A Arca das Maldições escrita por Lucas Wingler


Capítulo 2
Capítulo 2 - A queda do Império de Spargus




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  As pessoas demoraram um segundo apenas para gritarem apenas uma palavra.

-- ASSASSINOS!!

  O povo que ali estava reunido se encheu de ódio e sairam, com Sgur ao comando, pelas ruas alertando a toda a cidade e foram à procura dos éoredrins. Sgur formou uma verdadeira cruzada e cada vez o número de pessoas aumentava drásticamente.  

  As pessoas traziam consigo foiçes, archotes, espadas, arcos e tudo mais com o que poderiam matar. Buscaram os éoredrins por toda a cidade. Pelas casas, ruas, becos, até que os encontraram. Um grupo de trinta homens, bebendo e comendo na estalagem da cidade. O povo enfurecido matou-os sem piedade e os éoredrins não tiveram tempo nem de desembainhar as espadas, pois o povo atacou-os vorazmente. 

  Quando todos os éoredrins estavam mortos, seus corpos ou o que sobrara deles fora queimados fora da cidade. O povo de Sylarma aclamava Sgur, como o grande salvador da cidade. Até Balir o considerava como o seu herói. Apesar do povo de Sylarma ser de apenas saqueadores e assassinos, eles eram bons guerreiros e conheciam o uso de muitas armas como as catapultas, flechas e arietes. 

  Porém, Sgur, nada sentia pelo povo de Sylarma. Ele só precisava de soldados que morressem por ele. O povo de Sylarma era muito numeroso. Eles descendiam de antigas tribos de mercadores que abandonaram a venda de seus produtos e seguiram pelo caminho do crime, como saqueadores e mercenários, e isso era um grande auxílio. Sgur comprara o povo de Sylarma com promessas de que quando Spargus caísse, eles poderiam pegar todo o mitriun, que encontrassem, e mitriun, Spargus tinha em grande quantidade.

  E, além disso, Sgur poderia recorrer aos monstros que habitavam as montanhas, orcs e trolls, os quais seriam seus verdadeiros soldados. Deveria convocá-los à batalha, porém depois que a cidade caísse, os orcs teriam que exterminar todos os soldados de Sylarma para ficarem com todo o mitriun, aliás, nem seria preciso. Sgur já tinha um plano para o fim do povo de Sylarma.

   Para isso Sgur precisava rumar para as Ered Minrais, as Montanhas Brancas de Slávia, ao norte. Ele vagou por quatro dias através dos prados que separavam Sylarma da cidade de Dunnûn-Tâk, na margem norte do Rio Baranduin, no reino de Arthedaín.

   A cidade parecia deserta. Há duzentos anos, o povo que ali habitava, vivia em extremo estado de vigilância. As casas eram construídas com madeira e feno, pois o feno crescia muito em volta do Esgaroth, o Grande Lago, da qual Dunnûn-Tâk estava às margens. As Ered Minrais começavam a elevar-se à apenas duas milhas dali.

   Há muitos anos, legiões de orcs e trolls, atacaram sem piedade a cidade, e a levaram à destruíção e mataram muitos de seus melhores soldados, porém, os descendentes daqueles que ali viviam, que migraram para a outra margem do Esgaroth, voltaram para Dunnûn-Tâk e a reconstruíram das ruínas da antiga cidade.  Ali, os Dunnianos (como eles chamavam-se a si mesmos, que vinham de uma linhagem da união entre Homens e kaläri, uma raça de Elfos há muito esqueçida, que habitara Slávia na Primeira Era) vivia em alerta contra a ameaça que ocultava sobre a sombra das montanhas com seus picos brancos gelados pela neve eterna.

  Sgur chegara à Dunnûn-Tâk e pedira abrigo. Os dunnianos estanhavam o forasteiro, pois nunca haviam visto pessoas de outros lugares e porque todos os de Dunnûn-Tâk tinham feições semelhantes, cabelos loiros longos e olhos muito claros, e Sgur tinha longos cabelos negros e olhos muito verdes.

  Apesar de estranhá-lo, um guarda dunniano deixou que Sgur adentrasse na cidade contanto que pagasse um tributo. Sgue lhe entregou uma barra dourada. O dunniano levou-o até uma hospedaria, onde o dono arranjou um ótimo quarto para Sgur, que pagou por ele e descansou.

  No dia seguinte, ele acordou cedo, pegou suas coisas e saiu pela cidade. Atravessou as muralhas e começou a subir a montanha.

  O terreno da montanha era bastante irregular, com muitas rochas no caminho, charnecas e nevoeiros. Quando estava à uma charneca à uma grande altitude, Sgur ouviu um conjunto de gritos e urros próximos e instantaneamente sentiu um cheiro familiar. Uma podridão tomou conta do lugar. Orcs estavam por perto. De repente, muitos Orcs, que pareciam brotar das pedras, apareceram próximos à Sgur, entre as pedras, atrás de moitas, sob os penhascos.

  Os orcs pareciam nascer de um cruzamento entre homens primitivos e animais, de tão horrendos. Mas não havia um bruxo sequer em Slávia que soubesse de onde esses monstros surgiram. Todos os orcs tinham os corpos deformados, usavam armaduras e estavam armados com arcos, espadas, lanças e escudos, todas as peças feitas de metal.

O orc que era o capitão do grupo tinha o rosto muito deformado e usava um anel de ouro, ele aproximou-se de Sgur, riu bem alto e disse na língua Golgodrin (seu próprio idioma) para os Orcs ao redor:

-- Ashbûk ain aleaket... (Comeremos carne humana hoje...) 

-- Aik âshak ûnk. Âsh belk inaûrk... Eak uglûn barak dân, unnûn-dân (Eu não sou um humano. Sou um bruxo... E a não ser que queria que eu mate todos vocês, é melhor que me escutem.)

  Todos os orcs acharam graça da ameaça, e o capitão, pulou sobre Sgur com a espada na mão e tentou atacá-lo. Sgur virou-se, esticou sua mão esquerda e explodiu o corpo do orc, lançando vísceras e sangue negro por todos os lados. Os orcs, apesar de serem guerreiros de sangue frio, o observavam temerosos. Sgur acabara de matar o general dos orcs.

  Alguns orcs ficaram amedrontados, porém outros nem sequer se mexeram. Sgur conjurou um baú. E o abriu. Dentro do baú, havia milhares de pedrinhas de ouro e pequenos cristais reluzentes, coisa de que os Orcs tinham grande fascínio. Orcs adoravam coisas brilhantes.

  Sgur pretendia comprar os Orcs com ofertas de carne fresca dos escravos e grandes quantidades de um metal chamado mitrium, muitíssimo valioso em Slávia, em troca dos orcs lutarem por Sgur. Todos os Orcs ficaram extremamente tentados pela oferta de Sgur e decidiram seguí-lo. Sgur não pensava que seria tão fácil assim.

  Os Orcs levaram-no para seu covil, nas entranhas da montanha. Para chegar naquele lugar, era preciso descer por escadas de infinitos degraus, até chegar numa gigantesca câmara escavada, repleta de altas torres. Esta era a cidade que os próprios Orcs construíram, Agâsher, que na língua Golgodrin, significa “Cativeiro”.        

  Apesar de os Trolls quase nunca saírem à luz do dia, havia muitos deles em Agâsher. Uns trabalhavam escavando a pedra, para aumentar o tamanho da cidade. Outros deles ficavam nas entradas da cidade. Os Orcs de Agâsher reproduziam-se demoradamente, contudo, a população da cidade era muito grande.

  Durante dois meses, Sgur, permaneceu Agâsher. Ele passou a maior parte do tempo, reunindo soldados para seu exército. Nesses dois meses, Sgur aprimorou seu lado maligno, cobiçando cada vez mas o artefato a qual buscava, e isso trouxe ao seu lado externo, a face de horror que havia dentro dele.

  Ele conseguia com mais facilidade dominar magia negra, e com isso, depois de muitas experiências macabras, conseguiu criar uma raça de seres aos quais chamou de cormag, que na língua élfica significa “lobo escarlate”. Os cormags eram criaturas semelhantes à grandes hienas de pelagem avermelhada. Possuíam grandes presas e patas fortes o suficientes para arrancar uma árvore pela raiz. 

  Durante esse tempo todo, ele se alimentava de animais que viviam na montanha, como coelhos e outros animais que os Orcs lhe traziam, enquanto isso, os Orcs comiam pássaros e lobos crus, que eles caçavam para si mesmos.

  Dali em diante, Sgur estava no comando dos Orcs. E eles debandaram de Agâsher para iniciarem sua jornada até Spargus formando uma armada de duzentos mil soldados, além de centenas de trolls e cormaggs. Sgur comandou seu exército. De madrugada, eles atacaram a cidade de Dunnûn-Tâk e não desistiram até que a cidade fosse totalmente destruída. Desta vez não houve sobreviventes.

  Após o massacre de Dunnûn-Tak, o exército rumou para a cidade de Tûruk-dan, uma cidade de mercadores, além do rio Rauro. Eles saquearam a cidade e se abasteceram com carne e cerveja fresca. Depois continuaram a marcha.

  Alguns dias depois, Sgur e seus soldados chegaram à uma colina da qual, sobre ela possuíam uma boa vista da cidade de Sylarma. Foi então que Sgur deu ordens para o exército descansar, pois Sgur deveria se ausentar durante alguns dias e nomeou um general, um orc chamado Fâruk. E Sgur foi até Sylarma e encontrou-se com Balir. 

  O ferreiro ficou feliz de reencontrar o amigo. Sgur disse que precisava falar seriamente com Balir. Então o ferreiro o chamou para a sua casa, onde beberam e conversarem. Sgur falou com Balir sobre sua viagem às montanhas e mentira para o velho ferreiro, contando para ele sobre um aviso que recebera, dizendo que por trás de suas muralhas, Spargus reunia seu exército e que pretendia destruir Sylarma.

  Balir pensou que Sylarma devia fazer o mesmo, reunir forças e lutar contra o Império Bruxo. Alguns dias depois, Sgur foi eleito comandante de Sylarma. As pessoas o respeitavam e o admiravam como um grande capitão. Sgur seria capaz de invadir Spargus sozinho e tentar roubar o artefato. Por isso Fergus mantinha todo o exército em posição de guarda constante durante todo esse tempo desde que Sgur fora banido.   

  Sgur era um grande conhecedor das artes das trevas e por isso era um bruxo poderosíssimo. Dentre todos os éoredrins de Spargus, Sgur era o mais poderoso e nunca havia perdido uma batalha. Fergus sempre tivera receio de enfrentá-lo nos duelos quando eram mais jovens.

  Sylarma estava pronta. Sgur organizara o exército da cidade e o mandara à batalha. Porém, não foi com eles. Ele não pretendia de forma alguma liderar um bando de ladrões, ferreiros e mercadores, não achava digno de si. Ele queria mesmo era comandar um exército como os orcs, guerreiros habilidosos e destemidos. Cinco noites depois que o exército de Sylarma partira, Sgur ordenara que o exército levantasse acampamento. Mais um desafio começava: atravessar os Campos de Pellengrer.

  Fergus estava em seu pátio de pedra. Observando as montanhas. O dia estava sereno, calmo e relaxante. Nada parecia poder estragá-lo. Os pássaros cantavam em tons quase mágicos. Spargus recuperava-se de um recente ataque à cidade. Os soldados sparganos rechaçaram um substancioso exército de sylarmeses, que pretediam invadir a cidade portanto como armamento apenas aríetes e espadas. Obviamente foram repelidos apenas pelos soldados das muralhas, que usavam sua magia para dizimá-los.Um fato, Fergus deveria concordar, o exército marchava com uma determinação ímpar, parecia ser movido por um motivo vingativo, alguém parecia estar por trás de disso... Mas quem perderia tempo com um bando de mercadores, ladrões, ferreiros?

  O Imperador esperava que não houvesse nenhuma movimentação militar de nenhum reino próximo nos próximos meses.

  Foi então que o som que Fergus tinha mais medo no mundo soou pela cidade e muitas coisas passaram pela mente do Imperador. Fatos, faces e acontecimentos. Trombetas de guerra anunciavam que inimigos aproximavam-se. Dois éoredrins entraram correndo nos aposentos reais e um deles gritou:

-- Sinne Kruner! Gheibheadh tu fhein, a ghaoil, an tug Pellengrer! (Senhor Imperador ! Um exército de bandeiras negras aproxima-se pelos campos do Pellengrer !)

  Fergus congelou. Não poderia ter sido mais repente. Pensou em todas as mulheres e crianças que Sgur mataria para se apossar do artefato. Deveria agir rápido.

-- Thar toinn do ráinig chugainn! Fé mhóid bheith saor! (Ponha todos os soldados em posição! Quero todos os arqueiros nas muralhas!)

  Fergus mais do que depressa vestiu sua armadura e partiu para o pátio do palácio. Do pátio de mármore e grama, Fergus pôde ver ao longe na planície, a sombra devastadora de um exército de bandeiras negras surgindo através da névoa vespertina. Os inimigos estavam relativamente longe, mas mesmo assim sua existência já instaurava o pânico e medo na cidade.

  O sol estava se pondo, nuvens negras tomavam lugar no céu vagarosamente. Àquela distância não pôde supor quantos haviam na armada inimiga. Mas mesmo assim, Fergus emitiu uma ordem por toda a cidade: que todas as mulheres, crianças e idosos deveriam deixar suas casas imediatamente e refulgiarem-se em abrigos na montanha.

  Mas haviam muitos, milhares de soldados de armaduras escuras. A cor escura de suas armaduras refulgiava nos campos. Fergus montou seu cavalo branco e percorreu como um trovão as ruas e ladeiras da cidade até a muralha. Muitos soldados corriam pela cidade em direção às muralhas enquanto os moradores chamavam por seus filhos e abrigavam-se em suas casas. O exército de Spargus já estava preparando-se em frente às muralhas da cidade.

  As catapultas de fogo eram arrumadas, guerreiros, lanceiros e soldados eram colocados em seus postos pelos generais. Era um momento que contava a agilidade e a inteligência.

  O exército inimigo trazia legiões de orcs como soldados e trolls das montanhas empurrando torres de madeira com aríetes infestadas de Orcs. E o pior haviam batalhões de lúpus entre eles. Os lúpus eram seres aparentados com os lobisomens, porém ficavam transformados eternamente em monstros sanguinários e selvagens.

  Fergus não deixaria que a cidade onde ele crescera, onde tivera uma vida, uma família, um reino, fosse destruída. Não deixaria que o trono dos bruxos que fora passado para ele se perdesse numa cidade em chamas.

  O Imperador chegou à muralha e ordenou que todos os soldados e arqueiros se preparassem. Enviou quatro legiões (cada legião continham 2000 homens) para os portões leste, norte, oeste e sul. Ordenou que seus generais enfileirassem 50 legiões de soldados, lanceiros e escudeiros nos prados à frente da cidade. Outras legiões ficaram posicionadas nas muralhas.

  Neste instante, o som de muitas cornetas de sons distintos soaram de lados diferentes. À esquerda de Spargus, legiões de Elfos, e cavalgavam ao encontro do exército de Spargus, seguindo seus comandantes: Gildör, o rei-elfo da cidade de Locnaghar, no norte; e seu irmão gêmeo, Gilraën, governante dos elfos da cidade de Asfarnoth, no sul.

  E à direita, os exércitos dos Centauros, guerreiros do oeste, galopavam para a guerra acompanhando o General Neron. Os três exércitos, bruxos, elfos e centauros uniram-se e formaram uma grande armada frente às muralhas enquanto Neron, Gildör e Gilraën adentravam em Spagus para enontrarem-se com o Imperador.   

  O exército de Sgur não se intimidou e caminhou com mais vigor. Das muralhas, Fergus percebeu uma coisa. No meio do exército inimigo, avançando junto com os soldados, havia uma carruagem feita de metal, puxada por enormes animais. E sobre a carruagem estava Sgur. Seus cabelos negros agitados pelo vento, e seus olhos verdes brilhando ao longe. Ele trazia um cetro dourado na mão esquerda e na mão direita segurava as rédeas de sua carruagem.

  Os quatro comandantes reuniram-se num pavimento bem acima das muralhas, de onde viam-se as bordas externas da cidade e também as extremidades do exército inimigo.

  Sgur observava o grande exército de Fergus posicionado frente à muralha. Sabia que aquilo não bastaria. Não bastaria para deter Sgur. O exército de Sgur parou. Os Orcs posicionaram-se à uma distância de um quilômetro metros de do exército de Fergus. Seus arqueiros prepararam suas flechas, os lanceiros ergueram suas lanças e os soldados puxaram suas espadas. O mesmo fizeram os bruxos, elfos e centauros.

  Um segundo raio rasgou o céu dos Campos de Pellengrer. Fergus sabia que essa seria a última guerra de sua era, uma guerra que todos os seus antepassados aguardavam em silêncio, porém, sabiam que em dez, cem ou mil anos este dia chegaria.

  Foram muitos os que atenderam ao chamado de Fergus, pois se Spargus perdesse aquela batalha, o mal se espalharia por toda a Slávia. Sgur havia reunido lúpus, trolls e legiões de orcs das montanhas. Todos atenderam o chamado de Sgur. E com isso havia conseguido, pouco a pouco agradar a todos e trazê-los para seu lado com a promessa de uma vida de regalias e benefícios, ou seja, carne fresca dos escravos de guerra todos os dias.

  O imperador estava pronto e seu exército também estava. Os orcs começaram a urrar e bater em seus escudos e os lúpus uivavam loucamente. Fergus ergueu seu espada, e o mesmo, fizeram todos os soldados na frente de batalha, fossem eles bruxos, elfos ou centauros.   

  O exército de Fergus aguardava em silêncio. Fergus gritou aos soldados e aliados:

-- Dail or Daerú-o or thyn, ú-danno i failad a thi an úben tannatha le failad! (Não mostrem nenhuma compaixão, pois vocês não receberão nenhuma compaixão!)

Trombetas soaram ao largo da frente do Império e seu exército marchou ao encontro das forças de Sgur. Os exércitos obedeceram seus comandantes.

-- Herio! (Que começe!) -- gritou Sgur de sua carruagem.

  O impacto entre as duas armadas foi violento. Os orcs eram violentos, destroçavam os soldados de Fergus, e os lúpus eram animalescos em maiores proporções. Os bruxos usavam magia, porém nenhum feitiço surtia efeito sobre os orcs, pois a armadura dura resistia. Os bruxos com suas espadas afiadas só conseguiam matar um orc se o atingisse debaixo do braço ou no pescoço.

  O exército de Fergus sobrepunhava-se sobre os orcs e os lúpus, pois esses estavam sendo mortos. Os centauros lançavam suas lanças com força descomunal, e com isso, atravessava os corpos dos orcs além de pisoteá-los como insetos.

  Fergus saíra por um portão e fora ao encontro da batalha e se instalara entre os soldados e os éoredrins. Matando todos os inimigos que se encontravam em seu caminho, ele conseguiu chegar até o centro da batalha e Sgur cuidou de fazer o mesmo, abrindo caminho entre os seus próprios guirreiros. Quando os dois conseguiram se encontrar, as espadas logo se cruzaram.

  Enquanto isso, os soldados bruxos posicionados nas muralhas lançavam maldições e feitiços de longe aos lúpus, que caíam mortos pelo chão. Do choque entre as espadas de Sgur e Fergus saíram faiscas. Fergus era um excelente guerreiro, mas Sgur era melhor do que qualquer éoredrin. Seria uma batalha difícil. Por toda a planície via-se apenas sangue e vísceras espalhadas entre os milhares de combatentes que se entrelaçavam entre maldições lançadas por suas mãos e golpes rápidos de espada.

  Nem mesmo seus arcos e suas espadas estavam salvando os elfos do massacre. O éoredrin-mor de Fergus, Théodred, havia deslocado uma parte do exército bruxo para a área onde os elfos estavam. E havia funcionado. Os arqueiros bruxos mataram grande parte dos orcs com suas flechas rápidas e incendiárias. Enquanto isso no meio da batalha, Sgur lutava para desarmar Fergus.

-- Boe a hûn Fergus! (Eu vou tomá-la para mim Fergus!) -- gritou Sgur na língua dos bruxos apontando sua espada para Fergus, suas mãos iluminaram-se e ele lançou um raio verde que por pouco não acertou em chei no peito de Fergus.

-- Tagon arlai ogol nai vadak ! Neled herain dan caer menig hannon le! Le ab-dollen, aníron i e broniatha ar! (O que quer que você faça não poderá me impedir! Eu vou me tornar um deus e você será o primeiro a morrer! Eu terei prazer em arrancar a sua cabeça com minha própria espada !)

-- Kupier nov birzai, Sgur! (Você sempre quis o poder, Sgur!) – disse Fergus desviando-se do raio verde e lançando uma saraivada de flechas que saíram da ponta de seus dedos sobre Sgur que desviou de todas – Nadath nâ i moe! Cerich dan gheall ag, ú-eveditham kruner ain Spargus! (Você sempre foi o bastardo da corte. Sua mãe abandonou meu pai, sem saber que ele era o imperador de Spargus!)

   Sgur avançou sobre Fergus e as espadas se riscaram:

-- Is fonnmhar faobhrach sinn chun gleo! (Nosso pai você quer dizer!)-- disse Sgur por entre os dentes. Ele lançou uma bola de fogo em direção à Fergus, que se esquivou dela para a esquerda e a apagou com um jato de água lançada de sua mão esquerda.

-- A tá fé  éirinn faobhrach! (Ele nunca quis ser seu pai!) -- disse Fergus cuspindo no chão -- Vaun hasselo faobhrach darbenai bör! (Ele não queria ser pai de um bastardo!)

  Mais uma chuva de faíscas. As espadas se cruzavam no ar e lançavam muitas faíscas que começavam a incendiar a grama seca formando um círculo de fogo em volta dos dois guerreiros. Fergus transformara sua mão esquerda numa lâmina afiada como uma espada dourada e, com um golpe rápido com sua mão, conseguiu ferir Sgur na perna direita, que começara a sangrar muito.

  Sgur parecia estar se enfraquecendo e ele caiu de joelhos e apoiara-se em sua espada. Fergus não iria desferir um golpe em Sgur, pois o código dos bruxos abomina esse ato covarde, era correto matar o inimigo quando ele estivesse de pé, para ver a vida deixar seus olhos, e Fergus como imperador, deveria, mais do que ninguém usar deste código de honra.

  O exército comandado por Fergus avançava sobre os orcs e lúpus.

  Fergus se aproximou de Sgur.

-- Seo libh canaídh amhrán na bfiann buion dár slua bfiann! (Você seguiu por um caminho de cobiça e agora você morrerá pelas mãos da própria cobiça !) -- disse ele com a espada apontada para Sgur, que ofegava ao chão – Sëana, seo dhíbh, a chairde, duan ogláigh elbläg! (Levante-se, quero ver você morrer como um guerreiro!)

-- Tá sceimhle ’s scanradh i gcroíthe námhad! (Não será esta, a noite em que você me verá morto, Fergus!)

  Sgur levantou-se repentinamente num pulo e sua espada atravessou o braço direito de Fergus. O sangue escorreu pela mão e pingou no chão. O imperador continuou de pé. Firme e imponente, seus cabelos longos e ruivos, agitados pelo vento da noite. Seu rosto era repleto de “piercings” de prata e desenhos vermelhos pelo rosto e ele tinha olhos azuis. Em seu cabelo ruivo tinha longos enfeites dourados. Seu corpo por dentro da armadura de metal, sentia o calor da batalha.

  Ali, ele ficou observando Sgur levantar-se, com seus cabelos longos e negros como o céu acima deles, e os olhos verdes como uma esmeralda, refletindo surpresa e sede de sangue.

  Sgur estava de pé mais uma vez, puxou sua espada e tentou dar um golpe no pescoço do adversário, mas Fergus defendeu seu pescoço com apenas uma mão, que estava dura e inflexível como se tivesse transformado-se em um braço de pedra. Fergus deu um forte soco no estômago de Sgur com a mão de pedra, e ele cambaleou para trás. 

  Fergus fez um rápido movimento com as mãos e uma grande onda de fogo varreu a área onde eles estavam, Sgur abrigou-se em um casulo de água conjurado por ele. Seria preciso muito mais do que isso para acabar com ele, e Fergus sabia disso.

  O imperador partiu para cima de Sgur mais uma vez, com a mão de pedra preparada num golpe junto com sua espada, mas Sgur desapareceu numa nuvem de fumaça, e apareceu por trás de Fergus, e quando ele percebeu a cilada, Sgur afundou sua espada nas costas de Fergus, que cuspiu sangue no chão.

  A lâmina havia atravessado o corpo de Fergus. Sgur retirou sua espada e o corpo do imperador caiu no chão agonizando. Mas Fergus ainda balbuciava:

-- Sgur... Tá tú aoi... Tá tua bhfuil fáilte romhat... Sé do bheatha a Ruaraidh... (Sgur ... Você não conseguirá... Ela é muito poderosa... você não... conseguirá controlá-la...) – e estatelou.

  Sgur olhou para o corpo de Fergus estirado ao chão. Ficou observando impassível o corpo do irmão, ali estirado ao chão, enquanto orcs, bruxos, elfos, centauros e lúpus lutavam entre si.

  Aproximou sua mão esquerda da boca e soprou. O ar de seus pulmões transformou-se em fogo, um fogo verde e vivo, o fogo ergueu-se no ar como uma víbora verde maligna, com as presas à mostra ele desceu, emborcou em direção ao corpo que estava estirado no chão. A cobra de fogo atacou o corpo sem misericórdia, uma grande explosão consumiu o cadáver de Fergus por completo.


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