Deitado em minha cama olhava para o teto do meu quarto, esperava ansiosamente todos dormirem para descer e pegar a carta. Peguei a lanterna em cima da mesa e iluminei o relógio do meu quarto. Eram quatro da manhã. Levantei da cama e desci silenciosamente até a estante, peguei o livro e tirei de dentro dele a carta, abri ali mesmo, mas um barulho, provavelmente de algum bicho, me fez guardar o livro e subir até meu quarto com a carta. Entrei e fechei a porta, sentei na cama e desdobrei a carta.

“Caro primo,

Fico extremamente grato por responder a minha carta em tão pouco tempo e por ceder sua casa para uma visita minha.

 Peço, primo, que não mostre essa carta a ninguém, por favor. Respondendo a sua pergunta, não, eu não fui sozinho a terra de Aslam, uma garota foi comigo, seu nome é Jill. Ela é uma amiga da escola, mas isso não vem ao caso agora, pois quero contar a vocês essa história apenas quando eu estiver junto de vocês, se você quiser, eu a levo comigo quando for visitar vocês para que ela possa participar dos amigos de Nárnia (por sinal, muito boa essa ideia da Lucia).

Edmundo, semana que vem estarei ai com vocês estão me responda o mais rápido possível se ela poderá ir ou não. Estou muito ansioso para estar ai e falar com vocês, trarei muitas novidades e alguns assuntos, esses acho que você já deve ter consciência pela sua carta, que tratarei apenas com você, por isso repito que só comente alguns pontos da carta com seus irmãos e não mostre a eles a carta.

Com grande estima,

Do seu primo, Eutáquio”.

Carta curta, mas extremamente esclarecedora se você souber interpretar, ele não apenas confirmou as suspeitas minhas e de meus irmãos sobre ele ter ido sozinho ou não, mas também confirmou minhas suspeitas particulares que deixei implícita na carta, parece que ele está apaixonado e pelo que parece por essa tal de Jill.

Guardei a carta dentro de uma galocha minha que usava pouco, deitei na cama e assim que encostei a cabeça no travesseiro, fechei os olhos e sorri. Me levantei, vesti uma roupa, peguei a carta, guardei no bolso da calça e sai do quarto.

Desci até a sala e vasculhei as gavetas silenciosamente em busca de dinheiro, papel e caneta. Achei a caneta atrás do retrato de Susana, o papel eu poderia usar o verso de uma conta antiga de água. Mas o dinheiro eu não conseguia achar em lugar nenhum lugar até uma gaveta não abriu, estava trancada e eu tinha certeza que o dinheiro estava lá. Levantei-me parei e escutei, não havia nenhum som vindo do andar de cima. Eles ainda não tinham acordado. Fui até a despensa e procurei pela caixa de ferramentas do papai. Não estava lá. Por que tinha que estar tão difícil?

Subi as escadas correndo e tentando fazer o menor barulho possível, mas quando eu pisei em um degrau ele fez um baque surdo, voltei até aquele degrau, abaixei a cabeça e vi que estava um pouco solto. Tentei forçar com a mão, mas ele não levantou. Corri para a cozinha abri a primeira gaveta do armarinho e peguei uma faca grande. Voltei rapidamente até o degrau solto enfiei a faca numa pequena brecha e empurrei para cima a tabua soltou e peguei a caixa que estava dentro. Ela era antiga, de madeira e tinha alguns detalhes em ouro. Coloquei a tabua no lugar e a empurrei. Subi os degraus de novo, nem dava para perceber que estava solta. Sorri.

Corri até a cozinha e guardei a faca, sentei na banqueta e abri a caixa, havia todo o tipo de coisa lá dentro, inclusive uma chave de fenda. Ótimo, isso era tudo que eu precisava. Fechei a caixa, estudaria ela depois, agora eu tinha que terminar o que havia começado.

Fui até a gaveta trancada e desparafusei a fechadura. Ela abriu e dentro tinha cem libras. Peguei tudo, depois eu devolveria, aliais, eu não sabia quanto eu ia precisar. Fechei a gaveta e coloquei a fechadura na gaveta de novo. E parei um segundo, meu coração estava a mil, prestei atenção nos sons da casa. Ótimo, ninguém havia acordado.

Fui até a biblioteca peguei o livro preferido de Lucia e Lizie “Orgulho e Preconceito” e folhei-o até chegar na declaração de amor de Mr. Darcy e escrevi um recado. Fechei o livro e fui até a sala peguei a caneta e o papel e escrevi o seguinte texto nele “Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente”.

Peguei a chave, abri a porta da frente e sai. Não podia sair assim sem deixar um recado, mas não podia correr o risco de algum dele o encontrasse muito rápido e viesse atrás de mim, então fiz aquele enigma e com sorte eles só entenderiam tudo quando eu já estivesse no meu destino.

O sol estava raiando em Londres e eu chamava um taxi e pedia para o motorista ir até a estação.