Abri os olhos.

            Havia um barulho muito alto lá fora, parecia ter uma multidão em meu vilarejo. Levantei-me e puxei um pouco o lençol que servia de cortina, havia praticamente um exercito lá fora. Eram todos vampiros e a cidade parecia estar em pânico, claro que esse exercito não estava nos atacando, estavam todos parados montando nos arredores do vilarejo várias barracas de lona. Olhei lá fora e minha mãe estava conversando com Thomas que estava bastante preocupado.

            Desci ainda com minha camisola branca, passei por toda a casa e não havia ninguém, saí e vi as dimensões do exercito, era realmente imenso. Olhei para o lado direito e tinha um estranho vampiro, seus longos cabelos negros esvoaçavam ao vento, tinha olhos azuis claros que mais pareciam diamantes bem lapidados, sua musculatura forte estava coberta por roupas pretas extremamente volumosas dando-lhe um aspecto bruto e delicado ao mesmo tempo, sua pele era bem clara e parecia ser feito de vidro de tão delicado.

            Ele tinha gestos fortes e ainda sim era delicado, extremamente contraditório. Ao lado dele estava Jensen, estavam conversando calmamente. Fui caminhando ate Jensen, quando ele me viu arregalou os olhos, automaticamente o vampiro de cabelos negros se virou também.

            ─ Jen... O que esta havendo? ─ perguntei aproximando-me dele.

            ─ Claire vá para dentro! ─ disse ele já me puxando pelo braço novamente.

            ─ Larga-me, o que esta havendo? Quem é você? E porque estão fazendo de quartel general meu vilarejo?! ─ perguntei para o vampiro.

            ─ Jensen acalma-te, meu exercito não tocará nela. ─ disse o vampiro tocando no ombro de Jensen. ─ Chamo-me Derron, e a senhorita... Ou senhora? ─ perguntou em duvida.

            ─ Senhorita ainda. ─ disse me livrando do puxão de Jensen. ─ Chamo-me Claire.

            ─ Bom, sua cidade é bem próxima as fronteiras com Owen, não estamos aqui para fazer de cede militar, mas sim para defendê-los de qualquer ataque que ocasionalmente venha a ocorrer. Não há motivo de pânico, esta tudo bem. ─ disse Derron sorrindo, agora podia ver seus dentes caninos afiados.

            Olhei hipnotizada.

            ─ Todos vocês são vampiros...? ─ perguntei ingênua.

            ─ Sim, mas não se preocupe, estamos todos bem alimentados. ─ disse Derron gentil.

            Olhei desconfiada.

            Para todos os lugares onde se olhava havia novos rostos que eu nunca tinha visto nem imaginava um dia ver. Jensen olhou para mim com seu rosto desconfiado, ele realmente tentava me proteger de todas as formas possíveis de todos os lados possíveis. Mas afinal, nossa história juntos não era curta.

            Eu e Jensen nos conhecemos desde que eu me entendo por gente, quando eu nasci ele já tinha nove anos, minha mãe conta que desde que eu sou pequena ele sempre foi encantado comigo, ela diz que quando eu era pequena ele cuidava de mim e me levava para todos os lados. Aos meus quatro anos ele já tinha treze e a partir daí me lembro do que acontecia. Saiamos juntos para caçar, ele sempre cuidava de mim e contava histórias legais. Então o tempo foi passando ate hoje, época em que me vejo sendo mais ou menos a futura esposa dele.

            ─ Claire, eu gostaria que você fosse para dentro, não quero te ver assim no meio dessa multidão. ─ disse ele calmo.

            ─ Jen quero ficar um pouco aqui.

            Então ouvi uma leve risadinha de Derron.

            ─ Ela é sua prometida? ─ perguntou Derron para Jensen rindo.

            ─ Mais ou menos, acho que para nós pobres esse negocio de prometida e prometido não funcionam. Mas que eu já a pedi em casamento já pedi.

            ─ Boa sorte companheiro, sua futura esposa tem uma beleza divina mas não parece te respeitar. ─ disse Derron.

            ─ Eu respeito, só não sou submissa a ninguém. ─ eu falei impetuosa.

            ─ Assim uma mulher deve ser. ─ concluiu Derron sorrindo.

            ─ O que não significa que não possa ouvir o homem que te ama quando ele tenta fazer algo para sua segurança. ─ disse Jensen olhando irritado para mim.

            ─ Não vou entrar, vou procurar Ártemis. Ate mais Jen. ─ disse balançando a mão.

            Ele olhou inconformado. Era sempre assim.

            Eu e Jensen nos amávamos, mas sempre brigávamos pelo ciúme dele, sei que o amor sempre tem que ter um pouco de ciúme, mas o dele era exagerado e as vezes me sufocava.

            Ártemis provavelmente estava na taberna servindo bebida para os novos clientes. Olhei para mim mesma, não podia entrar numa taberna cheia de homens com uma camisola. Dei a meia volta e fui me trocar.

            Logo vesti um vestido simples azul e sai, quando cheguei a taberna estava mais cheia do que imaginava. Entrei me esgueirando entre toda aquela gente e vi Ártemis servindo a bebida. Andei ate ela e ela me olhou como seu eu fosse a salvadora da terra.

            ─ Ahhh que bom que veio, estava morrendo aqui. Venha, ajuda-me. ─ ordenou ela me puxando para trás do balcão. ─ Nunca vi esse lugar tão lotado, eu nem sabia que vampiros bebiam!!!

            ─ Ah! Ah! Ah! Hoje o vilarejo inteirinho esta assim, acho que vampiros bebem sim... ─ conclui.

            Ela olhou sorridente. Ártemis era linda, tinha olhos verdes brilhantes e um cabelo loiro platinado tão longo que batia no joelho, parecia um deusa, era branca como a neve e sempre estava com um corado saudável. Ela sempre era cortejada por todos os homens que eu conhecia, ate mesmo Jensen já havia cortejado-a.

            Minha irmã era perfeita, era bela, caçava muito bem, lutava e era amada por todos. Clássico de irmãs mais velhas.

            Comecei a servir as bebidas com ela, a todo minuto um novo alguém chegava pedindo mais daquela cerveja horrível que serviam na taberna. Essa era a única taberna do vilarejo, o dono era Loren um homem na faixa dos cinqüenta anos, dizem que ele começou a trabalhar lá para o antigo dono, senhor James Wilson, seu pai.

            Olhei para a porta e Derron adentrava calmamente.

            ─ Viu aquele vampiro? ─ perguntou Ártemis olhando-me com seus olhos brilhantes.

            ─ Sim ele é lindo, mas é um vampiro mana. ─ falei. Quando a olhei novamente parecia ter jogado um balde de água na cabeça dela, seu sorriso de dissolveu em um olhar de dúvida.

            ─ É, acho que estou sonhando de mais, mas que vampiros são bonitos são. Ele é um general né?

            ─ Não sei, agora cala a boca que ele esta chegando! ─ falei discretamente.

            Logo ele chegou e se encostou-se ao balcão.

            ─ Olá senhorita Claire. Dê-me um copo desta cerveja. ─ falou Derron sorrindo.

            ─ Sim senhor. ─ então fui encher o copo mal lavado no qual a cerveja seria entregue. Enquanto estava lá vi uma leve troca de olhares entre Ártemis e ele. ─ Aqui está. ─ trouxe o copo cheio quebrando o clima entre eles dois. ─ Então, o senhor é um general?

            ─ Sim... Sou um dos dois grandes generais do império Noelleano.

            Arregalei os olhos. ─ Quem são os outros?

            ─ Ah, Eu, Junnye e Noah o príncipe do guarda real.  O exercito de Noah esta defendendo o castelo, o de Junnye cerca uma parte do império e eu o outro. Só que dessa vez Edward me mandou ficar bem escondidinho... Parece que essa guerra não vai ser só mais uma.

            ─ E por que deve ouvir as cegas esse Edward...? ─ perguntou Ártemis.

            Derron deu um gole na cerveja.

            ─ Porque Edward tem mais de dezessete mil anos, é o vampiro mais velho que conheço.

            Eu e Ártemis arregalamos os olhos.

            ─ DEZESSETE MIL ANOS?!!!! ─ perguntamos as duas em uníssono.

            Ele olhou sorrindo.

            ─ Sim.

            ─ E você quantos tem? ─ perguntei curiosa.

            ─ Quinze mil.

            Ártemis quase caiu e eu olhei muda. Era impressionante.

            ─ Uau, isso é muito, imagino quantas coisas já aconteceram enquanto você vivia, quantas guerras se foram, quantas coisas mudaram, quantas coisas novas boas e ruins você já viu acontecer. É... Extraordinário... ─ falei encantada.

            ─ Sim é, mas só quando você só tem amigos imortais como você, quando fui transformado fui obrigado a ver a mulher que eu amava envelhecer e morrer como humana, vi amigos humanos irem... Foi difícil, mas depois que todos que eu conhecia passaram a ser só vampiros acabei me acostumando. ─ falou ele colocando o copo de cerveja vazio no balcão. Seu olhar se perdeu rapidamente.

            ─ E... Você já encontrou outro amor? ─ perguntei me firmando no balcão.

            ─ Já, mas ele me renegou, e já tive outros... Atualmente prefiro manter relações casuais apenas. ─ disse ele sorrindo. ─ Mas vamos mudar de assunto. Ela é sua irmã? ─ ele perguntou apontando para Ártemis.

            ─ Sim... ─ respondi.

            ─ Vocês não se parecem. Ela é muito mais clara que você e ate cheguei a pensar que fosse vampira. Vocês são de uma família muito graciosa na verdade, conheço poucas famílias com integrantes tão delicados assim.

            ─ Pergunto-te agora, por que a maioria dos vampiros parecem ser feitos de vidro?

            ─ Ahhh, faz parte dos detalhes, um bom caçador tem que parecer inofensivo e delicado, saiba que os vampiros mais delicados são os piores. ─ disse ele com uma piscadela.

            Parei e olhei, ele devia ser um dos piores do grupo dele, pois era muito delicado e de uma beleza estonteante. Será que os vampiros eram sempre assim...? Tanto faz.

            ─ Tenho que trabalhar. ─ conclui.

            ─ Vai lá. ─ então ele me deu uma moeda de bronze como pagamento e se foi.

            Voltei ao trabalho, aquela tarde seria cheia.

            Quando fui dispensada da taberna já era noite. Saí e Jensen simplesmente apareceu no nada.

            ─ Vim te buscar, fiquei preocupado... Com esse bando de vampiros por ai fiquei desconfiado.

            Dei uma risadinha, era legal ele se preocupar comigo, mas às vezes isso cansava. Segui em silêncio. Então para minha surpresa ele de repente parou também me parando.

            ─ Claire... O que esta havendo? De uns tempos pra cá seu modo de agir comigo mudou... Por que esta tão fria quando sabe que eu te amo? ─ ele perguntou olhando nos meus olhos e parecendo ver ate minha alma.

            ─ Não mudei... Só estou com medo...

            ─ De se casar comigo? Sabe que eu serei o homem mais fiel e dedicado a você neste mundo. Te amo mais do que a qualquer coisa neste mundo...

            Neste momento vi lágrimas se formando em seus olhos.

            ─ Nãooo!!! Chorar não é coisa de macho. Vem cá, tem algo errado com você, nunca te vi assim, nunca te vi se magoar com algo que fiz, e olha que já fiz muitas coisas deselegantes e desagradáveis a você.

            Ele parou se encostando a uma casa.

            ─ Te amo muito Claire, e... E minha mãe e sua mãe também queriam que eu pedisse a mão de Ártemis, coisa que não fiz por te amar alem de qualquer outra mulher. E nesse momento não consigo ver a sua retribuição. Meus pais estavam muito animados com a proposta de teu pai David, eu recusei por querer você, esperei um bom tempo por você, mas agora... Agora você me trata como um ninguém, mesmo sabendo do quanto te amo.

            Aproximei-me dele encostando meu corpo ao seu.

            ─ Tenho medo de não ser boa o suficiente. ─ disse abaixando a cabeça e ao mesmo tempo encostando-a em seu peitoral. ─ Jensen... Você sabe que eu sempre fui fissionada em você, queria desde sempre estar ao seu lado... Mas me vejo confusa nesse momento... Você acabou de pedir minha mão e uma guerra acabou de começar e do nada eu tenho que tentar te tratar igual. Estou nervosa caramba! ─ falei soltando uma lágrima.

            Ele levantou meu rosto dando um leve beijo em meus lábios.

            ─ Me desculpa... Talvez eu também esteja nervoso com tudo que vem acontecendo... Mas meu amor, prometa-me uma coisa?

            ─ Depende. ─ respondi baixinho.

            ─ Quando eu falar pra você se esconder, se esconda. Eu não te contei uma coisa... ─ seu olhar se perdeu no horizonte. ─ Derron chamou-me para entrar no exercito, disse que eu sou um guerreiro exemplar e que adoraria ter-me junto a ele no exercito.

            Arregalei os olhos. ─ Não!!! Não, já basta meu pai vivendo nessa vida, fique comigo. ─ disse suspirando descompassadamente.

            ─ Claire, Claire! ─ disse ele me segurando tentando me acalmar. ─ Vou ficar bem.

            Comecei a chorar.

            ─ E se não ficar?

            ─ Eu vou.

            Então ele me envolveu em mais um beijo, dessa vez mais intenso e apaixonado. Acalmei-me e me deixei levar pelo balanço dele.

            Então nossas bocas se afastaram novamente. ─ Venha, vou te deixar em casa. ─ disse ele pegando minha mão delicadamente desta vez.

            Então ele me deixou na porta, com um sorriso deixou-me na porta novamente, aquela noite seria difícil.