Hometown Glory escrita por deboraar


Capítulo 2
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Enfim, a história. Boa leitura.



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            Estávamos passando por momentos difíceis. Faziam mais de três anos que o governo e as pessoas da minha cidade natal tinham escolhido lados diferentes. E eu estava no meio disso tudo. Eu tinha 17 anos e sabia que a maioria das mulheres da minha idade estava pensando em seus novos namorados, enquanto eu estava ali, sentada na fila de espera do hospital. Como eu queria que minha cidade se reerguesse. Como eu queria está pensando em essa ou aquela outra roupa nova na vitrine, e não se eu teria o que comer no final do dia.

           Parada, enquanto esperava a nossa vez, meus pensamentos vagavam para o passado. Aquele sentimento de nostalgia era umas das coisas que ainda me faziam bem, faziam me levantar todos os dias com esperança estampada nos olhos, mesmo que no final do dia, ela acabasse totalmente. Viajando em meus pensamentos, uma cena que se passava pela minha cabeça me prendeu. Era eu, bem pequena brincando com algumas bonecas. Como eu sentia falta daquilo, daquela paz. Daria tudo, pra ter aquilo tudo de volta pra mim.

           Eu sentia tanto por minha irmã menor, que não tinha passado muito tempo nos dias de glória daquela cidade, e com cinco anos estava chorando aos meus pés por que não agüentava mais de dor. Quando aquilo tudo iria acabar? Quando finalmente o governo iria olhar para nós e sentir pena? Eu não sei o motivo, mas eu sentia que alguém precisava mudar aquilo. Eu queria que fosse alguém como eu. E foi lá, sentada junto sobre o som dos soluços da minha pequena irmã, que decidi que era aquilo que eu iria fazer.

Quatro anos depois...

           “Vocês querem continuar a esperar tanto tempo para conseguir um mínimo de comida possível? Vocês querem que seus filhos se joguem mais uma vez nas drogas e na prostituição, por que não tem outro caminho a seguir? Vocês querem morrer dignamente? Ou querem morrer como moribundos, que nada fizeram pela cidade? Mostrem para eles! Mostrem como somos unidos, e como não vamos mais tolerar tantas mortes por dinheiro!”

            Eu tinha 21 anos, e me sentia com 35. Tanto tempo se passara e algumas coisas mudaram na minha cidade. Mas ainda faltava algo, algo que ao acabar finalmente estaríamos livres, e mulheres e crianças como eu estaria andando livremente pela cidade. Precisávamos invadir o palácio do governante, e derrubar finalmente aquele regime. Não seria fácil. Muitos iriam morrer. Eu liderava uma pequena parte daquele grande grupo, mas me sentia honrada em saber que há poucas horas, poderíamos estar livres. E eu orava todos os dias, pra esse dia chegar. E ele chegou.

           Estávamos na madrugada do dia 15 nos escondendo próximo ao local do ataque. Alguns iriam entrar primeiro para derrubar os militares na entrada, e logo depois éramos nós. Um grupo de 40 pessoas, liderados por mim. Minha mãe sentiria orgulho, e eu iria deixar uma cidade mais digna para minha irmã viver. Era aquilo, naquele momento que evitava que minhas pernas tremessem mais.

          Então aconteceu. O primeiro grupo entrou e em questão de segundos o barulho tomou conta do local. Fiquei assustada, mas permaneci firme. Depois do sinal, chamei todos para entrar rapidamente. As pessoas ficaram dispersas. Eu fui direto ao ponto, queria pegar o Prefeito e dar a ele tudo que ele merecia, por ter matado minha mãe de fome. Por ter acabado com a minha adolescência e com a infância da minha irmã. O ódio aos poucos ia me deixando cada vez mais corajosa, e mais disposta. Eu estava com medo, mas não iria desistir aqui.

            Pouco tempo depois estava eu em frente à porta do seu gabinete. Entrei devagar, e fiquei espantada ao ver ele sentado, fazendo anotações, como se nada estivesse acontecendo. Ele somente levantou o olhar e voltou a escrever.

        “Então quer dizer que... Uma criança como você, vai ser a minha assassina?” Ele disse com um tom de zombaria que me deixou com muito mais raiva.

         “Não é engraçado senhor prefeito? Há seis anos, você me elogiava por tão nova, já esta sabendo duas línguas. Tudo isso com um beijo na cabeça.” Ele olhou espantado para mim, finalmente me reconheceu. Vi o medo estampado no seu rosto, e quase senti a vergonha que ele estava sentido.

         “Adid? É você? Mas como... Pensei que você estava morta”

         “Assim como minha mãe, pai? Por sua culpa, e sua negligência, ela morreu. Mais me deixou viva, e cheia de forças para vingar tudo que você nos fez.”

         “Eu não sabia... Depois que vocês fugiram, pensei que os capangas do meu pai haviam matado vocês duas.”

          “E você não foi procurar por nenhuma de nós. Eu passei fome pai, e minha irmã mais nova também, aquela que você deixou na barriga de minha mãe. Como você tem coragem de me falar isso? Como você pode simplesmente me falar que ‘achava que eu estava morta’? Espero que agora, você entenda a dor que a morte promove.”

          “Outra filha? Permita-me que eu a conheça, por favor! Eu não irei te decepcionar...”

           “Ela não saberá seu nome, e não saberá o que você fez. Quero que ela viva sem o peso que eu passei toda a minha vida levando. Eu não acredito em você. Você já me decepcionou antes, por que iria mudar agora?”

           “Não filha, espere. Eu tenho como explicar...”     

            Não deixei-o explicar, eu não queria ouvir que ele fez isso por tal e tal motivo. Eu não iria mais acreditar nele. Levantei minha arma, e atirei contra o seu peito. A sensação de satisfação foi imediata, mas foi breve. Senti algo dentro de mim explodir como uma bomba. Era meu pai, e eu tinha matado. Sentia-me confusa, assustada. Pela primeira vez em anos, eu me sentia como uma jovem garota. Uma jovem garota que foi longe demais, que levou a vingança longe demais. Uma garota que achava que a mãe iria se orgulhar dela. Mas agora contestava esse orgulho. Ele estava morrendo, e a minha arma na mão, parecia muito atrativa. Um último tiro quebrou o silêncio da sala. Só lembro-me do último momento que nós dois nos olhamos, e trocamos os últimos olhares, que acima de tudo, queriam dizer “Me desculpe...”.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. Se sim ou não, que tal um comentário? Não custa nada :P



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