Mycroft tinha um colega no colégio que tinha um papagaio. O garoto não tinha idéia da onde o outro conseguira um papagaio, mas ele tinha e ponto final. O jovem Holmes ficou interessado ao ouvir o outro menino contando sobre como ele ensinara o animal a falar coisas aleatórias como “God save the Queen” ou a cantar o refrão de Obla-di-Obla-da dos Beatles... Claro que, para a mente de Mycroft, ensinar um papagaio a cantar Beatles era uma perda de tempo, mas, mesmo assim, o menino ficou interessado naquela história de ensinar outro ser a falar.

Nessa época, Sherlock estava começando a querer falar. O pequeno passava horas balbuciando coisas incompreensíveis e isso não passou despercebido pelo irmão mais velho.

Nas semanas que se seguiram, Mycroft Holmes tinha apenas um objetivo: ensinar seu irmão a falar coisas mais interessantes do que “mamãe” ou “papai”... Ele queria que a primeira palavra de Sherlock fosse alguma coisa mais inteligente do que as usuais primeiras palavras de um bebê, por isso passava quase todo o tempo ao lado do mais novo, falando palavras e mais palavras, ensinando-o a como pronunciá-las e frustrando-se cada vez que seu irmão caçula apenas ria de sua cara ao invés de falar a palavra que ele tentava ensiná-lo.

“Dissonância, Sherlock...” O garoto sentava-se a frente do outro e anotava todas as palavras que já havia tentado fazê-lo falar, vez por outra voltando em algumas. Dissonância, por exemplo, já havia sido repetida pelo menos cinco vezes. “Vamos lá: dis-so-nân—cia.”

“Por Deus, Mycroft, seu irmão não tem nem um ano de idade! Se você quer ensiná-lo a falar, comece com palavras mais fáceis.”

“Palavras fáceis são entediantes,” o menino resmungou, olhando a mãe sair da sala aonde estavam, antes de voltar a olhar para o bebê. “Dis-so-nân-cia.”

Sherlock o olhou por um tempo, antes de abrir a boca. Aquilo fora o suficiente para um sorriso de triunfo aparecer no rosto do mais velho.

“Mah-coff.”

“O que?”

“Mah-coff!” O bebê repetiu, balançando as mãozinhas em sua direção.

“Não, não, não, Sherlock! Fale dissonância!”

“Mah-coff!”

“Não...” Ele olhou para o irmão, que agora engatinhava em sua direção, murmurando o seu nome. “Certo, Sherlock, você está pronunciando errado, é Mycroft...”