Coroa de prata escrita por Eleanor Blake


Capítulo 7
Derrotada




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Tudo rodava rápido demais em minha mente. Aquilo era informação demais pra mim, era minha vida se desfazendo como um castelo de areia na praia.

—E... E minha mãe?- eu sussurrei com a voz embargada.

—Não sei exatamente o que vai acontecer com ela- ele respondeu com a cabeça baixa.

Eu me levantei movida por minha raiva e saí pelos corredores daquele maldito lugar até onde pensava ser o centro do lugar. Nelli estava parada na porta.

—Eu acho que você deveria se acalmar antes de tentar passar. Você não vai a lugar algum- ela disse parecendo culpada.

—Pro inferno com o que você acha!Sai da minha frente agora!- eu gritei a beira da histeria.

Peguei-a pelo braço e a puxei. Não me virei pra ver que a velha mulher tinha caído no chão. Abri a porta e ele estava lá.

O homem era altivo e loiro com grandes olhos azuis. Dei passos decididos até ele.

—Quem é você?- eu perguntei já sabendo a resposta.

O homem me olhou de cima a baixo e depois seus olhos se arregalaram e sua testa crispou.

—O que faz aqui, e ainda por cima com essas roupas?- ele esbravejou.

O olhei de cima a baixo e não pude deixar de sentir asco. Fechei minhas mãos em punhos e disparei:

—Onde está a minha mãe?!

O homem parecia em choque enquanto me olhava. Em segundos esse choque se transformou em ódio.

—Não está falando de suam mãe não é?Quer saber da mulher que te criou- ele concluiu.

—Ela não fez nada de errado, sempre me amou e cuidou bem de mim, sempre me deixou livre pra escolher!E o que você fez?Você me sequestrou e me trancou aqui, e ainda por cima tirou minha mãe de mim, você é um monstro!- eu gritei.

Ele então levantou sua mão em ameaça. Parei no lugar e encontrei seu olhar.

—Toque em mim e juro que essa será a última coisa que vai fazer nessa vida- eu disse firme.

—Você tem o mesmo gênio forte de sua mãe. Entendo que você esteja nervosa e...

—Não entende!Você vive aqui nesse seu mundinho com todos a seus pés, mas eu prefiro morrer a ficar aqui!Quero que me liberte a mim e a minha mãe!

—Já ouvi demais. Guardas!- ele gritou.

Aqueles homens mais uma vez apareceram e me levaram, só que dessa vez sem me dopar. Gritei por todo o caminho mais de nada adiantou. Em questão de minutos eu já tinha sido jogada na cama e a porta tinha sido trancada.

—Não!Por favor, abram a porta!Mãe, mãe cadê você!- eu gritava a todo pulmão.

Minhas mãos já estavam dormentes de tanto bater e eu já não tinha mais voz quando um novo dia nasceu. Eu me deixei afundar num mar de inconsciência esperando nunca mais despertar.

A noite a porta se abriu e duas mulheres entraram. Meus olhos estavam turvos de cansaço e todo o meu corpo não tinha forças.

—Viemos cuidar da senhorita, sou Anna e essa é Jen- uma delas se apresentou.

A segunda era bem mais forte e conseguiu me colocar em seu colo num único movimento e me levou até o banheiro. Lá elas me limparam silenciosamente e cuidaram de meu corpo esgotado. De volta ao quarto elas me colocaram dentro de uma camisola de cetim branca.

Anna, a menor saiu e voltou com uma bandeja cheia de comida. Travei fracamente a mandíbula quando ela me ofereceu uma colher.

Jen, a maior apertou meu maxilar até que ele se abriu. Anna colocava as colheradas de coisas que eu não sabia o que eram e Jen voltava a fechá-la até que eu engolisse.

Quando acabaram Jen voltou a me deitar e Anna me cobriu. As duas saíram e trancaram a porta e eu fiquei ali torcendo pra morrer mais rápido.

No dia seguinte eu me sentia fisicamente mais estável, mais ainda permanecia muito fraca. Eu não tinha um fio de voz.

As duas voltaram ao quarto e voltaram a me trocar. Eu estava num vestido rosa cheio de babados, e, pela primeira vez isso não me incomodou em nenhum aspecto. Não tinha mais forças pra me incomodar.

Fui forçada mais uma vez a comer e Nelli entrou pela porta.

—Nossa, do modo como me olha parece que eu vou ser puxada pro inferno – ela disse sarcástica.

Desviei meus olhos dela e logo fui deixada sozinha de novo.

No que penso serem horas mais tarde um pequeno homem vestido de branco entrou no quarto e me examinou. Um médico então.

—A senhorita precisa sair um pouco desse quarto antes que fique depressiva. Vou pedir a um dos servos pra te levar ao jardim por algumas horas- ele disse se levantando.

Minutos depois David entrava com uma cadeira de rodas dentro do quarto. Desviei meu olhar dele enquanto ele me içava e depois me colocava sentada ali.

Descemos por um corredor onde eu não tinha estado e seguimos interminavelmente até uma porta e entramos no jardim.

—Aqui não é lindo?- ele perguntou se sentando na grama.

Olhei e vi um lindo lugar, mais naquele momento só pude sentir indiferença. Baixei a cabeça e me mantive imóvel.

David se levantou e pegou meu rosto com a mão me fazendo encará-lo.

—Ah, vamos, não fique assim. Acho que você deve ser forte. Desse jeito Nelli vai pensar que pode te dobrar.

Olhei pra ele e vi meus olhos vazios por meio dos seus. Desviei fracamente o rosto e permaneci ali. Nada mais importava.

Depois de algum tempo David suspirou pesadamente e me levou de volta ao quarto. Jen e Anna estavam esperando.

—Precisamos que saia agora David- Anna avisou.

David me deu um último olhar e saiu do quarto. As duas me levaram ao banheiro e de novo me limparam.

Jen saiu pra pegar alguma coisa e Anna ficou ali secando meu corpo.

—Não devia ficar tão quieta. Faz mal à senhorita- ela sussurrou em meu ouvido.

Suspirei e baixei a cabeça. Não tinha por que lutar, não tinha a quem recorrer aqui. Eu estava sozinha, dolorosa e torturantemente sozinha.

Comi a força de novo e Jen me deitou enquanto a tarde caía. Fiquei ali em silêncio tentando não pensar em nada.

A porta se abriu silenciosamente e um garoto loiro de olhos muito azuis entrou no quarto e se sentou na cama olhando diretamente pra mim. Sua mão passou por meu rosto e ele pareceu estremecer.

—Deus do céu, o que fizeram com você?- ele perguntou sem esperar por resposta.

Eu não sabia a resposta, mas sabia eu não tinham feito nada comigo. Eu tinha chegado aquele estado por que eu não tinha feito nada.

O garoto me deu um meio sorriso e saiu mais silencioso do que entrou ali.

A pergunta dele ecoava por minha cabeça, a feição dele ecoava por meus pensamentos.

Esforcei-me e cheguei até a penteadeira e finalmente me olhei. Meu cabelo estava solto num liso escorrido, meus olhos não tinham vida e eu estava assustadoramente mais magra. As feições doentes e fundas me faziam parecer uma boneca de porcelana velha, feia e quebradiça.

Levantei-me a fui até a porta. Estava destrancada.

É claro que estaria. Quem delas ia achar que alguém em meu estado sairia daquele maldito quarto?Saí e dei alguns passos débeis até o grande viral aberto.

Olhei pro grande jardim e me sentei na janela. As duas entraram no quarto e não me notaram ali.

—Oh Deus!Onde ela se meteu?- Anna perguntou nervosa.

Levantei-me e voltei devagar até o quarto. Anna suspirou aliviada enquanto vinha ao meu encontro.

—Senhorita, que susto nos deu!- ela disse sorrindo.

Elas me colocaram num vestido lilás com mangas, sapatilhas brancas; e Anna prendeu meu cabelo numa trança. As duas me puseram de pé.

—Hoje a senhorita vai comer lá fora, na mesa conosco. Quem sabe um dia não come ali com seu pai e seu irmão não é?- ela disse animada.

Coloquei a mão no balaústre da cama e parei o esforço delas. Neguei com a cabeça e voltei à cama. Tirei as sapatilhas usando os pés e voltei a me deitar.

—O que?Por que não quer ir?Não se sente bem?- Anna perguntou.

Apontei pra porta e depois pra elas e de volta pra porta. Jen sorriu de lado quando entendeu.

—Venha Anna, a senhorita quer ficar sozinha- ela disse puxando a outra.

Permiti-me chorar enquanto o dia anunciava seu crepúsculo.

Eu sentia meu fim, sentia minha derrota amargamente escorrendo por minha garganta. Coloquei o travesseiro por cima da cabeça e finalmente admiti. Eu tinha perdido, tinha me perdido, e ali só tinha sobrado uma sombra patética do que um dia eu fui.


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