Melanie estava enterrada na cama com um pote de sorvete de baunilha pela metade sobre o peito e um pote de sorvete de morango quase seco ao seu lado. Ela estava realmente triste.

Pedro acabara de publicar um novo post no The Squitcher. O silêncio de Melanie fora bastante útil para que ele fizesse o post com calma como antes, mas ao mesmo tempo sentia a tristeza da colega de quarto e não gostava disso.

Ele fechou o The Squitcher e abriu o blog dela, o Melanina. Procurou o post em que declarava guerra contra o Finger Point e viu os comentários. Havia mais de 300.

- Olha Melanie! Tem várias pessoas aqui no seu blog apoiando sua guerra contra o The Pointer! Isso é incrível!

Melanie não respondeu.

- Melanie, - Disse Pedro - nós blogueiros ficamos extasiados quando deixam comentários nos nossos posts, quanto mais trezentos posts em menos de cinco dias!

- Veja o Finger Point... – Disse Melanie sem ânimo.

Sem questionar, Pedro abriu uma nova guia e abriu o blog infame. Havia 500 comentários no post em que o The Pointer aceitava a guerra contra Melanie. Eram todos comentários anônimos dizendo que ele deveria continuar contando os podres dos alunos da faculdade.

- Sendo anônimos, eles podem apoiar as ações do The Pointer sem se comprometer com nada... – Disse Melanie, triste – Covardes...

- Ei! Tem uma aqui que não comentou anonimamente! – Disse Pedro.

- Raíssa Xavier, terceiro período de direito... Ela apoia o The Pointer publicamente e curiosamente também está na lista de suspeitos... – Melanie colocou mais uma colher de sorvete de baunilha na boca, pegando logo em seguida uma porção de sorvete de morango.

- Qual é Melanie? Até quando você vai ficar assim? O que aconteceu de tão ruim ontem? – Perguntou Pedro. Melanie não contara a ninguém o acontecido com as veteranas de medicina.

- Nem Jade e nem Agatha são o The Pointer...

- Elas só são as primeiras investigadas! – Exclamou Pedro – Ainda existem muito mais alunas para investigar! Você errou dessa vez, mas pode acertar na próxima!

- Mas eu tinha quase certeza! Certeza absoluta!

- O que deu errado?

- Só uma coisa estava errada: simplesmente elas não são o The Pointer... Enquanto eu estava vigiando-as, um novo post fora publicado...

O telefone convencional do apartamento tocou, Melanie atendeu:

- Alô? – Disse a garota

Silêncio.

- Foda-se Oliver! – Melanie bateu o telefone com força.

- Afinal, o que aconteceu entre você e Oliver? – Perguntou Pedro.

- Aquele filho da p... – Disse Melanie triste – Ele colocou vodka no meu sorvete e disse que era um novo sabor exótico... E eu... Fiquei bêbada...

Pedro não conseguiu segurar a risada. Um travesseiro voou e acertou-o em cheio, ele tentou não rir mais.

- Não ri ok? Sorvete é sagrado pra mim! Mexeu com meu sorvete é morte na certa! – Disse Melanie irritada – Eu me entupi com o maldito sorvete e não me lembro de quando apaguei... No dia seguinte eu acordei no chão só de sutiã e short!

- Que história bizarra! – Disse Pedro.

- Que seja! Eu vou tirar um cochilo agora, não me perturba! – Disse Melanie cobrindo a cabeça com outro travesseiro.

- Quer que eu guarde os potes de sorvete?

- NÃO!

...

Na faculdade, a vida continuava a seguir seu curso monótono. Na área principal do campus, os posts do Finger Point inundavam as telas dos notebooks dos alunos.

Melanie e Pedro sentaram-se em seus lugares de costume, Dalila já estava lá como sempre, esperando-os tendo a homepage do The Squitcher na tela de seu notebook.

- Oi Pedro! Oi Melanie! – Disse Dalila, animada – Vocês já viram o novo post do The Squitcher?

- Eu não gosto muito dessas coisas... – Disse Pedro, sentando-se em sua carteira.

- Eu achei genial, como todos os outros. – Disse Melanie, ainda cabisbaixa, jogando-se na carteira ao lado de Pedro – A maneira como ele fala sobre a estupidez humana... Nós nos sentimos estúpidos também! Ele é um gênio, definitivamente um gênio...

Pedro não pôde deixar de ficar vermelho. Dalila não sabia que ele era o Squitch, mas Melanie sabia, e obviamente aquele elogio era para ele.

- Eu imagino como deve ser o Squitch na vida real... – Disse Dalila – Ele deve ser algum tipo de doutor ricaço e tal...

Melanie gargalhou alto e disse:

- Eu acho que ele é só um idiota qualquer! Pode ser um gênio, mas no fim ele deve ser um Zé ninguém como qualquer um de nós...

“Valeu, Melanie”! Pensou Pedro quieto em seu canto. Obviamente fora uma indireta para ele.

Após esse comentário, Melanie afundou mais em sua carteira e voltou a sua depressão. Pedro já estava cansado disso, então ele levantou-se e tocou no ombro de Dalila.

Por um instante, os olhos castanho claro de Dalila chocaram-se contra os de Pedro, que ruborizou-se novamente e desviou o olhar. Dalila riu.

- Você é engraçado, Pedro! – Disse Dalila.

- Er... Eu queria falar com você... lá fora...

- Tá ok! – Disse Dalila levantando-se da carteira.

- Por favor, traga seu notebook! – Pediu Pedro.

Dalila achou o pedido estranho, mas consentiu.

Os dois dirigiram-se para fora da sala, seguiram pelos mesmos corredores estreito onde Melanie roubou a bolsa de Pedro. Chegando do lado de fora do prédio, Pedro contou tudo sobre Melanie a Dalila.

...

- Então a Melanie está depressiva? – Exclamou Dalila.

Pedro olhava para um lado e outro, esperando que ninguém estivesse os vendo.

- Isso! E parece que foi porque ela descobriu que as meninas de medicina não são o The Pointer! – Disse Pedro.

- Só por isso? Mas elas foram só as primeiras suspeitas!

- Eu queria... meio que... ajudar vocês duas! Talvez assim a Melanie saia dessa fossa! – Disse Pedro.

- Own que fofinho! – Exclamou Dalila, deixando Pedro envergonhado de novo.

- Por isso que eu pedi que você trouxesse o notebook! Eu quero saber quem são os próximos suspeitos!

- Ok! – Dalila abriu o notebook e imediatamente abriu a pasta “Caso Tanuki” – Aqui estão, as seis suspeitas restantes!

Pedro pôs o notebook sobre o seu colo e observou a lista de nomes.

Adriana Veloso

Anne Passos

Helenna Brás

Luana Carvalho

Raíssa Xavier

- Essa tal de Raíssa... – Disse Pedro – Não foi ela que comentou no Finger Point apoiando o blog?

- Isso mesmo, ela não possui contas em redes sociais, apenas uma conta de e-mail. – Disse Dalila.

- Mais alguma coisa que eu deva saber?

- Bem, as quatro garotas restantes são amigas, uma espécie de grupinho desde quando elas entraram na faculdade. Raíssa é o oposto, não possui amigos e é um gênio!

- Gênio, por quê?

Dalila tomou o notebook para si, rapidamente abriu uma página de internet que estava salva em uma pasta à parte e mostrou para Pedro.

- Quantos alunos você conhece que dão aulas e palestras na mesma faculdade em que estuda?

Na página havia uma espécie de homenagem a Raíssa, citando todas as palestras e aulas que já fizera, além de sua contribuição a diversos órgãos jurídicos.

- Interessante... – Disse Pedro – Uma garota genial pode se achar mais correta que todos, julgando assim todos os outros discentes sem remorso. E sem ter amigos, ela pode difamar qualquer um sem se arrepender depois!

- Eu havia pensado na mesma coisa! – Disse Dalila.

- Qual o nome da investigação em torno de Raíssa?

- Nós ainda não decidimos, porque ainda não começamos a investiga-la... Embora eu tenha uma sugestão...

- E qual seria?

- Djinn. É o nome árabe para os gênios mágicos como o de Aladin. Bem, Raíssa é um crânio e eu achei o nome apropriado!

- Eu não esperava que soubesse sobre os Djinni! – Disse Pedro.

- Ah! Você também gosta de mitologia?

- Na verdade eu vi isso em um RPG e depois eu fui pesquisar mais a respeito...

Pedro engoliu seco. Só agora se deu conta de que Dalila estava observando-o atentamente com seus belos olhos castanhos, imersa em suas palavras. Ele ficou vermelho e ela riu.

- Para com isso, Pedro! – Disse Dalila rindo ao dar um soco fraco em seu ombro.

- Ok! – Disse Pedro recompondo-se – Onde ela está agora?

- Veja no fim da página! – Disse Dalila.

Pedro desceu a barra de rolagem da página até o fim e leu a última linha.

(...)

Por seus méritos e desempenho na área jurídica, Raíssa Xavier fora escolhida para dar uma palestra singular no Tribunal de Justiça às 14:00. O evento é aberto ao público e à imprensa, será um prazer enorme compartilhar com todos o dom que esta garota possui.

- Às duas horas? – Exclamou Pedro – É daqui a quase meia-hora! E o Tribunal fica muito longe!

- Então nós temos que nos apressar! – Disse Dalila fechando o notebook e puxando Pedro pela mão.

Ele não ficou vermelho, mas ficou surpreso, afinal a única mulher que havia segurado sua mão fora sua mãe...

Pedro sorriu e acompanhou Dalila.