Eu estava deitada, de frente para a parede. Minha mão direita estava espalmada nela. Eu cantava baixinho a musica que saia de meus fones de ouvido. Era Everything. Do Lifehouse. Meus pensamentos teimavam em imaginar se ele aparecesse ali ou, trazia lembranças dele me chamando de gorda.

         A verdade era que eu tinha medo desse novo garoto nascendo dentro dele, mas tinha também pena. Vontade de ajudá-lo. Mas como eu faria isso se ele não queria minha ajuda?

         Senti o colchão atrás de mim afundar. Fechei meus olhos, deixando uma lagrima solitária cair. Ele largou o cobertor pelo meu corpo se deitando atrás de mim, me abraçando pela cintura. Ele tirou um de meus fones o colocando, para ouvir a mesma musica que eu.

         Eu sentia seus lábios, cantando a musica junto, bem baixinho, roçando em meu pescoço. Fingindo estar meio dormindo, me mexi o fazendo entender que devíamos nos ajeitar melhor. Ele colou sua perna no meio das minhas, colou ainda mais em meu corpo, pegando minha mão ainda espalmada na parede e entrelaçando nossos dedos. Nós ouvíamos a musica chegando ao fim, como se fosse a nossa musica. Nós sabíamos, naquele momento, que independente do nosso futuro, aquela seria a nossa musica.

         Ele respirou fundo em meu pescoço, me deixando arrepiada. Seu corpo paralisou ao notar isso. Ficamos alguns segundos paralisados, enquanto eu me chutava internamente. Só acordei de meus pensamentos quando senti seus lábios formarem uma pequena trilha, de minha bochecha até o canto dos meus lábios.

         Bom, o que eu poderia fazer?

         Eu era fraca.

         Eu precisava dele.

         Por mais que ele não precisasse de mim, eu me sentia bem sonhando com a idéia de que tudo isso poderia dar certo. E foi esse meu sonho que me fez virar para ele, subindo e descendo minhas mãos em suas costas. Eu não abri meus olhos. Não queria encontrar os dele – o que certamente aconteceria apesar da escuridão. Ele simplesmente me deixou continuar com as carícias, passando um braço por baixo de meu corpo, me colando ainda mais. Ele colou nossas testas e respirou fundo.

         Não sei o que estava acontecendo, mas, fosse o que fosse eu mudaria nossa situação. Eu precisava provar pra ele quem era a garota gorda que tropeçava nos próprios pés. Se agora eu precisava dele, eu mudaria tudo. Eu poderia inverter os papéis.

         E tudo o que eu mais queria no momento era que ele precisasse de mim, como ninguém nunca precisou algum dia. Eu queria que ele me visse além do meu peso, do meu jeito atrapalhado. Queria que ele buscasse algo em mim. Que ele tentasse melhorar me mantendo perto dele.

         Justin cantou as próximas três ou quatro musicas. Depois disso não sei se eu dormi primeiro ou ele.

         Acordei com a voz de uma mulher me chamando. Bom, na verdade ela chamava o Justin, mas ele só resmungava e me apertava mais em seus braços. Abri os olhos devagar, vendo Pattie ao lado da velha que trabalhava ali. A luz mais distante de nós estava ligada. Kenny estava parado na porta, e Justin continuava me puxando pra ele, puxando meus braços para que eu o abraçasse.

         Pattie riu pra mim, quando eu a olhei, arregalando os olhos.

-         Vamos querida? Venha, vamos para casa.

-         Que? - Sussurrei sem querer acordar Justin. Finalmente me rendi a ele, devolvendo o abraço que ele tanto queria, mas ainda sem dar bola pra ele. Eu olhava para Pattie tentando entender o que ela falava.

-         Bom, na verdade o hotel.

-         Mas porque isso agora? - Olhei para Justin, que ainda estava tenso. Beijei sua bochecha e no segundo seguinte ele relaxou os braços em minha volta. Aproveitei o segundo para levantar, o deixando ali. Mas ele, teimoso, passou os braços pelo colchão me procurando, e encontrando meus pés. Ele os segurou me puxando próximo a ele de volta. Todos riam enquanto eu ficava desesperada tentando me equilibrar. Quando ele parou, voltei a falar a olhando, confusa. - Porque a senhora está fazendo isso? Digo... Não seria melhor acordar ele logo? Assim vocês podem voltar a dormir logo.

-         Mas você vai junto, Julianna.

-         Eu vou? - Voltei a arregalar os olhos, enquanto Pattie sorria pra mim.

-         Não vamos te deixar dormindo aqui. - Olhamos em volta, lembrando de como o local estava depois de Justin tentar destruí-lo. Agora já estava arrumado, mas eu ainda podia ouvir sua voz desesperada gritando com a mãe. - Vamos no caminho eu explico.

-         Não sei se devo, eu-

-         Ah, vamos logo. Não é toda a garota que meu filho gosta que eu saio convidando pra dormir. - Ela segurava o riso, agora olhando Justin ainda agarrado em mim.

-         Mas... Como vocês vão acordar ele? - Os três riram de mim e Kenny se aproximou.

-         Não vamos acordá-lo. Kenny o leva. - Pattie explicou enquanto Kenny fazia cócegas em Justin, fazendo com que ele me soltasse. Me afastei do colchão, parando atrás de Pattie. Vendo Justin se remexendo na cama.

-         Que foi? - Ele sussurrou, se mexendo.

-         Nada filho. Pode dormir. - E mal Pattie acabou de falar, ele já estava dormindo, enquanto Kenny o pegou no colo, saindo do estúdio. Peguei minha mochila e a de Justin, e Pattie me esperou, saindo ao meu lado. Eu sai cambaleando, ainda meio confusa com a claridade, evitando olhar para ela, ao meu lado.

         Estávamos entrando no – grande – carro, e Justin incrivelmente dormia no ombro de Kenny. Pattie me olhou, esperando que eu dissesse algo. Abaixei o olhar sentindo meu rosto esquentar e então ela começou.

-         Ele me pediu desculpas. Chorou, disse que estava com medo disso tudo. Ele deitou em meu colo dizendo que queria poder voltar no tempo. Você não sabe o quanto me doeu ver ele daquele jeito. - Pattie estava com os olhos cheios d'água. - E ele me contou o que aconteceu com vocês. Mas parece que vocês já resolveram tudo...?

-         Ah, na verdade não conversamos. - Desviei o olhar, observando Justin dormir. Ele era sempre tão fofo, seu cabelo estava desarrumado, ele sorria fraco enquanto dormia. Sua respiração era calma e ele parecia um anjo. Pattie me tirou de meus devaneios segurando minha mão. Eu a olhei, assustada.

-         Não seja dura com ele. Ele é só um garoto que teve que crescer mais rápido. - Ela olhava pra ele demonstrando o orgulho que sentia. - Tudo bem que as vezes ele fala o que não deve. Mas ele é um bom garoto. E ele gosta tanto de você...

         O hotel era grande, luxuoso, como eu imaginava. Dentro do elevador Pattie e Kenny contavam as muitas vezes em que Justin dormia e Kenny precisava carregar ele por todos os lugares. Nós riamos baixinho do bico que Justin fazia quando Kenny o apertava. O quarto que eu ficaria era ao lado do quarto de Pattie. Era grande e claro. E tinha uma pequena sacada.

         Fiquei um tempo olhando para a rua, praticamente deserta, com as palavras anjo e gorda fixas em minha mente.