Felicidade escrita por Kichi


Capítulo 1
Capítulo 1 - Único




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Karakura - 04h23min da madrugada         

 

Uma fria brisa entrou sorrateira pela janela daquele quarto tão amplo, despertando um jovem rapaz no auge de seus vinte e dois anos. Cabelos alaranjados bastante rebeldes; orbes de um castanho inigualável, tom de avelã; traços masculinos e sutis... Essa era a descrição de Kurosaki Ichigo.

 

Depois de se espreguiçar de forma contida, Ichigo direcionou seus olhos para a janela, sentindo mais uma corrente de ar adentrar o cômodo. Observou então, que o céu ainda escuro estava repleto de pequenos pontos brilhantes, acompanhados por uma belíssima lua cheia, indicando que demoraria até um novo dia surgir. Logo sentiu entre seus braços fortes o pequeno e delicado corpo da pessoa mais importante em sua vida, da sua mulher.

 

Um sorriso bobo começou a brincar em seus finos lábios... Como estava feliz!

 

Toda a cama ficara impregnada pelo cheiro dela, um suave e doce aroma de jasmim. Passou então, a olhá-la atentamente, não escondendo o rubor ao lembrar-se de que ambos estavam totalmente despidos, a não ser pelos lençóis azuis que os cobriam.

 

Acariciou os ombros da pequena, sentindo a silhueta dela contra seu próprio corpo. Já haviam passado algumas noites juntos, mas aquela foi a primeira como casados, estavam de lua-de-mel. Não pôde evitar sorrir novamente.

 

Pele branca e lívida, semelhante à porcelana; orbes azuis-violeta; personalidade forte e explosiva... Essa era Kuchiki Rukia, agora, Kurosaki Rukia.

 

Ichigo começou a se lembrar de como tudo começou. Ele era tão imaturo na época... Não acreditou nos próprios sentimentos por muito tempo, camuflando-os com as inúmeras briguinhas que tinham diariamente. Foi necessário um ‘empurrãozinho’ da baixinha para ele ter certeza do que realmente queria: ser feliz.

 

Cinco anos atrás...

 

Não conseguia dormir há mais de uma semana. Passava as noites pensando nela e por mais que tentasse, não conseguia tirá-la da mente. Isso o perturbava, e muito! Conhecia Rukia há pouco mais de dois anos e eram somente amigos. Não entendia o porquê de seus sentimentos terem mudado de repente, e se criticava duramente por seus pensamentos quando ela estava por perto, pondo a culpa nos hormônios adolescentes. Além disso, o fato de ela dormir no seu armário complicava ainda mais sua vida.

 

Cerca de três dias atrás, Ichigo havia sonhado que estavam se beijando apaixonadamente e sem querer soltou um gemido abafado, que foi ouvido por Rukia. A mesma pensou que o jovem poderia ter sido atingido por um inimigo e que estava machucado ou algo parecido, com uma preocupação que não lhe era normal, saiu imediatamente da sua ‘cama’ improvisada, dando de cara com um ruivo extremamente avermelhado, ainda dormindo.

 

“O que será que ele está sonhando?” Era a pergunta que a pequena garota repetia mentalmente, corando com as hipóteses.

 

No dia seguinte, Rukia acordou decidida a descobrir o que estava acontecendo com Ichigo. Depois de muito pensar, chegou a conclusão de que a alternativa mais provável era: ele estava gostando de alguém, ou no mínimo, interessado. Isso a deixou imensamente triste, mesmo não sabendo exatamente o motivo. Talvez ela soubesse, e apenas não quisesse acreditar. Mas sabe como é, um Kuchiki nunca dá o braço a torcer.

 

Interrompeu seus devaneios e logo começou a se arrumar, terminando de pentear os negros cabelos instantes depois. Saiu do armário e revistou o quarto com seus grandes orbes violetas, procurando um certo garoto com nome de morango, ou protetor, como o mesmo sempre afirmava.

 

Estranhou o fato de não encontrá-lo, pois ela sempre era a primeira a sair. Chateada e com muita fome, pegou seus livros e pulou a janela, caminhando vagarosamente em direção ao colégio.

 

No percurso, comprou aquela bebida difícil num mercado. Como era mesmo o nome? Ah, é claro! Suco de caixinha. Agora ela já sabia abri-lo, embora preferisse que Ichigo o fizesse.

 

Mal atravessou os portões e já ouviu os gritos histéricos de Keigo.

 

- Rukia-san! Como senti sua falta. - Disse o garoto com um estranho brilho nos olhos.

 

- Asano-kun! Não fale assim, fico envergonhada. - Falou Rukia com o costumeiro tom falso, demasiado irritante. Como podia sentir saudades, se eles se viram ontem, pela manhã? Pensou com seus botões, sabendo o quanto excêntrico o rapaz era.

 

- Já lhe disse Rukia-san, me chame de Keigo. -

 

- Hai, Hai... Keigo-san. -

 

- Mizuirooooo! - Gritou emocionado para o rapaz que chegara há poucos instantes. - A Rukia-san me chamou de ‘Keigo-san’.

 

- Keigo, eu vi você pedindo para que ela o chamasse assim. - Respondeu entediado, antes de ser agarrado por uma de suas fãs.

 

- Buááááá... Eu tenho amigos tão cruéis! - E correu na direção oposta ao colega, dramatizando com gestos extravagantes.

 

Rukia já tinha se acostumado com todo o ambiente colegial e seus estudantes um tanto ‘estranhos’, por isso nem ligara. Continuou andando pelo pátio da escola sem notar que era observada.

 

Ichigo se irritou ao ver a baixinha tratar seus amigos tão bem, mesmo que falsamente, enquanto ele recebia caneladas e socos bem aplicados. Suspirou pensativo. Ainda que fosse tratado assim, não conseguia deixar de gostar da garota. Como amiga, é óbvio. Disse internamente, afirmando uma verdade que nem mesmo ele tinha total certeza.

 

As aulas passaram devagar, deixando todos muito cansados. Rukia e Ichigo mal se falaram, até aquele momento.

 

- Ei! - Cutucou o rapaz ao seu lado, que parou de fazer o exercício de física e encarou-a. - Meu celular está tocando. Tem um hollow de grande poder espiritual a leste daqui.

 

- Certo. Mas como vamos fazer pra sair da sala? - Indagou num murmúrio.

 

- Já tenho tudo planejado. - Terminando de dizer isso, a garota chutou a canela do rapaz, que logo fez uma careta engraçada, se esforçando para não gritar.

 

A pequena shinigami levantou-se da carteira, gritando na direção da professora de física, sentada agora frente à mesa.

 

- Professora! - Exclamou a Kuchiki. - O Kurosaki-kun está com dor de barriga. Veja a expressão dele. - Postou as mãos sobre o peito, fingindo preocupação.

 

- Sua... - Sussurrou o shinigami substituto, sentindo a perna dormente.

 

- É mesmo, ele está com a cara pior do que os outros dias... - Comentou a professora, fazendo boa parte dos alunos rirem. - Certo! Leve-o para a enfermaria Kuchiki.

 

- Hai! - Completou a garota, arrastando um morango muito mal humorado para fora da classe.

 

Após trocarem inúmeros xingamentos e apelidos bizarros – como cabeça de cenoura ambulante e pintora de rodapé -, ambos transformaram-se em shinigamis e guardaram o corpo de Ichigo na sala de produtos de limpeza, seguindo na direção apontada pelo celular.

 

Em poucos minutos eles já estavam lutando com um imenso hollow, que mais parecia ser um gigantesco gorila repleto de chifres. Poderiam ter acabado com o monstro rapidamente, se o mesmo não bloqueasse os ataques que lhe eram lançados.

 

Rukia prestava atenção em todos os movimentos feitos por ele e parecia nunca descobrir um modo dos ataques ultrapassarem sua barreira protetora. Tentou então, o único plano que lhe viera à mente. Chamou por Ichigo e contou o que ele deveria fazer.

 

- Pode dar errado! - Exclamou o rapaz, defendendo-se de um golpe do hollow.

 

- Baka! Eu sei disso, mas essa é nossa única chance, temos que tentar. - Falou num tom brando, como se quisesse amenizar o coração do Kurosaki.

 

- Hai... - Disse depois de encará-la brevemente, conseguindo ver sua alma através daqueles olhos violetas.

 

O plano era simples e consistia em três etapas. Primeiro Rukia iria distrair o hollow, enquanto Ichigo preparava sua zanpakutou. Depois, o rapaz aplicaria um golpe no ponto cego do monstro, onde ele não poderia se defender, ficando atordoado. Por último, antes da barreira de proteção se reconstruir, os dois unificariam um de seus ataques, liquidando-o.

 

Tudo correu perfeitamente bem, até chegar à terceira fase do plano. Ao atingir o hollow, uma explosão muito grande devastou a área, fazendo surgir uma enorme clareira na floresta.

 

Ichigo, que voara uns metros após o poderoso ataque, levantou dolorido do chão e procurou por Rukia, avistando-a um tanto distante.

 

Ao se aproximar, viu as vestes da garota manchadas de sangue, coisa que o deixou desesperado. Chamou pelo nome da shinigami diversas vezes, mas ela parecia estar em sono profundo. Aliviou-se ao sentir o coração dela bater junto ao seu, no momento em que a pegou no colo.

 

Alguns instantes depois, ele deixou o lugar rumo à escola, onde pegou seu corpo e logo iniciou a caminhada de volta para casa dos Kurosaki.

 

Entrou pela janela de seu quarto, a fim de encurtar caminho e depositou a jovem sobre os alvos lençóis de sua cama.

 

Foi na cozinha e encheu uma bacia com água para limpar os ferimentos de Rukia, que se concentravam na barriga e no rosto. Pegou uma toalha e molhou-a no recipiente, passando-a cuidadosamente nos arranhões do frágil rosto a sua frente.

 

Depois, teve de levantar uma parte da blusa que a garota vestia para limpar os ferimentos mais graves, coisa que o fez corar até o último fio de cabelo ouriçado. Colocou um remédio cicatrizante sobre as feridas, e enrolou a barriga da jovem com faixas limpas.

 

Ainda muito preocupado, Ichigo ficou acariciando a bochecha de Rukia, não deixando de reparar na sua beleza. Mesmo que não possuísse formas tão chamativas quanto às outras garotas, ela conseguia mexer com seu interior de uma forma assustadora.

 

Sem perceber, ele foi se aproximando cada vez mais da pequena shinigami, achando os rosados lábios ainda mais convidativos. Roçou sua boca na dela, sentindo um arrepio percorrer-lhe a espinha.

 

Uma voz na sua cabeça dizia-lhe insistentemente que aquilo era errado e que ele deveria se controlar. Mas Ichigo pouco se importou com aquela vozinha chata, começando a aprofundar o beijo tão desejado.

 

De repente, a boca sob a sua passou a mover-se também, aumentando pouco a pouco a intensidade dos movimentos. O jovem ficara tão surpreso que se levantou apressado, vendo os hipnotizantes orbes violetas se abrirem lentamente.

 

Pensou em pedir-lhe desculpas, mas beijá-la enquanto estava desmaiada não tinha perdão, foi estúpido de sua parte.

 

“Se bem que ela correspondeu ao beijo... E que beijo!” Refletiu com um minúsculo sorriso no canto dos lábios, se martirizando instantes depois.

 

O que deu nele? Por que fez... aquilo? Oh, não! Será que ele puxara seu pai nesse quesito? Seria um pervertido? Ou só estava apaixonado? Ficou atônito ao perceber a pergunta que fizera inconscientemente.

 

Não sabia o garoto, que a baixinha - como gostava de chamá-la - tinha as mesmas dúvidas martelando insistentes na cabeça. Mesmo que fosse quase dez vezes mais velha e tivesse mais experiência de vida - não de romance, por que pelo que lhe constava, ela nunca tivera namorado -, Rukia ainda não sabia como reagir.

 

O que acabara de acontecer? Ichigo a beijara mesmo? Sim. Não era louca a ponto de fantasiar tal cena, nem de imaginar o calor que a proximidade dos lábios do garoto lhe proporcionaram. Aquilo foi real o bastante para fazer os sentimentos que ela tanto se esforçava em esconder desabrocharem.

 

Sentou-se com um pouco de dificuldade e encarou o morango.

 

- Ichigo... - Começou dizendo.

 

- E-eu... Desculpe-me. - Falou abaixando o olhar envergonhado. Ele finalmente percebeu o que sentia, mas por que não se declarava? Por quê?

 

- Shiiiu... - Fez um gesto com a mão, mandando-lhe de uma forma meiga que ficasse em silêncio. - Vejo que está tão confuso quanto eu. - Murmurou com um pequeno sorriso, tentando amenizar o clima tenso. - Eu acho que... Gestos iram dizer mais do que palavras.

 

Logo a pequena garota levantou da cama com um pouco de dificuldade, aproximando-se a passos lentos de um Ichigo muito surpreso, que tentava a todo custo por os pensamentos em ordem.

 

Ambos olhavam-se intensamente, absorvendo cada detalhe daquele momento tão esperado – mesmo que em seus subconscientes. O ruivo tinha as mãos frias e suadas, enquanto a jovem caminhava confiante, sentindo uma leve alteração nos batimentos cardíacos.

 

Quando estava perto o suficiente, Rukia apoiou os braços no abdômen bem definido de Kurosaki e ficou nas pontas dos pés, fechando os olhos no instante em que sua boca finalmente se encontrou com a dele.

 

O rapaz até então assustado, enlaçou a fina cintura daquela que conseguira conquistar seu coração, tomando o controle do beijo e aumentando o ritmo de acordo com seu desejo.

 

Suas línguas, antes tímidas, agora dançavam unidas, testemunhas de um amor nascido dos laços da mais verdadeira amizade. Um amor que rompe barreiras, unifica as almas e leva o ser humano a um sentimento puro e único.

 

A felicidade.

 

Owari

 

 


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Notas finais do capítulo

AEAEAE *Q*
Ichigo & Rukia é mais do que amor, man. Eles tem uma química incrível