Treina Comigo escrita por Carlos Abraham Duarte


Capítulo 13
Intermezzo


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo, algumas das pontas deixadas soltas nos anteriores serão amarradas (não todas - ainda - só algumas).



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   - Domo arigato, Yorukage-san - Lino Tadeu Pires, novo professor de Geografia da Academia Youkai, agradeceu polidamente à aluna do 1º ano Kaori Yorukage, de pé à sua frente. - Por livrar o Tsukune-kun e as amigas dele do cerco dos ghouls.

   - Doo itashimashite, Pires-sensei - ela replicou educadamente, toda empertigada. Pela aparência externa, poderia ser confundida com uma bela e delicada garota nipônica, de aproximadamente 1,51m e quinze anos, com uma pele lisa e branca que contrastava com os cabelos muito negros, lisos e longos. Seios avantajados cujo tamanho destoava do resto de seu corpo de menina pubescente, de bibelô oriental. Rosto de bonequinha, em formato de coração, feições bem mongólicas, maçãs salientes, nariz e queixo pequenos, róseos lábios carnudos e olhos ambarinos levemente puxados, que brilhavam exoticamente no escuro em tons de dourado. Ela trajava o uniforme feminino da escola - minissaia pregueada xadrez amarelo-ocre e blazer verde-garrafa sobre camisa social branca - , e nem seu namorado, se ela tivesse um, teria meios de saber que Kaori era uma nekomata, uma youkai-gato cuja verdadeira forma era a de um felino sobrenatural negro como a noite, do tamanho de uma pantera, rodeado de chamas azuis, dotado de duas longas caudas e um par de grandes olhos flamejantes que pareciam duas brasas amarelas. Fogo era o seu elemento natural.

   - Você também, Nekonome-sensei - disse Pires, dirigindo-se à colega nekomusume que era a professora de Literatura e a responsável pela turma 2-1, onde estudavam Tsukune e suas amigas mais chegadas. - Arigato gozaimasu! Por trazer a Yorukage-san e, também, por chamar de volta a gataria que o Shersorkh tinha mobilizado contra a Moka-san e os outros amigos do Tsukune-kun, do Clube de Jornalismo. Eu compreendo que teve que ir contra o regulamento da escola pra fazer o que pedi...

   - Doo itashimashite, Pires-sensei - foi a vez de Shizuka Nekonome dizer isso, tão entusiasmada como sempre. A charmosa bakeneko de corpo fascinante e sensual, cabelos (e orelhas de gato felpudas) castanho-mel e olhos amendoados verde-jade fechadinhos por detrás dos óculos estilosos tinha muita influência junto aos felinos que viviam no cemitério à volta da academia - grandes e pequenos, pretos, pardos, brancos, amarelos, rajados - , se bem que não possuindo os poderes de Kaori, que era uma lutadora puramente elemental. - Cá pra nós, eu também gosto muito daqueles garotos, e não ia querer que algo ruim acontecesse com eles. De jeito nenhum, meow!

   Em seguida, as duas youkais-gatos, professora e aluna, acenaram amigavelmente para Mizar, o gato branco de Lino, placidamente deitado sobre a mesa do professor com a cauda quieta, e saíram da sala juntas. Lino, um macho humano normal, não pôde deixar de reparar no andar rebolado tipicamente felino da Profª Nekonome, assim como na longa cauda de gato de pelo alourado e ponta branca que, como sempre, teimava em projetar-se para fora da curtíssima e justa minissaia marrom que mal chegava à metade superior do quadril da moça youkai, expondo suas belas coxas e pernas bem torneadas (e "humanas"!). E os fartos seios parcialmente mostrados pelo decote nada discreto da camiseta cor de laranja por baixo da blusa branca aberta, com o guizo dourado pendurado entre os mesmos!

   "Uma linda mulher", pensou Lino Tadeu Pires, divagando momentaneamente. "Uma linda mulher-gato!", corrigiu-se mentalmente, ele que amava felinos - e felinas - mais do que qualquer outra coisa na Terra. "Não parece ter mais de vinte e poucos anos. Quem sabe, a gente pode ser feliz... Heh-heh!

   Depois que as youkais se retiraram, o olhar castanho acaramelado de Lino (ou melhor, Cyrus Abrahams) encontrou o de Mizar, heterocrômico, e o gato piscou-lhe seu olho esquerdo azul, longa e despreocupadamente, o que - no mundo dos gatos - constituía o maior gesto de confiança e aceitação para com alguém.

   - Pois é, Mizar, evitamos o pior - comentou ele, falando em bom português com o felino de pelagem longa da cor da neve. - Pro Tsukune e pros amigos dele, graças às belas e poderosas "gatinhas".

   Lino Tadeu de Oliveira Pires, aliás, Cyrus Abrahams - canadense de nascimento, brasileiro de criação, cidadão do Universo por opção - , vinha acompanhando os passos de Tsukune e seus amigos do Clube de Jornalismo desde o começo da incursão deles no cemitério ao redor da Academia Youkai. Para tanto, valera-se de sua habilidade de projeção consciente ou projeção astral, fruto de vários anos de treinamento, para sair de seu corpo físico ou soma, projetando sua consciência de psicossoma ou corpo astral, através do espaço (obrigado, Professor Waldo Vieira!). Nesse estado de desdobramento, afastado do corpo físico que permanecera em segurança em sua sala, ele assistira às lutas de Tsukune e de Moka contra o mantícora Khurshid Shersorkh e os asseclas deste, e, sem poder intervir diretamente, reentrara no físico e pedira ajuda à Profª Shizuka Nekonome. Esta, por sua vez, conhecendo a verdadeira natureza da estudante caloura Kaori Yorukage, não hesitara em recorrer a ela para que, com seus poderes de nekomata, controlando o elemento fogo, ou katon, socorresse Tsukune, Sophia e Yukari na "hora H" - violando as regras da escola sobre manter a identidade secreta dos membros dos corpos docente e discente - , enquanto a própria Shizuka, na forma de mulher-gato, emitia o miado apropriado para chamar de volta a miríade de gatos que Shersorkh mobilizara contra Moka, Ruby, Gin e Kokoa. Isto não os impedira de serem feridos, mas de serem mortos.

   - Agora, tudo vai depender do Tsukune - disse Lino/Cyrus, endireitando seus óculos no topo do nariz aquilino e um tanto grosso, com a ponta do dedo indicador. - Já está mais do que na hora do nosso amigo compreender que não basta treinar pra desenvolver só o seu poder youkai, seu youriki, proveniente do sangue de vampiro que a Moka lhe deu. Tem que começar a adestrar o poder espiritual superior que ele, como humano, também possui, latente, mas não menos importante: seu reiki! Um ser humano que aprenda a usar o reiki em sua potência plena é páreo pra qualquer youkai barra pesada, Mizar!

   E realmente era assim, ele o sabia. Porquanto conhecera humanos "especiais", tanto em seu próprio mundo (ou seja, o nosso) quanto em suas incursões pelos mundos paralelos entre as dimensões. Tais humanos, com pleno domínio bioenergético, de seu reiki, podiam fazer maravilhas, chegando a ser mais poderosos do que muitos youkais.

   - Tá na hora da aula seguinte, Mizar - disse por fim, enfiando seus tsitsiot nos bolsos da calça jeans azul-marinho. Apanhou seu material didático em cima da mesa e, acariciando e beijando seu gato, caminhou em direção à porta, abriu-a, saiu e tornou a fechá-la. Já nos corredores, ponderou sobre o campo de energia psíquica , ou egrégora, que envolvia aquele lugar, seu holopensene, em particular a egrégora do Clube de Jornalismo.

   Ensinar os youkais a conviver pacificamente com os seres humanos.

   O sonho de Tsukune Aono.

   - É, Tsukune, você nasceu pra isso, mais do que pra viver um amor pessoal. Sinto muito - monologou o "Professor Pires" em voz baixa, caminhando pelos corredores.


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Notas finais do capítulo

Capítulo curtinho (virutalmente 1 "tapa-buraco"), centrado no "Professor Lino Tadeu Pires", ou "Cyrus Abrahams", que, paulatinamente, vai se entrosando no estranho mundo da Youkai Gakuen, para ajudar Tsukune (de quem já fora professor na dimensão dos humanos) à sua maneira. Quanto à possibilidade de rolar alguma coisa entre ele e a Nekonome... Bien, é 1 possibilidade! Mas eu não vou forçar nada, a história como que tem vida própria; então, o que tiver que ser, será.
Gosto deste personagem porque (entre outras razões) é 1 exemplo do que o psiquismo humano, devidamente disciplinado, pode realizar: sair do corpo físico, transitar entre as dimensões etc. Tsukune teria muito a aprender com ele.