– Precisa de ajuda? – Uma voz masculina, grave e imponente perguntou, do outro lado do portão. Justin ergueu o olhar, e viu um cavalo pardo.

– P-preciso. – Justin disse. – Preciso sair daqui.

– Afaste-se. – O cavalo disse, e Justin logo obedeceu, correndo para longe do portão. O cavalo não demorou a dar um belo coice no cadeado do portão, fazendo-o ceder. As correntes caíram, fazendo barulho, e Justin sorriu.

– O-obrigado!! – Ele disse, e passou pelo espaço do portão.

– Vai para Cair Paravel? – O corcel perguntou. O garoto assentiu. Cavalos falantes não o assustavam mais. Não tanto. – Suba.

O garoto assentiu, e montou no cavalo, um pouco sem jeito. O animal falante não demorou em trotar em alta velocidade para longe dali. Justin segurou a crina castanha do cavalo como se aquilo fosse uma rédea, o cavalo não tinha sela nem nenhum equipamento, então, foi preciso improvisar. Justin só via borrões, imagens passando rapidamente pelo seu campo de vista, ele não sabia aonde estava mesmo, só quando um borrão iluminado surgiu ao longe, ele percebeu que aquele borrão era Cair Paravel iluminado à noite. E, aquela vista do castelo foi a mais bela que ele já teve de Nárnia. Irônico, ele estava na pior situação de sua vida, e teve a melhor vista da mesma.

O cavalo freou graciosamente na frente do portão principal de Cair Paravel. Justin desceu do animal, zonzo.

– Cair Paravel. – O cavalo disse.

– Obrigado. – Justin disse. – Muito obrigado mesmo. Q-qual é seu nome?

– Mais tarde saberá. – O alazão disse. – Entre. Você está ferido, precisa de cuidados.

Justin olhou para seus braços, as mangas brancas da túnica larga de linho que vestia por baixo de um colete de couro. Sujas de sangue. Ele nem imaginava como todo o resto da roupa devia estar.

– Se diz... Obrigado, de qualquer forma. – Justin disse. O cavalo assentiu, e o garoto se virou, pronto para entrar. Antes de caminhar, ele olhou para trás. Nenhum vestígio do cavalo que salvara a vida dele.

Justin deu dois passos, e um guarda o fitou, de longe.

– O Príncipe!! – O guarda, que era outro minotauro, gritou. – O Príncipe está vivo!!

Nem um minutos depois do anúncio, várias pessoas vieram, com tochas, para iluminar a entrada escura do palácio. Muitas pessoas se amontoaram em cima dele, súditos, talvez competindo qual seria o primeiro a socorrer o Príncipe Perdido, aquela sensação de ter muita gente em cima de si fez Justin ficar mais zonzo do que já estava. A luz repentina em seus olhos o deixava desorientado, ele já não estava no seu melhor estado, com aquele desespero todo, só ficou pior. Ele só conseguiu cobrir os olhos com a mão direita e desabar, por sorte, nos braços de uma jovem.

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Justin abriu os olhos. De início não viu nada além de um clarão, mas sua visão foi se ajeitando e ele pôde ver Jill fitando-o.

– Justin, por Aslan, pensei que estivesse morto! – Ela disse. Justin gemeu, na tentativa falha de falar algo a Jill. Ele suspirou e pôs a mão na cabeça. – Shhh... Fiquei parado, sim?

Justin assentiu, e se afogou na cama novamente. Na cama do quarto dele em Cair Paravel.

– Por quanto tempo eu... Desapareci? – Justin conseguiu perguntar, enquanto Jill molhava um pano e passava na testa dele.

– Um dia. – Jill respondeu. Justin arregalou os olhos, iriam atacar Cair Paravel na manhã seguinte, ele não podia ficar parado, tinha de avisar a alguém.

– Eu preciso falar... – Justin se ergueu. – Com um dos Reis ou Rainhas!

– Não, você não pode! – Jill tentou deitá-lo novamente. Com uma força que ele não tinha antes, Justin se ergueu da cama e ficou de pé.

– Depois eu explico! – O garoto disse, e saiu correndo, por mais que sua cabeça (e o resto do corpo) doesse. Ele precisava falar com alguém. Contar a verdade, Cair Paravel estava em perigo, e talvez ele pudesse ajudar.

– Justin! – Ele ouviu a voz de Jill logo atrás de si, mas ignorou a mesma, e continuou correndo, até a sala do trono, decidido. Só parou quando se chocou contra um dos guardas que vigiava a porta da sala do trono.

– Eu preciso... – Justin arfou. – Preciso falar com... Com os Reis.

O guarda o reconheceu e abriu caminho. Quando Justin passou, viu em ordem, Pedro, Edmundo, Suzana e Lúcia (sua mãe, por mais que ele não quisesse), e as Majestades estranharam a presença do garoto.

– Já pode andar normalmente? – Pedro perguntou. – Se recuperou tão rápido?

– N-não, mas... Eu sei de uma coisa... Uma invasão. – O garoto gaguejou.

Lúcia ficou séria, e se ergueu de seu trono.

– Como? Como sabe disso? – A mulher perguntou. Justin suspirou, tendo uma lembrança rápida, como num flash, do tempo que ele passou preso na floresta, quando quase morreu, e, lembrou do cavalo misterioso sem nome que o salvou.

– É-é uma longa história. – Ele gaguejou. Pedro, Edmundo, Suzana e Lúcia se ergueram e caminharam até o garoto, querendo entender.

– Que longa história? – Edmundo, o mais íntimo de Justin, perguntou. – Tem algo a ver com seu sumiço?

– E-eu não me lembro bem... Eu acordei numa floresta, e procurei ajuda. E então, vi guardas daqui falarem da invasão. Disseram... Disseram que o tempo dos Reis e Rainhas de Nárnia tinha acabado, e... E que iam devolver o trono à Jadis.

– Invasão? De agentes duplos? – Lúcia perguntou. Justin não olhou para a Rainha quando respondeu.

– Sim, é... É isso mesmo. – O garoto disse.

– Quando? – Pedro perguntou.

– Amanhã. Amanhã de manhã, assim que amanhecer. – Justin disse. – Foi isso que ouvi.

– E o que aconteceu depois?

– Eles me pegaram. – Justin disse. – Eu fiz um barulho, eles me viram lá... E eu fugi. E cheguei aqui. Foi só isso. Nos atacarão amanhã.

Os soberanos da terra mágica se entreolharam por um segundo, com preocupação e tensão. A última coisa que poderia acontecer em Nárnia naquele momento era uma invasão comandada por traidores. Aquele era o pior momento para uma invasão.