Palavras de Heagle escrita por Heagle


Capítulo 15
Dias difíceis.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/130789/chapter/15

Bem... agora tinha um fato consumado bem, mas beeeem diferente na minha vida: conviveria com Matt diariamente.  Ele seria meu Jonathan Harrington! Vocês não sabem o quão emocionada fiquei, quando cheguei no meu apartamento, ao perceber que meu sonho de menina iria ser realizado.

Só não chorei porque... tá, mentira, eu chorei. Chorei muito. Primeiro, por meu sonho. Segundo, por meu sonho valer o sofrimento de tanta gente. Mas a culpa não era minha... mesmo se eu não existisse na vida do Avenged, eles tomariam essa decisão. Syn e Matt eram do tipo de homens que tinham opinião, ignorando as influências externas. Enfim...

Minha missão, naquela semana, era treinar Matthew. Eu daria o sangue para que ele fosse o melhor do teste. Assim, entramos em um acordo:

- Todas as noites, das nove a meia-noite, virei aqui, ou você vai ao meu apartamento, para que eu te treine. Temos só uma semana para que você desenvolva um dom artístico de ator. – pedi. Ele aceitou, mesmo perdendo seu horário sagrado da musculação e... outras coisas que fico com nojo só de pensar.

No dia seguinte daquela aceitação bombástica, liguei à Mel. Ela também aparentou estar feliz por eu ter conseguido, mas demonstrou preocupação.

- Matthew é o Jonathan, não temos dúvidas... mas... ele não é ator, e irá concorrer com muitos outros, que pelo que andei vendo... são ótimos e consagrados.

- Não desanima, Mel! – resmunguei.

- Também tem outro lado... pode haver um ator em Matthew que ninguém conhece.

- Estou rezando para esse lado aparecer, e logo. E já sabem quem fará o teste com ele? E quando ele...

- Produtor disse que eles seguem assim: os convidados fazem os testes misturados com os demais, pra não haver uma espécie de injustiça. Alguns deles, fazem a cena sozinho. Outros, pedem acompanhante. No caso, como você vai treinar o Matt... seria bom que você interpretasse com ele, para que não fique nervoso e tal.

- Boa ideia... – sorri, separando alguns papéis sobre a mesa. – Estou selecionando algumas cenas que pediremos para os atores.

- Estou torcendo mesmo. Hum... e tem outra coisa... tem gente demais pro papel da Sophia.

Senti uma pontada no coração. Fiquei tão temerosa ao pensar que... talvez, minha personagem fosse dada à uma adolescentezinha que não possuía habilidade alguma, tornando-a uma personagem maçante e merecida de xingos e piadinhas.

Mas... mantive a calma, ‘semana que vem’ um dia chegaria e eu estaria ali, na bancada, para analisá-las. Não tinha nada com que me preocupar.

- É... o que vai tornar meus critérios ainda mais rigorosos.

- Falou como uma crítica “from hell”. - brincou Mel. – Enfim, vou pra uma reunião com a editora. Sabe que...

- Ano que vem lançaremos o próximo livro, fica sussa. Já o tenho totalmente escrito.

- Ótimo, dá pra se dedicar totalmente ao filme. Agora estou indo. Até mais tarde, Mari.

-Até, Mel.

Desliguei o celular e voltei à análise dos scripts. Os mais fáceis, seria para os primeiros dias, e os mais difíceis, seriam dados como uma espécie de “provão”. Não seria fácil Matt passar pela bancada que seria formada por mim, o diretor, o produtor e mais alguém experiente nisso, mas tentaríamos.

“Semana que vem” um dia chegaria, e até isso ocorrer...

E no dia seguinte, às 9, fui ao seu quarto. Graças a Deus ele estava trajado a rigor: com uma camisa manga longa listrada (que Jonathan usa nos meus livros), uma calça jeans e uma espécie de tênis-sapato. Ou sapatênis, como preferir.

- Que ótimo, estou vendo Jonathan diante de mim! – brinquei, exibindo um sorriso radiante.

- E eu com isso? Sua opinião nada vale. – ironizou Matt, deixando a crer que estava “encarnando” Jonathan. Fiquei muito satisfeita porque... CARA, ERA ELE, TINHA QUE SER ELE (redundância mode on).

No primeiro dia... foi difícil. Se Matt usou algum tipo de droga no passado, ela de fato mexeu com a memória, porque... ELE NÃO DECORAVA! E nem lembrava muita coisa.

- Matt, acabamos de repetir essa frase. - avisei, olhando-o. Ele coçou os olhos, impaciente.

- Mas eu não lembro, vamos fazer novamente.

Isso ocorreu no primeiro e no segundo dia, e juro que me senti muito, mas MUITO desanimada. Olhava-o memorizar aquelas frases tão fáceis, atuar de forma mediana, mas depois de um tempo, perdia novamente a inspiração, ficava constrangido e se irritava. Era fato que no terceiro dia, eu já estava com os nervos a flor da pele, como se tentasse tirar leite de pedra.

- Matthew, pelo amor, você anda lendo os textos? – perguntei nesse dia em questão, enrugando minha testa.

- Li, caramba!

- Se tivesse lido, saberia que não estamos em Alto da Colina e sim na Terra!

- Ah...

- Esquece, vamos repetir mais uma vez.

Resumindo, chegamos ao quarto dia sem muitos progressos, e acho que Matt não estava se dedicando o quanto dizia se dedicar. Chegou uma hora que pedi ajuda ao Syn, para que ele fosse treinar conosco, quem sabe assim desse certo, né?

Não. Errado! Por mais que as intenções de Syn fossem boas... ele só atrapalhava. Os dois começavam encarnar os personagens, um começava provocar o outro... e acabavam brigando. Brigando como atores e como amigos.

- CHEGA, CHEGA, CHEGA, ISSO NÃO VAI DAR CERTO! – berrei certo dia, diante de uma guerrinha de bolas de papel de Matt e Syn. E os papeis eram os scripts, só pra avisar.

- Hum? – os dois olharam para mim com uma cara muito bovina, e como eu já estava puta de raiva, comecei a esbravejar, como se fossem meus conhecidos de anos.

- DESDE QUE COMEÇAMOS COM ESSA PORRA, NENHUM DE VOCÊS LEVA A SÉRIO! MATTHEW, VOCÊ NÃO ESTÁ LENDO MERDA NENHUMA, E SYN, VOCÊ SÓ ATRAPALHA. PELO AMOR DE DEUS, SE NÃO IAM LEVAR A SÉRIO ISSO, POR QUE ACEITARAM? INFERNO, CARALHO! SABE QUE EU VOU FAZER? EU VOU PRO MEU APARTAMENTO, LIGAR PRO BOSTA DO MEU MARIDO PRA VER QUANDO VAMOS FAZER ALGO DIGNO COMO ASSINAR O DIVÓRCIO, E QUERO QUE TUDO VAI PRA PUTA QUE PARIU! SE FODA.

Até hoje não acredito que tive coragem de falar tudo isso, mas falei. Sai do quarto num estado de nervos. Syn tentou correr atrás de mim, mas como já estava tudo na merda mesmo, gritei, apontando-lhe o dedo do meio (já na porta do meu apartamento):

- Você também vai se fuder! – e fechei a porta com força.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!