“Que olhos mais lindos!”

Era sempre assim. Sempre que sua mãe o apresentava à alguma de suas amigas, essas palavras saíam das bocas das senhoras enquanto elas seguravam o seu rosto para poderem dar uma boa olhada em seus olhos. O menino odiava aquilo. Odiava ter alguém o segurando e o analisando como aquela mulheres.

Secretamente, Sherlock desejava ter os olhos de seu irmão. Ele já havia percebido que Mycroft havia herdado o azul escuro dos olhos de sua mãe, enquanto ele, aquela cor mal definida de seu pai. Ninguém nunca prestava atenção nos olhos de Mycroft, isso também era um bônus de ter aquela cor.

Aliás, nessas pequenas reuniões de amigas que sua mãe realizava, Mycroft sempre era meio esquecido, mas o mais novo sabia muito bem que o outro gostava das coisas assim... Principalmente quando podia passar despercebido enquanto ria do desconforto do irmão ao ser o centro das atenções.

“Que olhos mais lindos, Shelock!” O mais velho brincou, assim que o irmão passou por ele após ser dispensado pela mãe.

“Fique quieto.”

“Você sabia que olhos claros são um atraso na evolução?” perguntou Mycroft, divertindo-se com o revirar de olhos que o mais novo deu. “São muito mais sensíveis.”

“Seus olhos não são um exemplo de olhos escuros, Mycroft.”

“Eu sei,” disse o mais velho, aproximando-se do outro e segurando o seu rosto da mesma maneira que as amigas de sua mãe faziam. Sherlock bufou baixinho enquanto encarava o irmão. “Mas são bem mais escuros que os seus. Bom, considere-se com sorte: o que, na evolução, é uma falha, para algumas pessoas é a coisa mais atraente que existe. Imagine quantas pretendentes vai conseguir com olhos tão diferentes?” O garoto imitou a voz de uma das senhoras que estavam na sala de visitas. “Olha só...”

“O que?”

“Venha.” Mycroft segurou o irmão pelo ombro e o puxou até o espelho mais próximo. “Seu olho direito.”

O menor encarou a própria imagem por um tempo, antes de focar-se em seu olho direito. A mesma cor estranha, o mesmo formato... Mas o que Mycroft queria que ele visse?

“Ah.”

“Para alguém tão observador você deixou passar isso por muito tempo.”

“Você também,” disse o mais novo enquanto observava como a sua pupila direita parecia sair do contorno perfeito de um círculo, fazendo ‘vazar’ um pouco do preto dela para cima.

“Pronto, irmãozinho, agora sim essas senhoras podem dizer que você tem olhos únicos.”

“Ninguém vai perceber um coloboma assim tão pequeno.” Sherlock soltou um muxoxo. “A coisa mais interessante e ninguém vai perceber.”