Saint Maria escrita por Tai Flores


Capítulo 11
Capítulo 11




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Pelo resto da manhã foi assim, vendo coisas antigas e ouvindo histórias. Depois sentamos em uma salinha pequena para lancharmos e depois voltamos a ver mais coisas. A professora não falou nada sobre aquele objeto, passou inclusive, longe dele. Não pude continuar lendo, então nem eu sabia do que se tratava.

Ao sairmos do Museu, já na metade da tarde, meu coração novamente disparou forte. Aquela sensação estranha tomava conta do meu corpo. Nunca havia sentido antes. Era algo que pulava dentro de mim e apertava meu pulmão e coração, dificultando a respiração. Puxava o ar bem forte e isso aliviava a sensação.

Entrei no ônibus, caminhei até a poltrona e de repente ouvi aquele estrondo vindo da rua principal. Todos correram para ver o que era, e eu não quis ficar para trás. Lá de onde nós estávamos dava para ver a roda de pessoas que estava se formando diante do acidente. Meu coração disparou novamente e fiquei com um medo sem tamanho. Meu corpo começava a ficar tremulo e minhas pernas queriam sair do lugar para ver se a pessoa que havia sido atropelada estava bem.

Meus colegas também já faziam parte da roda, mas eu ainda estava a caminho. A professora se espantou e começou a tirar cada um daquele lugar. O carro preto havia fugido deixado a vitima caída em meio ao asfalto sem nenhum tipo de ajuda. Cheguei mais perto, porém minha professora já estava retornando e mandou que eu também retornasse junto dela. Deu meia volta e dei uns passos em direção ao ônibus, mas minhas pernas me desobedeceram e sai correndo. Meti-me naquele bolo de pessoas, empurrando-as. Em meio às pernas dos outros que estavam observando a tragédia, vi um pneu torto, e também um pedaço de lata preta jogada longe. Logo fui chegando até o espaço livre e o que eu escutava era um senhor dizendo “deixem o espaço vazio, ele precisa respirar até que a ambulância chegue.”. Quando realmente cheguei perto da vitima, minhas pernas balançaram, e de meus olhos, uma lágrima caiu.

Meu coração estava partido e minhas mãos suavam. Eu só sabia chorar diante daquela situação. As pessoas diziam para eu sair dali, pois não era um lugar apropriado para crianças, porém eu não obedecia ninguém. Queria ficar ali, e mais uma vez fiquei sem voz. Era ele caído ao asfalto. Seu sobretudo preto não me enganava. Eu tinha certeza de que era ele. Ouvi-o pedindo para alguém tirar-lhe o capacete, pois estava machucando, mas ninguém se habilitava a fazer isto. Despistei a mulher que segurava e corri para perto dele, agachei-me e ele virou-se para mim.

Aquelas palavras não saíram jamais da minha cabeça.

- Ah, você esta aqui! – disse ele com uma voz fraca e cansada. – Quero que me faça um grande favor se puder. Tire meu capacete, esta me machucando muito!

As pessoas correram para tirar-me de perto, mas um senhor gritou para deixar nós dois conversar. Todos começaram a se afastar e eu coloquei as mãos sobre seu capacete. Meu coração parecia que iria explodir de tão forte que batia. Minhas lágrimas não se contiveram e o choro veio à tona. Tirei seu capacete e vi seus olhos cheios de lagrimas, iguais aos meus. Mais uma vez ele falou comigo.

- Obrigado, menina! – continuou ele. – Meu nome é Bill, se quer saber. Você deve ser muito especial, pois há tempos eu não sorria. Você virou minha palhaçinha com suas caras e bocas de choro, e até mesmo quando sorria me fazia achar graça. Tinha prazer de ver você passar por lá, mas tinha que acontecer isso para eu poder falar com você?

- Você vai ficar bem, Bill! – disse eu em prantos para o garoto. – Meu nome é Anie se quer saber. Também gosto de te ver sorrir, por favor, não vá embora!

- Eu não vou, se você quiser. – respondeu ele. – Queria ver você crescer, e depois que fizesse dezoito anos, iria convidá-la para andar em minha moto. Eu já fiz dezoito sabia? E isso já faz dois anos.

Enquanto conversávamos, a sirene da ambulância chegava cada vez mais perto. Minha professora me pegou pelo braço e foi me tirando de perto dele. Seu rosto estava machucado, e suas pernas estavam bastante ensangüentadas. Nada disso me assustou, muito pelo contrario, me fez ter forças para consolá-lo diante de sua situação triste. Fui caminhando junto da professora, mas meus olhos não desviavam dele. Era mais forte que eu e não podia deixá-lo me olhando sozinho. Deveria retribuir a gentileza do sorriso de todos os dias. Ele me alegrava como ninguém, por mais que ouvisse sua voz por apenas aquele momento. No ultimo instante em que ainda conseguia vê-lo, mais uma vez seu sorriso aliviou meu coração. Depois disso a ambulância chegou e os carros da policia taparam o resto de visão que eu ainda tinha dele. Mas o que aconteceu com a gente? Isso eu não poderia responder. Talvez nunca pudesse responder.


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