Veneficus

Era óbvio que ele gostava de magia, claro, que bruxo não gostava? Mas Tom sempre percebeu que ele era um dos poucos bruxos que se ocupava em tentar descobrir como a magia funcionava, diferente dos outros que apenas se preocupavam em fazê-la... Ele não, ele tinha que fazê-la com perfeição e, para isso, acreditava que tinha que entendê-la.

Magia era uma coisa que vinha de dentro dos bruxos, isso ele sabia, mas o que ela fazia? Deveria existir alguma explicação para os feiticeiros conseguirem criar água a partir do nada, fazer objetos flutuarem, causarem dor nos outros... Isso o fascinava, essa curiosidade para saber o que tornava possível realizar os feitiços que ele tanto adorava.

Enquanto os outros alunos passavam um tempo descansando após as aulas de Feitiços, ele tentava não apenas aperfeiçoar a sua técnica naquele encantamento, mas também tentava entendê-lo. Por isso passava tanto tempo com o nariz enfiado em livros, por isso perdia tantos preciosos minutos lendo livros não apenas sobra magia, mas também sobre as ciências trouxas, que, para a sua surpresa, ajudavam-no a entender tudo aquilo.

Tom não contava para nenhum de seus colegas o que tanto fazia nessas horas em que se ocupava tentando entender a magia, não tentava corrigir quando diziam que Aguamenti criava água a partir do nada ou que a Cruciatus era uma coisa que não podia ser explicada... Por que deveria? Eles estavam bem daquele jeito, estavam bem na sua ignorância. Seria melhor se só ele soubesse de tudo aquilo, se mais alguém quisesse aprender, que tivesse o mesmo trabalho que ele teve para descobrir tudo.

Nada acontecia apenas por magia. A mágica ajudava, claro, mas não era só com ela que os bruxos faziam tudo o que conseguiam fazer...  

Aguamenti, por exemplo, não era “conjurar água do nada”, mas sim dar um jeito de juntar os átomos de hidrogênio e oxigênio que existiam no ar e formar moléculas de água... Para os olhos comuns, era água a partir do nada, para alguém que entendia a magia, era apenas uma questão de química.

Outro feitiço que perdera totalmente a magia para Tom fora o Wingardium Leviosa. Os alunos do primeiro ano amavam aquele feitiço tão simples que os permitia se sentirem como grandes feiticeiros, mas, para o jovem Riddle, a única coisa que ele fazia era agrupar um grande número de moléculas de algum gás leve o suficiente para erguer um objeto no ar. Simples e não-mágico.

A Maldição Cruciatus era outra que chamava a sua atenção. Tudo o que ela fazia era criar um tipo de pressão ao redor dos nervos do corpo da vítima... Era como bater o nervinho do cotovelo na quina da mesa, mas, claro, estender essa batida para todos os nervos do corpo. Isso também explicava a razão das vítimas perderem a sanidade depois de serem expostas durante muito tempo à maldição. Nervos são extensões dos neurônios, neurônios são células nervosas, células nervosas são delicadas e muita pressão ao redor delas é o suficiente para danificá-las... Células nervosas danificadas criam um sistema nervoso danificado. Insanidade. Simples e, ainda assim, fascinante. Era realmente uma pena que ninguém notasse isso quando lançava uma Cruciatus. Não. Eles apenas se concentravam nos gritos da vítima.

Tom não sabia se isso era bom ou ruim, saber de todos os mecanismos dos feitiços. Por um lado, era ótimo, já que o deixava mais seguro do que estava fazendo, afinal, entender uma coisa sempre o deixava mais confidente... Mas, ao mesmo tempo, a magia perdia a sua natureza mágica, perdia aquela essência que fascinava tanto os alunos de primeiro ano, perdia a magia...

Mas talvez valesse a pena, não? Perder a magia para ganhar poder.