Cartas Fechadas escrita por Ana Bela


Capítulo 1
Cartas Fechadas




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Noites e mais noites em claro

A lua está cheia como sempre.

Eu descrevo meus dias.

Descrevo a minha própria dor.

Fecho os olhos.

Palavras jogadas fora.

Ninguém as verá, estão escondidas.

Bem escondidas, num lugar muito frio.

Escondidas em meu coração.

Palavras pintadas com escarlate.

Com pitadas salgadas e molhadas.

Eu quero parar.

Recomeçar.

Jogar fora mais uma tentativa frustrada.

Tentar esquecer-se do passado.

Mais uma vez.

Algo tão cansativo,

Mas para mim, meu único deleite.

Todas trancafiadas a sete chaves.

Fortes demais para serem vistas

Difíceis demais para serem compreendidas

Sujas demais para serem tocadas.

Estão todas mortas, dentro mim.

Eu posso sentir gritando dentro de mim.

Elas não querem dormir.

Estão com insônia.

Querem pular para fora de mim.

Não!

Permaneçam aqui.

Dor, angústia e tristeza.

Todas elas dentro da minha mente

Passeiam pelo meu coração.

Quebram minha alma,

Pisam no meu sangue.

Calam minhas palavras,

Motivação a lágrimas.

Feche meus olhos por completo.

Não quero acordar.

É difícil demais se manter acordado.

Estou contraditória,

Elas não querem morrer,

Mas as outras querem sair.

Enquanto umas penetram em minha alma,

Outras correm pelo meu sangue quente e brincam de formas.

Malditas palavras!

Texto imundo, sujo, vermelho.

Papel branco e limpo

Linhas negras somem,

Tudo desconexo, não chega a lugar algum.

Mais uma se encontra.

Não há para onde correr.

Permanecerá aqui

Intocável, meu santuário de dor.

Minha única fonte de dizer a mim mesma

Que já deu hora de partir.


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