Im Drowning... escrita por Doctor Souji


Capítulo 1
There, in the threshold...


Notas iniciais do capítulo

Betado pela aniversariante e presenteada com isto aqui.

Sem mais delongas,
Boa leitura.



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Dia fatídico...

É. Alguma coisa por aí...

Por que diabos ela não podia simplesmente gritar? Merda! Como aquilo doía!

---

- Ow!

Um quase grito fora ouvido no meio da floresta. As altas e totalmente abundantes árvores deixavam o ambiente escuro, apesar da hora não ser tão a favor disto.

Para falar a verdade, não deviam nem ser sete da manhã... Ainda sim, já havia alguma claridade lá fora.

- Merda, merda, merda!

Os sons de passos eram ouvidos junto com o barulho de algo arrastando e, ao mesmo tempo, alguém murmurando maldições e palavrões. Com certeza era a voz que havia emitido o som de dor recém executado, mas agora parecia se locomover pelo chão...

- E mesmo depois de toda aquela conversa afiada de "Nunca vou te abandonar meu amor, blá blá blá," ele simplesmente ME ABANDONA... UURGH!

E com as últimas palavras proferidas da boca do-que-fosse-que-falava, um som se acompanhou logo após, dando a entender que alguma coisa fora chutada.

- AAH! BOSTA!! INFERNOS!!! MERDA!!!!

... Talvez a dor se alastrou novamente no corpo do ser; caham.

---

Algo estava errado naquele instante. Jurava que tinha todos em seu encalço até realmente olhar para trás e notar que... Bem... Não estava sendo realmente seguido por ninguém.

- Opa.

Quando não percebeu que perdeu todos eles NO MEIO DA FLORESTA?! Merda! Ele teria muitos problemas com o ancião se simplesmente deixasse as crianças vagando pelo meio selvagem sem proteção nenhuma e muito menos direção de onde poderiam estar indo.

Mas ele não realmente queria ir atrás de ninguém. Não; por ele, ele iria apenas voltar para o vilarejo e tomar um bom banho quente, deixando todo mundo para trás, mas não podia, infelizmente.

Se ele aparecesse lá, estava certo de que teria todo seu pelo arrancado do couro em... poucos segundos.

E isso sim que seria doloroso; e ridículo.

Suspirou, voltando a marchar por onde veio.

- Inferno de crianças inúteis que não sabem nem SEGUIR UM ADULTO GIGANTE sem se perderem... Pois ora, se eles OUSAREM retrucar dizendo que eu andei rápido de mais ou que eu SUMI ENTRE AS ÁRVORE, ah... Eu JURO que eu ESCALDO CADA UM pessoalmente... EU JURO!

... De certa forma, espero que cada criança que estiver "perdida na floresta," como parece ser o que acontece, esteja bem e... Bom, chegue ao vilarejo antes do homem que falava; afinal... Ser escaldado deve realmente doer.

Agora, no mesmo instante em que o homem guiava-se furioso pelo meio ambiente abundante que tão bem conhecia, do outro lado deste mesmo "meio ambiente abundante," alguém que pouco conhecia e muito temia estava, agora, tentando abrir caminho pela folhagem intensa...

E parecia sentir alguma dor.

- Droga... Isso dói!

É, parecia mesmo estar sentindo dor, mas... "assustada"? Acho que ela não estava, realmente.

- Eu estudei um pouco os mapas dessa bendita floresta e, claro, quando descobri que ELE iria guiar o nosso primeiro passeio que passaria do além que podíamos ir, tomei a providência de me deixar bem informada quanto o meu redor, mas...

Ela parou e começou a ponderar um pouco, pondo a mão felpuda em seu queixo, pensativa.

- Essa PORCARIA de lugar parece... Todo igual! Como vou ter um maldito ponto de referência se tudo é idêntico e... espera...

Ela deve ter tido uma idéia, já que, no meio de seu surto de raiva, simplesmente parou ao mirar uma árvore... É, talvez se marcasse algo na árvore com suas afiadas unhas, ela iria conseguir o ponto de referência que tanto queria... Ótima idéia!

- Eu acho que já passei por aqui e... Será que se eu marcar algo nessa árvore vou poder saber se estou dando voltas?

Ela não pensou a mesma coisa, mas pensou em algo; pelo menos isso, não?

Talvez assim conseguiria sair de lá... Dos males o pior que poderia realmente acontecer é, bem... Algo dar errado, não?

- Merda, dói cada vez mais... E com a quantidade de sangue que estou perdendo, é só uma questão de tempo que algum animal selvagem me ache, ou eu desmaie e aí ele me ache... Acho que prefiro a segunda opção.

Acho que as criaturas que moram na floresta não são muito otimistas, não?

---

Algo tinha que estar errado. Por que nenhum pirralho maldito aparecia em seu campo de visão? Droga, ele já estava rondando aquele ambiente por algumas horas agora e é como se todo mundo simplesmente tivesse... sumido.

Oh Deus! e se já tivessem sido capturados por algum animal - ou alguns animais - selvagem?! Com certeza isso não seria bom para o homem que tentava achá-los.

É, não seria bom.

Pior ainda é se alguém voltasse ferido.

Se "ninguém" voltasse, ele poderia simplesmente dizer que foram atacados e comidos, enquanto este lutava bravamente contra alguns dos animais e, como não é o todo poderoso Deus Aliethuk, não pôde - infelizmente? - acabar com todos eles e o restante conseguiu pegar cada criança, levá-las para longe e, bem... O resto é para a imaginação de cada; já que ele estava pronto para dizer que seguiu cada um o máximo que pôde, mas não conseguiu rastreá-los após começar a chover.

... Agora ele só precisava que começasse a chover!

Não que ele achasse que ia tão cedo, afinal, pelo pouco que dava para ver das nuvens lá fora, o tempo estava totalmente ensolarado e sem nem um pequeno sinal de, bom... Chuva.

- Okay, grande mestre em elaboração de planos miraculosos, e agora?

Estava mais pensando para si mesmo do que para qualquer ser que pudesse ouvir... Ou ele achava tal.

O barulho de alguma coisa se remexendo então se fez presente; algo estava vivo ali e, para a sorte do homem, seria uma - ou se não todas! - das crianças em que estava procurando... Mas também podiam ser mais dos animais selvagens que sua imaginação estava praticamente o ludibriando à acreditar que eram reais... Precisava ler menos contos de fantasia, pelamor.

Bem... Não que ele iria descobri se algo realmente estava lá ou não ficando parado, pois bem, então! Pôs-se a andar então, indo em direção da onde os barulhos vinham e, ao afastar a densa folhagem que estava ali, constatou que não estava esperando, nem um pouco, o que achara: uma garota quase morta, no chão. Uma perna mastigada por sabe-se lá o que - que ele acabou achando melhor pensar primeiro no que sabia que acontecia - e alguma coisa fuçando em tal perna.

"Alguma coisa" sendo uma pequena e frágil raposa negra. Provavelmente um filhote e assustado, sozinho, já que só foi o homem aparecer que este simplesmente voou, de tão rápido que saiu correndo.

Ele se aproximou lentamente da garota, cuja qual estava sentada com as pernas esticadas, encostada numa árvore; porém...

- Quem...?!

O rosnado que fora ouvido, seguido de palavras que o homem simplesmente não conseguiu decifrar, fizeram tal parar de andar no mesmo instante, olhando para os olhos que agora o fitavam com ódio e temor... Provavelmente mais temor, mas passando mais 'ódio', a fim de querer se proteger.

- Está bem?

Ele perguntou devagar. Pelo que havia ouvido agora pouco, a menina não falava sua língua. E é claro, ele teve a confirmação disso quando a mesma apenas virou a cabeça em alguns graus, perguntando-o mudamente o que este acabara de falar. Ele então suspirou.

- Não me entende, não é...?

Ela inclinou mais ainda a cabeça em sua indagação inaudível. Outro suspiro fora ouvido dos lábios entreabertos do homem e, com um passo na direção da menina, voltou a falar - e ela a rosnar, nervosa.

- Não quero te machucar e, bem...

Ele começou a fazer algumas mímicas, nesta hora, querendo fazer com que ela entendesse.

- ... sei que deve estar doendo...

E apontou para a perna dela. Ela olhou então para a direção na qual o dedo do homem dizia e constatou que ele estava falando de seu machucado. Percebendo que ele estava 'preocupado consigo', voltou sua turva visão para o homem - a qual ainda não conseguira identificar nenhuma característica deste, pela pouca oxigenação e o pouco sangue no cérebro.

- ... e sei que isso vai soar insensível, devido ao seu estado, mas... Por um acaso não viu nenhuma criança passar por aqui? Sabe, eu perdi algumas enquanto andava naquela direção.

E ele falou. Utilizando-se das mãos para fazer um gesto que, particularmente, só fizeram a menina ficar cada vez mais intrigada sobre o que ele falava.

- Crianças... Ali... Eu perdi e... Esquece essa merda.

Insinuou uma criatura baixa, apontou para a direção em que veio e então apontou para si mesmo, fez um xis e... Bom, desistiu, jogando ambos os braços para os lados de seu corpo quando viu que seria impossível fazer a garota entender. Já iria começar a andar quando sentiu algo em seu pelo. Algo a puxá-lo; algo a prendê-lo no lugar.

Uma mãozinha para ser mais preciso. A menina pedia mudamente por ajuda do estranho e, mesmo que tudo em si dizia que não deveria ajudar, ele apenas virou-se novamente em direção a ela, agachou-se e retirou algumas ataduras e um vidrinho com um líquido.

Ora, se você sai para andar na floresta, um 'kit de primeiros-socorros" precisa consigo levar, não?

É. Ele nunca levou. Mas foi obrigado a levar pelo menos o básico agora, já que estava guiando crianças para o meio da floresta e... por alguns segundos ponderou o que a menina fazia ali, sozinha. Será que também se perdeu de seu grupo e, depois de ser atacada por um animal e sair viva por pouco, estava totalmente sozinha na floresta e, bom... sangrando até morrer?

Seu estômago revirou-se por completo quando pensou que esta poderia ser também a situação de cara pirralho que se perdeu no meio da maldita floresta... Mas já fazia tanto tempo que seria como "Achar uma agulha no palheiro," ou pelo menos ele pensava assim.

Sacudiu os pensamentos da cabeça - literalmente -, agora pondo a mirar diretamente para a perna da garota, exposta, sangrando e, provavelmente, infeccionada.

Sorte que levava algo que poderia ajudar, pois, se não, com um corte destes, ela com certeza perderia a perna e, bem... Nunca mais poderia sair correndo por aí, saltitante... Como um coelho.

De qualquer forma, ele capturou a perna da menina sem delicadeza alguma, praticamente tirando-a do lugar onde estava, arrastando-a contra o chão com apenas o ato de "pôr sua perna sobre meu colo". Uma péssima idéia, já que o material surrado que usava até metade de seus joelhos ficaria totalmente manchado. Mas ele tinha outros deste; não muitos, mas tinha.

Roupas humanas não eram bem sua praia, mas... Utilizar aquelas calças era bem melhor do que utilizar roupas íntimas. Besteira, não entendeu até hoje por que ele devia realmente usar algo daquele jeito; seu pelo já escondia qualquer coisa que nenhuma fêmea não quisesse ver. Certo.

... Voltando ao assunto, com a perna agora em mãos, este começou a tratar lentamente do corte que a menina possuía em tal. Ela rosnava, gritava de dor e ao mesmo tempo permanecia tentando empurrá-lo para longe, mas ele era bem mais forte, então era algo bem complicado de se fazer.

Infelizmente... Ou não.

- O que está fazendo agora, sua idiota?!

Ele gritou, quando sentiu as presas finas e afiadas da menina perfurar sua pele.

Ela deve ter engolido alguns pelos, já que no processo, com esta ainda grudada em sua carne e o sangue já começando a jorrar, ela tossiu contra a pele deste, meio engasgada.

- Se quer tanto morrer aqui por-- Puta merda! Como você conseguiu um corte tão profundo assim, meu Deus?! Nunca vi criatura com presas tão grandes assim, coelhinha.

E ela novamente tossiu contra a carne do homem. Bem aonde a junção entre o pescoço e o ombro era... Por pouco este sentia dor - para falar a verdade, ele mais ria de cócegas do que sentia dor.

Agora, com a mão direita ainda sobre a perna esquerda da garota prendendo-a no lugar, ele puxou-a com a outra mão disponível para mais perto. Acariciou os fios marrom-avermelhados da menina no processo, tentando acalmá-la e, passou a sussurrar palavras de conforto no ouvido dela... Não que ela entendesse, infelizmente.

- Calma... Eu já estou gastando um maldito tempo tentando consertar essa sua porra de perna, então não me faça desistir de você e simplesmente abandoná-la aqui, beleza? Porque, apesar de tudo, seria um puta desperdício de merda.

E depois de falado tal, como se a menina tivesse entendido por fim algo alguma palavra, a mordida em seu 'pescoço' teve a força cessada, e ela ficou mais mole; relaxada e...

Não, ela desmaiou mesmo.

---

Já deviam ser algumas horas depois do que havia acontecido com si; a garota agora estava deitada junto a alguma coisa fofa, aconchegante e com certeza quente: tudo que ela precisava naquele momento.

Aninhando-se mais ao que ela julgava ser ele, murmurou algumas palavras e tentou se aproximar mais ainda do outro ser ali.

- Eu sabia que ia voltar, Akihiko...

Ela disse, por fim. Parecia contente...

Até aquilo começar a se mover, lentamente, como se despertar-se. Sentiu um movimento mais brusco, provavelmente deste se se despreguiçando e... Notou que algo estava errado.

Ele não era tão grande assim e muito menos tão quente. Será que fora capturada por algum animal e agora estava em seu ninho, enquanto este apenas tomava um cochilo ou algo parecido...?

Bom, no chão não estava e muito menos parecia estar em um ninho de palha ou de pele de pequenos animais - possivelmente pêlo e pele, sim, mas com certeza tinha carne também, onde estava situada; e aquilo estava vivo, já que produzia tanto calor.

Foi retirada bruscamente de seus pensamentos quando notou que o ser ali cessou os movimentos e, em certo desespero pela sua própria imaginação hiperativa, a menina agora tentou pôr-se de pé, a fim de fugir, mas...

- AI! MERDA!!

Gritou, despertando por completo agora o outro ser ao seu lado.

Ela já havia tapado a boca nessa altura do campeonato, mas tarde de mais para não fazer o outro ser acordar por fim.

Merda, sua perna tinha mesmo que estar toda fodida, né? Agora ela iria ser comida e nunca mais iria ver ele...

Espera, por que estava se preocupando com aquele idiota que lhe abandonou no meio do nada, neste momento? Dã. É claro que ela sentia algo por este, mas...

- Acordou?

E então se assustou com o som da voz do homem ao seu lado... ou em baixo de si, ainda não conseguiu entender direito o que acontecia, já que seus olhos temiam por sua vida olhar na direção do monstro presente.

- Se acordou, poderia sair de cima da minha cauda? Você é pesada e dói.

Mas ela não o entendia. Que merda de língua este estava falando afinal?

Não era Leihen, muito menos Loar... Será que era um lobo e estava falando em Lyanz?

- Ah é, esqueci que você é inútil e não me entende...

E ele simplesmente levantou-a do chão com o poder que tinha sobre a cauda - ou o que ele havia dito que ela estava em cima, já que ela não entendera -, pondo-a agora sobre uma pedra, sentada... Tudo com a força de um membro só.

A visão da garota ainda esta turva, provavelmente pela perda de sangue que teve - já que se deu ao luxo de notar que a perna já havia parado de sangrar a um tempo e estava enfaixada... Mesmo que as bandagens estivessem completamente sujas com o líquido vermelho que jorrava há algumas horas atrás.

Ela contorceu-se levemente de dor; e o animal ali pareceu notar.

Um som de quebra-de-ossos foi ouvido e, antes mesmo que a menina pudesse olhar em direção da qual este vinha, o homem que lhe ajudara estava ali... Então ele era o lobo gigante que lhe fez permanecer viva e aquecida com o calor de seu próprio corpo?

- Está se sentindo melhor?

Ele perguntou, mesmo sabendo que ela não conseguiria entender e responder... Mas para sua surpresa, com o fato de seus olhos estarem olhando os dela e expressando sua pergunta melhor do que a mímica barata fez uma expressão 'muda', que valia mais do que mil palavras que pudessem ser compreendidas para a menina.

E ela assentiu com a cabeça. Apesar de surpreso, ele pareceu satisfeito e deixou um singelo sorriso invadir seus lábios e sua feição - que por um acaso não tivera mudado de "simplesmente estou nervoso" até... agora.

E ela corou com tal visão... Apesar de ter sido um pouco retardada, já que ela não conseguira entender o que se passava no rosto do - provavelmente - mais velho pelo fato de não conseguir enxergar direito... Talvez precisasse apenas de uma noite de sono bem-dormida.

Ah... Espere, que horas são agora?

Ela sacudiu a cabeça lentamente, olhando em várias direções, a procura de um jeito de dizer que horas eram, mas falhou completamente.

As árvores eram altas e cheias de folhagem para conseguir dizer onde o Sol - ou até mesmo a Lua, não fazia muita diferença, já que estava quase tão escuro como a noite desde cedo -, portanto, sem horas. Ela olhou para o homem, preocupada, e ele moveu sua cabeça para o lado, confuso.

No caso, ela nem notara quando ele já estava agachado à sua frente, tratando de seu corte... Bom, agora que ela percebeu, estava sentindo uma certa ardência do local do corte e, quando viu, o homem lambia lentamente tal.

Com certeza afim de desinfeccionar, mas... Aquilo parecia tão errado que ela simplesmente voou para trás, caindo com o fim do tronco; claro.

Estava "sentada", enquanto deitada no chão. Suas costas agora também doíam e a perna latejava com o fato de que - com certeza - algum osso estava praticamente destroçado lá dentro... Nada que alguns meses de folga não ajudassem.

- Está tentando se matar, ou ME matar?!

O homem esbravejou. Praticamente fora atingido pela perna que subira mais rápido com o poder da gravidade sendo exercida no corpo de sua 'dona' ao cair no chão do que os seus instintos; ele então se levantou e pôs a olhar a menina de cima a baixo.

A blusa curta e apertada que usava estava completamente desgastada, sem mangas e sem o final de sua bainha, chegando apenas até metade de seu torço - apenas o suficiente para esconder seus seios. A calça não estava em melhores condições; nunca. Estava rasgada em milhares de lugares e até metade da coxa direita, já que, a partir daquele ponto uma enorme mordida acarretara tal machucado na perna da menina, se encontrava.

O pelo manchado de vermelho - tanto pelo sangue, quanto provavelmente pela coloração natural mesmo - cobria todo o seu corpo, das patas traseiras até a cabeça e, no topo da última citada, um par de orelhinhas gigantescas residia. Uma fina e bela coelha, ele tinha que admitir, apesar de ser sua presa comum.

Ele bufou, suspirando ao mesmo tempo, debruçando-se sobre o tronco e praticamente por cima dela, tomando o máximo de cuidado possível para não relar na perna machucada da garota e muito menos causá-la mais dor do que esta já deveria estar sentindo; esticou um braço então, oferecendo-a ajuda para que pudesse levantar.

Ela hesitou em tocar naquela mão, mas, eventualmente, a pegou e deixou-se ser puxada para cima.

Antes, é claro, ela analisou o outro o máximo que conseguiu. Constatou que o pelo acinzentado (escuro) que tomava toda a parte de seu corpo estava exposto tanto em seu peito e da metade até o fim de suas patas traseiras... Seu quadril e coxa estavam cobertos por um material azul-esbranquiçado, provavelmente pelo desgaste; mesmo que agora estivesse mais vermelho-sangue do que nada mais. O porquê disso era óbvio.

E também notou a cauda felpuda, grande e fofa que residia em suas costas, ao fim de sua espinha; ela não se movia de um lado para outro, não. Apenas mantinha-se alinhada ao corpo do homem. As orelhas estavam para trás, apenas por que, agora, ele parecia preocupado o suficiente, sem ele nem mesmo notar. Apesar de tudo, ao topo de sua cabeça havia uma espécie de toca e, já que suas orelhas apareciam, provavelmente estavam rasgadas para deixá-las, livres.

Ela teria sorrido com a conclusão de como era o homem ali em frente, se o corpo todo desta não pedisse por um descanso em uma cama de pele fofinha e aconchegante... Ou dormir novamente no rabo do Lycan à sua frente; também ajudaria.

- Agora fique sentada e não me obrigue a te machucar mais ainda para tentar curar essa porcaria de machucado, garota.

Ele soou nervoso, apesar de não passar nada parecido para a garota. Ao contrário, ela se sentiu tentada a sorrir docemente e ela fez. Ele olhou para ela incrédulo, mas deu de ombros, provavelmente pensando que ela apenas não entendeu o que ele quisera dizer - e bom, ele estava certo, ela não entendera, mas não totalmente. Ela entendeu... De alguma forma, do jeito dela.

---

As horas passavam calmas e aconchegantes. O homem ainda estava em sua forma original, mas ainda sim, era o suficiente para aquecer o necessário a menina que agora dormia em seu colo, quase.

Estavam deitados do mesmo jeito que há um tempo - com o diferencial de a garota estar no chão e com apenas a perna por de cima da cauda do outro.

Quanto mais o tempo passava para os dois, mais o rapaz ali esquecia completamente do que estava fazendo antes de encontrar a garota e, por algum motivo, ele não se sentia culpado.

Ora, ele procurava por crianças-lobo. Elas podiam muito bem se virar se permanecessem juntas e, bom, eram inteligentes. Pelo menos alegavam ser; então decidiu por cuidar da menina que neste instante, em seus braços, era a criatura mais frágil e necessitada de ajuda do que qualquer outro ser no mundo.

É. Ela era um coelho. Se algo a atacasse, a única opção de proteção era correr por sua vida - o que agora seria impossível.

Por isso que estava tão empenhado em salvá-la, mas... precisava voltar. E se levasse ela consigo, não daria nem alguns minutos de vida para ela, já que, afinal de contas, coelhos possuíam a carne mais saborosa para os Lycans... é. Algo muito ruim para a menina.

Ainda sim, não tinha como cuidar dela ali. Não no meio do mato sem recurso algum; precisava voltar para a aldeia e logo, afinal de contas, não sabia quantos dias ou até horas ela iria agüentar sem um cuidado real de alguém que entendia o que estava fazendo. Algo que ele, com certeza, não. Estava apenas cuidando de um ferimento que, de fato, era bem pior da grande maioria que já recebera em sua vida, os quais melhoravam com apenas saliva e atenção básica.

Transportar ela não seria complicado, afinal. Mesmo sendo pesada para se levar sobre a cauda, com os braços musculosos do jovem lobo seria mais fácil do que carregar centenas gravetos imensos que utilizava como lenha... Todos os dias.

Talvez fosse isso que desenvolvera tanto seus braços e pernas, o peso de tudo era irreal.

E com tais pensamentos, começou a se perguntar se iria ou não voltar com ela para a aldeia ou iria arriscar entrar no território dos Coelhos para levá-la de volta... Capaz de que ele fosse convidado para jantar e, bom, ele fosse a janta.

Apesar de animais herbívoros, ele sempre fora lecionado a "nunca subestimar seu oponente." Ou algo assim.

E em meio aos seus devaneios, este sentiu a menina se mover praticamente abaixo de si, desconfortável. Ela então levantou levemente a cabeça e abriu os olhos devagar, sonolentos; e sorriu.

- Parece melhor.

Ele notou e comentou; ela riu baixinho - e dessa vez não se arrependendo disso, já que seu corpo estava bem melhor que antes - e assentiu com a cabeça... Incrível como ela já estava começando a entender o que ele falava.

Provavelmente não as palavras, mas os significados.

- Quer voltar para casa?

Ele questionou e ela olhou para ele. Tá... parece que perguntas difíceis ela não entendia, okay, simplificaremos o máximo possível.

- Casa, ir, quer?

Ele falou, sem nexo algum, fazendo alguns gestos e, como ela estava em cima de seu bíceps, sua cabeça se movimentava um pouco com cada ação do outro. Ela não captou, novamente, apesar de todo o esforço do homem. Ele achou melhor levá-la até sua aldeia então... Apesar de tudo, lá ele poderia 'protegê-la' tanto quanto estava protegendo-a aqui e, conhecendo seu povo, eles não atacariam se soubessem que a presa é sua. Suspirou ao constar que não fazia nem ao menos dois dias que estava fora e já sentia saudades da maldita tribo.

Ele se levantou, pondo-a sentada no processo e virando-se, insinuando para que ela pulasse em suas costas, a fim de levá-la em cavalinho; a garota hesitou e permaneceu parada. Não estava entendendo direito o que acontecia, portanto preferiu permanecer onde - e como - estava.

- Vamos, não tenho o dia todo e minha aldeia não vai ficar mais perto se não começarmos a andar.

E com certa nervosidade em sua voz, ele agarrou - ainda de costas - as mãos da garota e espalmaram-na em suas costas; droga, como aquela posição de braços doía e não era nada confortável, hein!

- Não vou te levar para um cantinho e te estuprar, garota. Se eu quisesse fazer isso, eu poderia ter feito nas duas oportunidades que me deu quando dormiu totalmente desprotegida ao meu lado.

E ao ouvir tal, a garota provavelmente entendeu que deveria subir e que não teria problemas ou perigos ao fazer tal. Sabia toda a ideologia do que o "cavalinho" representava, mas estava disposta a aceitar a carona nas costas largas do lobo e poupar sua perna tão machucada.

Era bem capaz também de que o lobo levasse-a de volta para casa... Ou pior, levasse-a para a casa dele, aonde milhares de outros lobos também viviam e, provavelmente, fariam picadinho de si.

Pobre coitada, não sabia que estava certa com a última opção - apesar de que ele não iria permitir que alguém a machucasse por nada... Digo, por qualquer coisa.

Então, com a mente feita, a garota pôs-se sobre o lobo e este a levantou, agarrando-a pelas dobras dos joelhos, a fim de dar estabilidade, enquanto os finos braços da menina envolveram o pescoço do homem.

- Sou Shinjiro, aliás.

Ele disse de repente; após já ter começado a andar há algum tempo. Ele então a sentiu movimentando a cabeça em uma indagação. Suspirou.

- Shinjiro...

Repetiu com a intenção que, desta vez, ela entendesse.

- ... e você?

Ela permaneceu calada.

Tch, ela não entendeu... Bom, era de se esperar, já que não falava a língua da menina e muito menos fazia mágicas.

Mas algo o surpreendeu quando ela pousou o rosto entre a dobra de seu pescoço e mordeu de leve o local. Ele grunhiu levemente com a ínfima dor que sentiu no local e, quando pôs seu pescoço a virar, na direção da garota, para ver seu rosto, ela soltou os dentes da pele do lobo e falou:

- Minako.

E foi tudo o que ele precisou ouvir, para corar e apertar o passo, por fim.

Precisava chegar logo à aldeia; antes que mudasse de idéia e estuprasse a menina ali mesmo...

Maldita fofura dos coelhos.

--- FIM ---

-- Bônus:

Eles não demoraram muito para chegar à Aldeia do jovem lobo. Para falar a verdade, eles demorariam se depois do que aconteceu o tal citado não tivesse tomado a forma de lobo gigante e passado a correr o mais rápido possível, mandando a menina agarrar-se o mais forte que conseguisse... Apesar dela quase ter caído algumas vezes e ter batido com a cabeça em galhos baixos, para a segurança de qualquer ser ali, ela chegou inteira e ele, bem, ele também, é claro.

A recepção não foi calorosa; era para ter sido, aliás.

Todos dali esperavam esperançosos pelo jovem Lycan que sumira há quase quatro dias; haviam mandado guardar à procura do homem, mas ainda sim, não haviam encontrado nem ao menos pistas de onde ele estaria e, agora que este estava ali, com uma Coelha em braços, todos olharam para ele, espantados.

Uma das fêmeas que ele cortejava estava ali também - junto de muitas outras que apenas flertavam com o macho, nada muito sério - de braços abertos, já que havia decidido aceitar os pedidos de casamento que o homem fazia à si por anos e dá-lo um belo "bem-vindo", assim que este chegasse, mas... Não esperava que ele chegasse com aquilo em braços.

- Mas que diabos é isso, Shinjiro?!

A mulher gritou, irritada. O ancião que estava atrás da multidão então a partiu, atravessando, e indo em direção ao jovem Lycan que ainda permanecia parado nos portais da aldeia. Segurava a menina que agora desancava - ainda bem, pois se ela estivesse acordada, seria mais difícil de explicar a situação.

- Ora, Aragaki, sumiu todo este tempo apenas para caçar um coelho?

O ancião perguntou, então. Algo na voz deste não parecia certa; algo no fundo do estômago de Shinjiro fazia-o achar que não teria muitas opções na hora de se explicar, já que provavelmente o idoso a sua frente já havia captado tudo que acontecera desde o momento em que ele saíra da Aldeia com as crianças ao seu encalço e... Puta merda! Ele esqueceu as crianças!

Como ele iria explicar que caçara uma coelha e esquecera as crianças no meio da floresta, agora?!

Claro, ele sempre poderia dizer que, no meio do caminho da procura pelas crianças, após serem raptados por monstros, viu a coelha coletar algumas coisas na floresta, ficou com fome, a machucou e a trouxe de volta após tempo demais lá fora... Bom, ele realmente não encontrou criança nenhuma no caminho para casa, então no meio de qualquer pensamento que pudesse ter, tinha certeza de que todas já estavam mortas.

Mas ele não era capaz de elaborar algo tão bem pensado em alguns poucos segundos, então apenas falou o que vinha na cabeça, rezando para que isso fizesse sentido.

- Eu não consegui encontras as crianças depois delas terem sido capturadas por animais selvagens e...

Mas, no momento em que começou a explicar, a mulher que estava com ambas às mãos sobre a cintura, em uma espécie de posição irritada, pronunciou-se.

- Do que está falando, seu drogado? Você saiu correndo pro meio da floresta antes mesmo de esperar as crianças chegarem para ir com você! Quando deu a hora delas saírem, você já havia ido para o meio do nada há horas! Por isso estávamos tão preocupados, seu idiota.

Espera... o quê?! Então quer dizer que ele estava procurando por malditas crianças o tempo todo - antes de encontrar a coelha, claro - por nada?! Incrível como a vontade de bater a mão em seu próprio rosto não cessou até a menina começar a se mexer em seu colo.

Agora ela estava acordando e sua perna estava devidamente medicada com o que ele tinha em mãos naquele momento... Ele também não tinha mais a desculpa das crianças para usar; estava literalmente fodido.

- Acalme-se, Mitsuro.

O ancião então disse, fazendo a mulher de pelugem bordô apenas recuar e pôr ambos os braços cruzados à frente de seu peito. Ele então se virou para o lobo cinza-escuro e examinou a perna da garota que esteve levava consigo, mesmo que furtivamente.

Não que fosse realmente necessário, ele já percebera que o Lycan estava sim ajudando a garota no momento em que chegaram.

- Entendo que queira ajudá-la, Aragaki. E isto, vindo de si, é algo nobre.

Ele não enfatizou palavras algumas naquela frase, mas a parte do "vindo de si" fez com que os lábios de Shinjiro descessem levemente, formando uma expressão irritada. Ele franziu o cenho até certo ponto, e o homem voltou a falar, tentando não rir, internamente, com a expressão do mais jovem.

- E, isto, meu caro...

E agora ele se virou para a multidão que assistia tudo em seus pés. Cada um destes olhou para o ancião como se tivessem sido pegos no flagra e, quando o homem pediu para que abrissem caminho, estes o fizeram com rapidez. O idoso então começou a andar em direção à abertura ali, e, vendo que o jovem lobo permanecia ainda parado no mesmo lugar que estava desde que chegou, este acenou para que ele começasse a lhe acompanhar - e o tal fez.

- Eu lhe ajudo, de muito bom grado.

E, pela segunda vez naqueles dias, o que era bem raro para si, ele sorriu, sincero.

Talvez tiver achado aquela coelha no meio do nada não tenha sido tão ruim assim... Talvez, apenas.

--- FIM ---


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Notas finais do capítulo

Yaay, mais um Shinji x Minako vindo de mim.
Apesar de eu não ser todo: "OWHWOWHOH SHINJI X MINAAAAAKO", eu gosto do casal, sim, e estou entretivo a escrever sobre eles.
Que tal?

Mas não se enganem, eu sou viciado de mais em Souji x Yosuke para deixar de escrever sobre eles, é. :/

Btw; se quiserem a continuação que eu pensei pra isso aí, me convençam que eu tiro de "Terminada" e volto a escrever.



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