Areumdawo escrita por taiminari


Capítulo 1
Capítulo 1 - Da água pro vinho




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Oi, eu sou Yuri e eu costumava ter uma vida normal e  um tanto monótona, mas um acontecimento inacreditável mudou isso.

Avenida Siongno, Seul. Naquela noite eu caminhava de volta para casa, no meio daquela multidão onde cada um também seguia seu rumo. Pessoas que eu nunca havia visto ou conversado, mas todas entre passos apertados, seguindo adiante sem titubear. Era como um labirinto humano com centenas de pessoas buscando desesperadamente a saída, mas tentando manter a classe. Em seus pés via-se o desespero, mas no resto do corpo uma postura superior para não destoar dos demais, como se ninguém estivesse apressado.  No centro daquele vai e vem parei, comecei a observar e refletir. Pessoas diferentes, com destinos diferentes, mas agindo de forma igual, como se uma fosse se preocupar com a outra apesar de não se conhecerem. Fiquei nisso por algum tempo, tentando encontrar o sentido disso, e quando já não havia mais ninguém por lá percebi que na verdade não tem sentido, damos mais importância a um olhar desconhecido do que devíamos, e mesmo sabendo que isso é inútil e sem sentido continuamos fazendo. Decidi partir, já havia gastado tempo demais dando bola a vidas alheias desconhecidas, fazendo o que eu mesma julguei sem sentido. Dei as costas e fui andando, quando cheguei ao outro lado da avenida houve uma grande explosão, foi bem no centro, mas atingiu até onde eu estava pois me levou direto ao chão. Foi uma pancada forte, mas lentamente abri os olhos, vi um homem se levantar da cratera que havia feito no chão, mas logo que ele se virou uma luz profunda surgiu, iluminava quase a avenida inteira, e não dava para enxergar mais nada além do brilho imenso.  Era tão forte que doía, parecia que a luz tinha uma energia própria que nos cercava e empurrava, em pouco tempo fiquei inconsciente.

Na manhã seguinte acordei no hospital, ainda estava meio tonta, mas percebi que não se falava outra coisa além da explosão misteriosa da noite passada. Alguns policiais vieram me interrogar, praticamente imploraram para que eu me lembrasse de cada detalhe pois eu havia sido a única a presenciar tal acontecimento. Eu me lembrava bem, contei-lhes sobre o que eu vi, quer dizer, contei sobre a luz, não sobre o homem que vi. Não era possível um homem estar no exato lugar onde ocorre uma explosão e levantar sem nenhum arranhão, além do mais luzes intensas podem incomodar e afetar-nos um pouco, fazendo com que tenhamos ilusões. Com certeza havia sido uma ilusão.

Em alguns dias já não se falava mais nesse assunto, até eu havia me esquecido. Nem me importava mais, afinal o que eu ia querer saber de uma explosão? Uma semana havia se passado, e eu voltava a minha rotina. Fui ao trabalho cedinho, como sempre. Aquela manhã foi movimentada no museu onde trabalho, mas não foi isso que me chamou a atenção. Eu estava observando as pessoas, tenho esse costume quando estou em meio a muita gente como podem ver. Numa breve olhada reparei em um homem, aquele rosto me era familiar, mas não conseguia lembrar quem era.  Fiquei com isso na cabeça, não sei por que, mas queria muito me lembrar, parecia importante. Mas interrompendo minha linha raciocínio algumas senhoras vieram comprar lembrancinhas, quando elas terminaram involuntariamente corri os olhos a procurar o homem, não estava mais no lugar de antes. Droga, não queria perdê-lo de vista. Mas logo avistei-o olhando algumas obras que ficavam expostas na parede oposta. Quando ele se virou num súbito pensamento me lembrei dele, havia feito exatamente o mesmo movimento de quando o vi pela primeira vez , era o homem da explosão. Minha mente estava confusa, como ele realmente existia? Fiquei até meio atordoada, mas quando o vi saindo resolvi ir atrás dele. Não podia deixar a chance de saber o que estava acontecendo.

Alcancei-o na fachada do museu, coloquei as mãos em seus ombros em modo de pará-lo. Quando ele se virou nossos olhares se encontraram, por um instante esqueci o que ia dizer e fiquei paralisada, era como se me envolvesse. Só saí do transe quando ele se comunicou.

- Posso ajudar?

- Desculpe ser tão direta, mas como você saiu vivo?

- Como é? – disse disfarçando

- Da explosão, eu vi você lá, vi você se levantando bem no lugar onde estava a cratera.

- Engano seu. Deve ter sido um sonho moça, após ser exposta a uma explosão pessoas podem delirar. – virou-se indo embora

- Eu pensei que tivesse sido um delírio, mas não é, você existe, está aqui. Como eu poderia ter imaginado você se nunca havia te visto? – disse num tom alto

Ele ignorou-me e continuou andando.

- Só me explique. Sei que pode ter sido traumático passar por isso e você pode não gostar de falar, mas... que tal almoçarmos e você me contar? – ele continuou ignorando, mas por via das dúvidas dei o endereço do restaurante. – Restaurante Dojii, Jimsoo Street, 459.

Quando cheguei ao restaurante me dei conta de que eu estava sendo tola e mal-educada, me intrometendo na vida de uma pessoa. Provavelmente ele  nem apareceria  mesmo, então fiz meu pedido e quando estava acabando de comer ouvi por trás de mim:

- Começou sem mim?

Virei-me para ver quem era e se era mesmo comigo, para minha surpresa era aquele homem, até me engasguei com a comida.

- Achei que não viria,  mas sente-se.

- Por que? –disse ao sentar-se

- Oras, você me deu as costas e nem me respondeu.

- Mas te ouvi.

- O que vai pedir? – fiquei sem jeito e tentei mudar de assunto.

- Que diga o quer me dizer. – disse como se minha pergunta fosse óbvia

- Quis dizer o que vai pedir pra comer. – ri

- Ah...nada, não tenho fome.

- Então tá, vamos direto ao ponto.

- Comece a perguntar.

- Primeiro,  seu nome?

- Donghae e o seu?

- Sou Yuri. Por que veio?

- Porque não conheço ninguém daqui, e você me parece confiável.

- Você é estranho. – ri – O que aconteceu com você na explosão?

- Posso confiar em você?

- Oras, você mesmo disse que pareço confiável.

- Disse que parece, não disse que tenho certeza.

- Pode confiar sim. – disse impaciente

- Você não mente.

- Não.

- Não foi uma pergunta, foi uma afirmação.

- Ah...ok.

- Acho que aqui não é apropriado para te dizer a verdade. Não é seguro falar com pessoas por perto.

- Ahn? Você por um acaso é algum tipo de terrorista?

- Claro que não, não sou mal.

- Vai saber.

- Você sabe que não sou mal, se não já teria fugido. – ele parecia saber ler mentes, dizia com muita certeza.

-De algum jeito consigo confiar em você, não sei por quê.

- Preciso de um lugar para ficar, você sabe de algum? –mudou de assunto repentinamente.

- Tem vários hotéis por aqui, o Seoul Pallace é muito bom.

- É que não tenho dinheiro.

- Como pretende viver assim? Por que veio pra cá sem dinheiro ou sei lá, gastou-o? Deixa pra lá, pode passar essa noite na minha casa, no sofá claro. Só essa noite, depois trate de conseguir algum lugar.

- Obrigado, muito obrigado, não abusarei de sua hospitalidade.

- Vá pra lá e me espere, quando acabar meu expediente te encontro lá.

Havia acabado de dar a chave de casa e um bilhete com o endereço para um estranho. Loucura. Porém não conseguia sentir arrependimento, ele me inspirava mais confiança que qualquer conhecido. Eu acreditava nele.

Quando cheguei em casa ele estava sentado no sofá, tão sereno, tão belo que parei por uns segundos para contemplá-lo, depois entrei.

- Ei, por que não ligou a TV pra passar o tempo.

- O que? – dizia como se realmente não soubesse o que era uma TV.

- A televisão. – peguei o controle e liguei a TV, ele ficou deslumbrado, parecia que eu tinha feito mágica.

- Já se instalou.

- Acho que sim.

- Onde colocou suas coisas?

- Bom, tudo que tenho está no meu corpo agora.

- Meu Deus, de onde você veio? – ironizei – Quer algo pra comer?

- Não tenho fome.

- Tô começando a achar que você nunca tem fome. –resmunguei 

Comi e mandei-o ficar a vontade enquanto eu subia e tomava banho. Depois do banho, me vesti e desci. Donghae estava brincando com o controle remoto, como uma criança que vê algo pela primeira vez e quer experimentar.

- O que está fazendo? –ri

- Vendo TV. – dizia fixado na TV

- Ei, só estamos nós dois – não pensem besteira – aqui você pode me falar o que houve. – peguei o controle da mão dele e desliguei a TV.

- Não vou te falar. Acho que se eu mostrar será mais fácil de entender. Não se assuste.

Olhei-o com muita curiosidade esperando o que ele ia me mostrar, de repente algo foi surgindo nas costas dele e cada vez crescendo mais. Fiquei boquiaberta quando percebi que eram asas.

- Acho que aquela luz me afetou muito, estou delirando até agora.

- Por favor acredite no que vê.

- Como pode ser? – disse esfregando os olhos

- Como sua raça existe, existe a minha também.

- Você é um anjo?

- Sim, e a explosão foi quando desci do céu pra Terra.

- E por quê? O céu não é pra ser um lugar bom? Ainda mais comparado a Terra.

- Humanos acreditam que o céu ainda é o paraíso ou nem acreditam que o céu exista não é? Estão errados de qualquer maneira. As coisas no céu vem mudando há algum tempo, não é mais tão pacifico. As coisas estão ficando digamos que perigosas.

- E Deus não pode fazer nada quanto a isso?

- Não sabemos onde está Deus. Desde que ele sumiu que as coisas vêem piorando. Os anjos estão querendo mandar enquanto ele não está, mas não é certo. E isso traz um grande perigo a humanidade, por isso estou aqui.

- Como assim?

- Vou explicar-lhe melhor. Um grupo de anjos persuadiu os outros de que os humanos são perda de tempo, criaturas que erram e fazem mal por isso não precisam existir. Esses anjos tomaram conta do céu e hoje são os anjos supremos, eles ditam as regras. Querem destruir a raça humana, e quem vai contra eles é obrigado a descer do céu e não voltar mais, são considerados anjos caídos e seus poderes são bastante diminuídos.

- Então você é um anjo caído?

- Não, eu sou contra exterminarem os humanos, mas eles não sabem. Desci para a Terra para ajudar, vou encontrar anjos caídos para ajudarem-me a combatê-los.

- Mas de que vai adiantar se não tem poderes o suficiente?

- Eles ainda terão asas, voar e o restante de seus poderes já ajuda. Mas há um jeito de recuperar os poderes. Joon, o primeiro anjo a ir contra os anjos supremos e ser expulso do céu conseguiu e quase destruiu-os, mas infelizmente o mataram. Joon era temido no céu, vou descobrir como ele fez para conseguir seus poderes de volta.

- No que eu puder ajudar, pode contar comigo.

- Obrigado, você está sendo muito legal. Confiou em mim e não me tratou como aberração, agradeço.

Nem consegui dormir naquela noite, minha ficha ainda não tinha caído, havia um anjo em minha casa. No outro dia quando acordei e desci vi Donghae abrindo a porta para sair. Quando ele me viu disse:

- Obrigado pela hospedagem, agora irei procurar um lugar para ficar. –despediu-se

- Donghae não precisa ir.

- Mas você disse que eu só poderia ficar ontem.

- Mas é que eu ainda não sabia da sua situação completamente. E eu tenho um sótão onde você pode se ajeitar, ele não é lotado de coisas ou de teias de aranha como a maioria dos sótãos e muito menos é assustador.

- Sério? – abraçou-me. – Muito obrigado.

- Me acompanha no café-da-manhã?

- Não tenho fome.

- Apenas me faça companhia então.

- OK.

Nos sentamos a mesa.

- Você nunca tem fome, não é?

- Anjos não comem.

Conversamos muito e eu até fiquei de ajudar Donghae a procurar o endereço de alguns anjos caídos. Não pensei que fosse tão difícil, ele havia me dado nomes e codinomes, mas nenhum tinha um endereço fixo ou correspondente. Mas depois de muito esforço encontrei um.  Fui ao sótão informar Donghae. Ele havia deixado o sótão bem confortável, me surpreendi.

- Donghae, encontrei um tal de Young Won. Os outros nem sinal.

- Justo Young Won. –disse decepcionado

- Desculpe, foi o único que deu pra encontrar. Mas o que há de errado com ele?

- Não se desculpe. Young Won é meio trapaceiro, nem se sabe o que ele aprontou pra ter sido expulso do céu, mas deve ter sido muito ruim pra ter sido do modo que foi, nunca vi um anjo ser tão escurrassado  como ele foi. Mas ele servirá, só acho que vai ser difícil aceitar me ajudar.

Na tarde do dia seguinte quando fui procurar por Donghae encontrei as janelas abertas e um bilhete que dizia “Fui procurar Young Won, talvez volte acompanhado dele. Não sei se demoro.” Young Won vivia em Busan, era longe mas Donghae voava então não me preocupei.

Quando Donghae chegou ao mercado de Busan começou a procurar pela multidão. Young Won sempre estava por lá tentando se dar bem. Donghae já estava cansado de esperar quando alguém pegou-lhe pelo braço para oferecer algo. Quando ele se virou era Young Won, os dois ficaram surpresos mas Young Won muito mais. Young Won logo tratou de dar as costas e ir embora, não achava que boa coisa seria. Donghae foi atrás dele. Quando chegaram em frente ao barraco onde Young Won  estava ficando, e ele viu que Donghae ainda estava atrás dele disse:

- Vá embora, não tem nada que eu possa fazer por você.

-Eu não vou até você me escutar, quero fazer um acordo.

-Acordo? Não tem nada haver com o céu né?

- Não é nada vindo deles.

- Entre e conversamos sobre isso.

Os dois entraram e se acomodaram no pequeno espaço.

- Young, preciso de sua ajuda, está chegando mais perto o dia de da destruição dos humanos, temos que impedir, você é um dos poucos que pode me ajudar. Posso dar-lhe o que quiser em troca.

- Nem pensar, por nada desse mundo faço isso. Sabe que é loucura, não temos a menor chance.

- Você será destruído também se não lutar, esqueceu que vive junto dos humanos? A Terra será destruída.

- É como escolher entre morrer agora ou morrer depois. Escolho morrer depois. Vá embora.

Young Won expulsou Donghae que voltou para casa. Quando Donghae chegou estava exausto, deitou em sua cama no sótão como se nunca mais quisesse sair dela. Ele era tão bonito dormindo, era como a imagem da pureza mais pura que existia, eu adorava ficar observando-o e quando me dava conta o tempo já havia passado.

Amanheceu, era domingo, eu estava prestigiando o dia quando minha campainha tocou. Era um moço de boa aparência, procurava por Donghae. Eu não o conhecia, mas deveria ser de confiança já que conhecia Hae. Donghae demorou a acordar naquele dia. Fui ao sótão ver se estava acordado e permaneci lá vendo ele dormir,  acabei ficando até ele abrir os olhos.

- Bom dia. – disse ainda sonolento ao me ver.

- Bom dia. – sorri – Tenho algo pra você, espere aí.

Quando voltei ao sótão fui apresentar-lhe a surpresa:

- Donghae, tem alguém aqui que quer te ver. –abri caminho para que o moço pudesse entrar.

- Junho! – disse surpreso, de tão sonolento que estava acabou acordando de vez de tão inacreditável que a presença daquele rapaz parecia para ele.


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