Não era como se fosse algo realmente complexo, certo? Era tão somente atravessar aquela porta, descer as escadas, e não voltar mais. Nunca mais. Então porque eu ainda hesitava tanto em fazer algo tão simples? Não seria a minha primeira desilusão amorosa e provavelmente não seria a última, mas porque com ele parecia que tudo era mais difícil do que realmente era?

Suspirei, cansado, deixando a grande e pesada mochila deslizar por meus braços e cair no chão, enquanto meu corpo seguia o mesmo destino, deslizando pela parede até chegar ao chão. Porque em? Porque aquele sorriso incrível nunca saia da minha cabeça? A voz dele nos meus ouvidos... Já fazia duas semanas? Duas semanas que nós havíamos tido a nossa pior briga, e por mais que ainda morássemos na mesma casa, não era a mesma coisa... ZhouMi havia mudado, ele estava rude, estressado, e me evitava a qualquer custo. Eu, por outro lado, não estava lá tão diferente assim, meu orgulho nunca me deixaria falar com ele, e afinal, o errado era ele certo? Ele me traíra, então porque eu me sentia culpado e não ele?!

-Mas o que...? – Ouvi a voz melodiosa ao meu lado, e quis realmente que tivesse sido apenas minha imaginação. – Pra onde você vai? – Sua voz falhou, minimamente, mas falhou. Ele perdeu a pose então...

-Eu vou embora ZhouMi.. – Falei, sem nem virar os olhos para vê-lo, mas eu podia ouvir o barulho da sua respiração pesada – Você sabe que é melhor assim... – Um longo silencio caiu sobre nós, e no hall daquele apartamento, era o nosso fim que se dera inicio.

-Faça o que quiser então... – Falou por fim, e eu pude perceber sua voz embargada, e só de pensar que ele estaria chorando, meu peito se apertou de uma forma tão dolorosa que eu imediatamente mordi meu lábio inferior, reprimindo um gemido doloroso.

Girei minha cabeça para o lado, vendo as longas e maravilhosas pernas do meu namorado, ou agora, ex-namorado. Levantei meus olhos, e por fim vi, meu ZhouMi, vestido em apenas uma boxe negra e um blusão branco qualquer, enquanto seus olhos molhados lutavam para prender as lágrimas que se acumulavam ali. Destruído, meu coração estava destruído.

E ele sorriu, um sorriso lindo e meigo, deixando finalmente suas lágrimas caírem abundantes sobre seu rosto. O vi se abaixar, logo sentando-se ao meu lado no chão, suas mãos agarrando a minha mão direita com força, enquanto seu corpo fino ia tremendo levemente por conta do choro, talvez. Deitou sua cabeça em meu ombro e ficou a fitar a parede, o silencio novamente nos acompanhando.

Sem pensar muito, o puxei para que deitasse seu corpo em meu colo, e ele sem resistência alguma se acomodou ali. Sentia seu polegar fazer levemente carinho em minha coxa por cima do grosso jeans, enquanto seu corpo frágil ainda tremia.

-Não tem jeito, não é Kyu? – Sua voz se fez presente mais uma vez, mas eu nada respondi, apenas me pus a acariciar seus cabelos, sentindo seu choro aumentar levemente.

Passamos mais algum tempo assim, provavelmente mais de uma hora, onde ele chorava e eu apenas o consolava, enquanto o cheiro doce de seus cabelos ia impregnando minha pele, minha roupa, e suas lágrimas salgadas lavavam seu rosto de forma dolorosa.

Após algum tempo, sua respiração e seu corpo finalmente se acalmaram, e quando desci meus olhos, ele havia dormido em meu colo. Sorri internamente com aquilo, logo delicadamente me desvencilhando dele e me levantando, encarando o corpo longo logo aos meus pés. Nunca fui um ser realmente sentimental, mas deixá-lo era realmente algo doloroso demais para se passar sem nem ao menos ficar triste com tal coisa. Me abaixei, e com certo esforço, levantei o corpo alheio em meus braços, logo o levando até a sua respectiva cama. Acomodei-o em seu devido lugar, observando os traços tão delicados daquele homem que dormia, as marcas das lágrimas ainda aparecia, mas um mínimo sorriso se fez presente quando seus olhos se abriram lentamente e me encararam.

-Eu amo você... – Disse mais uma vez, logo puxando um travesseiro e o abraçando, fechando os olhos e voltando a dormir, o mínimo sorriso ainda desenhado em seus lábios.

Sorri, saindo dali e parando novamente em frente à porta, juntando minha mochila do chão e saindo daquele apartamento, que não era mais meu.  Talvez ficasse algum tempo na casa de SungMin, meu amigo, pelo menos enquanto não arranjava outro lugar pra morar.

Desci as escadas, um aperto no peito novamente me atingindo, dessa vez apenas por preocupação, aquele bobo realmente tem que ser feliz, ele merece isso, apesar de tudo. E foi assim, feliz, que eu saí dali, pra nunca mais volta, porque eu sabia que tudo voltaria aos seus eixos e todos seriam felizes, não é?