Anos de paz, anos de guerra.

Já se perguntaram como as coisas funcionam? Por que uma pessoa tem que morrer e a outra não? Por que algumas pessoas deixam de amar e outras não? Por que algumas têm uma chance e outra não? Já se perguntaram por que as coisas são como são? Por que vivemos nesse mundo cheio de desordem? Por que não é o mundo que vemos nos filmes o real? Por que não é o amor e a lealdade que prevalecem? Afinal, por que as coisas são assim?

Muitos dizem que existe uma força maior que controla cada um, escolhendo se ela morre ou não, se ela tem uma segunda chance ou não. Outros dizem que é o destino que controla a tudo e a todos. Outros acreditam que Deus nos controla e nos julga. Alguns falam que nós escolhemos nosso destino quando estamos prestes a nascer. Já outros acreditam que podemos controlar o que esta acontecendo, que tudo depende de nossa força de vontade. Outros apenas deixam que o acaso guie suas vidas e preferem não pensar no por que das coisas.

 Eu não acreditava em destino, nem em Deus, muito menos que alguém me controla. Para mim eu escolhia o que fazia e o que deixava de fazer. Mas já faz alguns dias que penso, se realmente não a um porque de tudo estar acontecendo.  Afinal, como minha vida ia passar de uma zero a esquerda, cheia de problemas para uma pior ainda, mas com um deixe de felicidade me esperando? Como poderia saber que tive uma vida completamente diferente da que tenho agora e que ela estava prestes a se chocar com minha atual? Como saberia que por causa de uma coisa que aconteceu a muito tempo eu era o que era agora?

A partir do momento em que a vi pela primeira vez – pelo menos nessa nova vida – sabia que alguma coisa ia acontecer e que aquilo que tanto queria esconder não ia mais ficar tão secreto. Desde o momento em que a vi, sabia que as coisas iam piorar e que não iria mais ser eu mesmo, ou seria mais eu mesmo do que jamais imaginaria poder ser algum dia.

 Sempre fui o garoto rebelde, prodígio e problemático. Mas depois do que aconteceu eu desejei com todas as minhas forças nunca ter sido quem sou agora e que nunca tivesse abandonado minha antiga vida. Por que agora sou alguém que deve se manter distancia. Sou alguém que se deve temer. Sou aquele que possui o próprio mal dentro de si. Encerrado, trancado, aprisionado... Esquecido. Uma coisa que nunca deveria ser libertada, mas que foi acordada pela mais bela voz.

- Hinamori?!

A voz que desapareceu a muito tempo. Que foi encerrada nos lugares mais profundos de minha mente. A voz da única garota que fora capaz de me fazer agir por impulso e de perder a noção do perigo.

- Sua única fraqueza, Hitsugaya, é a impertinência dos jovens.

Aquela que fiz questão de chegar ao fundo do posso. Aquela que me fez cair varias vezes e mesmo assim sorrir com as dores dos machucados. Aquela que me tirou a vida e que eu mesmo fiz questão de tirar a vida também. Por um erro... Um erro que me custou a felicidade.

- Eles não têm muito tempo de vida. Sinto muito.

Tudo o que fiz por ela foi esquecido por minha mente. Tudo o que fiz foi marcado na memória de todos, menos na minha. Tudo o que fiz foi tentar fazê-la sorrir, um sorriso que não me lembro como era. Tudo o que eu fiz foi querê-la.

- Por favor, não fale como se estivesse se despedindo!

Seus sorrisos, suas risadas, seus choros, suas lagrimas, sua raiva, sua surpresa, sua alegria, tristeza, ódio, suas feições, sua voz, seu rosto, seus olhos, seus cabelos, seu corpo... Tudo fora esquecido por minha mente. Já não resta nada alem do sentimento de amor que ficou preso em meu coração. Engasgado nas lacunas mais importantes do mesmo.

 - Te amo Hinamori.

- Também te amo Shiro-chan!

Todas as lembranças de minha antiga vida foram retiradas brutalmente de minha mente, me empurrando para um mar de solidão e trevas, onde você não podia chegar. Onde nem mesmo seu lindo e quente sorrido poderia me salvar. Não dessa vez.

- Eles terão mais uma chance, mas apenas mais uma!

Às vezes me pergunto: O que eu fiz para merecer ser o que sou? O que aconteceu para que eu tivesse que carregar isso que tanto odeio? Por mais que tente lembrar não consigo, por que?  Será que fui tão ruim assim no meu passado para merecer uma coisa dessas?

- Onde estou? Quem sou eu? O que está acontecendo?

Comecei uma nova vida. Uma vida que não valia a pena. Uma vida sem aqueles que haviam conhecido antes. Uma vida sem ninguém além de mim mesmo. Uma vida que desprezava... Por que não tinha quem queria.

- Seu corpo é meu agora!! HAHAHAHAHAHAHA!!!!!

Não me restava nada. Não me restava ninguém. Era apenas mais um no meio de um bilhão. Era apenas mais um grão de areia na praia. Mas um grão que não podia se interagir com os outros.

- Piedade por favor!! Não, não, NÃO!!!!

- Você é um monstro!!

- Fique longe de mim!! Vá embora!!!

Uma vida onde tudo o que se via era vermelho e o preto. Uma vida onde travava uma guerra constante comigo mesmo. Uma vida onde não tinha uma noite de paz, onde tudo o que poderia existir para mim do outro lado era o inferno!

- Para. Por favor, para. Eu não sou assim... Eu não quero ser assim!! PARA!!!!!!!!

Tudo o que me restava agora era acreditar. Acreditar que um dia tudo iria se resolver e eu finalmente ficaria em paz.

- O que eu sou?

Por que tudo o que eu posso dizer é que, não passo de mais um na fila para o sofrimento eterno que me espera do outro lado.

- Te ofereço ajuda, mas tudo tem seu preço.

- Faço qualquer coisa para mantê-lo preso.

- Se está disposto a deixar tudo para trás e ser um frio solitário para sempre, então segure minha mão.

Tudo havia acabado. A luz já não brilhava mais... Ate ela aparecer novamente.