- Lily, descobri. - Cantarolou uma voz orgulhosamente e Lily revirou os olhos ao ver Sirius e Harry entrando na cozinha. O bebê mastigava um chocalho de plástico furiosamente e o homem exibia um sorriso claramente vitorioso.

- É? E qual é a conclusão da vez? - Perguntou em um misto de sarcasmo e cansaço. Há alguns dias seu filho, Harry, havia começado a chorar mais vezes que o normal e a enfiar tudo o que estivesse ao seu alcance na boca (e isso incluía desde seus brinquedos até seu pequeno punho) e o tamanho de sua gengiva parecia  consideravelmente maior, embora Lily achasse que isso se devia ao constante atrito a qual seu filho a submetia.

Desde então, Lily começou a revirar todas as dezenas de livros que tinham na biblioteca e James e Sirius fizeram a única coisa que tinham paciência para fazer para ajudar: formar teorias.

Uma mais absurda do que a outra.

- Mal-di-ção La-te-ra

- Maldição... Ham?!

- Maldição Latera. Dá inchaço no lugar que acerta e uma coceira digna do capeta.

Lily o olhou surpresa; não era como se ele estivesse se dando ao trabalho de ''perder tempo trancado em uma biblioteca quando poderia estar fazendo alguma coisa útil.''

- Onde você viu isso?

- Ué, só você pode ler nessa casa? – Exclamou, segurando o peito com uma das mãos em um gesto falsamente escandalizado.

- Às vezes parece que sim. – Brincou Lily.

- Ora, mas isso é uma calúnia! – Resmungou Sirius em um tom falsamente indignado, apoiando a mão livre na cintura. – Pois saiba você, Sra. Potter, que eu sou uma pessoa muito culta.

- Ah, sim, é claro.

Ele a olhou desconfiado.

- Isso foi só ironia ou você realmente acabou de admitir que eu sou uma pessoa culta?

- Vou deixar você morrer com essa dúvida – Disse rindo. Lily viu os olhos de Harry se acenderem afoitos com as risadas, mesmo que fosse novo demais para entender o que estavam dizendo. Ela franziu as sobrancelhas, voltando a pensar no assunto anterior - Mas uma maldição não precisa ser feita por uma... Varinha?

Sirius abriu a boca, prestes a argumentar, mas voltou a fechá-la, corando.

- É, eu... Acho que sim. Nenhuma chance de alguém ter, sei lá, acertado ele acidentalmente, né? – Confirmou com um pequeno sorriso.

- Você por acaso não tem nada para me contar, não é Sirius? – Questionou, arqueando uma sobrancelha cheia de sarcasmo.

- Nada que você precise saber.

Ela sorriu. Não era como se, no meio de uma guerra, Sirius continuasse fazendo as velhas brincadeirinhas de mau gosto que eram comuns nos tempos de Hogwarts, mas Lily gostava de provocá-lo mesmo assim. Era sempre um refresco no meio daquele turbilhão que a guerra trazia.

Lily voltou os olhos para o filho e notou que ele ainda amassava o brinquedo contra sua gengiva sem o menor sinal de piedade, babando torrencialmente na camisa de Sirius no processo. Não que seu padrinho parecesse se importar, mas Lily se sentiu na obrigação de esticar os braços e pegar Harry do mesmo jeito.

E foi bem ali, quando o filho lhe deu um enorme sorriso desdentado, que Lily achou a solução para seus problemas: Do ponto onde suas gengivas estavam inchadas, uma única ponta branca tentava vencer a resistência da carne e despontar.

Era o primeiro dente. Como havia conseguido se esquecer disso?

- Lily! – Veio a voz do marido seguida pelo som da porta batendo, anunciando que ele chegara em casa – Descobri. Eu fui falar com a Molly Weasley porque, você sabe, ela tem seis filhos e sabe o que ela me disse? Que pode ser o dente que está nascendo.

 Lily bateu a palma na testa. Obrigada James, realmente obrigada.