[Tom Narrador Mode-On]

Eram dez e meia da manhã e eu havia acabado de acordar. Ligo meu celular e o largo em cima do criado mudo. Levanto-me da cama e sigo até o banheiro para escovar os dentes e dar um jeito no meu cabelo. De repente, ouço meu celular vibrar de forma curta. Pelo visto uma mensagem chegou. Saio do banheiro e vou verificar de quem é. Quando olho na tela do smartphone, vejo o nome da pessoa que me enviou.

Alicia. A mensagem havia sido enviada por ela às quatro e quinze da manhã, um horário um tanto quanto estranho. Mas eu já estava dormindo nessa hora e não vi antes.

—--

“Oi Tom! Você está sumido... Eu te procurei para saber se você está bem! Estou com saudades. ♥

Ahh, e antes que eu me esqueça de perguntar... Vocês vão naquela festa da nossa gravadora, dia 26? Por favor, digam que sim! Precisamos encher a cara e colocar o papo em dia!”

—--

Ao ler, sinto arrepios. Eu também sinto saudades. Quanto à festa, eu nem estava me lembrando. Só de pensar que Bruno pode estar junto com ela, meu estômago embrulha. Mas com certeza Bill e os G’s vão querer ir e me arrastarão junto.

Depois de respondê-la, largo meu celular na cama e vou tomar um banho frio.

***

Anabelle, Kate, Jessica, Vivian, Claire, Samantha, Julie, Brittany…

Nesse tempo desde que Alicia voltou a namorar, eu conheci várias garotas novas. Mas isso já não me preenche e cada vez tenho mais noção disso. Por vezes tenho uma ou duas noites bonitas. Mas no final é tão vazio quanto antes. Sinto-me completamente sozinho. Tem sido assim sempre.

Eu estava no meu quarto, tentando me distrair um pouco. Não tinha a mínima vontade de sair com ninguém hoje. Apenas de ficar quieto, no meu canto.

Pego meu notebook e vou tentar distrair minha mente. Abro alguns sites de fofoca para saber o que andam falando do Tokio Hotel por aí. Por mais que estejamos há um tempo longe dos holofotes, eles sempre arrumar algo para noticiar envolvendo nossos nomes. Pelo menos será divertido ver as mentiras e absurdos que eles colocam, do tipo “fulano passeou na praia de chinelo”. Como se isso tivesse alguma relevância jornalística.

Vejo uma aba que trazia notícias sobre o que havia rolado numa premiação de música que aconteceu mês passado aqui nos EUA. Nós fomos convidados, porém na data do evento estávamos na Alemanha juntamente com os G’s e não comparecemos.

Havia várias fotos dos famosos no “tapete vermelho” da premiação. Fui rolando a página, até que vi duas pessoas mais do que conhecidas em uma delas.

Alicia e Bruno.

Eu devia ter fechado a porra da página no momento em que os vi. Mas que merda! A minha curiosidade gritou mais alto e eu continuei. Olhei para a primeira foto e a vi, maravilhosa. Com um semblante completamente estonteante, olhando para ele e sorrindo apaixonada, como se nada pudesse afetar a felicidade dos dois. Como se não enxergasse mais ninguém no mundo além dele. Em outra foto eles pareciam ainda mais felizes e estavam dando um beijo apaixonado.

Isso me quebrou. Como eu gostaria que fosse eu no lugar daquele babaca de merda...

Por que ela não poderia olha assim para mim? Se a porcaria do tempo pudesse simplesmente voltar eu diria tudo aquilo que deixei de dizer e tudo poderia ter sido diferente. Mas nas vezes que tentei me abrir, congelei e as palavras ficaram presas na garganta.

Ele olhava para ela do jeito que eu olharia e aposto, ele fazia todas as coisas que eu poderia fazer. Eu poderia fazer tudo isso e muito mais. Abraçá-la, enchê-la de beijos. Apoderar do seu corpo, puxar seus cabelos para mais um beijo, morder aqueles lábios que pareciam ser tão macios... Poderia fazê-la sorrir sempre, acariciar seu rosto, dizer que a amo todos os dias e várias vezes por dia. Ouvir suas gargalhadas e rir de suas piadas, andar de mãos dadas. Ouvi-la você cantar e tocar, fazer cócegas até matá-la de tanto rir. Pegá-la no colo, tocar o seu sorriso com o meu, acordar ao seu lado e ficar admirando seu rosto, dormir ouvindo a sua respiração.

Isso tudo vai me deixar louco! Fecho no notebook e caio na cama. Olho as horas no meu celular. Eu quis ligar pra ela. Embora eu soubesse que não era a coisa certa a se fazer nesse momento, a minha vontade era muito maior.

Eu queria falar com ela. Mesmo que eu não tivesse assunto, era a voz dela que eu queria ouvir. Era só a voz dela que seria capaz de amenizar um pouco aquela angústia que eu sentia.

Mas e se ela estivesse ocupada com o babaca do Bruno e não atendesse? Não. Eu nunca estive preparado pra isso. Acho que nunca estarei.

Mesmo assim decido ligar, porém o seu celular estava desligado. Minha frustração é tanta que eu nem tento ligar para sua casa. Vai que o idiota do Bruno atende? Eu iria despejar todos os palavrões que sei em cima dele, com certeza.

***

— Você está pronto? – Bill chega na porta do quarto. – Não quero chegar atrasado à festa da gravadora.

— Estou sim! E quanto à Georg e Gustav?

— Já estão lá em baixo esperando junto com o Jost.

— Beleza, então vamos. – saio em direção à porta.

Eu não queria ir nessa festa. Mas Bill me contou que Alicia estaria acompanhada apenas pelas meninas e pela equipe da Sweet Poison e eu acabei animando. Ela contou para meu irmão que Bruno teve que voltar para o Brasil, pois precisava resolver algumas coisas relacionadas à banda dele.

Um alívio percorria o meu corpo e minha mente. Eu estava tranquilo para encontrá-la.

Chegamos no local da festa, que era uma espécie de casa de praia grande e muito bonita, com um lindo jardim gramado onde as mesas foram colocadas. Corro o olho por todas as mesas ocupadas e em nenhuma delas estava Alicia. Provavelmente ainda não chegou.

Um dos garçons do local, no conduz até a mesa reservada para a nossa banda. Mas antes de nos sentarmos, cumprimentamos algumas pessoas conhecidas.

Depois de um tempo que já estávamos lá, ela chega acompanhada de Gaby e das outras meninas da Sweet Poison. Quando nos viu, abriu um largo sorriso. Estava maravilhosa. Mais uma vez agradeci a Deus por aquele viado não estar junto dela.

Após também cumprimentar as pessoas que ela conhecia, veio em nossa direção.

— Posso me sentar aqui com vocês? – ela perguntou.

— Claro que sim! – Bill respondeu.

A mesa possuía algumas cadeiras vazias, mas foi ao meu lado que ela sentou e ficou um bom tempo. Por várias vezes me peguei inseguro, pensando antes de falar. Mesmo quando falava alguma besteira, onde qualquer pessoa ficaria indignada e me repreenderia, ela dava risada, me desarmava e me deixava com cara de bobo, como se fosse tudo normal. 

Teve um momento que eu a flagrei olhando distraidamente pra mim. Não aguentei e sorri. Mal sabe ela que por trás do meu sorriso, eu escondia mil segredos... E que eu daria tudo para que soubesse que ela estava entre um desses segredos.

Ela corou, riu de volta e fez uma piada boba pra me distrair. Pedi aos céus que ela me olhasse assim frequentemente já que é exatamente assim que olho pra ela sempre que a vejo, aquele olhar de quem não quer nada, mas de quem quer tudo.

Bateu-me uma vontade imensa de ser a pessoa que habita seus pensamentos e lhe causa insônia todas as noites. De ser o alguém que ela imagina quando fecha os olhos. De ser o motivo de seus sorrisos que surgem espontaneamente. Assim como ela era pra mim.

Quero fazê-la feliz e ser feliz ao seu lado. Eu quero ela, eu quero nós dois juntos.

***

Estamos em mais uma reunião para acertamos questões envolvendo nosso novo álbum.

— Eu compus uma música. Depois vocês deem uma olhada nela, está aqui. – coloco o papel na mesa da reunião. - Falta encaixar melodia ainda.

Bill é o primeiro a pegar o papel para ler o que eu havia escrito.

— Attention...— ele lê o título.

[Tom Narrador Mode-Off]