Ocaso Sereno escrita por tadeubuzzi
Notas iniciais do capítulo
Pode ter ficado um pouco corrido, mas é porque o projeto original tinham seis capítulos, que eu compactei aqui, entao, e tiver uma boa aceitação do povo, talvez eu poste a fic na íntegra!
A história que vos conto hoje, amigos, tinha tudo para ser um conto de fadas. Tudo a conduzia para que fosse a mais bela história de amor já vivida no planeta Terra. E seria, caso não envolvesse muito mais do que seres humanos...
Do alto dos céus, existe um Ser que guia a existência de tudo e de todos. Um poder que é maior do que qualquer outro que existiu, existe ou virá a existir em qualquer esfera planar de qualquer dimensão, imaginária ou não. As pessoas costumam dar a essa força o nome de Deus. Algo tão grandioso e perfeito, que jamais erra... Afinal: “Deus escreve certo por linhas tortas”.
Para auxiliá-lo na manutenção de toda sua obra, Deus lançou mão de ajudantes, chamados de anjos. Seres completamente fiéis, que foram criados para servi-lo, e assim agirão, até o fim de sua existência. Mas há quem diga, que quando se vive no mundo terreno, em meio aos humanos, um anjo pode ficar tentado pelo livre-arbítrio que Deus nos deu. Um anjo não pode escolher o seu destino. Mas nós podemos. E mais do que isso, um anjo vive apenas para servir e amar ao Criador... Mas o que aconteceria se um anjo se apaixonasse por uma mortal? Seria o início de uma batalha invencível, que eu lhes apresento:
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Onze horas da noite de sexta-feira. Abel senta-se no sofá com sua caneca de chocolate quente enquanto ouve algumas notícias em sua TV. Dá a primeira golada... a segunda... quando aproximava a bebida da boca pela terceira vez, sentiu uma brisa gélida cortando o ar, e sabia que aquilo não era bom.
Abel era um redentor. Anjos enviados para andar entre os humanos e evitar que toda sorte de injustiças ocorram conosco. Saiu de casa e foi andando pela rua, a passos graciosamente rápidos, parando ao chegar na entrada de um beco, onde uma garota havia sido cercada por quatro homens, armados com pedaços de madeira e ferro.
- Socorro! – Gritou a garota, desesperada – Me ajude, por favor!
Abel sussurrou umas palavras e a garota caiu desacordada. Poucos segundos depois ela abriu os olhos e o homem a quem pediu socorro continuava lá, de pé na entrada do beco... mas não havia mais sinal algum dos bandidos. O anjo se virou e começou a caminhar vagarosamente no caminho de casa, pensando se àquela altura sua bebida já estaria fria, quando de repente, algo inesperado aconteceu.
Abel sabia que devia evitar o contato direto com os humanos a qualquer custo. Anjos são bonecos criados por Deus para O servir. Já os humanos são seres com o sopro da vida e, o mais impressionante, uma alma.
Então, antes que pudesse se dar conta, a mulher que acabara de salvar abraçou-o pelas costas e, aos prantos começou a agradecer de todas as formas. Nada mais foi preciso. Ao sentir o calor, a energia que aquele corpo emanava quando encontrava com sua pele gélida. Sentir o hálito de vida emanando de dentro dela... sentir aquelas lágrimas gotejando em seu corpo... foi demais para Abel... o contato revelara para ele uma série de sentimentos aos quais os anjos nunca foram apresentados, tais como tristeza, medo, ódio e, PRINCIPALMENTE, amor.
A garota soltou Abel, que se virou rapidamente, atordoado pelo turbilhão de informações que recebera. Aquilo era ao mesmo tempo maravilhoso e assustador.
- Como posso agradecê-lo? – Perguntou a garota – Você salvou minha vida! – Mas Abel continuava incapaz de responder.
- Não... não foi nada... não precisa agradecer – Abel respondia sem ao menos prestar atenção no que estava falando. – Preciso ir agora – Despediu-se o anjo, temendo que aquele momento se estendesse mais do que ele seria capaz de suportar.
Voltou para casa, jogou-se outra vez no sofá e começou a reviver o que acabara de presenciar. Como o toque quente e macio da pele humana fazia-o sentir bem. Não conseguia entender o que era aquilo, mas tinha certeza de que, se seu chefe ordenou que evitasse o toque com os humanos, não seria bom se outros anjos descobrissem aquilo... deveria manter-se longe daquela mulher...
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Antes de continuar essa história que estou lhe apresentando, queria fazê-lo refletir. Imagine-se num mundo de trevas, onde tudo é negro... onde nada faz sentido algum. Até que, quando menos se espera, surge uma pessoa que ilumina seu caminho e te dá as respostas que precisa... Você deixaria essa pessoa partir, ou iria querer seguir com ela? Feita essa pequena explanação, podemos voltar à história:
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No dia seguinte, logo pela manhã, jogou-se em sua poltrona mais uma vez e pôs-se a ler um livro qualquer. Depois de pouco tempo de leitura ouviu a campainha tocando. Foi até a porta e a abriu. Se surpreendeu ao ver os olhos verdes daquela jovem mortal da noite passada olhando para ele, um sorriso nos lábios e um embrulho nas mãos.
- Oi! – disse a garota – Desculpe aparecer assim, mas segui você ontem e vi onde morava – as bochechas coradas – É que eu realmente queria agradecê-lo... trouxe uma torta para você, espero que goste!
Entraram, comeram e riram o dia inteiro. Ficaram amigos e logo marcaram para fazer algo juntos. E marcaram outra vez... A presença daquela mortal, de certa forma, balançava o anjo... ele não entendia o que era... só sabia que era errado, mas cedeu. Logo estavam juntos como um casal e ela apresentou a Abel a vida de um humano normal... e ele gostou muito. Até se deparar com o destino de todos nós. Após dois anos e meio juntos, foi descoberta uma doença na jovem que em menos de três meses veio a sugar toda sua vida e, em seu último instante, estavam apenas ele e ela num quarto de hospital. Ele de pé ao lado da cama e ela, às lágrimas, dizendo o quanto o amava e como aqueles anos foram os melhores da vida dela.
Abel sabia que não tinha permissão para impedir o curso normal da vida de uma pessoa, a menos que fosse um pecador sem salvação, o qual poderia eliminar... o que era o seu trabalho. Mas já tinha feito tantas coisas que não devia, e não podia arriscar perder a mulher que trouxe sentido à sua existência. Olhou fundo nos olhos dela e revelou todo seu segredo... detalhe por detalhe. Ela olhava, estupefata e horrorizada a tudo o que ele dizia, com total descrença. Até que ele a pegou nos braços, subiu na janela do quarto, atirou-se e, durante a queda, abriu o majestoso par de asas plumadas e voou, em direção à um monte afastado da civilização, onde deitou a mortal, pôs uma das mãos sobre sua cabeça e começou a falar algo ininteligível a nós. A mulher estava curada.
Quase instantaneamente, pode-se ouvir sons de trombetas e harpas e, do alto dos céus surgiu uma grande escada de luz que ligava a montanha às nuvens. Dela desceram seres trajando preto e com asas igualmente divinas às de Abel. Os amantes foram levados. Numa sala de julgamento, perante aquele a quem chamamos de Deus, foi colocado Abel, que não voltou a ver sua amada.
- Você violou nosso segredo. Você se uniu à uma mortal. Você usou seus poderes para alterar o curso das coisas – começou a trovejar o juiz – e com certeza sabe que não sairá impune.
- Sim, senhor – respondeu o anjo – só peço que poupem a garota... ela não tem que pagar por um erro meu.
- Ela não deveria estar sequer viva. Mas vou deixá-la como está. Mandarei a jovem de volta à Terra, mas apagarei de sua memória qualquer lembrança que possa ter sobre você, a menor que seja. Quanto à sua punição, será banido para o inferno por cinco anos, e quando voltar, será rebaixado. É minha decisão.
Sinceramente, o inferno não era nada perto da dor de separar Abel de sua amada. Queria tê-la de volta em seus braços... queria poder tocá-la novamente. Mas ainda assim achou estranho. Para qualquer anjo rebelde, a pena era o banimento definitivo ou, nos casos extremos, a destruição... e seu caso sem dúvida era extremo. Passou os cinco anos pensando no dia de voltar e poder estar novamente com sua amada... mesmo que isso o levasse para o inferno por outros muitos e muitos anos...
Terminado o prazo de sua danação, voltou à presença do juiz, que se pôs a declarar:
- Abel, agora que cumpriu seu período de banimento, poderá voltar, mas não será mais um anjo redentor. Tomo de ti teus poderes e rebaixo-te a anjo da guarda. Não tem mais poderes para tocar mortais, falar com eles, ou sequer ser visto por eles. Sua função é tão somente vigiar e abençoar aquele a quem protege. Mostrem-no a família a quem irá guardar. – E terminou o julgamento.
Abel era só felicidade. Apesar de não poder interagir com os humanos, estava na Terra, e poderia passar um tempo com sua amada quando quisesse... não poderia tocá-la, mas só a sua presença já era o suficiente para ele. Foi só então que ele percebeu o quão terrível foi a pena imposta a ele. Aquilo era muito pior do que ter sido simplesmente destruído... só então percebeu o quanto a presença daquela mortal poderia ser aterrorizante. Quando lhe foi mostrada a família a qual guardaria, lá estava ela, sem qualquer lembrança dele, com uma criança no colo e um novo homem a quem jurava amor. Sua missão? Mantê-los unidos a qualquer custo...
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