Seus suaves movimentos eram como o farfalhar de plumas, tão brancas quanto sua pureza, se isto fosse possível.

Because she is my little white swan

My little white swan

Um delicado esboço de um tímido sorriso formou-se no rosto da bailarina. Seus olhos perolados emanavam uma calma que contagiava a todos os espectadores do anfiteatro. Seus movimentos eram firmes e suaves, no compasso exato da orquestra, que tocava magistralmente ao fundo.

As mãos, pequenas e frágeis, contrastavam com sua dança, forte e envolvente.

Someday, somehow

I know I’ll hurt you so bad

A apresentação continuava, outros bailarinos postavam-se em volta da principal; the white swan. Porém, eu poderia abdicar facilmente de todos os adornos, cenários, personagens secundários, platéia, absolutamente tudo.

Para mim, aquilo era algo particular; um show de sentimentos, entre a pequena garota e eu. Suas sapatilhas batiam no chão quase com tanta intensidade quanto meu coração por ela, naquele instante.

Eu sentia seus olhos me envolvendo, como se me sugassem para aquela exacerbada dança, repleta de luxúria velada e sentimentos impotentes.

Sua cintura firmemente apertada pelo branco corpete do vestido, uma meia fina branca quase imperceptível, tamanha sua palidez. Sua linda palidez. Aquela encenação perfeita; quase um lamúrio rouco e louco, mas perceptível, a quem quisesse ouvir. Tirem-me desse mundo imaculado, tirem-me. Como se arrancasse sua própria pele, estava cansada do branco. Queria experimentar outras cores. Cinza pareceu-lhe atraente, uma mescla de duas cores tentadoras. Um cisne cinza não era de todo uma má idéia.

Just to have the pleasure

Of hear you screaming my name

Eu poderia dar isso a ela. Basta um olhar para que eu lhe dê tudo que deseja. White swan.

Sentia-me cada vez mais prepotente, querendo dar liberdade àquela pobre alma pura, implorando para ser maculada. Seus olhos sedentos de vida, e seu corpo preso por um espartilho, o qual a sufocava.

O espetáculo acabava. A dança começava a adquirir um ritmo mais lento, o ápice chegando, a platéia vidrada na atmosfera própria que a dançarina criava.

Ápice. As inúmeras palmas estouraram o anfiteatro lotado. Percebi o olhar desorientado da garota, como se precisasse absorver toda aquela adrenalina, toda a emoção, para manter-se de pé. Tinha certeza que cada palma era um nirvana para ela.

Aplaudi. Ao sair do anfiteatro, pensei o que poderia fazer por ela. Nada. Porém, se ela percebeu nos olhares da multidão, que outras pessoas além de mim sentiram-se em outro mundo olhando para ela, o que ela pensaria? 

O que será que essa miúda garota pensaria, se soubesse que eu aceitaria libertá-la dos cárceres daquele mundo enfadonho?

And when that day comes

You can call me your demon.

Acredito que ela adoraria a cor cinza.

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