Hades I Terra-inversa escrita por JMoona


Capítulo 7
Capítulo 4 - 1704


Notas iniciais do capítulo

Capitulo pequeno, gente. Ele é assim mesmo... Essa é a parte estranha do meu livro.. Não tem uniformidade no tamanho dos capitulos. Achei que seria melhor assim... Estou passando por um período meio difícil da minha vida. O desestímulo, a falta de vontade de levar adiante porque as coisas não dão certo... Enfim, não está sendo fácil. Estou fazendo o possível para ler fics e me colocar em dia. Espero que continuem comentanto e passando adiante, isso me ajuda muito a ficar mais animada, porque aí eu sei que o tempo que gastei escrevendo não foi um erro e nem um atraso. Eu amo escrever... E pensar que foi um erro - porque me atrasou a vida profissional - só acaba comigo. Mas eu acredito que não fiz besteira... Obrigada por ler e acompanhar.



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Oliver esperou duas longas horas, abaixo da sombra fornecida pelo teto da parada de ônibus. Quando o pequeno fusca rosa surgiu na estrada de asfalto coberta por terra seca, Oliver levantou de sobressalto.

– Finalmente – murmurou com a boca seca. Desejou um copo de água mais do que nunca.

Não havia nada em volta além do mato alto, um armazém de fachada gasta e a carcaça de um carro velho envolta pelo mato selvagem. Oliver entrou forjando uma expressão séria.

– Oliver! Por onde você andou? – questionou a mulher, preocupada.

Seu nome era Anne e seu olhar, amigo. Deveria ter a mesma idade de Oliver, cabelos cor de mel, lisos até um pouco abaixo do ombro e olhos verdes como o oceano. Seus lábios rosados comprimiram-se, formando uma linha fina reprovativa. Era bonita, entretanto não atraía Oliver de nenhuma forma. Talvez não houvesse espaço para uma mulher em sua vida conturbada, por isso não desenvolvia seu lado romântico. Ela era a mulher que havia conversado no telefone quando seu carro pifou.

– Fui roubado – mentiu. – e bati a cabeça, mas estou bem. Obrigado por vir me buscar e desculpe interromper seus estudos, mas não tinha ninguém mais a quem recorrer.

– E pensar que você não gosta desse fusca – comentou ela, rindo. – Está melhor?

Oliver apalpou a faixa.

– Sim, estou bem. Vamos embora de uma vez desse lugar... Não aguento mais um instante aqui. Vou fazer um boletim de ocorrência quando chegar a Porto Alegre. Como está Cecília?

Anne deu meia volta com o fusca e seguiu pela mesma estrada que viera.

– Bem, fui vê-la hoje de manhã. Os medicamentos estão acabando... E eu não estou gostando de sua temperatura. Acho que está com uma virose. – Anne era a enfermeira que Oliver contratara para cuidar de sua mãe enquanto estudava e trabalhava. – Me admirei por não tê-lo visto lá.

A viagem foi silenciosa. Oliver não gostava de falar e nem Anne fazia perguntas. O tempo estava ensolarado e fresco, devido à chuva que caíra no dia anterior. Uma brisa agradável entrava pela fresta da janela. A estrada também se encontrava vazia, mais do que o comum.

– Que tempo louco, não? – perguntou Anne quando já se encontravam próximo a Porto Alegre.

Havia construções grandes e antigas de fábricas ao redor da estrada. Veículos circulavam pelos dois lados da pista naquele trecho que era um pouco íngreme e perigoso, devido aos maus tratos da via. Anne dirigia com cuidado e velocidade reduzida. Seu fusca também não era condicionado a grandes corridas.

– Você nem imagina – devaneou Oliver, apalpando o bolso e juntando a bolsinha de couro.

E se estivesse mesmo louco e Pierre não fosse real? Então que diabos o ferimento do casco fazia em sua cabeça e o ouro em seu bolso?

– O que é isso? – perguntou ela interessada.

– Nada de mais, apenas algumas bugigangas.

Sabe-se lá quanto dinheiro conseguiria com aquele ouro. O suficiente para pagar o salário de Anne, a mensalidade da faculdade e as contas atrasadas. Seria o fim de suas dívidas? Não deixou de pensar em Pierre e Marlyn. Lembrava muito bem de suas fisionomias, mesmo que a cabeça doesse a ponto de incomodar sua concentração. Ouviu um zumbido distante. Pensou que fosse impressão sua...

– Como vão os estudos? – perguntou Oliver, enfiando o dedo na orelha para ver se aliviava o som semelhante ao zumbido de uma abelha.

– Vão bem. Meu curso de enfermagem deve terminar no próximo semestre... Estou empolgada com as expectativas de trabalhar em um hospital, é o meu sonho desde pequena. Creio que realizarei meu propósito de ajudar pessoas.

Oliver ajeitou-se no banco felpudo. O som estava ficando mais alto... Deu um tapinha em sua orelha e pigarreou, olhando para fora em busca de distração.

– Que bom – disse, mas não percebeu que o zumbido estava tão alto a ponto de fazê-lo gritar. – Seus pais devem estar orgulhosos.

– Minha mãe está... – respondeu ela, estranhando o comportamento do outro – Por que está gritando?

– O quê? – questionou alto, olhando para ela. – É esse zumbido que não me deixa ouvir direito!

Oliver olhou para o rádio achando que estava ligado.

– Como se desliga isso?

– Que zumbido? – perguntou Anne. – O rádio não funciona, Oliver!

Ele riu para desfazer o nervosismo que o dominava. A brincadeira estava perdendo a graça. Começou a apertar os botões do painel do rádio estragado e uma série de números acendeu-se atrás da pequena tela negra. O número 1704 estampou-se por fim. O chiado tornou-se mais inquieto, mas reduziu gradativamente.

– Atenção, torre de comando... – disse uma voz metálica distante proveniente do rádio.

Oliver fitou o aparelho. O chiado não permitia que se ouvisse com clareza.

– Atenção, aqui quem fala... Voo 170... uestro... ora de... Ole... – dizia a voz freneticamente. – Indo...

– O que você está fazendo? – Anne olhou para o rádio, sem compreender. Não estava ouvindo nada.

– Você... – Oliver encarou-a com preocupação. – Você não está ouvindo?

Anne meneou a cabeça negativamente, receosa. Os chiados do rádio alternaram-se. Teve a impressão de ouvir um estouro e um grito.

– ...indo... amos... indo.... – dizia a voz um pouco mais histérica. – ...orro... Socorr...

Oliver desferiu um soco no rádio, partindo-o quase ao meio. Respirava ofegante e, ao mesmo tempo, tentava controlar-se. Anne estacionou o veículo no acostamento e virou-se completamente para o amigo.

– Oliver! O que está acontecendo?

E o chiado não parou. Oliver cobriu os ouvidos.

– Torre de controle... – repetiu a voz uma última vez.

O som ficou mais claro, revelando-se não estar dentro de sua cabeça. Ignorou Anne e virou-se lentamente para trás, olhando o avião que descia do céu. Sua velocidade fazia o ruído que Oliver estava ouvindo. Sua carcaça de Boeing balançava ora para um lado, ora para o outro. Uma fumaça escura desprendia-se de sua hélice da turbina direita, proveniente do fogo que queimava sobre sua asa branca.

Oliver arregalou os olhos. Ninguém parecia ver... Saltou para fora do carro, parando ao lado do veículo. Havia carros rodando pela rodovia, pessoas trabalhando nas indústrias e armazéns ativos muito próximos. E ninguém via! Ninguém parecia perceber o tremendo Boeing descer do céu como um cometa.

– Corram! – gritou Oliver com o ar faltando dos pulmões.

Caiu de joelhos e pôs as mãos na cabeça. O avião contorceu-se para o lado e sua asa mergulhou sobre o asfalto da avenida, erguendo carros, poeira e destroços para o alto. E ele veio em sua direção. Enorme, assustador. O calor emanado por suas turbinas acertou-lhe o rosto, depois, quando a frente do avião mergulhou no solo, pode sentir o tremor. Seus joelhos trepidaram e o tempo parou. No instante seguinte, o avião explodia, engolindo a estrada, as árvores ao redor e a ele mesmo.

O fusca desapareceu em pleno ar, transformando-se em uma maçaroca em chamas. Oliver cobriu o rosto com os braços e mesmo assim não impediu que o fogo o queimasse até os ossos. Primeiro a pele, depois os músculos. Conseguia ver, conseguia sentir a dor em seu mais íntimo. Gritou como pôde, mas nenhum som escapou de seus ossos.

– Oliver! – gritou Anne sacudindo-o.

Oliver abriu os olhos e respirou fundo, tão fundo quanto seus pulmões conseguiram. Suava frio e um filete de sangue escorria de sua orelha esquerda. Empurrou Anne instintivamente para o lado e situou-se; estava dentro do fusca estacionado no acostamento. Não havia zumbido, nem fogo. Olhou para trás e também não viu avião nenhum. Foi só um pesadelo.

Respirou rápido por longos instantes.

– Tudo bem? – perguntou Anne, pálida. – Você começou a gritar como um louco enquanto dormia!

– Desculpe – pediu ele, atordoado. – Foi um pesadelo... Vêm acontecendo com frequência ultimamente.

– Quem é Hades?

Oliver a encarou. Teria gritado isso também? Deu apenas de ombros e ela aceitou sua resposta, voltando a dirigir.

– Só um pesadelo – repetiu num sibilo de lábios sem som.


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