Falar ou pensar em invadir a Ala Sul era fácil, mas, o fazer era o difícil.

O muro que separava as alas era enorme e todo de pedra lisa.

- Como vamos entrar? – Perguntei.

Tenten pareceu-me surpresa por alguns instantes.

- Como vamos entrar? – Repeti.

- E, e... Eu achei uma árvore – Gaguejou. – Vamos usa-la para podermos pular o muro. – Respondeu com uma voz descrente.

- Qual o problema? – Perguntei sem entender a reação dela.

- Bom, achei que você fosse fazer drama – Tenten disse simplesmente. – Não achei que fosse concordar.

- Quer dizer que você armou tudo isso só por que achou que eu não iria topar?

- Claro que não - Defendeu-se. – Eu iria convencê-la.

- Hun... – Arquei as sobrancelhas em dúvida. – Tem certeza?

- Claro. – Tenten respondeu. – Agora vamos.

O caminho em direção a ala Sul era escuro. Não havia postes com lâmpadas. A sorte foi que 
Tenten havia pensado em tudo e levara duas lanternas. Uma para ela e outra para mim.

- Sakura ... - A voz dela pareceu-me hesitante.

- Sim.

- E se o Uchiha for ao seu quarto para te ver?

- Ele não vai ao meu quarto para me ver – Respondi a ela. – Ele vai para comer.

Ela ficou calada por alguns instantes.

- Sakura...

- Sim.

- Isso foi meio pervertido para se dizer...

- Tenten! – Disse alto.

- Tudo bem – Ela disse segurando o riso.- Era só para descontrair...Mas, e se ele for?

- Não sei – Respondi. – Talvez ele fique irritado, Mas...

- O quê? – Tenten perguntou quando viu que eu não iria terminar a frase.

- Sinceramente, não me importo.

- Não tem medo mais?

- Claro que tenho – Respondi. – Mas, não vou viver presa como um rato com medo do gato.

- É assim que se fala. – Tenten disse animada. – Chegamos.

~0~

Tenten foi a primeira a subir na arvore. Eu fiquei iluminando-a com a lanterna enquanto a via subir com uma agilidade impressionante.

A noite estava fria. Gelada. Mas, eu não conseguia sentir o frio.

Talvez devido a adrenalina e excitação que sentia devido aquela loucura que estávamos fazendo ao tentar invadir a Ala Sul.

- Sua vez. – Tenten disse quando alcançou um galho alto.

Não a respondi e coloquei a lanterna no bolso da minha jaqueta e comecei a subir.

A árvore que Tenten havia achado era enorme, e o pior com pequenos espinhos ao redor do tronco. Claro que só percebi os espinhos quando comecei a subir, mas, por sorte eles não eram finos e afiados e sim grossos e um pouco achatados.

Quando alcancei o grosso galho onde Tenten estava eu mal conseguia respirar.

- Pensei que tivesse prática para subir em arvores – Tenten disse-me. – Parece que você escalou uma montanha.

- Essa árvore parece mais aquela árvore de feijão daquela historia “João e o pé de feijão” de tão alta, pensei que não teria mais fim. – Disse a ela quando consegui respirar normalmente.

- Não seja mole. – Ela me repreendeu.

-Ôh!!, desculpe-me por não ser uma ninja com você . – Disse a ela irônica. 

Tenten ignorou-me e se aproximou do muro, eu continuei sentada no galho tentando recuperar o fôlego.

Passado alguns segundos ela me chamou.

- Sack...

- Oi.

- Venha aqui.

- Qual o problema? - Perguntei me abaixando para ver o que ela tanto olhava.

Com a lanterna ela iluminava o outro lado do muro, mais exatamente o chão que parecia muito longe de nós naquele momento.

- Temos um problema – Ela disse ainda fitando o circulo de luz que a lanterna fazia no chão a vários metros de nós. – Eu pensei em como íamos subir, mas, não em como conseguiríamos descer sem quebrarmos o pescoço... Isso aqui é muito alto.

- Podemos descer do mesmo jeito que subimos. –Disse a ela.

- Como? - ela me perguntou.

- Temos que achar uma outra árvore, só que por dentro.

- Sakura!!! – Ela disse alto. – É por isso que amo os nerds.

- Shiii!!! – A repreendi. – Não fale tão alto, esqueceu que estamos na Ala Sul?, e se nos ouvem? 

- Desculpe-me. – Ela pediu nem um pouco arrependida.

- Ah e outra coisa – Eu disse a ela. – Eu não sou uma nerd.

- Tá, mas como vamos encontrar outra árvore?
Eu peguei a lanterna e iluminei por cima do muro não vendo nenhuma arvore. - Vamos ter que andar sobre o muro que por sorte não é muito estreito até encontrarmos uma. – Disse a ela.

- Mas, e se cairmos?

- Vamos morrer ou nós machucarmos bastante.

- Ou pior. – Ela disse.

- O que poderia ser pior do que morrermos ou cairmos? – Perguntei.

- O Sasuke e o Neji nós pegar ainda vivas.

Um calafrio subiu através da minha espinha. – Melhor não pensarmos nisso – Disse a ela. – Agora vamos. 

Fomos devagar. A borda do muro não era tão estreita, mas, também não era muito larga. Íamos a passos de tartaruga, pé ante pé. Usando todo nosso equilíbrio.

O vento soprava gélido. Sentir minha pele gelada, mas, não senti frio.

Tenten ia na frente iluminado com a lanterna pois ela possuía mais equilíbrio do que eu devido as aulas de ginastica olímpica que havia feito quando criança.

- Me sinto andando em uma corda bamba. – Ela disse depois de um tempo.

Não a respondi. Estava concentrada demais tentando não cair.

- Sakura...

- Hun...

- Acho que estou vendo uma árvore, e acho que podemos usa-la para descer.

Eu quase que sorri com a sensação de alivio que passou por mim.

- Estamos quase lá. – Tenten disse e percebi quando ela acelerou o passo.

Mordi a língua para não gritar quando os passos dela se tornaram mais rápido.

Eu estava preocupada, qualquer passo em falso poderia ser fatal então quando Tenten se adiantou meu coração quase saiu pela boca.

- Tenten, não ande tão rápido você pode ca...

- Ahhhh!!!!

Minha palavras foram cortada pelo grito dela.

Foi rápido demais. 

A lanterna caiu de suas mãos e foi automático quando lancei minas mãos para segura-la.
Por pouco não caímos as duas. Mordi meus lábios quando bati meu torso na borda do muro.

Com a mão esquerda eu segurava a mão de Tenten enquanto que com a outra tentava me segurar. Minha perna esquerda estava no lado da Ala Sul e outra no lado da Ala Leste.

- Sakura... – A voz de Tenten pareceu um sussurro.

- Eu não vou te deixar cair – Tentei tranquiliza-la. Ela não poderia entrar em pânico naquele momento.

Suas mãos agarravam com força no meu antebraço, mas, não me importei. A única coisa que me preocupava era em como puxa-la para cima do muro novamente. Ela estava pesada.

- Não me deixe cair, Sah... – Ela pediu e lágrimas vieram aos meus olhos.

- Eu não vou deixar. – Disse mais para mim mesma do que para ela.

O vento soprou mais forte e ouvir o barulho de uma trovoada. Eu quase rezei para que não chovesse naquele momento.

Sentir meu braço esquerdo queimando enquanto tentava puxar Tenten. 

Não sei como, mas consegui puxa-la um pouco, na altura da borda do muro.

Ela segurou na beirada enquanto que com esforço passou umas das pernas sobre a borda do muro. 

- Só mais um pouco... – Falei a puxando mais. 

Foi questão de minutos, mas, para nós foi uma eternidade. 

Foi quando finalmente eu vi Tenten deitada na borda do muro foi que soltei a respiração que nem percebi que havia prendido.

Nós ficamos ali, paradas, na mesma posição por minutos. Meu coração batia tão rápido que parecia que ia explodir.

Eu não sentia nada, nem frio, calor, nada. Somente a adrenalina e as batidas frenéticas no meu peito.

Tenten não fazia nenhum som.

- Tenten... – Chamei, não obtendo nenhuma resposta chamei novamente. . – Tenten...

- Hum... – Foi o baixo sussurro dela que por pouco não ouvi.

- Você está bem? – Perguntei.

- Não – Foi sua resposta.

- Está ferida? – Perguntei alarmada.

- Não, mas, estou tremendo – Ela disse. – Acho que nunca vou me recuperar deste trauma.

- Nem eu. – Concordei com ela. 

Voltamos a ficar em silêncio, somente o barulho do vento nas árvores nos fazia companhia.

- Sah...

- Sim...

- Eu não quero me mover – Ela disse. – Eu não quero sair daqui, e eu... Eu estou com medo. 

Ela estava chorando, percebi.

Era totalmente compreensível ela não querer nem piscar depois de quase ter caído daquela altura, mas, não havia como, nós tínhamos que sair dali.

- Tenten nós não podemos ficar aqui – Disse a ela. 

- Eu não quero...

- Mas, se ficarmos aqui vamos morrer de hipotermia - Falei novamente. – Logo vai começar a chover e as coisas vão ficar realmente feias pro nosso lado.

- Sakura, você é tão encorajadora. – Ela riu e percebi que ela já estava bem.

- Então... – Testei. – Vamos?

- E por acaso temos outra opção?

- Não.

~0~

Ao contrário do que imaginei, Tenten ao invés de dizer: “vamos desistir e voltar para os nossos quentes e seguros quartos na Ala Leste” Seguiu em direção a arvore que iriamos usar para descer para Ala Sul.

Por sorte a árvore não tinha espinhos e os galhos eram grossos o suficiente para aguentar nossos pesos.

Eu ainda tinha minha lanterna e foi ela que utilizamos para iluminar a descida da árvore.
Assim que botei meus pés no chão de terra do jardim da Ala Sul a chuva caiu. Gélida e forte.

Instantaneamente ficamos encharcadas.

Meus dentes batiam um no outro não me deixando pronunciar uma palavra sequer e Tenten também não estava em um estado melhor do que o meu.

- Por que nossas ideias nunca dão certo? – Eu a ouvir gritar. – Tinha que chover logo agora?

- Melhor agora do que quando estávamos em cima do muro. – Gritei de volta.

Ela concordou com a cabeça.

- O que vamos fazer agora? – Perguntou-me.

- Vamos para onde ficam os dormitórios.

- Eu não sei onde é.

- Me siga. – Falei.

Não me lembrava exatamente onde ficavam os dormitórios, afinal, eu havia ido a Ala sul apenas uma vez antes dela ser proibida.

Eu usei mais minha intuição do que senso de direção.

Não sei dizer também por quanto tempo nós andamos debaixo da chuva fria. A luz da lanterna que havia nos restado estava fraca e mal iluminava o caminho.

Parecia que estávamos andando em círculos por mais de duas vezes pensei ter passado pelo mesmo lugar, mas, não dei atenção pensando que com certeza era por que era noite e quase não conseguia distinguir nada.

Na terceira vez que pensei que estava passando pelo mesmo local, parei.

- Nós estamos andando em círculos. – Tenten disse convicta.

- Como sabe? – Perguntei temendo a resposta. 

- Intuição – Ela respondeu. – Parece que estamos em um labirinto. – Falou.

Senti minhas mãos tremerem quando a luz da lanterna piscou.

- Tenten, você trouxe pilhas?

- Por que eu traria pilhas? – Ela perguntou e eu segurei a mão esquerda dela.

Como se respondendo-a, a luz da lanterna piscou e se apagou.

- Por isso. – Respondi quando ficamos totalmente na escuridão.

- Sakura... – A ouvir dizer. – Não solte minha mão.

- Nem em sonhos. – Respondi tentando acostumar minhas vistas a escuridão.

- E agora o que vamos fazer? – Tenten perguntou.

- Não faço a mínima ideia. – Respondi.

- Se ficarmos paradas aqui, iremos morrer hoje mesmo de frio ou de pneumonia daqui a alguns dias. 

Antes que eu pudesse dizer algo a lanterna piscou mais uma vez, propagando uma luz fraca.

- Vamos procurar algum lugar para nós proteger. – Disse a ela.

- Não vamos procurar os dormitórios?

- Esse lugar deve ter algum tipo de proteção – Falei. – Por que já era para termos encontrado os dormitórios, e eu acho que não estamos na Ala Sul...

- O quê?

- Eu acho que estamos na floresta.

Tenten travou. Iluminei o rosto dela com luz fraca da lanterna. Ela estava apavorada.
- Como? - pelo tom de voz dela pude sentir seu medo. - Como podemos estar na floresta se estamos na Ala sul?

- Tenten – Disse tentando tranquiliza-la. – Nós vamos ficar bem, basta encontrarmos algum lugar para nos escondermos até de manhã.

- Saku... Ra – Ela gaguejou. 

- Tenten fique calma – Pedi. – Você não pode surtar agora. – Falei.

Eu tentava não surtar.

Os olhos dela estavam arregalados e ela parecia apavorada.

- Nada vai acontecer com a gente. – Tentei novamente tranquiliza-la. A luz da lanterna voltou a se apagar e daquela vez eu soube que não iria voltar a funcionar. 

Ela apertou minha mão com força.

- Sakura tem algo seguindo a gente. - Ela disse me fazendo gelar.

- Mas o quê? – Virei minha cabeça em varias direções tentando ver algo, mas, nada.
Eu não conseguia ver nada.

- Eu não sei – Ela gritou. – Mas está aqui, bem atrás da gente.

- Tenten... 

E de repente minha mão não segurava mais a dela.

Ela não estava mais do meu lado.

- Tenten!!! – Gritei sem obter resposta. – Tenten!!!

Eu não sei se sentia mais medo por estar ali sozinha ou por que algo tinha levado Tenten.

Algo sem som... Sem face.

Eu podia sentir as lágrimas rolando de meus olhos se misturando com agua da chuva enquanto eu corria em meio a escuridão, esbarrando em arvores e gritando por Tenten.

Corri tanto que não tinha a mínima ideia de onde estava , de onde Tenten estava e com quem estava, até que tropecei em algo duro e caí.

Meu pé direito latejou e desejei não o ter torcido.

Levantei e ignorei totalmente a dor no meu pé que me impedia de firma-lo no chão.

- Tenten... – Chamei novamente, mas, só o barulho de trovoadas soava aos meus ouvidos. – Tenten... 

Eu não sabia o que fazer. Estava tão escuro. Naquela altura nem o frio e nem a dor me incomodava mais, somente medo era o que eu sentia.

Medo, forte e paralisante.

Mesmo não enxergando nada mantive meus olhos bem abertos. 

Apesar de todo o barulho da chuva foi audível o estralo atrás de mim.

Meu coração falhou uma batida quando percebi que não estava mais sozinha.


Continua...