças do meu corpo os humanos, mas pelo menos eles sabiam dizer coisas que erguiam meu ego as alturas algumas vezes.

“Não seja tola,” eu pontuei, pousando a xícara com o conteúdo ainda fumegante na mesinha de três pés que nos separava. “Tenho assuntos importantes a tratar com você, por favor, não perca o meu tempo com futilidades.”

A menina tremeu em seu lugar. Mais uma vez me segurei.

“Por que Kain não pôde vir também?”

“Kain virá quando eu disser que é necessário,” eu disse, não me importando se estava sendo rude ou não. Summer afundou na poltrona; suas perninhas mal chegavam a tocar o chão. “Homens não são permitidos em nosso castelo, menina. A menos que eu queira que ele morra, ele não poderá se juntar a nós. Porém, preciso de algumas respostas.”

Ela sorriu um sorriso pálido. O medo ainda tingia seu olhar.

“O que sente por aquele vampiro?”

Summer ergueu o olhar, suas bochechas queimaram com o rubor. O cheiro de sangue banhou o ar entre nós. “E-eu-”

“Você...?” estimulei. Demorou alguns segundos até ela se recompor. Eu podia escutar seu coração batendo contra o peito, o suor formando-se nas mãos e testa. O nervosismo rondando por sua corrente sanguínea e o estresse banhando sua mente.

Ela engoliu em seco, pigarreando em seguida. Nervosismo aumentando.

“Eu g-gosto dele.”

“O quanto você gosta, menina?”

“Muito.”

“Capaz de dar sua vida por ele?” pressionei.

“E minha alma.” Ela não estava mais com medo; estava apavorada.

“Bom,” eu respondi. Isso melhoraria meus planos.

Levantei e em seguida, ajoelhei ao lado de Summer. Ela inconscientemente se afastou o quanto pôde, mas não liguei. Toquei a palma de sua mão esquerda, no mesmo instante um pentagrama apareceu ali. Sorri algo que poderia acalentá-la, voltei a me levantar e saí da sala. Meredith me esperava no corredor.

“Arrume um quarto a ela, leve até lá uma terma para que ela se banhe e por fim, mandem me chamar. Quero contar uma história a ela,” ordenei.

Meredith curvou-se em uma reverencia e respondeu: “Yes, you majesty.”

Passava das onze horas quando finalmente foram me chamar. Era uma garota de cabelos louros e olhos escuros. Lycan. Olhei para ela de modo interrogativo. Então entendi. Sorri para ela, pedi que se retirasse e corri até o quarto onde Summer Burnett.  Não levei mais do que dez segundos.

“Vamos viajar,” eu disse a Meredith e Summer assim que adentrei ao quarto. Meredith já juntava nossas coisas. Eu amava vampiras psíquicas. “Lycans adentraram a Children of the Night. Estão nos observando. Draculea também.”

“Mas o que-” Summer começou.

“Hum, teremos todo o tempo do mundo para te explicar, minha humanazinha. Feche os olhos, isso será atormentador.”

No segundo seguinte, estávamos em Nova York.

[FIM DE SAGA “SILVERY SUN” – COMEÇO DA SAGA “LYCANS NO REBELLION”]