O Mundo de Greta escrita por larryn
"Estou toda arrepiada" pensei com as pupilas dilatadas. Sabe lá o que esperava a minha vida, até porque nunca pensei que pudesse sobreviver.
Encontrada numa mecânica de portas fechadas em Seattle, 1986. Perguntas sobre minha existência pairavam sobre minha mente, e as lágrimas pediam para sair. Era uma subnutrida, de encontro marcado com a morte. Já estiveram assim? Sentindo que o pouco que você fez, a vida está te pagando, com a o medo e o perigo.
Me deitei na caixa, e abaixei a cabeça. Queria correr, mas minhas pernas eram fracas. Queria miar, mas minha voz estava seca. Queria respirar, mas algo me impedia. Não sabia o que era, só sabia que era culpa do destino. O destino me fez uma gata de rua, e assim que iria passar o resto da minha vida. Sim,que terminaria naquele dia mesmo.
Olhei para os lados, só via peças sujas de óleo, e ratos perambulando. Poderia comê-los? Não, era pequena demais. Era mais fácil eles me comerem.
Tentei miar, e fiz todo o esforço que podia. Ficou algo bem sussurrado e parecia um gritinho abafado. Ninguém iria me ouvir. Na mecânica eu fiquei debaixo da proteção, e ela estava aberta. Qualquer ser irracional poderia me chutar e fazer travessuras comigo. Já sabia que eu tinha nascido para simplesmente ser uma parte suja desse ecossistema, rs. Que idiotice a minha, sonhar que poderia ter algo diferente na mera vida de filhote de gato. Mas por baixo dessa greve sentimental, eu ainda tinha esperanças..
*
Além do frio o sereno estava me deixando sonolenta; Mas tinha tanto medo que não dormia. Recostei minha cabeça na caixa; E ouvi distantemente, umas duas vozes. Acho que era de humanos. Dilatei minhas pupilas novamente, e levantei minha cabeça. Olhei para todos os lados, quase tudo estava escuro, e a luz da rua mantinha a única visão que poderia ter, já que ela não estava desenvolvida totalmente.
Os passos foram se aproximando, e logo pensei na possibilidade de ser maltrada por algum delinquente sem coração. As vozes se aproximaram e eu ouvi dizer:
- Quem te disse isso, Kurt?
- Ninguém precisou me dizer isso. Eu sei que eu vou morrer cedo. Além do mais...-interrompeu-se, e olhou para a caixa aonde eu estava.
A minha pulsação ficou forte, e a única coisa que via, naquela turva visão, era grandes olhos azuis. De fato, eu nunca tinha visto olhos tão estranhos, grandes..porém bem serenos e de pupilas semi-dilatadas. O que ele iria fazer comigo?
- Krist, olha isso - Ele me pega e logo alisa meu pelo - Um gatinho.. de quem deve ser?
- Sei lá de quem é. Deixa isso aí, Kurt. Se quiser falar com aquele cara logo, se quer pegar a farinha, é melhor ir logo! - disse o outro.
De alguma maneira, aquele moço dos olhos azuis,e de cabelos loiros - estava amanhecendo, então pude perceber- estava me observando. Parece que ele queria saber o que uma gata estava fazendo dentro de um caixa. O dó, ou simplesmente aquela admiração tomaram conta dele, que eu me senti protegida. Talvez, única.
- Vamos lá, eu levo ela comigo. - disse Kurt
- Vai levar esse gato pra se encontrar com o traficante, meu?! - disse Krist, rindo.
O loiro não respondeu nada. Pegou o meu pano que estava forrado na caixa, e me enrolou. Sinto que ele me via como um ser totalmente desprotegido - e eu era. Logo quando eles continuaram a andar, e eu estava nos braços de Kurt, ele disse para mim baixinho:
- Bem vinda vinda ao meu mundo, Greta.
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